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Aplicabilidade do retalho de fáscia têmporo-parietal nas ... - ABCCMF

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<strong>Aplicabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia têmporo-<strong>parietal</strong> <strong>nas</strong> reconstruções secundárias <strong>de</strong> orelha e esqueleto craniofacial<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

<strong>Aplicabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia têmporo-<strong>parietal</strong><br />

<strong>nas</strong> reconstruções secundárias <strong>de</strong> orelha e esqueleto<br />

craniofacial<br />

The role of temporo<strong>parietal</strong> fascia flap in craniofacial skeleton and<br />

secondary ear reconstruction<br />

Cassio Eduar<strong>do</strong> Raposo-<strong>do</strong>-Amaral 1 , Cesar Augusto Raposo-<strong>do</strong>-Amaral 2 , Marcelo <strong>de</strong> Campos Guidi 3 , Celso Luiz Buzzo 4<br />

RESUMO<br />

Introdução: O <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia têmporo-<strong>parietal</strong><br />

superficial (RFTS) é um <strong>retalho</strong> axial basea<strong>do</strong> na artéria<br />

temporal superficial e particularmente útil em pacientes com<br />

sequelas <strong>de</strong> tumores na face, trauma ou <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s congênitas.<br />

Méto<strong>do</strong>: Dezenove pacientes foram submeti<strong>do</strong>s à<br />

elevação e à rotação <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia têmporo-<strong>parietal</strong><br />

superficial entre o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2008 a janeiro <strong>de</strong><br />

2010. A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pacientes foi <strong>de</strong> 18 anos (variou<br />

<strong>de</strong> 8 a 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>). Resulta<strong>do</strong>s: O RFTS foi<br />

indica<strong>do</strong> para o tratamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s congênitas<br />

e adquiridas, como sequelas <strong>de</strong> tumores <strong>de</strong> face (n=2),<br />

sequelas <strong>de</strong> trauma <strong>de</strong> face (n=1), avulsão traumática da<br />

orelha (n=1) e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s congênitas (n=15). Conclusão:<br />

O RFTS tem ampla aplicabilida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> reconstruções<br />

<strong>do</strong> esqueleto craniofacial, microtia e avulsão traumática<br />

<strong>de</strong> orelha. A elevação e a rotação <strong>do</strong> RFTS estabilizam os<br />

resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com enxertos ósseos, diminuin<strong>do</strong> significativamente<br />

sua absorção. Nos casos secundários <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha e/ou avulsão traumática da orelha,<br />

o RFTS é a ultima alternativa terapêutica antes da indicação<br />

da prótese auricular.<br />

Descritores: Orelha/cirurgia. Retalhos cirúrgicos.<br />

Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos. Deformida<strong>de</strong>s adquiridas<br />

da orelha/cirurgia. Traumatismos faciais. Orelha<br />

externa/anormalida<strong>de</strong>s.<br />

SUMMARY<br />

Introduction: Temporo<strong>parietal</strong> fascia flap (TPF) is an<br />

axial flap based on the superficial temporal artery and it<br />

is particularly useful in facial tumor sequels, trauma and<br />

congenital <strong>de</strong>formities. Methods: Nineteen patients un<strong>de</strong>rwent<br />

craniofacial skeleton reconstruction using a TPF<br />

flap from March 2008 to January 2010 at SOBRAPAR<br />

Hospital. The average age of patients at the operation was<br />

18 years (range, 8 to 50 years). Results: Patients diagnosis<br />

inclu<strong>de</strong>d sequels of facial tumor (n=2), sequels of facial<br />

trauma (n=1), traumatic avulsion of the ear (n=1), congenital<br />

<strong>de</strong>formity (n=15). Conclusions: The TPF flap has a<br />

paramount role in craniofacial skeleton reconstruction as<br />

well as secondary ear reconstruction caused by microtia<br />

or traumatic avulsion of the ear. The TPF stabilize bone<br />

grafts and diminishes its absorption. Either in secondary<br />

ear reconstruction due to microtia or traumatic avulsion of<br />

the ear, the TPF flap is the last therapeutic opportunity to<br />

achieve long lasting satisfactory results before the indication<br />

of auricular prosthesis.<br />

Descriptors: Ear/surgery. Surgical flaps. Reconstructive<br />

surgical procedures. Ear <strong>de</strong>formities, acquired/<br />

surgery. Facial injuries/surgery. Ear, external/abnormalities.<br />

1. Médico cirurgião plástico. Preceptor <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes. Vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong><br />

