o_19dm3aj1o1sup1j651bkj1drp13h6a.pdf
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
[Augusto Pessôa]<br />
Acho que contar histórias é um exercício de intimidade. Uma relação profunda<br />
entre o narrador, a história e o ouvinte. Tendo como elemento principal<br />
a narrativa, o texto que é dito. A contação de histórias não necessita de imagens, de<br />
encenações ou outros subterfúgios. Eles podem até fazer parte do trabalho, mas esses<br />
elementos devem servir ao texto e somente a ele. O grande trabalho do contador é<br />
dizer o texto de forma clara para que ele seja elaborado na imaginação do ouvinte.<br />
Sou contador de histórias há muito tempo. Descobri recentemente que já tenho<br />
18 anos de contação. Pra mim, parece que foi ontem. Mas já vivi várias experiências<br />
interessantes durante esse tempo. Uma realmente interessante é a relação da contação<br />
de histórias com a televisão. É curioso porque supostamente são linguagens que não<br />
combinam: a televisão vive de imagem. Uma imagem que é mostrada. Não há muito<br />
espaço para imaginação. O telespectador precisa ver e acreditar naquilo que é mostrado.<br />
Uma vez li uma entrevista do autor de novelas Silvio de Abreu onde ele dizia<br />
mais ou menos isso: “A realidade não precisa ser real, mas a teledramaturgia sim”. Na<br />
minha opinião essa frase é bastante significativa do trabalho realizado nas emissoras.<br />
Além disso, a televisão também precisa de dinamismo. As imagens não podem ficar<br />
mais de dois minutos no ar. Os cortes são rápidos. As informações aceleradas.<br />
Já a contação de histórias necessita exatamente do contrário. Precisa do tempo,<br />
do olho no olho, da intimidade. As informações são lentas, não precisam ser “reais”<br />
e necessitam da imaginação do ouvinte.<br />
As emissoras de televisão desejam essa intimidade com o telespectador e tentam<br />
colocar dentro do seu formato uma atividade que aparentemente não cabe nele.<br />
79