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na minha meninice e, mesmo antes de aprender a escrever, lembro-me de meus pais<br />
registrando poemas e músicas que eu criava e não sabia ainda colocar no papel...<br />
Costumo dizer como se fosse um lema do meu trabalho artístico enquanto criadora<br />
musical e contadora de histórias para crianças, que o ato de ler e escrever histórias é fazer<br />
um bem; ouvi-las e contá-las, também. Assim como repito sempre: Era uma vez, era uma<br />
outra vez, era sempre uma vez. Ou quando canto: É bom cantar, é bom ouvir, é bom pensar, é<br />
bom sentir, procuro demonstrar o quão perto habitam a palavra que se canta e a palavra<br />
que se fala, pois elas desvelam sentidos múltiplos para cada pessoa que as recebe.<br />
Considero o contador de histórias o detentor de uma arte não exclusiva ao mundo<br />
dos artistas profissionais. As narrativas orais sempre estiveram ao lado do homem<br />
e de suas conquistas dentro da arte de viver, então concordaremos que a arte de<br />
narrar faz parte de sua própria história no mundo e traz imbricados os conceitos de<br />
ancestralidade e contemporaneidade. Portanto sempre haverá encantamento quando<br />
alguém conta ou canta uma história, seja esta pessoa letrada ou não. A arte narrativa<br />
se manifesta tanto no contador tradicional, cujas histórias foram criadas e recriadas<br />
ao longo do tempo através da narração de sua experiência e de sua memória, quanto<br />
no contador contemporâneo, que se instrumentaliza através da pesquisa, da leitura<br />
e a insere na prática pedagógica. O professor contador de histórias promove em seu<br />
cotidiano o fazer artístico das crianças, que passam a construir obras criativas a partir<br />
da repercussão que as imagens poéticas das narrativas promovem dentro delas.<br />
Um simples desenho ou uma pintura que transpõe através de formas, cores ou<br />
texturas o que foi percebido de um momento específico narrado do conto, pode tornar-se<br />
uma experiência significativa de aprendizagem, pois ali estão expressas a leitura<br />
particular de cada indivíduo do mesmo fato objetivo da narrativa. A forma plástica<br />
escolhida, pela criança ou pelo adulto, ao desenhar uma narrativa é uma apropriação<br />
sua do significado objetivo do conto e sua consequente tradução subjetiva.<br />
Esta leitura singular de cada um, expressa em desenhos tão diferentes entre si,<br />
nos comprova a existência daquele “cinema mental” proposto por Ítalo Calvino,<br />
que afirma ser impossível que os cenários imaginados pelos ouvintes de uma mesma<br />
Bia Bedran<br />
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