A diversidade sexual na escola: produção de subjetividade e ...

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20.02.2015 Views

101 bullying, é o que está se falando, porque é o nosso diário. Então fizemos este trabalho com o bullying e o retorno que tivemos na avaliação dos conselhos foi boa. Vamos continuar, a sexualidade já teve com mais interesse, agora meio que sumiu.” Deborah Antunes e Antônio Zuin (2008) afirmam que apesar da divulgação ampla do conceito bullying e de este ter adentrado com força nas discussões sobre violência escolar no Brasil, observa-se que os pesquisadores, de forma geral, ao discutirem sobre as supostas “causas” do que chamam bullying, dentre as quais se destacam os fatores econômicos, sociais, culturais e particulares, não as problematizam. A classificação estereotipada da violência, o fato de se classificarem detalhadamente as suas variáveis constituintes, decorre que os fenômenos classificados, contraditoriamente, tornam-se naturais. Não se discute o contexto de sua existência, os convertendo em números e dados estatísticos, tal atitude tem resultado na defesa da expressão genérica do “educar para a paz” que está sendo muito utilizada nas escolas, mas que parece soar como um conceito vazio. O que ocorre é a prescrição do bom comportamento e da boa conduta moral através de prescrições de como se deve ou não agir frente àquele que parece diferente, numa atitude marcada pela tolerância. O bullying, como conceito, não é uma simples manifestação da violência sem qualquer fator determinante, na verdade, o bullying se aproxima do conceito de preconceito, principalmente quando se reflete sobre os fatores sociais que determinam os gruposalvo. Parece que o conceito, da maneira que vem sendo utilizado, mascara a violência. O próprio conceito de bullying parece exercer esse papel de adaptação, ao classificar a barbárie, e pretensamente controlá-la por essa via. O conceito de bullying coloca tudo em seu lugar, tenta arrumar e justificar aquilo que fere a ideologia democrática, e acaba por mascarar as tensões e contradições que estão na base da própria barbárie. Esse é o risco que se corre ao se utilizar a mera classificação e quantificação. (DEBORAH ANTUNES, ANTONIO ZUIN, 2008, p. 39) A maneira como o tema é abordado nesta escola faz pensar neste sentido, ou seja, que há o recobrimento da realidade atrás de um conceito expresso em outra língua e despido de toda uma carga de sofrimento e desrespeito, o assunto parece “leve”, interessante e de certa maneira fácil de ser trabalhado. Surgem palavras bonitas e prescrições de comportamento quase simplórias: respeito ao próximo, solidariedade, paz, palavras genéricas, vazias de sentido prático. A proposta de trabalho se situa

102 numa conscientização acerca dos hábitos relacionados à violência e intolerância: o SOE realizou num sábado, um encontro na escola para discutir bullying. Elas “organizaram tudo”, conseguiram convidar conselheiros/as tutelares, supervisoras/es de todas as escolas da região e três escolas mandaram seus representantes de turma. Fizeram atividades com os/as alunos/as, na sala do SOE estão bandeirinhas coloridas que foram distribuídas para os/as alunos/as escreverem palavras: ali estão, com a letra de crianças, harmonia, paz, solidariedade, respeito, etc. A programação consistiu em apresentações de músicas, confecção de cartazes e lanche; além disto distribuíram certificados e pirulitos. Além deste encontro, as orientadoras estão desenvolvendo trabalhos em diversas turmas sobre este tema. A orientadora Sônia considera que houve um ótimo trabalho com a B20 23 , ela levou para a sala de aula um livro infantil que conta a história de uma menina negra que não era aceita pelos colegas. Os alunos verbalizaram questões de raça e sexualidade: “Eles verbalizam! Que tem racismo, que os brancos são racistas, eles falam!” No término da atividade ela escreveu no quadro: Moral da história... e eles/as deveriam escrever a moral da história e entregar: “Saiu coisas muito legais.” Estas professoras que desenvolvem um trabalho sobre bullying, tiveram formação para tal, mas não relacionam o tema diversidade sexual e a homofobia a este trabalho. 7.3 - Os diferentes “São diferentes opções, opções sexuais, diversidade é diferente, são as diferentes opções sexuais das pessoas e aqui com os alunos a gente vê bem isso, algumas tendências desde bem cedo com relação a, como vou dizer, assim, principalmente no terceiro ciclo a gente vê muito claro alguns casos, eu trabalho com primeiro e segundo ciclos, com os menores, a minha colega trabalha com o terceiro ciclo, nós já tivemos alguns casos de alunos que a gente vê uma tendência de opção sexual, né...pelo jeito, pelo gesto, pelas características do aluno, tem todo um lado que se mostra nos meninos principalmente, né, com tendência homossexual, e diversidade para mim são as diferenças. As diferenças em todos os níveis.” ( Denise- Orientadora educacional) A diversidade é traduzida como equivalente ao diferente, se refere ao outro. O discurso da diferença é geralmente trabalhado, no contexto da escola, na direção da homogeneização a partir do igual, do normal. Isto se evidencia nas falas que concedem ao 23 No ensino seriado equivale a uma turma de quinta série, de faixa etária em torno de 10 a 11 anos