Hospital SOBRAPAR. Membro Titular da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Cirurgia<br />

Plástica (SBCP).<br />

2. Médico cirurgião plástico. Membro Associa<strong>do</strong> da SBCP.<br />

3. Médico cirurgião plástico. Diretor clínico <strong>do</strong> Hospital SOBRAPAR.<br />

Membro Titular da SBCP.<br />

4. Médico cirurgião plástico. Chefe <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Plástica Craniofacial<br />

<strong>do</strong> Hospital SOBRAPAR. Membro Titular da SBCP.<br />

Correspondência: Cassio E. Raposo-<strong>do</strong>-Amaral<br />

Rua Alameda das Palmeiras, 25 – Bairro Grama<strong>do</strong> – Campi<strong>nas</strong>, SP,<br />

Brasil – CEP 13094-776<br />

E-mail: cassioraposo@hotmail.com // cassioeduar<strong>do</strong>@sobrapar.com.br<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(1): 1-6<br />

1


Raposo-<strong>do</strong>-Amaral CE et al.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia temporal superficial (RFTS) é um <strong>retalho</strong><br />

axial basea<strong>do</strong> na artéria temporal. Este é um <strong>retalho</strong> versátil,<br />

utiliza<strong>do</strong> com frequência <strong>nas</strong> reconstruções <strong>de</strong> órbita, região<br />

zigomática, reconstruções secundárias <strong>de</strong> orelha ou primárias<br />

com a utilização <strong>de</strong> materiais heterólogos ou em pacientes com<br />

múltiplas cicatrizes na região auricular, reconstrução <strong>de</strong> base<br />

<strong>de</strong> crânio e tratamento <strong>de</strong> fístula liquórica <strong>do</strong> sistema nervoso<br />

central 1-4 .<br />

Na literatura internacional poucos casos foram relata<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a aplicabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> RFTS associa<strong>do</strong> à ilha <strong>de</strong><br />

pele <strong>do</strong> couro cabelu<strong>do</strong> para a reconstrução <strong>de</strong> sobrancelha<br />

após avulsão traumática 5,6 .<br />

Este <strong>retalho</strong> fornece um aporte sanguíneo adicional à<br />

região receptora e quan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> a enxertos ósseos po<strong>de</strong><br />

diminuir significativamente a absorção <strong>do</strong>s mesmos durante o<br />

seguimento pós-operatório. Desta maneira, este <strong>retalho</strong> é uma<br />

boa indicação para pacientes com sequelas <strong>de</strong> enucleação <strong>do</strong><br />

globo ocular associada à radioterapia. Nestes casos específicos,<br />

a ampliação da cavida<strong>de</strong> orbitária com a utilização <strong>de</strong> enxertos<br />

<strong>de</strong> mucosa oral ou <strong>do</strong> palato tem altos índices <strong>de</strong> insucesso. O<br />

