A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...
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111 O tema da inclusão é conhecido na escola, é uma proposta assimilada no sentido de que é uma realidade que deve ser trabalhada: tanto que foi feita uma reforma na escola para que a biblioteca mudasse do primeiro andar para o piso térreo para que ficasse com acesso “mais fácil para todos os alunos e até para a comunidade”. Na turma de EJA tem um aluno cadeirante que, de início, era carregado pelos colegas para o piso superior e para alguns ambientes da escola que tinham difícil acesso. A escola aos poucos foi mudando sua arquitetura para acolher este aluno. O termo acolher também é presente nas intenções dos/as educadores/as. Estes termos: inclusão, acolhimento, aparecem associados à idéia de direito, conquista de direitos e como tal devem ser respeitados. A inclusão tem uma legitimidade, é difícil falar contra ela, porém a todo o momento se fala de suas dificuldades: a escola não está preparada para recebê-los, os/as professores/as ficam sobrecarregados/as e os/as professores/as preferem turmas onde não tem nenhum “de inclusão”. A chamada diversidade sexual parece ter iniciado sua instalação e busca de legitimidade dentro deste contexto geral de inclusão, a argumentação de boa parte dos textos oficiais parte daí. A possibilidade de inclusão dos diferentes/diversos sexuais está amparada no enunciado que todos tem direito à escolarização, porém alguns vão conseguir se educar e outros não vão conseguir aprender. Quanto a este público, a compreensão é de que muitas vezes fracassa por ser psicologicamente instável, provoca conflitos, não tem tanto interesse pela aprendizagem, ou seja, são alunos/as vistos/as como que tendo a sua sexualidade como ponto central de suas atitudes. Neste caso fica evidente um julgamento moral e uma menor legitimidade por tratar-se de uma opção: o sujeito opta por ser “destrambelhado”, diferente que um ‘cadeirante’ ou um ‘Down’ que não tem culpa de sua condição. Muitas vezes os homossexuais, lésbicas, travestis são vistos numa situação de escolha e que poderiam em algum momento “se acertar”, serem mais discretos, não precisaria desta ‘purpurina’ toda. Alguns comportamentos são avaliados como desnecessários, muitos conflitos em sala de aula são percebidos como controláveis pelo sujeito que é alvo desta situação: “eles poderiam ficar na sua, não tumultuar, não dar bola para as provocações”. As explicações beiram a responsabilização do indivíduo pelos conflitos, já que ele chama desnecessariamente a atenção.
112 7.5 – Gênero “...a questão de gênero é muito forte, ouvir a palavra do César, que é homem e negro é muitíssimo diferente, do que uma professora branca, magrinha e fraca.” (César - diretor) Pela manhã, funciona o terceiro ciclo e vários professores estão presentes (em torno de 10) nas reuniões. Percebo que eles têm uma dinâmica diferenciada das professoras nas suas atividades. Nas reuniões pedagógicas se sentam no fundo da sala, agrupados, não costumam debater e se envolvem pouco nas tarefas burocráticas. Em uma reunião pedagógica onde o grupo se dividiu para sistematizar as discussões do Plano Político e Pedagógico, que estava sendo cobrado pela SMED, nenhum professor foi voluntário. Quando foram intimados pela professora que coordenava a reunião: “Algum representante da ala masculina?” eles reagiram retrucando em tom de deboche: “Nem que a vaca tussa!”, “Nem pagando!” A supervisora insiste: “O professor Artur disse que antes de se aposentar vai participar de alguma coisa...” Eles ficam quietos, não há resposta. Tive a impressão que as colegas não esperavam outra reação, parece ser a atitude costumeira e permitida da assim chamada “ala masculina”. Na reunião onde se organizou a festa junina, na distribuição de tarefas, deste que era “um dia de trabalho”, a participação dos educadores, seu engajamento mostrou-se menor que o das professoras. Fez-se uma lista das doações de comidas para as barracas e não se tocou no nome dos professores e estes pareciam resistentes ao trabalho nas bancas de alimentação e brincadeiras. Porém, nas entrevistas, a diferente postura de homens e mulheres no trabalho não é percebida de maneira muito clara, havendo divergência nas opiniões, a orientadora não identifica estas