A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
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uma base a-histórica, <strong>de</strong> certa forma <strong>na</strong>tural, que coloca o corpo como um dado fora da<br />
cultura, portanto anterior às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Utilizando esta ótica, a diferenciação<br />
dos genitais supõe a existência <strong>de</strong> duas opções para a configuração dos seres<br />
humanos em termos <strong>de</strong> gênero. Dois genitais apresentariam uma suposta base<br />
heteros<strong>sexual</strong> como fonte binária do gênero, nesta lógica haveria uma a<strong>de</strong>quação, ou<br />
mesmo equivalência, entre o que se é e o corpo que se tem, enfatizando uma fonte<br />
biológica das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. O paradigma da construção social das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s não<br />
representou rompimento completo com o essencialismo, as explicações construtivistas<br />
pressupõem que há algo “anterior” à construção, o sexo, sobre o qual se inscrevia ou<br />
moldava a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social.<br />
A partir <strong>de</strong> estudos produzidos por autores como Thomas Laqueur, esta<br />
imutabilida<strong>de</strong> do sexo po<strong>de</strong> ser questio<strong>na</strong>da. Segundo Laqueur (1987; 2001), as<br />
diferenças entre os sexos ou a própria idéia <strong>de</strong> dois sexos biológicos distintos é uma<br />
concepção que po<strong>de</strong> ser historicamente contextualizada. Em algum momento do<br />
século XVIII passa-se a consi<strong>de</strong>rar a existência <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> dois sexos,<br />
contrariamente à percepção herdada dos gregos <strong>de</strong> que haveria ape<strong>na</strong>s um sexo<br />
biológico, enquanto o gênero se apresentaria pelo menos em duas possibilida<strong>de</strong>s.<br />
Nesse mo<strong>de</strong>lo antigo, <strong>de</strong> um sexo, homem e mulher não seriam <strong>de</strong>finidos por uma<br />
diferença intrínseca em termos <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza, <strong>de</strong> dois corpos distintos, mas, ape<strong>na</strong>s, em<br />
termos <strong>de</strong> um grau <strong>de</strong> perfeição. A partir <strong>de</strong> fins do século XVIII emergiu a tendência<br />
progressiva à consolidação <strong>de</strong> um paradigma binário em que os órgãos sexuais se<br />
tor<strong>na</strong>m os pólos <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ntes da crença em sexos opostos, <strong>na</strong>turais, portanto<br />
justificadores das diferenças <strong>de</strong> gênero.<br />
Discussões teóricas contemporâneas buscam reavaliar a dicotomia entre um<br />
corpo neutro sobre o qual se construiria a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social. A oposição<br />
<strong>na</strong>tureza/cultura não é sustentável quando passamos a pensar a própria <strong>na</strong>tureza<br />
como uma invenção huma<strong>na</strong>. Somam-se ao <strong>de</strong>bate, as teorias <strong>de</strong> Don<strong>na</strong> Haraway,<br />
questio<strong>na</strong>ndo a noção universal <strong>de</strong> mulher e os textos <strong>de</strong> Judith Butler que rediscutem<br />
a oposição <strong>na</strong>tureza e cultura. A crítica do sexo como elemento pré-discursivo,<br />
ancorada em análises <strong>de</strong> autores como Foucault, passou a <strong>de</strong>monstrar o caráter