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Blog, uma janela para o mundo o

[Marcio Allemand] Eu conto histórias desde muito moleque, se bem que custei a me dar conta disto. Lembro que costumava deixar minha prima Mônica intrigada e de boca aberta com tantas invencionices que saíam da minha mente pra lá de fértil. Afinal eu era o primo mais novo, mas nestas horas a diferença de idade pouco importava. Na verdade eu era só uma criança que não parava de pensar um segundo sequer, observava tudo e a todos, criava as situações mais absurdas e tinha sempre uma ideia nova na cabeça. Minhas tias diziam que eu gostava de inventar moda. Concordo. Por outro lado, tenho um amigo que diz que eu tenho a mente voltada para o mal. Discordo totalmente. Com os amigos da rua em que eu morava, no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro, não era diferente. Eu era o que se pode chamar de arteiro. Não que eu fosse um moleque levado, agitado, daqueles que não parava quieto. Muito pelo contrário. Mas eu gostava de inventar arte e volta e meia deixava a vizinhança de cabelo em pé. Até hoje nunca descobriram quem realmente jogava ovos na casa da vila ao lado do meu prédio. Se desconfiarem de mim, continuarei negando. Já o caso do açougue, este todos souberam. Houve também uma época em que as meninas da minha rua começaram a receber cartas anônimas. Eram cartas onde eu me declarava apaixonado, cheias de versinhos simples e rimas baratas. Eu me divertia mesmo era vendo a cara das mães das meninas que, ao receberem as tais cartas, desciam para tentar adivinhar quem seria o autor desta ou daquela. Muito provavelmente eu fui o responsável pela maioria delas. Ou de todas, sei lá. Mas eu era precavido. Em meio aos versos e rimas, escrevia um “apaichonado“, assim com ch mesmo, e todas as vítimas acaba- 95

[Marcio Allemand]<br />

Eu conto histórias desde muito moleque, se bem que custei a me dar conta disto.<br />

Lembro que costumava deixar minha prima Mônica intrigada e de boca aberta<br />

com tantas invencionices que saíam da minha mente pra lá de fértil. Afinal eu era o<br />

primo mais novo, mas nestas horas a diferença de idade pouco importava. Na verdade<br />

eu era só uma criança que não parava de pensar um segundo sequer, observava tudo<br />

e a todos, criava as situações mais absurdas e tinha sempre uma ideia nova na cabeça.<br />

Minhas tias diziam que eu gostava de inventar moda. Concordo. Por outro lado, tenho<br />

um amigo que diz que eu tenho a mente voltada para o mal. Discordo totalmente.<br />

Com os amigos da rua em que eu morava, no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro,<br />

não era diferente. Eu era o que se pode chamar de arteiro. Não que eu fosse um<br />

moleque levado, agitado, daqueles que não parava quieto. Muito pelo contrário. Mas<br />

eu gostava de inventar arte e volta e meia deixava a vizinhança de cabelo em pé.<br />

Até hoje nunca descobriram quem realmente jogava ovos na casa da vila ao lado do<br />

meu prédio. Se desconfiarem de mim, continuarei negando. Já o caso do açougue,<br />

este todos souberam. Houve também uma época em que as meninas da minha rua<br />

começaram a receber cartas anônimas. Eram cartas onde eu me declarava apaixonado,<br />

cheias de versinhos simples e rimas baratas. Eu me divertia mesmo era vendo<br />

a cara das mães das meninas que, ao receberem as tais cartas, desciam para tentar<br />

adivinhar quem seria o autor desta ou daquela. Muito provavelmente eu fui o responsável<br />

pela maioria delas. Ou de todas, sei lá. Mas eu era precavido. Em meio aos versos<br />

e rimas, escrevia um “apaichonado“, assim com ch mesmo, e todas as vítimas acaba-<br />

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