A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
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<strong>de</strong> saber/po<strong>de</strong>r frente a alunos/as, pais e mães. Lugar inesperado para uma travesti,<br />
mas que neste momento é possível <strong>de</strong> ser ocupado por ela: “...loira po<strong>de</strong>rosa!”.<br />
Parece haver uma apropriação pelas professoras do discurso jurídico <strong>de</strong> direitos<br />
humanos e <strong>de</strong> direitos sexuais que estavam ausentes <strong>na</strong>s discussões <strong>de</strong> <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong><br />
até bem pouco tempo atrás on<strong>de</strong> o marco era da liberda<strong>de</strong> individual e do direito à<br />
privacida<strong>de</strong>. A equipe da <strong>escola</strong> estadual se amparou no texto jurídico para legitimar<br />
sua ação: “Naquela época nós andávamos pela <strong>escola</strong> com a constituição embaixo do<br />
braço”<br />
A conquista <strong>de</strong> direitos jurídicos se mostra fundamental para a garantia <strong>de</strong><br />
espaços e legitimida<strong>de</strong>. O que era anteriormente <strong>de</strong>fendido por justificativas mais<br />
humanitárias, agora adquire tom jurídico. O que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser contestado, como por<br />
exemplo, a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> privilégios que fica explícita no manifesto que a professora levou<br />
para a <strong>escola</strong>: A discrimi<strong>na</strong>ção contra os brancos. Ali ela colocou em ce<strong>na</strong> este embate<br />
cotidiano com que se <strong>de</strong>frontam <strong>na</strong> sua <strong>escola</strong>: temas <strong>de</strong> luta por igualda<strong>de</strong>, por<br />
direitos, direito <strong>de</strong> existência, uma questão ética está aí colocada.<br />
Na <strong>escola</strong> municipal o que parece prevalecer é uma dinâmica <strong>de</strong> fronteiras<br />
bastante rígidas, fronteiras entendidas como entre “dois mundos” on<strong>de</strong>, neste contexto,<br />
as idéias <strong>de</strong> diferenças <strong>de</strong> classe e etnia, associadas a uma questão moral, estão<br />
bastante estabelecidas e fortalecendo o <strong>de</strong>sconhecimento do outro. Como coloca Vera<br />
Telles:<br />
Pois, neste país, as distâncias sociais são tão gran<strong>de</strong>s e o fosso social tão imenso que<br />
parece não ser plausível uma medida comum que permita que a questão da justiça e da<br />
igualda<strong>de</strong> se coloque como problema e critério <strong>de</strong> julgamento <strong>na</strong>s relações sociais, <strong>de</strong> tal<br />
modo que a trama das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e iniqüida<strong>de</strong> é como que <strong>na</strong>turalizada, fixando<br />
diferenças e assimetrias (<strong>de</strong> classe, <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> raça, <strong>de</strong> origem) em modos <strong>de</strong><br />
ser não ape<strong>na</strong>s distintos, mas incomensuráveis porque ancorados <strong>na</strong> or<strong>de</strong>m <strong>na</strong>tural das<br />
coisas – ou melhor, fixadas no mundo irrefletido das “evidências <strong>na</strong>turais” construídas <strong>na</strong><br />
trama das hierarquias que parecem não mais do que ema<strong>na</strong>r da or<strong>de</strong>m <strong>na</strong>tural das coisas.<br />
Estou aqui falando <strong>de</strong> uma figuração pública da questão social e <strong>de</strong> um horizonte simbólico<br />
que projeta a pobreza em uma espécie <strong>de</strong> paisagem que incomoda a todos, mas que tal<br />
como a <strong>na</strong>tureza, se estrutura fora e por fora das tramas das relações sociais. É um modo<br />
<strong>de</strong> ence<strong>na</strong>r a pobreza como algo externo a um mundo propriamente social, enquanto mundo<br />
no qual são construídas as regras das reciprocida<strong>de</strong>s das quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m a vida em<br />
socieda<strong>de</strong> – um mundo sem autores e sem responsabilida<strong>de</strong>s, que parece transcorrer ao<br />
largo <strong>de</strong> um espaço propriamente político... (VERA TELLES, 1999, p. 10)<br />
Os/as profissio<strong>na</strong>is da re<strong>de</strong> municipal trabalham com um público com o qual os/as<br />
educadores/as têm uma diferença <strong>de</strong> classe gran<strong>de</strong>, isto parece estar justificando um