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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />
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interagindo com o público. Apesar de se alimentar da linguagem do seu ancestral em<br />
comum, o ator rapsodo hoje costuma ser apenas uma importante peça de uma engrenagem<br />
na qual o grande contador de histórias é o próprio encenador. O Contador de<br />
Histórias, por sua vez, tem os pés na vida, e dali, do mesmo lugar que o público, abre<br />
uma janela pra fantasia.<br />
A faculdade de contar histórias é um dom de todos os seres humanos e os atores<br />
hoje são minoria no mundo dos narradores. Os contadores de histórias contemporâneos<br />
são escritores, educadores, leitores, pesquisadores, promotores de leitura e também<br />
atores, são indivíduos que possuem em comum um “impulso rapsódico”. Mais<br />
do que intérprete de um texto narrativo, o contador é também uma autoridade sobre<br />
o que está contando. Seu repertório é resultado de uma experiência individual com a<br />
literatura, com o seu universo mais íntimo de significações, com sua história de amor<br />
com a linguagem; ele tem o dom de trazer para a voz a palavra autoral por meio de<br />
um processo de apropriação que faz seu texto se transformar em oralidade. A questão<br />
que se coloca, a partir daí, é: seria essa prática, que é de todos, uma linguagem cênica<br />
Polêmico narrador e teórico das artes cênicas, o cubano, radicado na Espanha,<br />
Francisco Garzon Céspedes, cunhou o termo: narração oral cênica para designar a<br />
prática dos contadores de histórias do nosso tempo. No seu livro El arte escénico de<br />
contar cuentos [A arte cênica da contação de histórias] ele afirma: a arte de contar oral e<br />
cenicamente é uma arte cênica. Mas para Céspedes dizer cena não é dizer teatro, e é na<br />
oposição: teatro versus narração de histórias, que ele busca os paradigmas que vão<br />
apontar as direções dessa nova linguagem. “O teatro é ação. A narração oral cênica é<br />
sugestão. (...) O teatro é representação. A narração oral cênica é apresentação.”<br />
Meu mestre Fernando Lébeis dizia: “O ator bota máscaras, o contador de histórias<br />
tira as máscaras.” Diga-me o que contas e te direi quem és! Despido de personagens,<br />
descolado de qualquer “encenação”, o contador de histórias está pronto para, em<br />
qualquer espaço sob as condições mais adversas, fazer acontecer o seu “teatro”.<br />
Oriundo de uma sociedade em que a oralidade tem papel secundário, o contador<br />
de histórias urbano elege seu acervo a partir das muitas possibilidades que sua