RFTS amplia a cavida<strong>de</strong> orbitária e proporciona espaço para<br />

a colocação <strong>de</strong> prótese ocular, trazen<strong>do</strong> ao paciente gran<strong>de</strong><br />

benefício estético 7,8 .<br />

A cirurgia <strong>do</strong> RFTS exige cuida<strong>do</strong>s específicos em seu<br />

planejamento pré-operatório e intra-operatório. A i<strong>de</strong>ntificação<br />

da artéria temporal superficial é mandatória em toda a<br />

sua extensão, principalmente em pacientes irradia<strong>do</strong>s ou com<br />

cicatriz prévia no couro cabelu<strong>do</strong>. A i<strong>de</strong>ntificação da artéria<br />

temporal, normalmente realizada com aparelho Doppler,<br />

possibilita tranquilida<strong>de</strong> e segurança ao cirurgião plástico. O<br />

sofrimento vascular <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> po<strong>de</strong> trazer gran<strong>de</strong> prejuízo<br />

ao paciente, principalmente quan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> à reconstrução<br />

secundária <strong>de</strong> orelha ou enxertos ósseos, portanto um treinamento<br />

específico torna-se indispensável.<br />

Este trabalho tem como objetivo <strong>de</strong>linear a aplicabilida<strong>de</strong><br />

e a versatilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> RFTS <strong>nas</strong> reconstruções <strong>do</strong> esqueleto<br />

craniofacial <strong>de</strong> pacientes vítimas <strong>de</strong> sequelas <strong>de</strong> trauma <strong>de</strong> face,<br />

tumores e porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s congênitas.<br />

A incisão é inicialmente realizada na porção mais distal <strong>do</strong><br />

couro cabelu<strong>do</strong> em relação ao início da artéria temporal superficial.<br />

A elevação <strong>do</strong> couro cabelu<strong>do</strong> ocorre no plano subcutâneo<br />

em direção à orelha. Quan<strong>do</strong> a elevação <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> envolve ilha<br />

<strong>de</strong> pele, esta é incisada em to<strong>do</strong> seu contorno. Após completa<br />

elevação <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> cutâneo <strong>de</strong> couro cabelu<strong>do</strong> visualiza-se<br />

o pedículo axial <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> (Figura 2). A fina fáscia temporal<br />

superficial é subsequentemente elevada em to<strong>do</strong> o trajeto.<br />

Figura 1 - Fotografia pré-operatória <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> marcação<br />

com tinta azul da artéria temporal superficial em toda a sua<br />

extensão (seta).<br />

Figura 2 - Fotografia intra-operatória <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a elevação<br />

<strong>do</strong> <strong>retalho</strong> subcutâneo <strong>de</strong> couro cabelu<strong>do</strong> e visualização<br />

da artéria temporal superficial (ramo anterior e posterior) em<br />

paciente submeti<strong>do</strong> ao segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong><br />

orelha.<br />

MÉTODO<br />

Dezenove pacientes foram submeti<strong>do</strong>s à elevação e à<br />

rotação <strong>do</strong> RFTS entre os perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2008 a janeiro<br />

<strong>de</strong> 2010. A ida<strong>de</strong> média <strong>do</strong>s pacientes no ato operatório foi <strong>de</strong><br />

18 anos, varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 8 a 50 anos. A média <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> internação<br />

hospitalar foi <strong>de</strong> 3 dias, varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1 a 5 dias. O volume médio<br />

<strong>de</strong> sangue perdi<strong>do</strong> por cirurgia foi <strong>de</strong> 300 cm 3 . O tempo médio<br />

<strong>de</strong> cirurgia foi <strong>de</strong> aproximadamente 3 horas e 30 minutos,<br />

varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2 horas e 30 minutos a 5 horas.<br />

Técnica operatória<br />

A artéria temporal superficial é cuida<strong>do</strong>samente <strong>de</strong>marcada<br />

em to<strong>do</strong> o seu trajeto. Quan<strong>do</strong> a elevação <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> envolve ilha<br />

<strong>de</strong> pele, a distância entre a área receptora e o eixo <strong>de</strong> rotação<br />

é cuida<strong>do</strong>samente aferida com paquímetro. Esta distância é<br />

transferida para o couro cabelu<strong>do</strong>, que é <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> com tinta<br />

azul (Figura 1).<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(1): 1-6<br />

2


<strong>Aplicabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia têmporo-<strong>parietal</strong> <strong>nas</strong> reconstruções secundárias <strong>de</strong> orelha e esqueleto craniofacial<br />

