20.02.2015 Views

A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

23<br />

uma base a-histórica, <strong>de</strong> certa forma <strong>na</strong>tural, que coloca o corpo como um dado fora da<br />

cultura, portanto anterior às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Utilizando esta ótica, a diferenciação<br />

dos genitais supõe a existência <strong>de</strong> duas opções para a configuração dos seres<br />

humanos em termos <strong>de</strong> gênero. Dois genitais apresentariam uma suposta base<br />

heteros<strong>sexual</strong> como fonte binária do gênero, nesta lógica haveria uma a<strong>de</strong>quação, ou<br />

mesmo equivalência, entre o que se é e o corpo que se tem, enfatizando uma fonte<br />

biológica das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. O paradigma da construção social das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s não<br />

representou rompimento completo com o essencialismo, as explicações construtivistas<br />

pressupõem que há algo “anterior” à construção, o sexo, sobre o qual se inscrevia ou<br />

moldava a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social.<br />

A partir <strong>de</strong> estudos produzidos por autores como Thomas Laqueur, esta<br />

imutabilida<strong>de</strong> do sexo po<strong>de</strong> ser questio<strong>na</strong>da. Segundo Laqueur (1987; 2001), as<br />

diferenças entre os sexos ou a própria idéia <strong>de</strong> dois sexos biológicos distintos é uma<br />

concepção que po<strong>de</strong> ser historicamente contextualizada. Em algum momento do<br />

século XVIII passa-se a consi<strong>de</strong>rar a existência <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> dois sexos,<br />

contrariamente à percepção herdada dos gregos <strong>de</strong> que haveria ape<strong>na</strong>s um sexo<br />

biológico, enquanto o gênero se apresentaria pelo menos em duas possibilida<strong>de</strong>s.<br />

Nesse mo<strong>de</strong>lo antigo, <strong>de</strong> um sexo, homem e mulher não seriam <strong>de</strong>finidos por uma<br />

diferença intrínseca em termos <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza, <strong>de</strong> dois corpos distintos, mas, ape<strong>na</strong>s, em<br />

termos <strong>de</strong> um grau <strong>de</strong> perfeição. A partir <strong>de</strong> fins do século XVIII emergiu a tendência<br />

progressiva à consolidação <strong>de</strong> um paradigma binário em que os órgãos sexuais se<br />

tor<strong>na</strong>m os pólos <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ntes da crença em sexos opostos, <strong>na</strong>turais, portanto<br />

justificadores das diferenças <strong>de</strong> gênero.<br />

Discussões teóricas contemporâneas buscam reavaliar a dicotomia entre um<br />

corpo neutro sobre o qual se construiria a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social. A oposição<br />

<strong>na</strong>tureza/cultura não é sustentável quando passamos a pensar a própria <strong>na</strong>tureza<br />

como uma invenção huma<strong>na</strong>. Somam-se ao <strong>de</strong>bate, as teorias <strong>de</strong> Don<strong>na</strong> Haraway,<br />

questio<strong>na</strong>ndo a noção universal <strong>de</strong> mulher e os textos <strong>de</strong> Judith Butler que rediscutem<br />

a oposição <strong>na</strong>tureza e cultura. A crítica do sexo como elemento pré-discursivo,<br />

ancorada em análises <strong>de</strong> autores como Foucault, passou a <strong>de</strong>monstrar o caráter

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!