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A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

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trabalhar com valores muitíssimo mais complicados, mais arraigados pela socieda<strong>de</strong>,<br />

em <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da comunida<strong>de</strong> que se trabalha.” (César- diretor)<br />

Ao se compreen<strong>de</strong>r a tolerância como uma virtu<strong>de</strong>, ignora-se também a relação <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r que lhe dá razão e sustento, pois sempre aquele que tolera o outro se coloca em<br />

uma posição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pouco intercambiável, estabelecendo a hierarquia do normal que<br />

tolera o anormal. Por esse motivo Susan Mendus (1989) diz que a tolerância implica<br />

que o objeto tolerado é moral e necessariamente censurável.<br />

A tolerância surge como uma palavra branda, frágil, levia<strong>na</strong>, que muitas vezes nos exime <strong>de</strong><br />

assumirmos posições e <strong>de</strong> nos responsabilizarmos por elas. Mencio<strong>na</strong>mos a palavra<br />

tolerância e já não ten<strong>de</strong>mos a fazer mais <strong>na</strong>da. Como se a palavra dita ocupasse o lugar da<br />

ação, do movimento; <strong>de</strong> fato, quanto mais fragmentada se apresenta a vida social, mais<br />

ressoa o discurso da tolerância e mais se ‘toleram’, portanto, formas <strong>de</strong>suma<strong>na</strong>s <strong>de</strong> vida.<br />

Além disso, ao enten<strong>de</strong>r a tolerância como uma virtu<strong>de</strong> <strong>na</strong>tural ou como uma utopia<br />

incontestável, se ignora a relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que lhe dá razão e que lhe dá sustento. (Skliar,<br />

2004, p.80)<br />

“Nós vivemos numa era do discurso politicamente correto e não as atitu<strong>de</strong>s<br />

politicamente corretas, o meu discurso po<strong>de</strong> ser politicamente correto, só. Só isso, o<br />

resto eu posso ser o que eu quiser, isso não muda <strong>na</strong>da, eu tenho que ter um<br />

comportamento politicamente correto e para ter um comportamento politicamente<br />

correto eu tenho que viver e incorporar física e emocio<strong>na</strong>lmente isso, a importância da<br />

política <strong>de</strong> cotas, só para pegar um exemplo, ela é absolutamente fundamental num<br />

único sentido, eu só vou incorporar o negro como igual no dia que eu bater <strong>na</strong> porta do<br />

médico, e o médico que abrir a porta for negro, então eu <strong>na</strong>turalmente vou perceber<br />

que po<strong>de</strong> ter médicos negros e eu preciso viver com isso, enquanto ficar no discurso<br />

todos tem direito, todos, <strong>na</strong> vida prática eu estou convivendo com uma coisa<br />

inexistente, mas quando eu incorporo <strong>na</strong> vida prática, e eu bato <strong>na</strong> porta e o médico<br />

que é negro me aten<strong>de</strong>, eu passo a tratar isso com <strong>na</strong>turalida<strong>de</strong>. Por enquanto nós não<br />

vivemos isso, quer dizer <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos prédios não foram feitos para negros e digo com<br />

tranqüilida<strong>de</strong> porque eu moro num prédio <strong>de</strong> classe média alta e tive problemas <strong>de</strong>ntro<br />

do prédio on<strong>de</strong> moro. Tive problemas, porque, porque as pessoas criaram essa<br />

situação, criaram no imaginário que estariam num prédio on<strong>de</strong> talvez não tivessem<br />

negros, <strong>de</strong> repente se <strong>de</strong>param com alguém que está pegando seu carro <strong>na</strong> garagem e<br />

é negro. E estranham, <strong>na</strong>quele espaço ele não foi pensado que teria negros,<br />

enten<strong>de</strong>u?” (César- diretor)<br />

Este educador traz a experiência da discrimi<strong>na</strong>ção: ele é negro e neste sentido<br />

foi alvo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s preconceituosas relacio<strong>na</strong>das à cor, o que o tira do distanciamento<br />

que aparece muito presente em relação a este tema da inclusão, sempre se refere a<br />

alguém que está colocado como distante, diferente, mesmo que <strong>na</strong> realida<strong>de</strong> esta<br />

pessoa esteja ao lado, ela é percebida como estranha, estrangeira.

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