A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

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20.02.2015 Views

79 mesmo, pode ser em outros lugares, eu não vi um programa na área da saúde, um convênio com a secretaria de Educação, se tem projetos nesta área, tratam todos os assuntos, mas para nós não chegou, talvez em outras escolas. Na Secretaria de Educação tem os projetos para a capital, interior, mas aqui a gente não viu, fica lá. Por que política pública eu vejo que não é lançar um tema, mandar um mail, mandar um cartazinho, tu tem que investir, é um investimento, tem que dar subsídio, dar suporte, tem que apoiar, tem que acompanhar, isto também tem que dar um retorno. ( Janice - supervisora pedagógica) Nesta escola o PBSH 14 é percebido como uma iniciativa diferenciada, não é colocado juntamente com as outras iniciativas de intervenções institucionais nos temas de sexualidade, parece haver a percepção de um diferencial em relação aos projetos centrados na prevenção com enfoque no discurso da saúde, o diferencial que se mostra de início é o do discurso dos direitos humanos. Eu acho muito corajosa a iniciativa do governo federal do projeto Brasil Sem Homofobia, até porque nós temos todo um movimento da parada gay, Porto Alegre tem...Eu vejo que a própria cidade tem esses movimentos sociais que ajudam a mudar a visão das coisas, vejo que é importante, enfim é uma realidade mundial, o acho que o Brasil ta muito atrasado há necessidade de trabalhar o preconceito que tem em tudo, classe social, baixa escolaridade, eu vejo que o nosso é um lugar muito bom, pode-se trabalhar com isso, tentar...não vamos dizer que não tem preconceito, tem como tem para outras coisas, uma pena. ( Nádia- orientadora educacional) O projeto que foi elaborado para trabalhar as questões de preconceito foi redigido com o título: Cuidar da vida. Nádia coloca que escolheram este título para não chocar com uma coisa mais direta, que então abordaram através da temática do meio ambiente, sobre a vida, abordaram o tema do respeito de forma mais geral. Diz que este projeto é uma sugestão para os/as professoras/es trabalharem e que ainda está sendo utilizado. Mas que é muito difícil mobilizar os colegas, deu, como exemplo, uma reunião com convocação, que eles seriam obrigados a irem, de 30 e poucos professores foram em torno de 23. Quando o projeto foi elaborado a equipe diretiva não estava segura da receptividade dos temas ali colocados, optaram por um discurso de direitos humanos que pudesse dar conta de incluir a discussão da diversidade sexual. Nádia, como orientadora, “entra” quando é possível nas salas de aula para trabalhar com os/as alunos/as temas que considera importante, sendo um deles a sexualidade: 14 Programa Brasil Sem Homofobia

80 “Eles falam, se soltam, não têm vergonha, eles não têm constrangimentos. Na oitava, semana passada, uma menina falou que viu na Internet que têm uns tarados que querem que a gente faça xixi e cocô em cima deles. E ficamos falando disso, eu não sabia nem que isso tinha nome e fomos pesquisar no livro, e estava lá. Por sorte eu estava com o livro O Sexo Secreto, e procuramos e tinha...Eles trazem cada pergunta! Mas é assim, eles falam.” O livro de que Nádia fala se trata de “O Sexo Secreto” de Cláudio Picazio, que na sua apresentação a obra é colocada como sendo: “um livro que se propõe a amparar professores que dão orientação sexual nas escolas de ensino médio.” Além de conversar, debater com os alunos, a orientadora utiliza técnicas que ela pesquisou e que foram aprendidas na formação, uma das atividades que ela costuma desenvolver consiste em: distribuir para os/as alunos uma folha onde aparecem duas colunas, de um lado: vantagens de ser mulher, no outro, vantagens de ser homem. Os/as alunos preenchem estas folhas e depois discutem questões relativas a gênero a partir do material que foi produzido pelos/as alunos/as. Ela utiliza também esta tarefa com as colunas dividas em: desvantagens de ser homem e desvantagens de ser mulher. 15 Percebi que as professoras constroem estratégias para introduzirem questões que consideram pertinentes e buscam conquistar espaços pedagógicos: nesta escola a matéria obrigatória Ensino Religioso passou a ser nomeada Ética e Cidadania, onde a temática dos direitos humanos é abordada. “Na turma 62, que eu sou conselheira, eu trabalho a disciplina de Ética e Cidadania, que era o antigo ensino religioso, nós mudamos o nome por conta e risco, então assim eu trabalho com eles porque eu tenho contato direto, como eles me escolheram como professora conselheira, então a gente tem uma relação muito mais próxima, então tu trabalha todas as questões de ética e cidadania, então, este ano com esta turma.” (Juliana- professora) A professora Juliana desenvolveu na matéria, denominada por elas, de Ética e Cidadania um trabalho com os/as alunos/as abordando as questões de preconceito. 15 Esta técnica aparece como sugestão de atividade para utilizar com alunos no livro “Sexo se Aprende na Escola” de Marta Suplicy e cols. de 1995.

