A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
29<br />
Mas o que é o diferente/outro se não a(o) domi<strong>na</strong>da(o)? A socieda<strong>de</strong> heteros<strong>sexual</strong> é a<br />
socieda<strong>de</strong> que não oprime ape<strong>na</strong>s lésbicas e homossexuais, ela oprime muitos<br />
diferentes/outros, oprime todas as mulheres e muitas categorias <strong>de</strong> homens, todas e todos<br />
que estão <strong>na</strong> posição <strong>de</strong> serem domi<strong>na</strong>das(os). Para constituir uma diferença e controlá-la é<br />
um ato <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, uma vez que é essencialmente um ato normativo. Todos tentam mostrar o<br />
outro como diferente. Mas nem todos conseguem ter sucesso a fazê-lo. Tem que se ser<br />
socialmente domi<strong>na</strong>nte para se ter sucesso a fazê-lo. (MONIQUE WITTIG, 1980, p. 2)<br />
Os olhares sobre as diferenças <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da possibilida<strong>de</strong> ou impossibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> tradução. Isto supõe um sistema <strong>de</strong> significação que dá inteligibilida<strong>de</strong> ao mundo e<br />
que é produzido <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r: quem tem o direito <strong>de</strong> nomear a quem. O<br />
pólo normal se outorga o direito <strong>de</strong> reivindicar um abrandamento das características<br />
<strong>de</strong>sviantes. Segundo Tomaz Ta<strong>de</strong>u da Silva, fixar uma <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como a<br />
norma é a maneira <strong>de</strong> hierarquizar as diferenças, eleger uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como<br />
parâmetro em relação ao qual as outras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são avaliadas e classificadas.<br />
A afirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações da<br />
incluir e <strong>de</strong> excluir. Como vimos, dizer “o que somos” significa também dizer “o que não<br />
somos”. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a diferença se traduzem, assim, em <strong>de</strong>clarações sobre quem<br />
pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído.<br />
Afirmar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> significa <strong>de</strong>marcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica<br />
<strong>de</strong>ntro e o que fica fora. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> está sempre ligada a uma forte separação entre “nós” e<br />
“eles”. Essa <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> fronteiras, essa separação e distinção, supõe e, ao mesmo<br />
tempo, afirmam e reafirmam relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. ( SILVA, 2000, p. 82)<br />
Pensando em específico a instituição <strong>escola</strong>r, esta articula seu funcio<strong>na</strong>mento<br />
através da norma ou das normas, currículos e práticas <strong>de</strong> nossas <strong>escola</strong>s se propõem<br />
a formar mediante um mo<strong>de</strong>lo que se configura em específico em cada época. Em<br />
cada tempo há uma maneira legítima <strong>de</strong> ser e estar <strong>na</strong> <strong>escola</strong>, que inclui/exclui os que<br />
não estão conformados a esta proposta. Uma noção singular <strong>de</strong> gênero e <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong><br />
vem sustentando uma série <strong>de</strong> classificações entre os alunos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele que tem<br />
sucesso até os que não vão conseguir ou não tem condições. Como coloca Guacira<br />
Louro:<br />
Diferenças, distinções, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s... A <strong>escola</strong> enten<strong>de</strong> disso. Na verda<strong>de</strong>, a <strong>escola</strong><br />
produz isso. Des<strong>de</strong> seus inícios, a instituição <strong>escola</strong>r exerceu uma ação distintiva. Ela se<br />
incumbiu <strong>de</strong> separar os sujeitos - tor<strong>na</strong>ndo aqueles que nela entravam distintos dos outros,<br />
os que a ela tinham acesso. Ela dividiu também, inter<strong>na</strong>mente, os que lá estavam, através<br />
<strong>de</strong> múltiplos mecanismos <strong>de</strong> classificação, or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento, hierarquização. (GUACIRA<br />
LOURO, 1997, p. 57)<br />
Foucault (1997) afirma que o século XVII produziu inúmeras instituições e<br />
aparelhos <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>dos a normalizar a <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, e po<strong>de</strong>mos perceber, no século XXI,