relações como problemáticas: “Muitos professores homens. E as relações são ótimas. Tanto é que assim, para tu ver os cargos eletivos de direção, então é uma coisa que mescla bem, eu entrei há 21 anos atrás era um diretor homem, depois foi eleito outro homem, depois foi eleito por três gestões o Rogério, e agora voltou outro homem. Então neste sentido...” Ela não percebe o fato dos homens nesta escola monopolizarem o cargo de direção a um comportamento relacionado às relações de gênero hierarquizadas e uma postura dos professores em relação à divisão sexual do trabalho. Enquanto que a supervisora pedagógica já percebe de outra maneira: “São! São ainda menos
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O tema da inclusão é conhecido <strong>na</strong> <strong>escola</strong>, é uma proposta assimilada no<br />
sentido <strong>de</strong> que é uma realida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser trabalhada: tanto que foi feita uma<br />
reforma <strong>na</strong> <strong>escola</strong> para que a biblioteca mudasse do primeiro andar para o piso térreo<br />
para que ficasse com acesso “mais fácil para todos os alunos e até para a<br />
comunida<strong>de</strong>”. Na turma <strong>de</strong> EJA tem um aluno ca<strong>de</strong>irante que, <strong>de</strong> início, era carregado<br />
pelos colegas para o piso superior e para alguns ambientes da <strong>escola</strong> que tinham difícil<br />
acesso. A <strong>escola</strong> aos poucos foi mudando sua arquitetura para acolher este aluno. O<br />
termo acolher também é presente <strong>na</strong>s intenções dos/as educadores/as. Estes termos:<br />
inclusão, acolhimento, aparecem associados à idéia <strong>de</strong> direito, conquista <strong>de</strong> direitos e<br />
como tal <strong>de</strong>vem ser respeitados. A inclusão tem uma legitimida<strong>de</strong>, é difícil falar contra<br />
ela, porém a todo o momento se fala <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s: a <strong>escola</strong> não está preparada<br />
para recebê-los, os/as professores/as ficam sobrecarregados/as e os/as professores/as<br />
preferem turmas on<strong>de</strong> não tem nenhum “<strong>de</strong> inclusão”. A chamada <strong>diversida<strong>de</strong></strong> <strong>sexual</strong><br />
parece ter iniciado sua instalação e busca <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste contexto geral<br />
<strong>de</strong> inclusão, a argumentação <strong>de</strong> boa parte dos textos oficiais parte daí. A possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> inclusão dos diferentes/diversos sexuais está amparada no enunciado que todos tem<br />
direito à <strong>escola</strong>rização, porém alguns vão conseguir se educar e outros não vão<br />
conseguir apren<strong>de</strong>r. Quanto a este público, a compreensão é <strong>de</strong> que muitas vezes<br />
fracassa por ser psicologicamente instável, provoca conflitos, não tem tanto interesse<br />
pela aprendizagem, ou seja, são alunos/as vistos/as como que tendo a sua <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong><br />
como ponto central <strong>de</strong> suas atitu<strong>de</strong>s. Neste caso fica evi<strong>de</strong>nte um julgamento moral e<br />
uma menor legitimida<strong>de</strong> por tratar-se <strong>de</strong> uma opção: o sujeito opta por ser<br />
“<strong>de</strong>strambelhado”, diferente que um ‘ca<strong>de</strong>irante’ ou um ‘Down’ que não tem culpa <strong>de</strong><br />
sua condição. Muitas vezes os homossexuais, lésbicas, travestis são vistos numa<br />
situação <strong>de</strong> escolha e que po<strong>de</strong>riam em algum momento “se acertar”, serem mais<br />
discretos, não precisaria <strong>de</strong>sta ‘purpuri<strong>na</strong>’ toda. Alguns comportamentos são avaliados<br />
como <strong>de</strong>snecessários, muitos conflitos em sala <strong>de</strong> aula são percebidos como<br />
controláveis pelo sujeito que é alvo <strong>de</strong>sta situação: “eles po<strong>de</strong>riam ficar <strong>na</strong> sua, não<br />
tumultuar, não dar bola para as provocações”. As explicações beiram a<br />
responsabilização do indivíduo pelos conflitos, já que ele chama <strong>de</strong>snecessariamente a<br />
atenção.