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mesmo, po<strong>de</strong> ser em outros lugares, eu não vi um programa <strong>na</strong> área da saú<strong>de</strong>, um<br />

convênio com a secretaria <strong>de</strong> Educação, se tem projetos nesta área, tratam todos os<br />

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Educação tem os projetos para a capital, interior, mas aqui a gente não viu, fica lá. Por<br />

que política pública eu vejo que não é lançar um tema, mandar um mail, mandar um<br />

cartazinho, tu tem que investir, é um investimento, tem que dar subsídio, dar suporte,<br />

tem que apoiar, tem que acompanhar, isto também tem que dar um retorno. ( Janice -<br />

supervisora pedagógica)<br />

Nesta <strong>escola</strong> o PBSH 14 é percebido como uma iniciativa diferenciada, não é<br />

colocado juntamente com as outras iniciativas <strong>de</strong> intervenções institucio<strong>na</strong>is nos temas<br />

<strong>de</strong> <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, parece haver a percepção <strong>de</strong> um diferencial em relação aos projetos<br />

centrados <strong>na</strong> prevenção com enfoque no discurso da saú<strong>de</strong>, o diferencial que se<br />

mostra <strong>de</strong> início é o do discurso dos direitos humanos.<br />

Eu acho muito corajosa a iniciativa do governo fe<strong>de</strong>ral do projeto Brasil Sem<br />

Homofobia, até porque nós temos todo um movimento da parada gay, Porto Alegre<br />

tem...Eu vejo que a própria cida<strong>de</strong> tem esses movimentos sociais que ajudam a mudar<br />

a visão das coisas, vejo que é importante, enfim é uma realida<strong>de</strong> mundial, o acho que o<br />

Brasil ta muito atrasado há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar o preconceito que tem em tudo,<br />

classe social, baixa <strong>escola</strong>rida<strong>de</strong>, eu vejo que o nosso é um lugar muito bom, po<strong>de</strong>-se<br />

trabalhar com isso, tentar...não vamos dizer que não tem preconceito, tem como tem<br />

para outras coisas, uma pe<strong>na</strong>. ( Nádia- orientadora educacio<strong>na</strong>l)<br />

O projeto que foi elaborado para trabalhar as questões <strong>de</strong> preconceito foi<br />

redigido com o título: Cuidar da vida. Nádia coloca que escolheram este título para não<br />

chocar com uma coisa mais direta, que então abordaram através da temática do meio<br />

ambiente, sobre a vida, abordaram o tema do respeito <strong>de</strong> forma mais geral. Diz que<br />

este projeto é uma sugestão para os/as professoras/es trabalharem e que ainda está<br />

sendo utilizado. Mas que é muito difícil mobilizar os colegas, <strong>de</strong>u, como exemplo, uma<br />

reunião com convocação, que eles seriam obrigados a irem, <strong>de</strong> 30 e poucos<br />

professores foram em torno <strong>de</strong> 23. Quando o projeto foi elaborado a equipe diretiva não<br />

estava segura da receptivida<strong>de</strong> dos temas ali colocados, optaram por um discurso <strong>de</strong><br />

direitos humanos que pu<strong>de</strong>sse dar conta <strong>de</strong> incluir a discussão da <strong>diversida<strong>de</strong></strong> <strong>sexual</strong>.<br />

Nádia, como orientadora, “entra” quando é possível <strong>na</strong>s salas <strong>de</strong> aula para trabalhar<br />

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