Reconstrução <strong>de</strong> orelha em 2 estágios<br />

Utilizamos a técnica <strong>de</strong> Nagata para reconstrução<br />

da orelha em 2 estágios. O segun<strong>do</strong> estágio consiste na<br />

elevação <strong>do</strong> RFTS e <strong>do</strong> arcabouço cartilaginoso reconstruí<strong>do</strong>.<br />

O <strong>retalho</strong> é roda<strong>do</strong> sobre um suporte <strong>de</strong> cartilagem<br />

costal <strong>de</strong> aproximadamente 10 mm <strong>de</strong> altura, que confere<br />

projeção à orelha reconstruída. O <strong>retalho</strong> é coberto com<br />

enxerto <strong>de</strong> pele parcial <strong>de</strong> aproximadamente 0,3 mm <strong>de</strong><br />

espessura. Drenos <strong>de</strong> sucção contínua são manti<strong>do</strong>s por<br />

3 dias 3 .<br />

Reconstrução <strong>de</strong> orelha em casos secundários ou<br />

avulsão traumática da orelha<br />

Os casos secundários são reconstruí<strong>do</strong>s com amplo<br />

RFTS cobrin<strong>do</strong> completamente o arcabouço cartilaginoso<br />

cuida<strong>do</strong>samente esculpi<strong>do</strong>. O <strong>retalho</strong> é coberto com<br />

enxerto <strong>de</strong> pele parcial <strong>de</strong> aproximadamente 0,3 mm <strong>de</strong><br />

espessura. O segun<strong>do</strong> tempo da reconstrução <strong>de</strong> orelha é<br />

realiza<strong>do</strong> com <strong>retalho</strong> galeal e enxertia <strong>de</strong> pele 3 .<br />

Reconstrução <strong>de</strong> órbita e zigoma<br />

Os pacientes que apresentavam sequela <strong>de</strong> tumor,<br />

atrofia facial progressiva <strong>de</strong> causa idiopática, sequela <strong>de</strong><br />

trauma ou síndrome <strong>de</strong> Treacher-Collins-Franceschetti<br />

foram submeti<strong>do</strong>s a enxerto ósseo da região craniana<br />

<strong>parietal</strong>, que foi dividi<strong>do</strong> ao meio. A tábua externa <strong>do</strong><br />

enxerto ósseo permaneceu na área <strong>do</strong>a<strong>do</strong>ra, enquanto a<br />

tábua interna foi utilizada para reconstrução das regiões<br />

frontal, orbital (pare<strong>de</strong>s laterais e assoalho) e zigomática.<br />

RFTS com ilha <strong>de</strong> pele<br />

O RFTS com ilha <strong>de</strong> pele foi utiliza<strong>do</strong> para reconstrução<br />

<strong>de</strong> sobrancelha e aumento da cavida<strong>de</strong> anoftámica<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à enucleação <strong>do</strong> globo ocular (Figura 3).<br />

RESULTADOS<br />

O RFTS foi indica<strong>do</strong> para o tratamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s<br />

congênitas e adquiridas, como sequelas <strong>de</strong> tumores <strong>de</strong> face<br />

(n=2), sequelas <strong>de</strong> trauma <strong>de</strong> face (n=1), avulsão traumática da<br />

orelha (n=1) e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s congênitas (n=15). Diagnósticos,<br />

ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pacientes e cirurgias realizadas para reabilitação <strong>do</strong>s<br />

pacientes foram <strong>de</strong>scritos <strong>nas</strong> Tabelas 1 a 3.<br />

Dentre os pacientes com sequelas <strong>de</strong> tumores <strong>de</strong> face, um<br />

