A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
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or<strong>de</strong>m no mundo, através <strong>de</strong> um funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> nomear, <strong>de</strong> classificar, <strong>de</strong><br />
conhecer, <strong>de</strong> se apropriar, <strong>de</strong> incluir, construindo um processo <strong>de</strong> excluir.<br />
A norma <strong>de</strong>sig<strong>na</strong> uma regra <strong>de</strong> juízo, uma maneira <strong>de</strong> produzir a regra <strong>de</strong> juízo. É uma<br />
maneira <strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>na</strong>r multiplicida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> as articular, <strong>de</strong> as relacio<strong>na</strong>r consigo mesmas<br />
segundo um princípio <strong>de</strong> pura referência a si. A norma produz objectivida<strong>de</strong>. É um princípio<br />
<strong>de</strong> comunicação, uma maneira, particular, <strong>de</strong> resolver o problema da intersubjetivida<strong>de</strong>. A<br />
norma igualiza: tor<strong>na</strong> cada indivíduo comparável a cada outro; fornece a medida. Mas a<br />
norma <strong>de</strong>sigualiza do mesmo modo. É, aliás, a única objectivida<strong>de</strong> que nos dá: a norma<br />
convida cada indivíduo a reconhecer-se diferente dos outros; encerra-o no seu caso, <strong>na</strong> sua<br />
individualida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> sua irredutível particularida<strong>de</strong>. Precisamente, o normativo afirma tanto<br />
mais a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um perante todos quanto infinitiza as diferenças. A realida<strong>de</strong> da<br />
igualda<strong>de</strong> normativa consiste em tor<strong>na</strong>r-nos todos comparáveis: a sua efectivida<strong>de</strong> está <strong>na</strong><br />
afirmação das diferenças, dos <strong>de</strong>svios e das disparida<strong>de</strong>s. (EWALD, 1993. p. 108)<br />
A sexologia que se <strong>de</strong>bruçou sobre a tarefa positivista <strong>de</strong> classificar os tipos e<br />
comportamentos sexuais, contribuiu para produzir a homos<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> e outras<br />
categorias diversas, isto significou produzi-las como condição patológica. Po<strong>de</strong>-se<br />
dizer, então, que a mesma configuração mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> do indivíduo abriu espaço para a<br />
afirmação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> individual, mesmo que esta se construísse como<br />
ameaça às normas ou aos princípios da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sexo/gênero vigente.<br />
O conceito <strong>de</strong> norma é necessariamente relacio<strong>na</strong>l: normal/anormal. Trata-se <strong>de</strong><br />
uma relação <strong>de</strong> polarida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> inversão dos pólos, não uma relação <strong>de</strong> contradição<br />
nem <strong>de</strong> exteriorida<strong>de</strong>, já que a norma é um conceito que qualifica negativamente um<br />
pólo, ao mesmo tempo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>le para sua própria compreensão.<br />
Normalizar, segundo Tomaz Ta<strong>de</strong>u da Silva (2000, p.83), significa: “eleger –<br />
arbitrariamente – uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> específica como o parâmetro em relação ao qual as<br />
outras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são avaliadas e hierarquizadas”. À i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> selecio<strong>na</strong>da como<br />
norma são atribuídas todas as características positivas possíveis, sendo as <strong>de</strong>mais<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s avaliadas <strong>de</strong> forma negativa e inferior. No campo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da<br />
diferença, a normalização é um processo sutil <strong>de</strong> manifestação do po<strong>de</strong>r sobre os<br />
corpos anormais.<br />
A socieda<strong>de</strong> heteronormativa está baseada <strong>na</strong> necessida<strong>de</strong>, em todos os níveis,<br />
do diferente/outro, segundo Monique Wittig, não po<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>r economicamente,<br />
simbolicamente, linguisticamente ou politicamente sem este conceito. Esta<br />
necessida<strong>de</strong> do diferente/outro é uma necessida<strong>de</strong> ontológica para todo o aglomerado<br />
<strong>de</strong> ciências e discipli<strong>na</strong>s a que esta autora chama <strong>de</strong> pensamento hetero: