Garcinia gardneriana (PLANCH. ET TRIANA ... - Acervo - Unesc
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1<br />
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC<br />
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO<br />
FRANCIELLE GONÇALVES MINA<br />
<strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (<strong>PLANCH</strong>. <strong>ET</strong> <strong>TRIANA</strong>) ZAPPI (CLUSIACEAE)<br />
NA FLORESTA ATLÂNTICA: ASPECTOS ECOLÓGICOS, USO<br />
TRADICIONAL E BIOPROSPECÇÃO NO EFEITO<br />
ANTIINFLAMATÓRIO<br />
CRICIÚMA, 2010
2<br />
FRANCIELLE GONÇALVES MINA<br />
<strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (<strong>PLANCH</strong>. <strong>ET</strong> <strong>TRIANA</strong>) ZAPPI (CLUSIACEAE)<br />
NA FLORESTA ATLÂNTICA: ASPECTOS ECOLÓGICOS, USO<br />
TRADICIONAL E BIOPROSPECÇÃO NO EFEITO<br />
ANTIINFLAMATÓRIO<br />
Trabalho de Conclusão do Curso apresentado para<br />
obtenção do grau de Bacharel no Curso de Ciências<br />
Biológicas da Universidade do Extremo Sul<br />
Catarinense, UNESC.<br />
Orientadora: Profa. Dra. Vanilde Citadini-Zanette<br />
Co-orientador: Dr. Felipe Dal-Pizzol<br />
CRICIÚMA, 2010
3<br />
"De tudo, ficaram três coisas:<br />
A certeza de que estamos sempre começando...<br />
A certeza de que precisamos continuar...<br />
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...<br />
Portanto, devemos:<br />
Fazer da interrupção um caminho novo...<br />
Da queda, um passo de dança...<br />
Do medo, uma escada...<br />
Do sonho, uma ponte...<br />
Da procura, um encontro... "<br />
Fernando Pessoa
4<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Primeiramente quero agradecer a Deus, por sempre me dar forças diante dos<br />
obstáculos, por sempre iluminar meu caminho, me fazendo persistir, e mesmo quando os dias<br />
pareciam obscuros, sempre trazendo esperanças de um amanhã melhor, sempre na alma a<br />
certeza da vitória.<br />
Agradecer aos meus pais Jorge Mina e Rosa Mina, sempre incentivando e acreditando nos<br />
meus objetivos, nunca desistiram de mim e dos meus sonhos.<br />
Agradeço aos meus irmãos, pela amizade e confiança que sempre tivemos uns aos outros,<br />
onde assim formamos uma família unida, linda!!<br />
Agradecer ao Prof. Dr. Felipe Dal-Pizzol, pelo incentivo e oportunidade na pesquisa, me<br />
privilegiando com toda sua experiência.<br />
Agradecer a minha professora e orientadora Dra. Vanilde Citadini-Zanette, pela sábia<br />
orientação e paciência, depositando em mim confiança e credibilidade, sinto-me honrada por<br />
estar ao seu lado.<br />
Agradeço a Fabricia Petronilho, pela super, mega, power, amizade, confiança. É um prazer<br />
inenarrável estar ao seu lado, e poder dispor de todo seu conhecimento, experiência, carinho,<br />
confiança. Admiro-te pela pessoa, por sua simplicidade, sempre solícita a qualquer momento.<br />
A você, minha eterna gratidão.<br />
Aos colegas;<br />
Taiara, sempre fazendo parte em muitos momentos, onde muito chorei e muito sorri. Com<br />
você fique certo que jamais falhei, pois você sempre ali ao meu lado. Obrigada pela imensa<br />
amizade.<br />
Tuane sempre disposta a tudo, sempre ao meu lado, em muitos filmes, pipocas, (kkkk).<br />
Enorme gratidão ter você ao meu lado. Com você ganhei muita força me tornando muito<br />
maior.<br />
Fabíola, amizade eterna, risonha, já foi e sempre será meu alicerce. Não há bem maior que sua<br />
amizade.<br />
Daí e Dioneia, unidas nesses quatros, muitos trabalhos e muitas risadas. A vida nos separa,<br />
mas amizade, nem mesmo a força do tempo irá destruir.
5<br />
As meninas do Lab: Lara, Cris (já me deram muitos conselhos, e muito conhecimento),<br />
Francine (já rimos muito), Fran vuolo (companheira).<br />
Amanda: essa amizade não tem palavras, simplesmente é amizade: aquela que nos ampara<br />
nos momentos difíceis, que nos crítica nos erros e fraquezas. Vlw amandinha... por sempre<br />
estar ao meu lado.
6<br />
RESUMO<br />
<strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi (CLUSIACEAE), planta nativa da Mata<br />
Atlântica, conhecida como bacupari, é usada na medicina popular para processos<br />
inflamatórios, infecções, dores, inchaço. Recentes trabalhos demonstram a presença de<br />
flavonóides, que possuem ação antiinflamatória. No presente estudo, investigamos aspectos<br />
ecológicos, uso tradicional e bioprospecção no efeito antiinflamatório de G. garderiana. O<br />
bacupari é uma árvore frutífera de pequeno porte, regularmente cultivada em pomares<br />
domésticos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, sendo comum em seu habitat natural na<br />
Floresta Amazônica de terra firme e na Mata Atlântica, crescendo no interior da mata à<br />
sombra do dossel. Para o uso tradicional, foi realizado entrevistas/questionário, com<br />
levantamento de dados sobre o perfil das agentes entrevistadas integrantes da equipe da<br />
Pastoral da Saúde Regional Sul IV da Diocese de Criciúma, Santa Catarina, que detém<br />
informações etnobotânicas sobre a planta medicinal em questão. Para a bioprospecção no<br />
efeito antiinflamatório foi realizado o modelo de inflamação pleurisia induzida por<br />
carragenina, onde foi administrado 0,2 mL (v.o) do extrato bruto da folha e da casca do fruto<br />
de G. <strong>gardneriana</strong>, no tratamento crônico e agudo. A atividade antiinflamatória foi mesurada<br />
pela presença de citocinas pró-inflamatória, TNF-α, atividade de Mieloperoxidase (MPO),<br />
concentração de Nitrito/Nitrato (NO) e Lactato Desidrogenase (LDH). Em nossos estudos<br />
mostramos o extrato da casca do fruto diminuiu a inflamação, sendo mais significativo no<br />
tratamento crônico, pois com administrações sucessivas pode-se ter uma redução dos<br />
mediadores envolvidos na resposta. Tais evidências obtidas neste trabalho dão suporte ao uso<br />
popular de G. <strong>gardneriana</strong> no tratamento da inflamação, através da regulação dos mediadores<br />
envolvidos na resposta, servindo no futuro como um potencial fitomedicamento.<br />
Palavras-chave: Bacupari; uso tradicional; flavonóides; inflamação
7<br />
LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />
Figura 1: Detalhe de um ramo florífero de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> .........................................14<br />
Figura 2: Detalhe da folha e flor masculina.............................................................................15<br />
Figura 3: Estrutura básica dos flavonóides...............................................................................16<br />
Figura 4: A- Detalhe da folha de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong>; B- Aspecto geral das folhas da<br />
planta coletada para estudo no município de Turvo................................................................24<br />
Figura 5: Atividade Mieloperoxidase (MPO), tratamento crônico...........................................33<br />
Figura 6: Atividade Mieloperoxidase (MPO), tratamento agudo.............................................33<br />
Figura 7: Concentração de TNF-α no tratamento crônico........................................................34<br />
Figura 8: Concentração de TNF-α tratamento agudo................................................................35<br />
Figura 9: Concentração de Nitrito/Nitrato, tratamento crônico................................................36<br />
Figura 10: Concentração de Nitrito/Nitrato, tratamento agudo................................................37<br />
Figura 11:Atividade Lactato Desidrogenase (LDH), tratamento crônico.................................37<br />
Figura 12:Atividade Lactato Desidrogenase (LDH), tratamento agudo...................................38
8<br />
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 01: Perfil das Agentes/Treinadoras da Pastoral da Saúde............................................28<br />
Tabela 02: Comparativo entre idade das Agentes da Pastoral da Saúde, tempo que<br />
trabalham/indicam Plantas Medicinais e atuam na Pastoral da Saúde......................................29<br />
Tabela 03: Comparativo do uso da planta individual ou em conjunto com outras plantas.....30
9<br />
SUMÁRIO<br />
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11<br />
1.1 MATA ATLÂNTICA: aspectos gerais................................................................ 12<br />
1.2 Plantas medicinais e o meio ambiente...................................................................14<br />
1.3 <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi – ..............................................14<br />
1.3.1 Aspectos gerais e ocorrência ..............................................................................14<br />
1.3.2 Aspectos químicos e farmacológicos ..................................................................15<br />
1.3.3 Inflamação: resposta inflamatória .....................................................................17<br />
1.3.4 Mediadores inflamatórios ...................................................................................17<br />
1.3.5 Citocinas ...............................................................................................................17<br />
1.3.6 Mieloperoxidase ..................................................................................................18<br />
1.3.7 Oxido Nitrico ........................................................................................................18<br />
1.3.8 Lactato Desidrogenase.........................................................................................19<br />
1.3.9 Modelo de Inflamação..........................................................................................19<br />
2 OBJ<strong>ET</strong>IVOS ........................................................................................................................21<br />
2.1 Objetivo geral ..........................................................................................................21<br />
2.2 Objetivos específicos ...............................................................................................21<br />
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..............................................................................................22<br />
3.1 Estudo etnobotânico ..........................................................................................22<br />
3.1.1 Definição da planta..........................................................................................22<br />
3.1.2 Elaboração do questionário/entrevista..........................................................22<br />
3.1.3 Seleção das agentes a serem entrevistadas ....................................................22<br />
3.1.4 Aplicação do questionário/entrevista ............................................................23<br />
3.1.5 Compilação e análise dos resultados obtidos.................................................23<br />
3.1.6 Coleta de material botânico e aspectos ecológicos........................................23<br />
3.2 Estudo farmacológico.........................................................................................24<br />
3.2.1 Extrato .............................................................................................................24<br />
3.2.2 Animais e protocolo de indução de pleurisia ................................................25<br />
3.2.3 Mieloperoxidase...............................................................................................26<br />
3.2.4 Análise de citocinas .........................................................................................26<br />
3.2.5 Oxido Nitrico....................................................................................................26<br />
3.2.6. Lactato Desidrogenase ...................................................................................27<br />
3.2.7 Análise Estatísticas..........................................................................................27
10<br />
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................28<br />
4.1 Estudo etnobotânico .............................................................................................28<br />
4.2Estudo farmacológico.............................................................................................32<br />
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................40<br />
6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 41<br />
7 ANEXOS...............................................................................................................................47
11<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
1.1 Mata Atlântica: aspectos gerais<br />
O bioma da Mata Atlântica é um complexo de ecossistemas de grande<br />
importância, pois abriga significativa parcela da diversidade biológica do Brasil e do mundo.<br />
Os altos níveis de riqueza e endemismo, associados à destruição sofrida no passado, incluíram<br />
a Floresta Atlântica definitivamente no cenário mundial como um dos 34 hostspots de<br />
biodiversidade (MITTERMEIER et al. 2004). Os hotspots, que representam somente 1,4% da<br />
superfície terrestre, são regiões de elevada riqueza biológica, abrigam a maior parte da<br />
biodiversidade do planeta e estão sob alto grau de ameaça com 70% ou mais da vegetação<br />
original destruída (BACKES; IRGANG, 2004).<br />
A Mata Atlântica é considerada como um conjunto de ecossistemas com maior<br />
biodiversidade do planeta, detendo 22 a 24% da flora global e 33 a 36% da flora brasileira<br />
(SCHÄFFER; PROCHNOW, 2004). É uma floresta tropical distribuída ao longo do litoral<br />
brasileiro, numa faixa que vai da região nordeste à região sul. Na região leste do Brasil, que<br />
sofre a influencia do oceano atlântico, é onde ocorre a Mata Atlântica stricto sensu<br />
(BACKES; IRGANG, 2004). Calcula-se que sua área original cobria entre 1.300.000 a<br />
1.500.000 km², estendendo-se por mais de 3.300 km ao longo da costa leste do Brasil<br />
(MORELATTO; HADDAD, 2000). Áreas florestais mais continentais e outras adjuntas<br />
inseridas como encraves no Cerrado, Pantanal, Caatinga e Pampa também são consideradas<br />
como pertencentes ao Domínio Floresta Atlântica (IBGE, 2008).<br />
O bioma Mata Atlântica compreende um conjunto de formações florestais e<br />
ecossistemas associados que incluem a “Floresta Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila<br />
Mista, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estadual Semidecidual, Floresta Estacional<br />
Decidual, os Manguezais, as Restingas, os Campos de Altitude, e os Brejos interioranos e<br />
encraves florestais do Nordeste” (SCHÄFFER; PROCHNOW, 2004). A riqueza da Floresta<br />
Atlântica foi estimada por Myers et al. (2000) em 20 mil espécies de plantas vasculares, sendo<br />
oito mil (40%) endêmicas. Nas duas últimas décadas, mais de mil novas espécies de<br />
angiospermas foram descobertas, o que representa 42% do total descrito para o Brasil neste<br />
período (SOBRAL; STEHMANN, 2009). No entanto, dados mais atuais indicam que restam<br />
cerca de 11% da vegetação original (RIBEIRO et al. 2009), distribuída em fragmentos<br />
florestais de tamanho reduzido (
12<br />
poderia levar centenas de anos (LIEBSCH et al., 2008). Ressalta-se que a Mata Atlântica é o<br />
segundo ecossistema ameaçado em extinção, perdendo apenas as quase extintas florestas da<br />
ilha de Madagascar na costa da África. Segundo Morellato; Haddad (2000), os últimos<br />
remanescentes de floresta ainda se encontram sob intensa pressão antrópica e risco iminente<br />
de extinção.<br />
No domínio da Mata Atlântica os fragmentos com cobertura florestal secundária<br />
predominam em toda sua extensão, refletindo um processo de ocupação e exploração<br />
ordenada (SIMÕES, 2003). Sendo assim a Mata Atlântica brasileira encontra-se com<br />
pouquíssimos e minúsculos fragmentos florestais que são quase imperceptíveis. Apesar da<br />
devastação acentuada a Mata Atlântica abriga ainda uma parcela significativa de<br />
biodiversidade. De acordo com Backes; Irgang (2004) a riqueza pontual é tão expressiva que<br />
os dois maiores recordes mundiais de diversidade botânica para as plantas lenhosas foram<br />
registrados nesse bioma, 454 espécies em um único hectare do sul da Bahia. Proteger e<br />
preservar a Mata atlântica é uma medida de extrema urgência, pois desmatar essas regiões<br />
florestais é retirar milhares de seres vivos do seu habitat natural e perder toda a riqueza<br />
encontrada de substâncias químicas bioativas em suas espécies vegetais que poderão servir<br />
como futuros fitomedicamentos.<br />
1.2 Plantas medicinais e o meio ambiente<br />
O conhecimento do reino vegetal apresenta ampla variedade de novas substâncias<br />
com alto potencial fitoterapêutico que podem auxiliar em várias enfermidades e tratamentos.<br />
A biodiversidade pode ser analisada pelo seu papel evolutivo, ecológico ou como recurso<br />
biológico. De acordo com Léveque (1999) sob o termo “recursos biológicos” identificamos os<br />
componentes da biodiversidade que têm utilização direta, indireta ou potencial para a<br />
humanidade.<br />
O consumo de plantas medicinais para o tratamento de inúmeras doenças é<br />
passado de geração em geração, como tradição familiar, conhecido comumente como<br />
“medicina popular”. O consumo de fitoterápicos vem crescendo no Brasil à razão de 20%<br />
anuais, segundo informação do Laboratório Herbarium (SIMÕES, 2003). Segundo o<br />
professor João Calixto, da Universidade Federal de Santa Catarina, “acredita-se que o<br />
consumo de plantas medicinais represente 10% do mercado mundial, que é quase US$ 14<br />
bilhões anuais” (SIMÕES, 2003). O conhecimento da medicina popular é, muitas vezes
13<br />
embasado em conhecimentos indígenas, comunidades tradicionais, que aprimora o saber da<br />
biodiversidade das florestas, auxiliando na pesquisa e descoberta de novos medicamentos.<br />
Nas últimas décadas, houve uma crescente valorização no uso de plantas<br />
medicinais. Este fenômeno pode ser exemplificado por três fatores (SIMÕES, 2003):<br />
“a) a crescente aceitação do consumidor por medicamentos feitos a partir de plantas,<br />
por causa do sentimento, nem sempre justificado, de que tudo o que vem da natureza<br />
é mais seguro, saudável e ecologicamente correto do que os produtos sintéticos;<br />
b) um renovado interesse da indústria farmacêutica na busca de compostos naturais<br />
que possuam atividade farmacológica, por causa de sua aceitação por parte dos<br />
usuários e também dos menores custos envolvidos na pesquisa e no<br />
desenvolvimento de um novo produto obtido a partir de plantas;<br />
c) a pesquisa científica validando o uso de inúmeras plantas usadas popularmente e<br />
sendo incorporadas às farmacopéias de cada país, criando condições legais para que<br />
possam ser oficialmente transformadas em medicamentos por farmacêuticos e<br />
receitadas por médicos.”<br />
A procura dessas plantas medicinais aumenta os riscos de destruição do nicho<br />
ecológico de várias espécies, podendo levar a perda da variabilidade genética, colocando em<br />
risco a sobrevivência de muitas espécies medicinais nativas. Segundo Simões (2003) no caso<br />
da Mata Atlântica, isso já aconteceu com as espécies Psychotria ipecacuanha (ipeca), Ocotea<br />
odorifera (sassafrás), e vem acontecendo com Maytenus ilicifolia (espinheira-santa) e Pfaffia<br />
paniculata (ginseng-brasileiro). Nos últimos anos a preservação ambiental tornou-se a<br />
preocupação do planeta e podemos ter alguns problemas decorrentes da perda dos<br />
ecossistemas, tais como – perda da fauna e da flora, incluindo a perda de conhecimentos sobre<br />
essas espécies e de seus potenciais produtos, empobrecimento do solo, alterações climáticas,<br />
comprometimento do abastecimento de água, entre outros (DI STASI, 2002).<br />
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população dos<br />
países em desenvolvimento utilizam práticas com plantas medicinais nos cuidados básicos de<br />
saúde. Deste universo, 85% utilizam plantas ou preparados. Sendo assim, a OMS ainda<br />
reforça o compromisso de estimular o desenvolvimento de políticas públicas com o objetivo<br />
de inseri-las no sistema oficial de saúde, pois são distribuídas mundialmente, porém mais<br />
diversificadas em países tropicais. O alto custo dos remédios fabricados pela indústria<br />
farmacêutica, a dificuldade em se obter assistência médica e farmacêutica de qualidade e a<br />
própria confiança e aceitação da população nos produtos naturais, estão expandindo o<br />
processo de utilização de plantas medicinais na terapêutica e na cosmetologia (CORRÊA;<br />
BATISTA; QUINTAS 1998).
14<br />
1.3 <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi<br />
1.3.1 Aspectos gerais e ocorrência<br />
<strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi pertence à família Clusiaceae ou<br />
Guttiferae (nom.conserv.) e à ordem Malpighiales (APG III, 2009) é conhecida popularmente<br />
como bacupari ou bacopari (Figura 1). Pode ser encontrada na literatura botânica como<br />
Rheedia <strong>gardneriana</strong> Planch. & Triana (DI STASI, 2002). É utilizada na medicina tradicional<br />
para várias patologias como infecções, inflamações e processos dolorosos. Clusiaceae foi<br />
descrita por Antoine Laurent de Jussieu e compreende aproximadamente 1.370 espécies (DI<br />
STASI, 2002). Segundo este autor, no Brasil ocorrem 21 gêneros, com aproximadamente 31<br />
espécies com ampla distribuição por todo o território. Encontram-se nesses gêneros<br />
importância econômica para a produção de madeiras, óleos essenciais e resinas.<br />
Figura 1: Detalhe de um ramo florífero de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi.<br />
Fonte: SOUZA; LORENZI (2005).<br />
O bacupari é uma árvore frutífera de pequeno porte, regularmente cultivada em<br />
pomares domésticos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, sendo comum em seu habitat natural<br />
na Floresta Amazônica de terra firme e na Mata Atlântica (LORENZI, 2006), crescendo no<br />
interior da mata à sombra do dossel. Possui madeira pesada, de 870 kg/m³, usada como cabo<br />
para ferramentas e como moirões de cerca. Como medicinal é usada contra afecções do<br />
aparelho urinário (BACKS; IRGANG, 2004).
15<br />
É uma árvore perenifólia de ramos ascendentes e copa densa, de 5-10 m de altura.<br />
Folhas simples, cartáceas, glabras, de 6-15 cm de comprimento. Flores de até 1 cm de<br />
diâmetro, tetrâmeras, branco-esverdeadas (Figura 2), frutos do tipo baga, de forma elíptica,<br />
amarelos, de até 5 cm de comprimento e 4 cm de diâmetro (BACKS; IRGANG, 2004;<br />
LORENZI, 2006).<br />
A floração ocorre nos meses de junho a janeiro, frutificando nos meses de<br />
novembro a maio. É uma espécie climácica, bem distribuída no interior de ecossistemas<br />
florestais, sendo também muito ornamental, especialmente quando carregada com seus frutos<br />
amarelos (BACKS; IRGANG, 2004).<br />
Figura 2: Detalhe da folha e flor masculina Fonte: LIMA; BRUNI (1999).<br />
1.3.2 Aspectos químicos e farmacológicos<br />
Nas últimas décadas vários estudos tentam demonstrar o papel dos flavonóides de<br />
plantas medicinais, em várias patologias humanas. Os flavonóides pertencem a um grande<br />
grupo de substâncias químicas caracterizados pela presença de carbono C3-C6-C3 e são<br />
encontrados em vegetais. São polifenóis, ou seja, possuem um ou mais núcleos aromáticos<br />
contendo substituintes hidroxilados e/ou seus derivados funcionais. A estrutura padrão da<br />
maioria dos flavonóides é composta por 15 átomos de carbono (C) em seu núcleo<br />
fundamental, constituindo de duas fenilas ligadas por uma cadeia de três carbonos entre elas<br />
(Figura 3). Nos compostos tricíclicos, as unidades são chamadas núcleos A, B e C<br />
(ZUANAZZI; MONTANHA, 2004).
16<br />
Figura 3: Estrutura básica dos flavonóides (SUGIHARA et al., 1999)<br />
Recentes estudos fitoquímicos com folhas e cascas do tronco de <strong>Garcinia</strong><br />
<strong>gardneriana</strong> revelaram a presença de flavonóides como os “volkensiflavon, fukugetina<br />
(moreloflavona) (CECHINEL-FILHO et al., 2000), fukugesida, (LUZZI et al., 1997) e I3-<br />
naringenina-II8-4’-OMe-eriodictiol (GB-2a-II-4’-Ome)” (CECHINEL-FILHO et al., 2000).<br />
Cechinel-Filho et al. (2000) em estudo fitoquímico orientado para o isolamento de<br />
substâncias com efeitos analgésicos possibilitou o isolamento de 4 biflavonóides,<br />
identificados como volkensiflavona (1), fukugetina ou morelloflavona (2), fukugesida (3) e<br />
GB-2a (4). Estes compostos, especialmente o primeiro, apresentaram considerável efeito<br />
analgésico. Segundo estes autores os flavonóides (volkensiflavona, I3-naringenina-II8-<br />
eriodictiol (GB50-2a), GB-1a, fukugetina, fukugesida) encontrados no extrato bruto<br />
hidroalcoólico das folhas de G. <strong>gardneriana</strong> tem ação analgésica nos processos de<br />
inflamação, assim como atividade antimicrobiana contra bactérias gram-positivas e gramnegativas<br />
(VERDI et al., 2004).<br />
De acordo com Cechinel-filho (2000), um novo biflavonóide foi encontrado na<br />
folha de G. <strong>gardneriana</strong>, que consiste no derivado metoxilado. A exata posição do grupo<br />
metoxila não foi localizada inicialmente, porém em estudos de comparação com outros<br />
flavonóides descritos na literatura contendo o grupo metoxila no anel aromático na posição 3<br />
e 4, permitiram a confirmação através da hidrólise básica, onde se verificou a formação do<br />
ácido isovanilico, o qual apresenta o grupo metoxila na posição 4. Os autores relatam que este<br />
composto, submetido aos testes farmacológicos, apresentou efeitos analgésicos similares aos<br />
biflavonóides isolados anteriormente .
17<br />
1.3.3 Inflamação: resposta inflamatória<br />
A inflamação é um processo fisiológico que pode ocorrer por fatores endógenos<br />
(necrose tecidual) ou por fatores exógenos (agentes químicos, físicos, estímulo imunológico).<br />
A resposta inflamatória ocorre em todos os organismos multicelulares, onde o<br />
tecido responde a estímulos diferentes, sejam eles químicos, físicos, infecciosos,<br />
imunológicos, entre outros. De acordo com Tedgui; Mallat (2001) os mecanismos envolvidos<br />
na resposta inflamatória formam uma reação em cascata, envolvendo células inflamatórias<br />
(neutrófilos, linfócitos, monócito/macrófago) e células vasculares (endoteliais e células da<br />
musculatura lisa). No entanto a resposta inflamatória visa à proteção do organismo frente a<br />
um agente infeccioso, tendo como objetivo a destruição do invasor.<br />
O papel principal da resposta inflamatória é destruir, diluir ou isolar o agente<br />
agressivo, sendo, portanto uma reação de defesa e reparação do dano tecidual<br />
(CHANDRASOMA; TAYLOR, 1993).<br />
A inflamação ocorre em três eventos principais: aumento do suprimento sangüíneo<br />
para a área afetada; aumento da permeabilidade capilar ocasionado pela retração das células<br />
endoteliais, como conseqüente escape de moléculas maiores permitindo, então, que os<br />
mediadores solúveis da imunidade atinjam o local da infecção; migração dos leucócitos, dos<br />
capilares para os tecidos circundantes. Na fase final da inflamação, os neutrófilos são<br />
particularmente prevalentes, mas tardiamente no processo, os monócitos e linfócitos também<br />
migram para o local inflamado (ROITT et al., 2003, apud PEREIRA, 2009).<br />
A duração da resposta inflamatória é relativamente curta, podendo durar alguns<br />
minutos, horas ou dias e é independente da natureza do agressor, sendo a resposta muito<br />
similar aos diferentes estímulos (SIQUEIRA JÚNIOR; DANTAS, 2005).<br />
1.3.4 Mediadores Inflamatórios<br />
1.3.5 Citocinas<br />
As citocinas são “fatores solúveis de baixo peso molecular, liberadas<br />
principalmente por células ativadas com a finalidade de mediar informações, bem como<br />
modular a função destas células por meio da ativação de receptores de superfície”<br />
(HOLLOWAY; RAO; SHANNON, 2002). São produzidas por diferentes tipos celulares, e
18<br />
que atuam na resposta inflamatória, produzindo outras citocinas e ativando outros tipos<br />
celulares como anticorpos.<br />
As citocinas que estão envolvidas na inflamação são chamadas pró-inflamatórias,<br />
dentre essas citocinas destaca-se o TNF- . Segundo Alves; Ribeiro (2004) o TNF- é<br />
produzido e liberado principalmente por macrófagos e também por linfócitos e mastócitos.<br />
Mesmo em baixas concentrações o TNF- induz a expressão de moléculas de adesão, em<br />
células endoteliais vasculares e estimula macrófagos e outras células que secretam<br />
quimiocinas (DINARELLO, 1996).<br />
1.3.6 Mieloperoxidase (MPO)<br />
Mieloperoxidase (MPO), membro da superfamília peroxidase heme-oxigenase, é<br />
abundantemente expressa em neutrófilos e, em menor medida, em monócitos e certo tipo de<br />
macrófagos (MALLE, 2007). MPO participam no mecanismo de defesa imune inata através<br />
da formação de oxidantes microbicidas e espécies reativas e radicais (MALLE, 2007). MPO é<br />
liberado dos grânulos citoplasmáticos dos neutrófilos (KLEBANOFF, 1999). A principal<br />
função dos neutrófilos é a fagocitose e destruição de microorganismos e a liberação de MPO,<br />
geralmente leva a um rápido efeito bactericida (KLEBANOFF, 1999).<br />
1.3.7 Óxido nítrico (NO)<br />
Já se sabe que a vasodilatação, fenômeno clássico da inflamação é dependente da<br />
liberação de oxido nítrico. O óxido nítrico é um gás e um radical livre que regula funções<br />
celulares em condições fisiológicas e patológicas. Está envolvido no relaxamento vascular, na<br />
inibição da agregação plaquetária, na neurotransmissão e nas atividades antimicrobiana e antitumoral<br />
dos macrófagos (MONCADA e HIGGS, 2006; DJUPESLAND et al., 2001). Efeitos<br />
deletérios são decorrentes da ação citotóxica de alguns de seus metabólitos, como o<br />
peroxinitrito e os nitrosotióis. Estes metabólitos são capazes de lesar o ácido<br />
desoxirribonucléico, os lipídeos microbianos e as células vizinhas saudáveis, sendo esse o<br />
mecanismo responsável pela maioria dos processos inflamatórios observados em doenças<br />
auto-imunes (SZABÓ, 2003).<br />
Recentemente foram descritas três isoformas de NOS: NOS neuronal (NOSn<br />
ou NOS I), NOS endotelial (NOSe ou NOS III), ambas formas são constitutivas, ativadas<br />
fisiologicamente mantendo baixas concentrações de óxido nítrico e são dependentes de cálcio
19<br />
(CIRINO, FIORUCCI, SESSA, 2003). Já, a NOS induzida (NOSi ou NOS II) é ativada em<br />
resposta a estímulos inflamatórios, como citocinas e fatores de crescimento, em células alvo<br />
liberando altos níveis de óxido nítrico durante a inflamação (ABRAMSON et al., 2001).<br />
1.3.8 Lactato Desidrogenase (LDH)<br />
A LDH está presente em praticamente todos os órgãos do organismo e sua<br />
atividade catalítica no soro é devido à presença de várias isoenzimas, que podem formar<br />
padrões diferentes da origem de LDH presente no soro. Catalisa a conversão de lactato a<br />
piruvato, sendo liberada na ocorrência de dano celular (ANTONY, 1993).<br />
1.3.9 Modelo de Inflamação<br />
O modelo inflamação pleural foi originalmente desenvolvido em ratos (Spector,<br />
1956). A técnica de pleurisia possui vantagens, pois a partir da coleta do lavado na cavidade<br />
pleural é possível analisar e quantificar os componentes celulares e humorais da inflamação,<br />
sem necessitar recorrer a procedimentos complicados de extração e quantificação. Além disso,<br />
o tipo, a intensidade e a duração da inflamação produzida pela injeção de um agente flogístico<br />
dependerá da sua persistência na cavidade pleural e da natureza da sua interação com fatores<br />
humorais e/ou celulares. Dentre os agentes flogísticos que podem ser utilizados destaca-se a<br />
carragenina (SALEH, CALIXTO, MEDEIROS, 1996). A carragenina é um polissacarídeo<br />
frequentemente usado em modelos animais experimentais para induzir reação inflamatória,<br />
sua principal fonte é a alga Chondrus crispus, também conhecida como “Irish Nllos”, que tem<br />
origem em Carraghen (Waterford-Irlanda), onde cresce abundantemente. A carragenina induz<br />
a liberação de diferentes mediadores inflamatórios como histamina, bradicidina,<br />
prostaglandina (DI ROSA, 1972). Portanto protocolos experimentais, em que o processo<br />
inflamatório é induzido agudamente, têm sido utilizados para estudo da participação de<br />
mediadores químicos, diferentes tipos celulares e ainda possibilitam a seleção de novos<br />
fármacos ou plantas que possuem um potencial de atividade antiinflamatória (SEDGWICK e<br />
WILLOUGHBY, 1985). A técnica de pleurisia permite analisar e quantificar diversos<br />
processos inflamatórios como conteúdo de celulas totais no lavado pleural, mediadores<br />
inflamatórios além da participação de enzimas como a mieloperoxidase. Após o processo de<br />
inflamação induzido os mediadores que estão envolvidos neste tipo de inflamação, foram
20<br />
liberados por células residentes ou por aquelas que migram para o local do processo<br />
inflamatório (SALEH; CALIXTO; MEDEIROS, 1996).
21<br />
2 OBJ<strong>ET</strong>IVOS<br />
2.1 Objetivo Geral:<br />
Analisar o uso ecológico, tradicional e bioprospecção de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et<br />
Triana) Zappi (CLUSIACEAE), no efeito antiinflamatório.<br />
2.2 Objetivos Específicos<br />
Averiguar o conhecimento popular, assim como a importância medicinal de G.<br />
<strong>gardneriana</strong>, através de entrevistas das Agentes integrantes da Pastoral da Saúde<br />
Regional Sul IV Diocese de Criciúma, Santa Catarina.<br />
Compilar informações ecológicas de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> com base no levantamento<br />
etnobotanico e na bibliografia;<br />
Verificar e descrever os possíveis efeitos dos extratos brutos, substâncias bioativas da<br />
folha e da casca do fruto de G. <strong>gardneriana</strong>, na resposta antiinflamatória de pleurisia<br />
induzida por carragenina em ratos.
22<br />
3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />
3.1 Estudo Etnobotânico<br />
Este estudo compreendeu pesquisa descritiva, através de levantamento de dados<br />
sobre o perfil das agentes entrevistadas integrantes da equipe da Pastoral da Saúde Regional<br />
Sul IV da Diocese de Criciúma, Santa Catarina, que detém informações etnobotânicas sobre a<br />
planta medicinal <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi, popularmente conhecida<br />
como “bacupari”.<br />
3.1.1 Definição da planta<br />
Para definição da planta estudada seguiram-se os seguintes critérios de seleção:<br />
a) utilização da planta em nossa região pela equipe da Pastoral da Saúde, grupo no qual<br />
a pesquisa foi aplicada;<br />
b) pouca informação sobre os efeitos terapêuticos da planta em literatura científica.<br />
3.1.2 Elaboração do questionário/entrevista<br />
Para obtenção de informações sobre a espécie medicinal selecionada, o<br />
instrumento utilizado consistiu em um questionário/entrevista (ANEXO C), no qual foi<br />
estruturado tendo como referência bibliografias pertinentes ao estudo etnobotânico,<br />
englobando perguntas abertas e fechadas (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004).<br />
3.1.3 Seleção das agentes a serem entrevistadas<br />
Segundo Di Stasi (1996) a escolha dos informantes para a pesquisa etnobotânica<br />
irá depender dos interesses do pesquisador. Sendo assim, o critério da escolha, muitas vezes,<br />
refletirá a disponibilidade e o interesse do informante em participar da pesquisa, ao invés da<br />
aleatoriedade. Embora limite os resultado, do ponto de vista estatístico, não invalida a<br />
representatividade da amostra em relação ao conhecimento detido pela população em geral.<br />
Como o objetivo específico foi avaliar o mais rápido e eficientemente possível a utilização da
23<br />
espécie para fins medicinais, foi importante selecionar os informantes mais habilitados neste<br />
tipo de conhecimento.<br />
Desta forma, a seleção dos entrevistados seguiu os seguintes critérios:<br />
a) Utilização de G. <strong>gardneriana</strong> em preparações medicinais individuais, para<br />
poder ser identificado somente os seus efeitos biológicos;<br />
b) Integrantes da Pastoral da Saúde, consideradas detentoras de conhecimento<br />
popular sobre o bacupari e que trabalham há mais de 10 anos com a planta medicinal,<br />
portanto, as que possuem mais experiência e conhecimento sobre os aspectos que<br />
envolvem a pesquisa.<br />
3.1.4 Aplicação do questionário/entrevista<br />
A aplicação do instrumento de pesquisa foi realizado na localidade onde residiam<br />
as agentes, ou seja, em suas residências, ou ainda após os encontros mensais realizados na<br />
UNESC, como parte integrante do Projeto Fitoterapia racional: aspectos botânicos,<br />
agronômicos, etnobotânicos e terapêuticos, sendo que as agentes assinaram um termo de<br />
consentimento, sendo esclarecida sua participação no estudo (ANEXO D).<br />
3.1.5 Compilação e análise dos resultados obtidos<br />
Os dados obtidos foram organizados no formato de texto corrido e tabelas,<br />
analisadas e comentadas com base nas informações compiladas e na literatura científica.<br />
Posteriormente, estes resultados serão repassados à equipe da Pastoral da Saúde, como forma<br />
de socializar os conhecimentos obtidos.<br />
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Humanos da Universidade do<br />
Extremo Sul Catarinense protocolo nº 01/ 2010 (ANEXO A).<br />
3.1.6 Coleta do material botânico e aspectos ecológicos<br />
As folhas e cascas do fruto foram coletadas do mesmo indivíduo de G.<br />
<strong>gardneriana</strong>, em fragmento de Mata Atlântica no município de Turvo, extremo sul<br />
Catarinense, no CTG Vale da Amizade (Figura 4). Após a coleta e correta identificação<br />
botânica, o material foi submetido ao processo de secagem no Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz
24<br />
(CRI) da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Um exemplar testemunha foi catalogado<br />
e incorporado ao acervo do herbário Pe. Dr. Raulino Reitz da Universidade do Extremo Sul<br />
Catarinense (UNESC) e recebeu o número CRI 7616. Outro exemplar foi levado por ocasião<br />
das entrevistas para que a espécie fosse comprovadamente reconhecida pelos informantes.<br />
Os aspectos ecológicos de G. <strong>gardneriana</strong> foram obtidos por meio da bibliografia<br />
específica, principalmente Bittrich (2003) e Backes e Irgang (2004).<br />
Figura 4: A- Detalhe da folha de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong>. Fonte: WANDERLEY et al. (2003).<br />
B- Aspecto geral das folhas da planta coletada para estudo no município de Turvo (SC). Foto:<br />
Francielle Mina em 20/01/2010.<br />
3.2 Estudo Farmacológico<br />
3.2.1 Extratos<br />
A obtenção dos extratos brutos das folhas e casca do fruto de G. <strong>gardneriana</strong>, bem<br />
como o isolamento e purificação dos compostos foram realizados pelo grupo de pesquisa<br />
coordenado pelo Prof Dr. Flavio H. Reginatto da Universidade Federal de Santa Catarina<br />
(UFSC) .<br />
A técnica utilizada pelo professor para obter o extrato bruto das folhas e da casca<br />
do fruto seguiu o mesmo procedimento: após a secagem das folhas e casca, foi pesado 100g
25<br />
de farmacógeno seco e rasurado. Para a diluição do extrato foi utilizado 1,5g de extrato da<br />
folha ou da casca do fruto para 20 mL de água. As doses do extrato de G. <strong>gardneriana</strong> foram<br />
de acordo com o estudo de Castardo (2008), Avaliação da atividade do extrato hidroalcoólico<br />
bruto da <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planchon & Triana) Zappi em modelos experimentais de<br />
inflamação aguda em camundongos.<br />
3.2.2 Animais e protocolo de indução de pleurisia<br />
Ratos Wistar machos, adultos (peso entre 250-350 g) provenientes do biotério da<br />
Universidade do Extremo Sul Catarinense foram utilizados para indução de pleurisia.<br />
O modelo de indução de pleurisia por carragenina foi realizado conforme<br />
protocolo descrito por Vinegar et al. (1973). O modelo de pleurisia é utilizado na investigação<br />
da fisiopatologia da inflamação aguda e avaliação da eficácia de terapias antiinflamatórias<br />
(ARRUDA et al., 2003).<br />
Os ratos foram anestesiados com cloridrato de cetamina e para indução de pleurisia<br />
receberam 0,2 mL de solução de carragenina 2% (Sigma Chemical Co. St. Louis, USA) por<br />
injeção intrapleural (no nível sexto do espaço intercostal). O grupo controle recebeu apenas<br />
0,2 mL de solução salina intrapleural.<br />
Os animais foram divididos em 4 grupos com dois tratamentos, crônico e agudo.<br />
O primeiro tratamento (crônico) foi realizado a fim de avaliar a atividade antiinflamatória da<br />
planta sob um tratamento profilático com 1 administração diária durante 7 dias. Então foram<br />
utilizados 5 animais por grupo, sendo que o grupo 1 foi o grupo controle (0,2 mL salina via<br />
oral), grupo 2 (0,2 mL salina via oral ), grupo 3 (0,2 mL/V.O do extrato da folha de G.<br />
<strong>gardneriana</strong>), grupo 4 (0,2 mL/V.O de extrato da casca do fruto de G. <strong>gardneriana</strong>). A<br />
administração via oral foi administrada por gavagem 1 vez ao dia durante 7 dias. No 7º dia os<br />
animais receberam indução da pleurisia por carragenina da seguinte forma: grupo 1 o grupo<br />
controle (0.2 mL de salina na cavidade pleural), grupo 2 (0,2 mL de solução de carragenina<br />
2% na cavidade pleural), grupo 3 (0,2 mL de solução de carragenina 2% na cavidade pleural),<br />
grupo 4 (0,2 mL de solução de carragenina 2% na cavidade pleural), e transcorridos 4 horas<br />
após, os animais foram sacrificados por decapitação, e retirados o lavado pleural e tecido<br />
pulmonar para avaliação antiinflamatória de G. <strong>gardneriana</strong>.<br />
Já o segundo tratamento (agudo) foi delineado a fim de reportar a ação dos<br />
extratos da planta sob uma única administração. Então os animais também foram divididos
26<br />
em 4 grupos de tratamento, com 5 animais por grupo, antes da indução da pleurisia<br />
receberam via oral salina ou extratos de acordo com o grupo. Sendo que, o grupo 1 foi o<br />
controle (0,2 mL salina via oral), grupo 2 (0,2 mL salina via oral), grupo 3 (0,2 mL/V.O do<br />
extrato da folha de G. <strong>gardneriana</strong>), grupo 4 (0,2 mL/V.O de extrato da casca do fruto de G.<br />
<strong>gardneriana</strong>). A administração via oral foi administrada por gavagem. Após 1 hora e meia foi<br />
induzida a pleurisia da seguinte forma: grupo 1 foi o controle (0,2 mL salina na cavidade<br />
pleural), grupo 2 (0,2 mL de solução de carragenina 2% na cavidade pleural), grupo 3 (0,2 mL<br />
de solução de carragenina 2% na cavidade pleural), grupo 4 (0,2 mL de solução de<br />
carragenina 2% cavidade pleural). Após a indução de pleurisia e transcorrido 4 horas, os<br />
animais foram sacrificados por decapitação. Em ambos os tratamentos no lavado pleural foi<br />
avaliado citocinas (TNF-α,), Óxido Nítrico e Lactato Desidrogenase. Já no tecido pulmonar<br />
foi avaliada a atividade da Mieloperoxidase (MPO).<br />
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa no uso de animais da<br />
Universidade do Extremo Sul Catarinense protocolo nº 22/ 2010 (ANEXO B).<br />
3.2.3 Mieloperoxidase<br />
As amostras para a medida da atividade da MPO foram preparadas como descrito<br />
por De Young et al. (1989). Tecidos foram homogeneizados (50 mg/mL) em 0.5% de brometo<br />
de hexadeciltrimetilamônia e centrifugado em 15,000 ×g por 40 min. Uma alíquota do<br />
sobrenadante foi misturada com uma solução de 1.6 mM tetrametilbenzidina e 1 mM H 2 O 2 .<br />
Atividade foi mensurada espectrofotometricamente no comprimento de onda de 650 nm em<br />
37°C.<br />
3.2.4 Análise de citocinas<br />
A análise de citocinas no lavado pleural foi através de kit ELISA conforme<br />
recomendação do fabricante (Calbiochem-Novabiochem Corporation, USA).<br />
3.2.5 Óxido Nítrico<br />
O óxido nítrico foi quantificado pela formação de seus metabólitos através da<br />
reação de Griees, que posteriormente foi medida através de leitor de Elisa com filtro de 540<br />
nm (GREEN et al., 1982).
27<br />
3.2.6 Lactado desidrogenase (LDH)<br />
Diagnóstica®, Brasil).<br />
O conteúdo de LDH total foi determinado por kit comercial. (Labtest<br />
3.2.7 Análise Estatística<br />
Os resultados foram expressos como média ± DP e p
28<br />
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
4.1 Estudo etnobotânico<br />
PERFIL DAS AGENTES DA SAÚDE<br />
Das três entrevistadas, duas possuem a denominação de “Treinadora”, ou seja, são<br />
Agentes que obtiveram treinamento de 100 horas/aulas em diversos assuntos, entre eles: valor<br />
da pessoa e da vida; realidade sócio-político, econômico-cultural e religiosa mundial,<br />
brasileira, estadual e local; realidade da saúde (política da saúde e indústria farmacêutica);<br />
conceito de saúde e de doença; doença mais comum na região; suas casas, conseqüências e<br />
soluções com recursos caseiros; saneamento básico/higiene pessoal e ambiental; nutrição;<br />
noções básicas de anatomia e fisiologia/primeiros socorros; atendimento materno-infantil;<br />
planejamento familiar; formas de organização em saúde.<br />
As “Treinadoras” têm a função de repassar orientações recebidas por outras<br />
“Treinadoras” às demais Agentes da Pastoral da Saúde. O perfil social das entrevistadas é<br />
apresentado na tabela 01:<br />
TABELA 01 - Perfil das Agentes/Treinadoras da Pastoral da Saúde, com indicação de idade,<br />
estado civil, número de filhos, profissão, local de nascimento e residência atual.<br />
Idade das<br />
Entrevistadas<br />
Estado<br />
Civil<br />
Nº<br />
de<br />
filhos<br />
Profissão<br />
Local de<br />
Nascimento<br />
Município<br />
onde reside<br />
Função na<br />
Pastoral<br />
A- 74 anos viúva +5 Do lar Nova Roma Nova Roma Agente<br />
B- 69 anos viúva 0 Aposentada<br />
(gerente de<br />
Urussanga Urussanga Agente e<br />
Treinadora<br />
gráfica)<br />
C- 64 anos casada 4 Do lar Rio Maina Siderópolis Treinadora<br />
Analisando a tabela 01, pode-se verificar que a faixa etária das<br />
Agentes/Treinadoras entrevistadas é de 64 a 74 anos de idade. Duas delas eram viúvas (A e B)<br />
e apenas uma era casada (C). Uma das viúvas teve mais que cinco filhos, enquanto que a outra<br />
não teve nenhum filho e a casada teve quatro filhos. Todas as três entrevistadas eram do lar,<br />
no entanto uma era aposentada como gerente de gráfica (B).
29<br />
Todas as três entrevistadas nasceram no estado de Santa Catarina, sendo uma<br />
nascida em Criciúma (C), outra em Urussanga (B) e a última em Morro Grande (A). Apenas a<br />
treinadora C não reside mais no local de nascimento.<br />
Duas integrantes estudaram até a quarta série do Ensino Fundamental e a outra<br />
(B) cursou segundo grau completo, atualmente denominado ensino médio.<br />
DADOS SOBRE <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi (CLUSIACEAE)<br />
“BACUPARI”<br />
Como especificado anteriormente na metodologia, todas as integrantes da Pastoral<br />
da Saúde, conheciam G. <strong>gardneriana</strong> com o nome popular de “bacupari” e tinham<br />
conhecimento sobre a planta e apenas uma não utilizava a planta (Agente C), porém sabia das<br />
propriedades dela, indicando-a como medicinal. No entanto, para esta pesquisa foi abordado<br />
apenas às formas de utilização individual do bacupari visando à posterior identificação de<br />
seus efeitos terapêuticos, visto que essa planta medicinal não é validada pela ANVISA<br />
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e na literatura são ainda poucos os estudos com<br />
plantas medicinais que demonstram se as espécies nativas possuem potencial<br />
terapêutico/medicinal. Sendo assim foram solicitadas informações sobre a idade das<br />
entrevistadas, bem como o período de atuação na Pastoral da Saúde e o tempo em que<br />
utilizam e conhecem o “bacupari”.<br />
TABELA 02 – Comparação entre idade das Agentes da Pastoral da Saúde, tempo que<br />
trabalham/indicam Plantas Medicinais e atuam na Pastoral da Saúde.<br />
Idade das<br />
entrevistadas<br />
Tempo que<br />
trabalham/indicam a plantas<br />
medicinais (bacupari)<br />
A- 74 anos 30 anos 25 anos<br />
Período de atuação na<br />
Pastoral da Saúde<br />
B- 69 anos<br />
C- 64 anos<br />
Um ano de uso contínuo, e<br />
agora só às vezes<br />
Não usa, mas tem informações<br />
fidedignas<br />
19 anos<br />
20 anos
30<br />
Analisando a tabela 02, verificamos que apenas uma das agentes usa a planta há<br />
mais tempo (30 anos). As outras duas não usam tanto, mas indicam aos familiares, pessoas<br />
necessitadas, pois possuem conhecimento sobre a planta e têm facilidade de acesso a ela.<br />
Quanto ao uso individual (Tabela 3), as agentes B e C usam em preparações individuais. Em<br />
conjunto com outras plantas (agentes A e B) indicam o uso concomitante com a losna<br />
(Artemisia absinthium L.), açafrão (Curcuma longa L.) ou o barro para fazer compressa.<br />
TABELA 03 – Comparação do uso da planta individual ou em conjunto com outras plantas.<br />
Idade das<br />
entrevistadas<br />
Usa a planta em preparações<br />
individuais<br />
Usa em conjunto com outras<br />
plantas<br />
A- 74 anos X<br />
B- 69 anos X X<br />
C- 64 anos X<br />
A agente B, recomenda para o fígado e cirrose crônica, a casca e o carvão da<br />
madeira (ramos da planta queimados e pulverizados), fazer um chá e tomar de três a quatro<br />
vezes ao dia em xícara pequena, ou tomar uma colher do carvão de madeira em jejum. Para o<br />
uso externo, agente B recomenda também fazer uma mistura da casca da madeira do bacupari,<br />
picão, açafrão e argila, pois verificou que “desinchava o fígado”. A agente C recomenda para<br />
hepatite C e pedra na vesícula, utilizando um “pedacinho” da casca da madeira da planta,<br />
ferver com um copo de água por 3 minutos, e tomar uma vez ao dia. Ainda assim, indicações<br />
medicinais da planta, segundo as Agentes, são para o uso de feridas (zipra-erisipela), icterícia,<br />
inflamação, inchaço.<br />
Em relação às formas farmacêuticas preparadas com mais frequência pelas<br />
agentes, foram o uso como infuso e decôcto. As partes da planta mais utilizadas são as folhas,<br />
cascas e raízes. No uso de chá feito por infusão das folhas, são preparadas juntando-se água<br />
fervente sobre pedacinhos de erva; mistura-se tudo por um instante, cobre-se e deixa em<br />
repouso por 5 a 10 minutos até chegar à temperatura apropriada para ser bebido (MATOS,<br />
2002). Por decocção colocar a planta na água fria e levar a ferver por 10 a 20 minutos,<br />
dependendo da consistência da planta. Este método é indicado quando se utilizam partes duras<br />
como cascas, raízes e sementes, pois não deve ser preparado com folhas aromáticas, cujos<br />
princípios, por serem voláteis se perderiam (MATOS, 2002).
31<br />
DADOS ECOLÓGICOS E DE CULTIVO<br />
O cultivo de plantas medicinais deve ser imprescindivelmente racional e<br />
produtivo. Em qualquer que seja a escala, seja ela em grandes ou pequenas áreas, o cultivo<br />
deve atender às necessidades básicas de quem o idealizou, não se esquecendo em momento<br />
algum de que as plantas medicinais devem conter satisfatória concentração de princípios<br />
ativos (CORRÊA; BATISTA; QUINTAS 1998).<br />
A coleta e cultivo de plantas medicinais para o consumo não são indicados em<br />
beira de estradas, pois as plantas absorvem gases tóxicos emitidos pelos veículos; devem ser<br />
evitados locais que tenham sido intensivamente cultivados, pois podem conter resíduos de<br />
defensivos agrícolas; não deve ser próximo a reservatórios de água que estejam sujeitos à<br />
contaminação, tais como redes de esgotos, valas, ravinas, cursos de água poluída (CORRÊA;<br />
BATISTA; QUINTAS 1998). O solo contaminado por resíduos poderá prejudicar a qualidade<br />
da espécie, podendo ter complicações como verminoses, e quando contaminado por<br />
agrotóxicos poderá levar o individuo à contaminação grave. Outro fato importante é a<br />
qualidade da matéria-prima, pois plantas saudáveis, aptas para o consumo apresentam maior<br />
segurança ao usuário.<br />
Duas das Agentes (A e C) adquirem a planta do próprio quintal, enquanto a<br />
Agente B adquire no quintal de vizinhos/amigos/familiares. Segundo o conhecimento das<br />
Agentes a planta se desenvolve de forma natural/espontânea, ou cultivada, embora não<br />
necessite de cuidados posteriores. Relataram que não tomam nenhum cuidado, uma vez que a<br />
planta nasce “por conta própria”. Apenas duas utilizavam cultivo orgânico, como esterco de<br />
vaca e de galinha, terra e folhas secas.<br />
Quanto às folhas utilizadas para fim medicinal, duas agentes (A e C) usam para<br />
este fim, sendo que para uma delas (A) não importa qual o estágio de desenvolvimento<br />
quando colhidas, e para outra (C), colher folhas jovens. Para ambas não importa em qual<br />
época do ano serão colhidas as folhas, da mesma forma não precisam de algum processo<br />
especial para colhê-las, apenas lavar as mãos e colher antes das 9:00 horas da manhã.<br />
Somente uma (C) armazena em estado fresco na geladeira por dois anos. Segundo Corrêa<br />
(1998), as folhas normalmente são colhidas pouco tempo antes da floração, época na qual a<br />
quantidade de princípios ativos é maior, além de seu desenvolvimento estar mais acelerado.<br />
Na época de floração, a maioria das plantas transfere seus princípios ativos para as flores,<br />
diminuindo assim sua quantidade nas folhas. Para Peglow; Velloso (2002), o melhor horário
32<br />
do dia para realizar a colheita é na parte da manhã, após o orvalho ter secado, pois dessa<br />
forma evita-se a fermentação e formação de bolores causados pela presença do excesso de<br />
água na planta. A colheita poderá ser ainda realizada no final da tarde, quando o sol não mais<br />
estiver sobre as planta, pois o excesso de calor favorece a perda de seus princípios ativos,<br />
aromáticos, facilmente voláteis. Em dias nublados e secos, a coleta poderá ser realizada em<br />
qualquer horário (CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 1998). Quanto aos frutos são utilizados<br />
apenas para alimento. A agente C usa a casca do tronco e ramos como medicinal, colhendo<br />
em árvores com mais de dois anos. Recomenda colher a casca dos ramos (galhos) na lua<br />
minguante e armazená-la em estado fresco ou seco.<br />
4.2 Estudo farmacológico<br />
AÇÃO ANTIINFLAMATÓRIA<br />
Caracterizada a efusão pleural, o estágio inicial da inflamação é marcado pela<br />
presença significante de neutrófilos em resposta inflamatória à progressão da doença pleural.<br />
Como uma das funções dos neutrófilos quando reconhecem um patógeno é eliminá-lo,<br />
neutrófilos ativados contam com substâncias como espécies reativas de oxigênio (EROs) que<br />
agem sobre a membrana celular dos microorganismos com a finalidade de destruí-los e<br />
consequentemente evitar a disseminação. No entanto, as EROs também podem levar a injuria<br />
em tecidos normais (YASUI, BABA, 2006). Este mecanismo deletério causado por tais<br />
moléculas exerce efeito contra importantes componentes celulares devido a sua intensa<br />
instabilidade e reatividade e encontram-se associados ao modelo de indução de pleurisia por<br />
carragenina (CUZZOCREA, 2000; NARDI et al., 2007; BHATTACHARYYA, DUDEJA e<br />
TOBACMAN, 2008; MENEGAZZI et al., 2008). Uma das principais enzimas armazenadas<br />
nos neutrófilos e monócitos é a hemoproteína mieloperoxidase. Esta corresponde a 5% do<br />
peso seco dos neutrófilos (KLEBANOFF, 1999). É utilizada como um indicativo indireto da<br />
migração de neutrófilos para o sítio da inflamação (MIOTLA et al., 1998). Durante o<br />
metabolismo oxidativo, que é produzido por neutrófilos ativados, a mieloperoxidase, situada<br />
nos grânulos dos neutrófilos, promove a geração de ácido hipocloroso (HOCl) que está<br />
implicado na fagocitose (agente bactericida e citotóxica) (MUTZE et al., 2003).<br />
No tratamento crônico, como demonstrado na Figura 1, os extratos da folha e da<br />
casca do fruto de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> diminuíram o infiltrado de neutrófilos para o local da<br />
inflamação. De acordo com Castardo (2007), em estudo com extrato hidroalcoólico bruto de
33<br />
G. <strong>gardneriana</strong>, no modelo de edema de pata induzida por carragenina, os resultados<br />
mostraram que o extrato da folha diminuiu a atividade da Mieloperoxidase (MPO), na<br />
inflamação de edema de pata. Em outro estudo realizado por Bernardi (2009) para o<br />
tratamento de doenças da pele, o extrato da folha de G. <strong>gardneriana</strong>, reduziu<br />
significativamente a infiltração de neutrófilos, diminuindo a atividade de MPO. Em<br />
contrapartida, no tratamento agudo (Figura 5), verificamos somente a diminuição da<br />
infiltração de neutrófilos, com extrato do fruto.<br />
*<br />
p
34<br />
Recentes estudos mostram que a migração celular para a cavidade pleural é<br />
dependente da ação de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α. O processo inflamatório<br />
causado pela administração de carragenina na cavidade pleural é consistente com o aumento<br />
de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α (KROEGEL, ANTONY, 1997). O TNF-α está<br />
envolvido com o desencadeamento da resposta imune, indução do evento inflamatório agudo<br />
e transição para inflamação crônica e persistência da mesma. Além disso, o TNF-α promove<br />
inflamação por citotoxidade direta, bem como por vários mecanismos indiretos incluindo a<br />
regulação da produção de outras citocinas pró-inflamatórias, liberação de espécies reativas de<br />
oxigênio e nitrogênio (BAZZONI, BEUTLER,1996; FELDMANN, MAINI, 2001).<br />
No tratamento crônico (Figura 7), não houve diferença entre os grupos, ou seja, os<br />
extratos da folha e a casca do fruto de G. <strong>gardneriana</strong>, não tiveram efeito sobre a<br />
concentração de TNF-α, porém observa-se pelos resultados que houve tendência a diminuir a<br />
concentração de TNF-α, com administração do extrato da casca do fruto.<br />
p
35<br />
Em outras espécies de <strong>Garcinia</strong>, como <strong>Garcinia</strong> mangostana, pertencente ao<br />
mesmo gênero de <strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong>, Sampath (2008) verificou que o extrato da casca<br />
planta diminuiu os níveis de TNF-α, dano celular, além de restaurar a normalidade celular, em<br />
estudos de dano cardiovascular.<br />
* p
36<br />
grânulos, os quais incluem espécies reativas de oxigênio (ROS) e nitrogênio (RNS)<br />
(MEDZHITOV, 2008).<br />
Em nosso estudo, no tratamento crônico (Figura 9), tanto o extrato da folha<br />
quanto da casca do fruto de G. <strong>gardneriana</strong>, diminuiu a concentração de nitrito e nitrato, o<br />
que pode associar-se em uma possível diminuição do dano oxidativo.<br />
*<br />
**<br />
p
37<br />
p
38<br />
Como visto no tratamento crônico, no tratamento agudo (Figura 12), também<br />
houve uma diminuição na concentração de LDH, tanto com administração do extrato da folha<br />
e da casca do fruto, sendo este também mais acentuado, o que sugere um menor dano tecidual.<br />
*<br />
*/**<br />
*/**<br />
p
39<br />
CONCLUSÃO<br />
As plantas medicinais possuem uma rica fonte de substâncias orgânicas de<br />
interesse científico e tecnológico. Em nosso trabalho verificamos a importância de <strong>Garcinia</strong><br />
<strong>gardneriana</strong>, por meio de entrevistas com integrantes da equipe da Pastoral da Saúde<br />
Regional Sul IV da Diocese de Criciúma, Santa Catarina, que detém informações<br />
etnobotânicas sobre o bacupari. Resgatamos o conhecimento popular da planta, como também<br />
verificamos sua importância medicinal, o que pode servir de base para futuras pesquisas,<br />
incrementando conhecimento dessa espécie medicinal ainda pouco estudada. Tais evidências<br />
obtidas neste trabalho dão suporte ao uso popular de G. <strong>gardneriana</strong> no tratamento da<br />
inflamação, através da regulação dos mediadores envolvidos na resposta.<br />
Os resultados apresentados permitiram concluir que o extrato de G. <strong>gardneriana</strong><br />
da folha e da casca do fruto reduziu a inflamação de pleurisia induzida por carragenina. Assim<br />
como resultados anteriores mostraram que na folha e no fruto encontram-se flavonóides com<br />
ação antiinflamatória, no presente estudo mostramos, adicionalmente, que o extrato da casca<br />
do fruto diminuiu a inflamação, sendo mais significativo no tratamento crônico, pois com<br />
administrações sucessivas pode-se ter uma redução dos mediadores envolvidos na resposta<br />
inflamatória, com a atenuação da migração de neutrófilos e finalmente, o dano celular.<br />
Nesse contexto, podemos observar que estudos com plantas medicinais vêm<br />
adquirindo espaço no meio acadêmico e profissional, em tratamentos preventivos e curativos,<br />
onde algumas das quais já são usadas nos serviços públicos. Podemos ressaltar ainda que G.<br />
gadneriana vem garantindo seu espaço no âmbito científico, o que poderá ser reconhecido<br />
como importante antiinflamatório.