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numa conscientização acerca dos hábitos relacio<strong>na</strong>dos à violência e intolerância: o<br />

SOE realizou num sábado, um encontro <strong>na</strong> <strong>escola</strong> para discutir bullying. Elas<br />

“organizaram tudo”, conseguiram convidar conselheiros/as tutelares, supervisoras/es <strong>de</strong><br />

todas as <strong>escola</strong>s da região e três <strong>escola</strong>s mandaram seus representantes <strong>de</strong> turma.<br />

Fizeram ativida<strong>de</strong>s com os/as alunos/as, <strong>na</strong> sala do SOE estão ban<strong>de</strong>irinhas coloridas<br />

que foram distribuídas para os/as alunos/as escreverem palavras: ali estão, com a letra<br />

<strong>de</strong> crianças, harmonia, paz, solidarieda<strong>de</strong>, respeito, etc. A programação consistiu em<br />

apresentações <strong>de</strong> músicas, confecção <strong>de</strong> cartazes e lanche; além disto distribuíram<br />

certificados e pirulitos.<br />

Além <strong>de</strong>ste encontro, as orientadoras estão <strong>de</strong>senvolvendo trabalhos em diversas<br />

turmas sobre este tema. A orientadora Sônia consi<strong>de</strong>ra que houve um ótimo trabalho<br />

com a B20 23 , ela levou para a sala <strong>de</strong> aula um livro infantil que conta a história <strong>de</strong> uma<br />

meni<strong>na</strong> negra que não era aceita pelos colegas. Os alunos verbalizaram questões <strong>de</strong><br />

raça e <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>: “Eles verbalizam! Que tem racismo, que os brancos são racistas,<br />

eles falam!” No término da ativida<strong>de</strong> ela escreveu no quadro: Moral da história... e<br />

eles/as <strong>de</strong>veriam escrever a moral da história e entregar: “Saiu coisas muito legais.”<br />

Estas professoras que <strong>de</strong>senvolvem um trabalho sobre bullying, tiveram formação para<br />

tal, mas não relacio<strong>na</strong>m o tema <strong>diversida<strong>de</strong></strong> <strong>sexual</strong> e a homofobia a este trabalho.<br />

7.3 - Os diferentes<br />

“São diferentes opções, opções sexuais, <strong>diversida<strong>de</strong></strong> é diferente, são as diferentes<br />

opções sexuais das pessoas e aqui com os alunos a gente vê bem isso, algumas<br />

tendências <strong>de</strong>s<strong>de</strong> bem cedo com relação a, como vou dizer, assim, principalmente no<br />

terceiro ciclo a gente vê muito claro alguns casos, eu trabalho com primeiro e segundo<br />

ciclos, com os menores, a minha colega trabalha com o terceiro ciclo, nós já tivemos<br />

alguns casos <strong>de</strong> alunos que a gente vê uma tendência <strong>de</strong> opção <strong>sexual</strong>, né...pelo jeito,<br />

pelo gesto, pelas características do aluno, tem todo um lado que se mostra nos<br />

meninos principalmente, né, com tendência homos<strong>sexual</strong>, e <strong>diversida<strong>de</strong></strong> para mim são<br />

as diferenças. As diferenças em todos os níveis.” ( Denise- Orientadora educacio<strong>na</strong>l)<br />

A <strong>diversida<strong>de</strong></strong> é traduzida como equivalente ao diferente, se refere ao outro. O<br />

discurso da diferença é geralmente trabalhado, no contexto da <strong>escola</strong>, <strong>na</strong> direção da<br />

homogeneização a partir do igual, do normal. Isto se evi<strong>de</strong>ncia <strong>na</strong>s falas que conce<strong>de</strong>m ao<br />

23 No ensino seriado equivale a uma turma <strong>de</strong> quinta série, <strong>de</strong> faixa etária em torno <strong>de</strong> 10 a 11 anos

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