A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
124<br />
Neste sentido, ela também não encaixa no lugar <strong>de</strong> objeto <strong>de</strong> políticas públicas<br />
direcio<strong>na</strong>das ao segmento das travestis, on<strong>de</strong> se vinculam, geralmente, o tema da<br />
prostituição e baixa <strong>escola</strong>rida<strong>de</strong>. Julia<strong>na</strong> não cumpre com esta expectativa e confronta<br />
também a subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas iguais. Isto se apresenta em seus relatos:<br />
“...outro dia o José que é um menino terrível da oitava série: - sôra, esses dias eu<br />
passei lá <strong>na</strong> Farrapos 26 e vi tuas colegas. Eu <strong>de</strong>sci <strong>na</strong> Farrapos e vi tuas colegas.”<br />
“Agora, não porque eu fiz faculda<strong>de</strong> ou fiz pós-graduação, ou o raio que o parta, que<br />
eu... eu tive os mesmos problemas que elas, sempre tive...”<br />
“Eu tava atravessando ali embaixo do viaduto, vindo para a <strong>escola</strong> e tinha uma ali, toda<br />
mal ajeitada, mal vestida, as unhas sujas, sem fazer, ela me pediu dinheiro eu tava <strong>de</strong><br />
costas e quando me virei, ela ficou pasma! Pegou o dinheiro e ficou me<br />
olhando...Perguntou se eu era travesti. Sou!”<br />
A experiência da proximida<strong>de</strong> é fundamental quando se trata <strong>de</strong> possíveis<br />
rupturas, é neste momento que o diferente sai da posição <strong>de</strong> estrangeiro, está próximo,<br />
como coloca a professora Janice: “Claro, porque tem que chegar essa hora que tem<br />
que ver que é minha amiga, minha colega.” Porém só a proximida<strong>de</strong> não possibilita o<br />
<strong>de</strong>slizamento da <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> lugares, pois como colocaram as professoras da<br />
<strong>escola</strong> estadual: sempre se soube <strong>de</strong> homossexuais <strong>na</strong> <strong>escola</strong>, tiveram alunos travestis<br />
e transgêneros, mas sua presença não garantiu uma visibilida<strong>de</strong> ou legitimida<strong>de</strong>. No<br />
Brasil, este momento em particular permite que se olhe com mais proximida<strong>de</strong> para o<br />
outro, ele está mais próximo no sentido que está adquirindo uma maior visibilida<strong>de</strong><br />
geral <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong>, ele po<strong>de</strong> ser visto. A temática da <strong>diversida<strong>de</strong></strong> <strong>sexual</strong> tem adquirido<br />
visibilida<strong>de</strong> <strong>na</strong> mídia, nos locais públicos e <strong>na</strong>s ações públicas. As conquistas jurídicas<br />
têm contribuído <strong>de</strong> uma maneira central para uma modificação do olhar dirigido a estes<br />
outros: “no mínimo tem que respeitar...”<br />
A professora Julia<strong>na</strong> da <strong>escola</strong> estadual provoca com sua presença uma<br />
<strong>de</strong>s<strong>na</strong>turalização <strong>de</strong> comportamentos e uma <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s <strong>na</strong> medida<br />
que sua postura e reivindicações são do âmbito dos direitos <strong>de</strong> cidadania e ela está em<br />
um lugar on<strong>de</strong> estão inscritas marcas <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r outorgado ao cargo <strong>de</strong> professora.<br />
Na instituição ela está exercendo o cargo <strong>de</strong> professora, o qual reveste <strong>de</strong> prerrogativas<br />
26 Avenida central <strong>de</strong> Porto Alegre conhecida como local on<strong>de</strong> há prostituição, especialmente <strong>de</strong> travestis.