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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />

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do vou às favelas fazer algum documentário, os meninos me contam das histórias<br />

do Caveirão, do Bonde que invadiu tal comunidade, do traficante que enfrentou o<br />

helicóptero Águia da polícia, do Bope, da CORE... Ou seja, persiste a necessidade de<br />

contar e ouvir histórias.<br />

Epa! Aí eu posso ganhar dinheiro! O cinema é hoje um griot universal, a relação<br />

candidato/vaga no vestibular das faculdades de cinema se aproxima das de medicina.<br />

As pessoas querem deixar alguma coisa para o mundo, querem deixar histórias e seus<br />

pensamentos. Se meu avô andava a cavalo, meu pai anda de carro, eu uso a internet.<br />

Se meu avô contava histórias na fogueira com a viola, meu pai lê e vê televisão,<br />

eu uso a internet. Minha geração (tenho 37) ainda foi alfabetizada antes da grande<br />

rede. Vejo minha sobrinha de cinco anos, que nem sabe ler, mas já sabe navegar, e<br />

imagino onde isso vai dar. Quer dizer: fizeram estradas, alguém um dia inventou o<br />

carro, fizeram o projetor de imagens em movimento, alguém inventou o cinema. Taí<br />

a internet... Eu ainda tive a referência rural, minha sobrinha só terá a audiovisual.<br />

A minha relação com o tempo, que já é totalmente diferente da dos meus avós, será<br />

muito mais complexa com minha sobrinha. A velocidade com que minha sobrinha<br />

absorverá informação e portanto a velocidade contra a qual eu tenho que manter<br />

sua atenção, são os fatores X da equação. Para o homem rural, o tempo se apresenta<br />

cíclico, com as colheitas se repetindo, as estações, etc. Para o urbano do século XX,<br />

o tempo industrial-linear, como a linha de montagem de uma fábrica, onde o metal<br />

entra e sofre o processamento, até sair um carro do outro lado (assim foram escritos<br />

os roteiros da grande maioria dos filmes ao longo do século). Pra minha sobrinha<br />

virtual, o tempo digital é elíptico/polifônico, ou seja, ela pode estar pesquisando um<br />

assunto numa wikipedia e se deparar com um hiperlink que a levará para universos de<br />

interesse totalmente diferentes, e ela pode voltar ao assunto original ou seguir em suas<br />

aventuras virtuais. Pior! (ou melhor), são várias páginas da internet abertas ao mesmo<br />

tempo, junto com os sites de relacionamento, os messengers, a TV ligada, ouvindo<br />

música... Tudo isso reestrutura em sua cabecinha digital-multimídia a relação com os<br />

personagens ou heróis que iremos apresentar.

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