A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
89<br />
“Mas a pessoa se coloca como Julia<strong>na</strong>, nós chamamos <strong>de</strong> Julia<strong>na</strong> e funcio<strong>na</strong> muito<br />
bem, às vezes tem uns atos falhos e tu fala: Oi Júlio (risos), então teve uma situação<br />
<strong>de</strong> uma estagiária, veio aqui, conversou, botei no horário: professora Julia<strong>na</strong>, vai lá e<br />
conversa com a professora Julia<strong>na</strong> (ri). Ela foi, voltou, muito bem. E a Julia<strong>na</strong> entrou<br />
aqui e falou: Ah sua louca, vê se tu conta! (risos). Porque a pessoa se espantou, levou<br />
um susto: “Sou eu a Julia<strong>na</strong>.” (risos) Ah, eu falei: tu me <strong>de</strong>sculpa, porque como para<br />
mim é uma situação <strong>na</strong>tural, normal, cotidia<strong>na</strong> aqui, não lembrei <strong>de</strong> alertar, até porque<br />
é muito complicado dizer: Oh, era o professor Júlio que agora é a professora Julia<strong>na</strong>.<br />
Foi interessante! A moça ficou assim espantada, bateu <strong>na</strong> porta, a Julia<strong>na</strong> abriu (risos)<br />
– Eu quero falar com a professora Julia<strong>na</strong>, -Sou eu a própria! Mas então são estas<br />
coisas...” (Janice - supervisora pedagógica)<br />
Quando realizei a entrevista com a professora Julia<strong>na</strong> ela sugeriu conversarmos<br />
<strong>na</strong> sala dos professores, lá estavam dois estagiários que estavam iniciando suas<br />
práticas <strong>na</strong> <strong>escola</strong>, acompanharam nossa conversa e se mostraram à vonta<strong>de</strong> com a<br />
situação, fizeram alguns comentários sobre a parada livre e um <strong>de</strong>les disse que sabe<br />
como é discrimi<strong>na</strong>ção: ele já passou por isso, por ser músico e agora <strong>na</strong> universida<strong>de</strong><br />
por sua ida<strong>de</strong>, ele tem 40 anos, se sente discrimi<strong>na</strong>do por alguns colegas e<br />
professores.<br />
Nos conselhos <strong>de</strong> classe percebi que os/as professores/as mais antigos /as<br />
assumiam posições um pouco mais mediadas, enquanto que professoras mais jovens<br />
tendiam a uma maior categorização. Em especial, uma jovem estagiária numa turma <strong>de</strong><br />
terceira série tinha uma postura muito afirmativa sobre críticas aos comportamentos <strong>de</strong><br />
alunos/as: “Palhaço! Este menino é um palhaço!”, “A Yasmim está bem, <strong>de</strong> nota, mas<br />
não dá para soltar no pátio, vira maloqueiro! Corre como um guri. Não dá para <strong>de</strong>ixar<br />
sair para o pátio!” Esta estagiária não completou seu estágio nesta <strong>escola</strong>, a<br />
supervisora avaliou que ela era muito impulsiva e radical, tinha dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir e<br />
relativizar, então a <strong>escola</strong> achou melhor ela não continuar ali, nunca tinha acontecido<br />
antes <strong>de</strong> um/a estagiário/a sair. Parece que se confirmam as colocações acerca da<br />
formação das graduações <strong>de</strong> licenciaturas, que vários educadores colocam como<br />
sendo <strong>de</strong>svinculadas da prática e que não abordam os temas que estão presentes no<br />
cotidiano: os conflitos e as diferenças; o professor é formado para encontrar o aluno<br />
i<strong>de</strong>al, e o que vai encontrar é o “outro”. Neste sentido parece importante discutir o papel<br />
da psicologia <strong>na</strong> formação <strong>de</strong> professores/as e a ênfase em psicologia do