<strong>de</strong>les apresentava sequela <strong>de</strong> retinoblastoma e outro, atrofia<br />

facial progressiva <strong>de</strong> causa idiopática. Um paciente apresentava<br />

sequela <strong>de</strong> trauma <strong>de</strong> face com perda óssea da região frontal<br />

e orbital, além <strong>de</strong> avulsão traumática <strong>de</strong> sobrancelha. Os<br />

pacientes com <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s congênitas submeti<strong>do</strong>s à reconstrução<br />

com RFTS apresentavam microtia direita e esquerda<br />

(n=10), síndrome <strong>do</strong> 1º e 2º arco branquial (n=3) e síndrome<br />

<strong>de</strong> Treacher-Collins-Franceschetti (n=3) (Figuras 4 e 5).<br />

Tabela 1 - Pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> microtia submeti<strong>do</strong>s<br />

à reconstrução primária ou secundária <strong>de</strong> orelha com o RFTS.<br />

Iniciais<br />

Ida<strong>de</strong><br />

(anos)<br />

JM 8<br />

CC 10<br />

ML 10<br />

Diagnóstico<br />

Microtia<br />

esquerda<br />

Microtia<br />

direita<br />

Microtia<br />

direita<br />

Tratamento<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Figura 3 - Fotografia intra-operatória <strong>do</strong> RFTS eleva<strong>do</strong> com<br />

ilha <strong>de</strong> pele, com o objetivo <strong>de</strong> fornecer aporte sanguíneo<br />

adicional à região frontal previamente irradiada durante o<br />

tratamento <strong>de</strong> tumor maligno <strong>do</strong> globo ocular e promover<br />

aumento <strong>do</strong> volume da cavida<strong>de</strong> anoftálmica.<br />

WL 14<br />

PS 14<br />

Microtia<br />

esquerda<br />

Microtia<br />

direita<br />

Reconstrução primária<br />

<strong>de</strong> orelha com RFTS<br />

Reconstrução primária<br />

<strong>de</strong> orelha com RFTS<br />

EU 17<br />

Microtia<br />

direita<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

LS 20<br />

Microtia<br />

direita<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

BA 21<br />

Microtia<br />

esquerda<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

LF 23<br />

Microtia<br />

direita<br />

Reconstrução secundária<br />

<strong>de</strong> orelha com RFTS<br />

SA 26<br />

Microtia<br />

direita<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(1): 1-6<br />

3


Raposo-<strong>do</strong>-Amaral CE et al.<br />

Tabela 2 - Pacientes sindrômicos submeti<strong>do</strong>s à reconstrução<br />

<strong>de</strong> região zigomática, orbitária ou <strong>de</strong> orelha com RFTS.<br />

Iniciais<br />

Ida<strong>de</strong><br />

(anos)<br />

RS 9<br />

AR 10<br />

DA 16<br />

NS 13<br />

AR 28<br />

Diagnóstico<br />

Síndrome <strong>do</strong><br />

1º e 2º arco<br />

branquial<br />

Síndrome <strong>do</strong><br />

1º e 2º arco<br />

branquial<br />

Síndrome <strong>do</strong><br />

1º e 2º arco<br />

branquial<br />

Síndrome<br />

<strong>de</strong> Treacher-<br />

Collins-Franceschetti<br />

Síndrome<br />

<strong>de</strong> Treacher-<br />

Collins-Franceschetti<br />

Tratamento<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Reconstrução secundária<br />

<strong>de</strong> orelha com RFTS<br />

Reconstrução <strong>de</strong> região<br />

zigomática com RFTS<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

Seis cirurgias <strong>de</strong> elevação <strong>do</strong> RFTS foram associadas a<br />

enxertos ósseos <strong>do</strong> crânio da região <strong>parietal</strong>, que foi dividida<br />

após craniotomia. A tábua externa manteve-se na área <strong>do</strong>a<strong>do</strong>ra e<br />

a tábua interna foi utilizada como enxerto ósseo para as regiões<br />

frontal, orbital e zigomática.<br />

Foi observada necrose total <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> em um paciente<br />

submeti<strong>do</strong> a reconstrução secundária <strong>de</strong> orelha.<br />

