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A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

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86<br />

tem uma lei que diz que é crime, então quer dizer, é a mesma situação, sabe que po<strong>de</strong><br />

ser punido. Porque teve isso comigo, por ter me ofendido, eu levei um aluno pro<br />

DECA 17 , eu tirei da sala. Antes <strong>de</strong> eu ser travesti, ele me ofen<strong>de</strong>u, me chamou <strong>de</strong> gay,<br />

<strong>de</strong> um monte <strong>de</strong> coisa, não por ser gay, foi pela maneira que ele falou, <strong>na</strong> oitava série,<br />

quinze anos, ele sabia o que tava dizendo, então ele me ofen<strong>de</strong>u diante da turma toda.<br />

Ele me ofen<strong>de</strong>u por ele não ter entrado no horário certo <strong>na</strong> aula, no recreio eu pedi para<br />

ele entrar e ele não entrou, e quando ele foi entrar eu não <strong>de</strong>ixei ele e dois colegas, que<br />

eram três, três parceiros. Ele...eu disse: não, vocês não vão entrar. Aí ele veio dizer, os<br />

outros: tudo bem professor, foram embora, ele veio com tudo para cima, <strong>na</strong> frente da<br />

turma. Aí eu olhei para ele e disse assim: tu não entra mais <strong>na</strong> minha sala, e eu vou sair<br />

daqui agora e vou fazer ocorrência, porque eram três meninos que estavam aprontando<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> março e ninguém resolvia a situação, no geral todos os professores reclamavam,<br />

todo mundo reclamava, isso foi e eu disse: agora chega, agora meteu a mão comigo,<br />

agora acabou. Foi em setembro, setembro, aí eu fui no DECA, registrei ocorrência e<br />

voltei para a <strong>escola</strong>, quando eu voltei para a <strong>escola</strong> os pais já estavam aqui, os pais já<br />

estavam aqui <strong>de</strong>sesperados que eu ai processar, que eu ia tirar todos os bens <strong>de</strong>les,<br />

não sei como chegou a história. Aí eu falei para a diretora, ou eu ou ele, não dá, foi no<br />

limite do limite e eu acho que é eu ou ele e ela: ele sai e tu fica. No outro dia fez a<br />

transferência e ele saiu da <strong>escola</strong>. Ela ligou para a SEC e transferiu, diante disso os pais<br />

ó...voaram. Daí essa coisa repercutiu no Orkut, o professor Júlio expulsou aluno do<br />

colégio, é só o que tu via entre eles, fulano saiu porque ofen<strong>de</strong>u, e aí o que aconteceu,<br />

e aí a coisa...respeito! Eles até po<strong>de</strong>m falar <strong>na</strong>s costas que tu sabe que eles dão uma<br />

faladinha, mas tu vê que daí em diante a coisa...” (Julia<strong>na</strong>- professora)<br />

6.4 - Quando o estranhamento começa a diminuir<br />

Participando da roti<strong>na</strong> <strong>de</strong>sta <strong>escola</strong> pu<strong>de</strong> perceber nos relatos e <strong>na</strong>s práticas um<br />

funcio<strong>na</strong>mento diferenciado, uma mudança, parece uma modificação <strong>na</strong> maneira <strong>de</strong> se<br />

lidar com o que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> fronteiras, que <strong>de</strong>limitam o possível, o estranho<br />

e mapeiam o que <strong>de</strong>ve incluir-se e o que <strong>de</strong>ve permanecer circunscrito ao terreno da<br />

estranheza e permanecer fora <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que é uma questão da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> histórica que está em jogo<br />

aqui. Não se trata <strong>de</strong> negar totalmente as continuida<strong>de</strong>s, mas <strong>de</strong> dizer que há um<br />

momento <strong>de</strong> ruptura, e que esse momento está ligado a inúmeras práticas institucio<strong>na</strong>is<br />

e relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a inúmeras condições <strong>de</strong> <strong>produção</strong> e <strong>de</strong> emergência <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do discurso. Este discurso não é entendido fora das relações que o fazem<br />

possível e a prática não <strong>de</strong>ve ser entendida como a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sujeito, mas a<br />

17 Delegacia Especial da criança e do adolescente.

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