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Por meio do inconsciente – ciente do encanto ali vivido – me vi inteiro tomado pelo<br />
zumbir sem fronteira da Tradição Oral. Logo, em vez de servir de guia, me vi guiado pela<br />
voz de DeusNumDé, numa Viagem, eu diria, de Retorno ao Mundo do Maravilhoso.<br />
Bem, na real, mesmo, àquela hora, encerrado o espetáculo acima citado, eu me<br />
encaminhei foi direto pra casa, como o mais comum dos mortais. Foi assim que<br />
me vi na Concreta Travessia da Avenida Brasil, à mercê de um trânsito emperrado,<br />
repleto de arruídos, que meu pensamento voou, ligando o itinerário da Via Expressa<br />
ao imaginário poético-viajante do Cego DeusNumDé. Estou ciente de que meu testemunho,<br />
a essa altura, vai tomando ares de metáfora errante, mas foi por meio dessa<br />
errância que eu pude ver, em tempo real, por irreal que pareça, a entrada de Deus-<br />
NumDé, agora, na Praça do Reino Encantado: Lugar dos Contos Populares. Lá vi<br />
DeusNumDé ser recebido ao som do Canto e Dança do Pastoril, Boi da Ressurreição,<br />
Maracatu do Baque Virado, com baque solto na festa. Isso me abriu uma Terceira<br />
Visão nos Sentidos, pois logo vi Meu Avô; que era ali um Velho Guardião de Muitas<br />
Vozes, mantendo em constante renovação (narrador de bom guardado), entre outras,<br />
as Histórias de Exemplos e Trancoso. Com DeusNumDé bem à vista, vi Meu Avô<br />
trancando e abrindo as feições, lá de seu rosto – sorrindo ou enfezado – conforme<br />
pedia o clima da história que estava contando, à beira do fogo, na Praça do Reino.<br />
Velho narrador de ontem, como hoje, desempenhando seu papel sagrado.<br />
A essa altura da viagem (concreta e imaginária) me ocorre dizer que, nos dias de<br />
hoje, o contador de histórias, seja sua atuação por meio do verso ou da prosa, é um ser<br />
essencial a uma sociedade que se vê necessitada em “dar um tempo ao tempo da poesia”.<br />
Cruzando, enfim, um Terceiro Sinal Verde, antes de chegar em casa, vi Deus-<br />
NumDé já transitando entre a Praça do Reino e a Praça da Pedra Medieval.<br />
Assim que entrei em casa, liguei a televisão, direto no programa Narradores do<br />
Tempo – Canal da Voz do Futuro. Quem eu vejo aparecer DeusNumDé, lá desafiando<br />
Homero. Não estando eu maluco – assim espero –, juro que isso eu vi suceder.<br />
Coisa do mundo da tevê.<br />
Partindo de um plano que se fechava nos dois, a tevê foi revelando uma grande<br />
Edmilson Santini<br />
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