Figura 4 – (A) Fotografia pré-operatória <strong>de</strong> paciente encaminha<strong>do</strong><br />

ao nosso Serviço vítima <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte motociclístico<br />

com sequela <strong>de</strong> fratura em região frontal, etmoi<strong>do</strong>-orbitária,<br />

região zigomática e maxilar. Grave lesão traumática <strong>de</strong> partes<br />

moles <strong>de</strong> toda a região frontal à esquerda, incluin<strong>do</strong> músculo<br />

frontal, sobrancelha, músculos eleva<strong>do</strong>res da pálpebra e região<br />

<strong>nas</strong>al (esquerda). (B) Fotografia pós-operatória da mesma<br />

paciente submetida a enxertos ósseos <strong>do</strong> crânio em região<br />

frontal, pare<strong>de</strong> lateral da órbita e zigomática associa<strong>do</strong> ao<br />

RFTS para transporte <strong>de</strong> folículos pilosos <strong>do</strong> couro cabelu<strong>do</strong><br />

com objetivo <strong>de</strong> mimetizar a sobrancelha gravemente lesada<br />

após o aci<strong>de</strong>nte e fornecer aporte <strong>de</strong> sangue adicional aos<br />

enxertos ósseos. O músculo eleva<strong>do</strong>r da pálpebra e músculo<br />

frontal foram gravemente lesa<strong>do</strong>s no aci<strong>de</strong>nte, comprometen<strong>do</strong><br />

as possíveis alternativas terapêuticas para correção da<br />

ptose palpebral (direita).<br />

Tabela 3 - Pacientes com sequelas <strong>de</strong> tumores e trauma submeti<strong>do</strong>s<br />

à reconstrução <strong>do</strong> esqueleto craniofacial com RFTS.<br />

Iniciais<br />

Ida<strong>de</strong><br />

(anos)<br />

Diagnóstico<br />

Tratamento<br />

OG 12<br />

Sequela <strong>de</strong><br />

ritinoblastoma<br />

Reconstrução <strong>de</strong> órbita<br />

e cavida<strong>de</strong> anoftálmica<br />

com RFTS<br />

A<br />

PS 13<br />

Atrofia progressiva<br />

da<br />

face<br />

Reconstrução <strong>de</strong> hemiface<br />

com enxerto ósseo<br />

e RFTS<br />

FM 27<br />

Sequela <strong>de</strong><br />

trauma <strong>de</strong><br />

face<br />

Reconstrução <strong>de</strong> região<br />

frontal, órbita e zigoma<br />

com enxertos ósseos<br />

+ reconstrução <strong>de</strong> sobrancelha<br />

com RFTS.<br />

VN 50<br />

Amputação<br />

traumática da<br />

orelha<br />

Segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha<br />

com RFTS<br />

B<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(1): 1-6<br />

4


<strong>Aplicabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> fáscia têmporo-<strong>parietal</strong> <strong>nas</strong> reconstruções secundárias <strong>de</strong> orelha e esqueleto craniofacial<br />

Figura 5 - (A) Fotografia pré-operatória (após o primeiro<br />

tempo <strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong> orelha com a técnica <strong>de</strong> Nagata)<br />

com <strong>de</strong>marcação da artéria temporal superficial e enxerto <strong>de</strong><br />

pele parcial da região posterior <strong>do</strong> couro cabelu<strong>do</strong>. (B) Fotografia<br />

intra-operatória após elevação e rotação <strong>do</strong> RFTS. (C)<br />

Nota-se a projeção obtida com a elevação <strong>do</strong> RFTS sobre<br />

bloco <strong>de</strong> cartilagem costal <strong>de</strong> 10 mm <strong>de</strong> altura e enxerto <strong>de</strong><br />

pele parcial.<br />

C<br />

A<br />

B<br />

DISCUSSÃO<br />

O RFTS é uma possibilida<strong>de</strong> terapêutica importante <strong>nas</strong><br />

reconstruções <strong>de</strong> órbita, zigoma, sobrancelha e orelha 2,3,7 .<br />