40<br />
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fanerógama do estado de São Paulo. São Paulo. Fapesc: Rima. v. 3, p. 367, 2003.
46<br />
ANEXOS<br />
FOLHA DE APROVAÇÃO<br />
ANEXO A - Avaliação Comitê de Ética Humanos
47<br />
FOLHA DE APROVAÇÃO<br />
ANEXO B - Avaliação Comitê de Ética no Uso de Animais
48<br />
ANEXO C - A aplicação deste questionário como instrumento de pesquisa será com as<br />
agentes da Pastoral da Saúde Regional Sul IV, sendo selecionadas aquelas que detêm<br />
conhecimento sobre a espécie estudada.<br />
Entrevista<br />
Nome:<br />
______________________________________________________________________<br />
Endereço:<br />
______________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
________________<br />
Telefone para contato (se necessário): _________________________________<br />
Data: ___/___/___<br />
Módulo 1 _________________________________________ DADOS PESSOAIS<br />
1. Qual sua função na Pastoral da Saúde<br />
( ) Agente ( ) Treinadora<br />
2. Data de Nascimento: ____/____/______<br />
3. Grau de escolaridade:<br />
( ) 1ª a 4ª série<br />
( ) 5ª a 8ª série<br />
( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo<br />
( ) 3º grau incompleto<br />
( ) 3º grau completo<br />
( ) especialização incompleta<br />
( ) especialização completa<br />
4. Profissão:<br />
___________________________________________________________________<br />
5. Estado Civil:<br />
( ) solteira ( ) relação estável ( ) divorciada<br />
( ) casada ( ) viúva
49<br />
6. Número de filhos:<br />
( ) 0 ( ) 3 ( ) + de 5<br />
( ) 1 ( ) 4<br />
( ) 2 ( ) 5<br />
7. Cidade e estado onde nasceu: __________________________________<br />
8. Cidade e estado onde reside atualmente: ________________________________<br />
9. Cidade onde participa da equipe da Pastoral da Saúde:<br />
( ) Criciúma<br />
( ) Urussanga<br />
( ) Siderópolis<br />
( ) Araranguá<br />
( ) Outra: _______________________<br />
10. Há quanto tempo participa da equipe da Pastoral da Saúde: ________________<br />
Módulo 2________________________________ DADOS SOBRE A PLANTA<br />
11. Há quanto tempo utiliza a planta: ____________________<br />
12. Utiliza a planta em preparações individuais ou em conjunto com outras plantas<br />
( ) uso individual ( ) uso em conjunto<br />
13. Outros nomes populares conhecidos pela equipe da Pastoral:<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________<br />
14. Qual o uso medicinal da planta<br />
___________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
15. Qual parte da planta é utilizada como medicinal
50<br />
( ) sementes<br />
( ) caule<br />
( ) folhas<br />
( ) brotos<br />
( ) flores/inflorescência<br />
( ) frutos<br />
( ) casca<br />
( ) raízes/rizomas<br />
( ) outros: _____________________________________________________________<br />
_______________________________________________________________________<br />
16. De que maneiras a planta é preparada para uso medicinal <br />
( ) infuso<br />
( ) decôcto<br />
( ) macerado<br />
( ) tintura<br />
( ) alcoolatura/espírito<br />
( ) xarope<br />
( ) vinho medicinal<br />
( ) suco<br />
( ) sumo<br />
( ) cataplasma<br />
( ) óleo medicinal<br />
( ) pomada<br />
( ) gel<br />
( ) creme/loção<br />
( ) sabão/ sabonete<br />
( ) xampu<br />
( ) outros: __________________________________________________________<br />
( ) outros: ______<br />
Módulo 3 ____________________________ DADOS ECOLÓGICOS E DE CULTIVO<br />
17. Onde adquire a planta<br />
( ) no próprio quintal<br />
( ) no quintal de vizinhos/amigos/familiares<br />
( ) em matas/sítios/bosques<br />
( ) compra na feira livre de Criciúma diretamente do produtor<br />
( ) compra/traz em outra cidade<br />
( ) compra em casa de ervas/farmácia<br />
( ) no horto comunitário<br />
( ) outros: __________________________________________________________<br />
18. Se é do próprio quintal, ou se é do seu conhecimento, a planta se desenvolve de forma:<br />
( ) espontânea ou natural<br />
( ) cultivada, embora não necessita de cuidados posteriores
51<br />
( ) através de cultivo convencional ( uso de adubo químico N.P.K., inseticidas, herbicidas)<br />
( ) através de cultivo orgânico<br />
( ) não sabe<br />
19. Se o cultivo é orgânico, qual (is) a(s) substância (s) utilizada (s)<br />
( ) esterco de vaca<br />
( ) esterco de galinha<br />
( ) farinha de ossos<br />
( ) húmus de minhoca<br />
( ) restos de alimentos ( cascas, folhas, etc.)<br />
( ) cinzas<br />
( ) outros: ____________________________<br />
20. Quanto às Folhas:<br />
a) Qual o estágio de desenvolvimento quando colhidas<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________<br />
b) Em que época do ano são colhidas<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________<br />
c) Há algum processo especial para colhê-las<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________<br />
d) Você os (as) armazena<br />
( ) sim ( ) não<br />
d.1) Se sim, o estado do farmacógeno é:<br />
( ) fresco ( ) seco<br />
d.2) Se seco, comente sobre as condições e o processo de armazenamento:<br />
21.Quanto aos Frutos:
52<br />
a) Qual o estágio de desenvolvimento quando colhidos<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________<br />
b) Em que época do ano são colhidos<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________<br />
c) Há algum processo especial para colhê-los<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________
53<br />
ANEXO D<br />
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PARTICIPANTE<br />
Estamos realizando um projeto para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)<br />
intitulado “<strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et Triana) Zappi (CLUSIACEAE) na Floresta<br />
Atlântica: aspectos ecológicos, uso tradicional e bioprospecção no efeito<br />
antiinflamatório”. A sr(a). foi plenamente esclarecido de que participando deste projeto,<br />
estará participando de um estudo de cunho acadêmico, que tem como um dos objetivos<br />
verificar o uso ecológico, tradicional e bioprospecção “<strong>Garcinia</strong> <strong>gardneriana</strong> (Planch. et<br />
Triana) Zappi (CLUSIACEAE) no efeito antiinflamatório. Embora a Sra. venha a aceitar a<br />
participar neste projeto, estará garantido que a Sra. poderá desistir a qualquer momento<br />
bastando para isso informar sua decisão. Foi esclarecido ainda que, por ser uma participação<br />
voluntária e sem interesse financeiro a Sra. não terá direito a nenhuma remuneração.<br />
Desconhecemos qualquer risco ou prejuízos por participar dela. Os dados referentes a Sra.<br />
serão sigilosos e privados, preceitos estes assegurados pela Resolução nº 196/96 do Conselho<br />
Nacional de Saúde, sendo que a Sra. poderá solicitar informações durante todas as fases do<br />
projeto, inclusive após a publicação dos dados obtidos a partir desta. Autoriza ainda a<br />
gravação da voz na oportunidade da entrevista.<br />
A coleta de dados será realizada pela acadêmica Francielle Gonçalves Mina (fone: 9931-<br />
5961) da 8ª fase da Graduação de Ciências Biológicas (Bacharelado) da UNESC e<br />
orientado pelos professores Dra. Vanilde Citadini-Zanette e Dr. Felipe Dal Pizzol. O<br />
telefone do Comitê de Ética é 3431.2723.<br />
______________________________________________________<br />
Assinatura do Participante