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[José Mauro Brant]<br />
A voz é querer dizer e vontade de existência.<br />
Zumthor.<br />
Hoje, o interesse do teatro contemporâneo pela encenação de textos literários<br />
sem transposição de gênero é crescente. A ideia de fazer viver no palco o texto narrativo<br />
sem adaptações teatrais fez ressurgir na cena contemporânea a presença do atornarrador,<br />
O Ator Rapsodo. O titulo aqui alude à própria gênese do ator, a figura dos<br />
poetas rapsodos, contadores de histórias da Grécia antiga, detentores da poesia oral que<br />
estiveram em cena em vários momentos históricos do teatro. Neste teatro “narrativo”<br />
o Ator Rapsodo preserva a voz autoral, sendo o responsável direto pela comunicação.<br />
Ele quebra a quarta parede e se projeta do espaço dramático; se distanciando da obra<br />
e encontrando o público e, desse espaço de cumplicidade, ele pode narrar, comentar,<br />
descrever e até viver os personagens da obra que está encenando.<br />
O diretor Aderbal Freire filho, um dos grandes praticantes desse gênero e criador<br />
do Romance em cena define: “(...) o ator rapsodo é títere e titeriteiro. Ele representa em<br />
primeira pessoa mas narra em terceira. Se no cinema o ator faz e a câmera mostra, no<br />
‘romance em cena’ o ator faz e mostra.” O trânsito livre entre o narrado e o vivido<br />
cria um jogo franco com o público, sem ilusões, resultando numa teatralidade viva e<br />
instigante na qual o espectador é convocado como leitor, embarcando num exercício<br />
criativo de imaginação onde ele completa as imagens e os sentidos do texto.<br />
Mesmo dispondo das mesmas ferramentas e oferecendo ao público um mesmo<br />
exercício de recepção, o ator rapsodo parece distante do que hoje chamamos de Contador<br />
de Histórias – na realidade, os pontos de partida de ambos são diferentes. O<br />
Ator Rapsodo tem os pés fincados no palco e, da cena, abre uma janela pra vida real,<br />
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