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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />
80<br />
Dentro dessas tentativas de aproximação, participei de algumas reuniões com a<br />
intenção de afinar os formatos. Certa vez tivemos uma reunião na Casa da Leitura no<br />
Rio de Janeiro com um diretor e produtores de uma emissora de televisão. Tínhamos<br />
gravado algumas histórias num estúdio e esse trabalho foi apresentado aos senhores<br />
da emissora. Por coincidência, uma história que eu conto até hoje foi a primeira a<br />
ser apresentada: “Uma aposta”. Uma narrativa cheia de lirismo e romance de Artur<br />
Azevedo. A história tem aproximadamente oito minutos o que levou o diretor da<br />
emissora à loucura. O tal senhor ficou extremamente exaltado. Elogiou a história e a<br />
contação (para minha alegria), mas ficou espantado com a duração da história. Disse<br />
que seria impossível realizar o trabalho com narrativas desse tamanho. A discussão<br />
ficou acalorada e o projeto subiu no telhado.<br />
Numa outra tentativa, fomos para um estúdio gravar pilotos de um possível programa<br />
sobre contação de histórias. O diretor pediu para que eu contasse uma história<br />
para crianças. Escolhi “A rã e o boi”, uma deliciosa fábula. Conto essa história<br />
utilizando uma bola de encher, soprando até ela explodir. Por já ter vivido outras<br />
experiências frustradas com o veículo, contei a história de uma forma bem contida<br />
numa tentativa de enquadrá-la no formato televisivo. Não deu certo. O diretor me<br />
perguntou se era assim que eu contava normalmente. Respondi que não. Quando<br />
conto, me movimento muito. Os gestos são largos e grandes. Tentei explicar que, da<br />
forma que faço normalmente, não caberia na telinha. Mas o homem insistiu. E fiz.<br />
Confesso que até exagerei um pouquinho. E, como eu já desconfiava, o diretor ficou<br />
espantado e o projeto subiu no telhado também.<br />
Depois de muitas tentativas, surgiu um convite de uma emissora estatal. Fiquei<br />
mais animado principalmente porque, por ser estatal, a emissora não teria uma grande<br />
preocupação com a parte comercial. Mas foi só ilusão minha. A proposta era gravar<br />
vinte histórias que seriam apresentadas durante o mês de outubro numa homenagem<br />
as crianças. As narrativas teriam no máximo três minutos e uma animação gráfica. Eu<br />
faria a adaptação e a contação das histórias.<br />
E aí, começaram os problemas: como adaptar as narrativas para o tamanho pro-