A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
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João, quando fala <strong>de</strong> <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> parece estar afetado por enunciados que<br />
colocam a necessida<strong>de</strong> da informação ser trabalhada <strong>de</strong> maneiras diferentes para<br />
meninos e meni<strong>na</strong>s, on<strong>de</strong> aparece a recomendação do respeito às mulheres, a<br />
conversa num tom mais aberto ser mais recomendável para os meninos. Apesar <strong>de</strong><br />
afetado por estas posturas ele não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> observar que o comportamento das<br />
meni<strong>na</strong>s não se adapta ao <strong>de</strong> recato e timi<strong>de</strong>z: elas tomam iniciativas. A expectativa <strong>de</strong><br />
um comportamento feminino associado a uma passivida<strong>de</strong> e fragilida<strong>de</strong> também se<br />
apresenta nos discursos <strong>de</strong> outros educadores/as, e po<strong>de</strong>-se perceber no dia a dia<br />
uma <strong>de</strong>svalorização <strong>de</strong>stas meni<strong>na</strong>s que apresentam um comportamento <strong>de</strong> sedução<br />
explícito: “Estão a fim”. Permanece associado um valor que coloca este como um<br />
comportamento <strong>na</strong>turalmente masculino.<br />
Este professor, atualmente, faz o exercício <strong>de</strong> conviver com uma colega travesti,<br />
não sem dificulda<strong>de</strong>, porém com indícios <strong>de</strong> certa superação <strong>de</strong> preconceitos, sua<br />
expectativa não se confirmou e parece que houve um <strong>de</strong>slocamento em suas certezas,<br />
que aparece quando relata seu manejo com a situação <strong>de</strong> um aluno, que é travesti, em<br />
outra <strong>escola</strong> on<strong>de</strong> ele é professor no EJA:<br />
“Ele, no ano anterior ele <strong>de</strong>sistiu, ele foi até uma certa altura e daí <strong>de</strong>sistiu, mas daí eu<br />
não sei se foi somente por causa da questão com os colegas ou da vida particular <strong>de</strong>le,<br />
mas ele retornou, esse ano ele retornou à <strong>escola</strong> novamente. Nas minhas aulas, não<br />
sei como é <strong>na</strong>s outras aulas, mas <strong>na</strong>s minhas aulas assim tem uma...eles aceitam, eles<br />
<strong>de</strong> vez em quando largam uma piadinha, coisa e tal mas aceitam numa boa. Eu não<br />
vejo, né? Maiores discrimi<strong>na</strong>ções, não... Ás vezes até por outro motivo, com outros<br />
colegas, por intrigas particulares. Eu até achei isso bem, porque é difícil para o<br />
professor lidar <strong>na</strong> sala <strong>de</strong> aula com os alunos quando tem essa situação. Porque teve<br />
assim, eu vou contar uma passagem <strong>de</strong>sse aluno: tava dando uma aula <strong>na</strong> sala <strong>de</strong>sse<br />
aluno e ele pediu para ir ao banheiro e aí ele convidou uma colega para ir junto no<br />
banheiro, eu disse olha tu po<strong>de</strong> ir no banheiro mas vai sozinho, por que eu libero um<br />
aluno <strong>de</strong> cada vez, mas: -Ah! Quem saiu foi um rapaz e eu vou no banheiro das<br />
meni<strong>na</strong>s! Daí os outros começaram: ah, vai no banheiro das meni<strong>na</strong>s! Eu disse: olha o<br />
banheiro quem escolhe é ele, o banheiro que quer ir, porque quem vai ir é ele, assim<br />
como vocês também, aí eu falei para os rapazes, daí vocês também, agora vocês vão<br />
querer ir no banheiro das meni<strong>na</strong>s? Pronto. Acabou. Só quem escolhe é ele o banheiro<br />
que vai querer ir, se ele quiser ir no banheiro das meni<strong>na</strong>s, ele vai no banheiro das<br />
meni<strong>na</strong>s , se ele quiser ir no banheiro masculino, vai no banheiro masculino, aqui como<br />
vocês também se quiserem ir no banheiro das meni<strong>na</strong>s, pronto terminou o assunto.<br />
Terminou o assunto. Aí ele usa o banheiro das meni<strong>na</strong>s, que eu sei, eles comentam ali<br />
e normalmente ele pe<strong>de</strong> para alguma ir junto com ele, a que é mais amiga <strong>de</strong>le. Mas eu<br />
nunca vi ele ser discrimi<strong>na</strong>do, no geral da <strong>escola</strong> não, eu não vi, assim.” (João-<br />
Professor)