Os pacientes com sequelas <strong>de</strong> ressecções tumorais da<br />

região orbitária com enucleação ocular e radioterapia adjuvante<br />

apresentam gradativa absorção óssea em regiões circunvizinhas,<br />

como a região frontal, orbital e zigomática, levan<strong>do</strong><br />

a gran<strong>de</strong> assimetria facial. Enxertos ósseos nesta região<br />

po<strong>de</strong>m apresentar baixo índice <strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao déficit <strong>de</strong><br />

aporte sanguíneo consequente a terapias adjuvantes. O aporte<br />

sanguíneo adicional trazi<strong>do</strong> através <strong>do</strong> RFTS proporciona um<br />

resulta<strong>do</strong> estável, com mínima absorção óssea no seguimento<br />

pós-operatório.<br />

O RFTS com a ilha <strong>de</strong> pele expan<strong>de</strong> a cavida<strong>de</strong> orbitária,<br />

possibilitan<strong>do</strong> espaço para inclusão <strong>de</strong> prótese ocular. Em<br />

nosso Serviço, os enxertos <strong>de</strong> mucosa oral foram substituí<strong>do</strong>s<br />

pelo RFTS. No entanto, os folículos pilosos transporta<strong>do</strong>s no<br />

<strong>retalho</strong> apresentam contínuo crescimento e necessitam serem<br />

apara<strong>do</strong>s com certa frequência. Estes <strong>de</strong>talhes técnicos <strong>de</strong>vem<br />

ser informa<strong>do</strong>s aos pacientes e a seus familiares no perío<strong>do</strong> préoperatório,<br />

e não representam impedimento cirúrgico. Embora<br />

não utiliza<strong>do</strong> em nossos pacientes, o laser po<strong>de</strong> promover,<br />

em poucas sessões, <strong>de</strong>pilação <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong>s folículos pilosos<br />

<strong>de</strong>ssas regiões 9,10 .<br />

Nas reconstruções <strong>de</strong> orelha, o RFTS foi utiliza<strong>do</strong> em<br />

casos secundários ou em pacientes com avulsão traumática<br />

da orelha e é normalmente a última possibilida<strong>de</strong> terapêutica<br />

<strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> um resulta<strong>do</strong> satisfatório. A eventual falha <strong>do</strong><br />

RFTS é extremamente frustrante, uma vez que o próximo passo<br />

normalmente é uma prótese auricular. O RFTS também é uma<br />

possibilida<strong>de</strong> terapêutica em complicações <strong>de</strong> casos primários,<br />

como exposição <strong>do</strong> arcabouço cartilaginoso <strong>de</strong>corrente<br />

<strong>de</strong> isquemia e necrose parcial <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> pele que envolve<br />

a cartilagem esculpida. A cicatrização por segunda intenção<br />

leva à absorção gradativa da cartilagem esculpida e à perda<br />

<strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>, portanto diante <strong>de</strong> uma complicação<br />

<strong>de</strong>sta gravida<strong>de</strong> o cirurgião plástico <strong>de</strong>ve agir prontamente.<br />

A incisão no couro cabelu<strong>do</strong> em zig-zag, comumente<br />

realizada <strong>nas</strong> reconstruções craniofaciais, po<strong>de</strong> levar à lesão<br />

da artéria temporal superficial e inviabilizar a elevação <strong>do</strong><br />

RFTS; por este motivo, utilizamos incisões retilíneas como<br />

acesso ao plano subgaleal e preservação da artéria temporal<br />

superficial 11 . Este <strong>retalho</strong> po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> <strong>nas</strong> reconstruções<br />

<strong>do</strong> esqueleto craniofacial <strong>de</strong> pacientes com síndrome <strong>de</strong> Treacher<br />

Collins-Franceschetti. Além <strong>de</strong> oferecer maior aporte<br />

sanguíneo aos enxertos ósseos da região zigomática, oferece<br />

uma expansão adicional ao terço médio da face, cujos teci<strong>do</strong>s<br />

moles encontram-se hipoplásicos.<br />

A dissecção cuida<strong>do</strong>sa inicial não acrescenta mais <strong>do</strong> que<br />

