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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />

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De fato, se recorrermos à memória de nossa infância, verificamos que talvez tenha<br />

sido dentro da noite, na penumbra de um quarto, na proximidade aconchegante da<br />

presença de um narrador primeiro, que grande parte das situações simbólicas em<br />

nossas vidas puderam se apresentar. Assim foi o meu encontro com a arte narrativa e<br />

o canto, entremeando o enredo dos contos. Aconteceu muito cedo, na infância ainda<br />

não alfabetizada, quando a forma de ler o mundo se apresentava através das histórias<br />

contadas e cantadas por minha mãe. A exemplo do que Câmara Cascudo mostra ser<br />

o que acontecia no Brasil-Colônia, com as amas contando histórias e acalentando<br />

as suas crianças e as das sinhás, o material que me era passado por minha mãe foi o<br />

meu primeiro “leite intelectual” recebido. O pesquisador trabalha com o conceito de<br />

literatura oral no Brasil e o estudo por ele realizado é uma eterna fonte de inspiração<br />

para meu próprio trabalho criativo. A partir do vasto material de sua pesquisa escrevi<br />

livros infantis com adaptações de temas de contos tradicionais, compus centenas de<br />

canções também para crianças e gravei boa parte desta obra em CDs, por acreditar<br />

que, na ausência de um narrador tradicional, seja possível reinstalar aqueles momentos<br />

mágicos e encantadores por intermédio de suportes contemporâneos.<br />

Penso o quanto aquele rico e descompromissado momento proporcionado por<br />

minha mãe, era recheado de uma memória cultural de sua infância nos anos 1920,<br />

e o quanto esta memória transferiu-se para o meu imaginário, contribuindo para a<br />

construção do potencial imaginativo e criador que tenho hoje comigo. Logo em 1960,<br />

eu então com cinco anos, tive a chance e o privilégio de escutar as maravilhosas narrativas<br />

da Coleção Disquinho criadas por Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha<br />

para os amigos, e o João de Barro, para o mundo artístico. Aquelas encantadoras<br />

narrações de contos populares do Brasil e também clássicos da literatura infantojuvenil<br />

do mundo, eram entremeadas por músicas igualmente belas que pontuavam<br />

os momentos das histórias e as traziam mais oníricas e lúdicas para dentro do coração.<br />

A partir daí, não somente minha infância se enriqueceu e se encantou com a arte<br />

de cantar e contar histórias, como também esta arte sinalizou o caminho profissional<br />

que eu seguiria posteriormente. Prossegui ouvindo e inventando histórias e canções

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