30 minutos ao tempo operatório final e, portanto, é plenamente<br />

justificável 11 . O RFTS po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> para fechamento <strong>de</strong><br />

fístulas palati<strong>nas</strong> em pacientes fissura<strong>do</strong>s ou com sequelas <strong>de</strong><br />

trauma <strong>de</strong> face. Utilizamos em um paciente com sequela grave<br />

<strong>de</strong> trauma <strong>de</strong> face o RFTS para a restauração da sobrancelha.<br />

Acreditamos que este <strong>retalho</strong> é a melhor alternativa terapêutica<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a implantação <strong>de</strong> folículo piloso, fio a fio,<br />

como utiliza<strong>do</strong> no tratamento da alopecia androgênica, teria<br />

altas chances <strong>de</strong> insucesso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à extensa área <strong>de</strong> cicatrizes<br />

na fronte.<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(1): 1-6<br />

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Raposo-<strong>do</strong>-Amaral CE et al.<br />

A necrose <strong>do</strong> RFTS ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao estrangulamento<br />

<strong>do</strong> pedículo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à acentuada rotação <strong>do</strong> <strong>retalho</strong> sobre<br />

seu próprio eixo. Tivemos um caso <strong>de</strong> necrose <strong>do</strong> RTFS em<br />

um paciente submeti<strong>do</strong> ao segun<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong> reconstrução<br />

<strong>de</strong> orelha por <strong>de</strong>feito congênito. Nesta situação específica<br />

po<strong>de</strong>-se utilizar o <strong>retalho</strong> <strong>de</strong> gálea aponeurótica da região<br />

retro-auricular em associação ao enxerto <strong>de</strong> pele parcial <strong>do</strong><br />

couro cabelu<strong>do</strong> para tratamento da exposição <strong>do</strong> arcabouço<br />

cartilaginoso, sem comprometimento <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> final.<br />

CONCLUSÃO<br />

O RFTS tem ampla aplicabilida<strong>de</strong> <strong>nas</strong> reconstruções<br />

<strong>do</strong> esqueleto craniofacial, microtia e avulsão traumática<br />

<strong>de</strong> orelha. A incisão retilínea no couro cabelu<strong>do</strong>, além <strong>de</strong><br />

diminuir o tamanho final da cicatriz, possibilita menor<br />

sangramento e menores chances <strong>de</strong> lesão da artéria temporal<br />

superficial. A elevação e rotação <strong>do</strong> RFTS estabiliza os<br />

resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com enxertos ósseos, diminuin<strong>do</strong> significativamente<br />

sua absorção. Nos casos secundários <strong>de</strong><br />

reconstrução <strong>de</strong> orelha e/ou avulsão traumática da orelha, o<br />

RFTS é a ultima alternativa terapêutica antes da indicação<br />

da prótese auricular. A elevação e a rotação <strong>do</strong> RFTS exigem<br />

cuida<strong>do</strong>s intra-operatórios específicos, principalmente no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> evitar-se o estrangulamento <strong>do</strong> pedículo vascular<br />

e consequente necrose <strong>do</strong> <strong>retalho</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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covered by axial, ran<strong>do</strong>m, and free flaps of temporo<strong>parietal</strong> fascia.<br />

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10. Choudhary S, Elsaie ML, Nouri K. Laser assisted hair-removal. G<br />

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11. Aojanepong C. Coronal incision with preserved temporo<strong>parietal</strong><br />

fascia. J Craniofac Surg. 2009;20(5):1574-7.<br />

Trabalho realiza<strong>do</strong> no Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Plástica Crâniofacial <strong>do</strong> Hospital SOBRAPAR, Campi<strong>nas</strong>, SP.<br />

Artigo recebi<strong>do</strong>: 18/2/2010<br />

Artigo aceito: 25/3/2010<br />

Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(1): 1-6<br />

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