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... Tia Nastácia é o povo. Tudo que o povo sabe e vai contando de um para outro, ela deve<br />

saber.... – As negras velhas – disse Pedrinho – são sempre muito sabidas. Mamãe conta de<br />

uma que era um verdadeiro dicionário de histórias folclóricas... Todas as noites ela sentavase<br />

na varanda e desfiava histórias e mais histórias. Quem sabe se Tia Nastácia não é uma<br />

segunda tia Esmeréria<br />

Já em O Saci, Tio Barnabé, outra das inúmeras criações de Monteiro Lobato, é o<br />

típico Pai João: “Negro de mais de 80 anos, descalço...”<br />

Embora estereotipado, ele é o grande conhecedor dos segredos da mata que<br />

envolve o sítio do Picapau Amarelo. A sua longevidade, no melhor estilo africano, é<br />

a fonte de sua sabedoria. É a ele que Pedrinho vai recorrer quando quer saber se Saci<br />

existe mesmo: “– Como não hei de saber tudo, menino, se já tenho mais de 80 anos Quem muito<br />

veve, muito sabe...”<br />

Contadores e contadoras de histórias tradicionais ainda são encontrados, principalmente<br />

em comunidades afastadas dos grandes centros urbanos. Em 2008, em<br />

minhas andanças pelo Brasil, tive a oportunidade de entrevistar uma senhora negra<br />

de 93 anos na ilha de Itaparica, Bahia, dona de memória invejável, que me contou<br />

histórias do seu tempo de criança, cantando e imitando as vozes de diferentes personagens<br />

de uma forma emocionante.<br />

Nossas histórias, danças, canções e saberes tradicionais têm uma grande influência<br />

da Mãe-África. Nesse aspecto, os livros destinados aos mais jovens têm um papel<br />

fundamental: o de contribuir para que a criança sinta-se orgulhosa de pertencer a<br />

uma cultura, seja ela qual for, e de aprender a respeitar às diferenças, contribuições e<br />

valores de sua própria comunidade e também de outros povos.<br />

A valorização passa pelo reconhecimento. As palavras e as ilustrações de um livro<br />

são como um espelho. E se a pessoa não vê a sua imagem refletida, pode se sentir<br />

desinteressada e desmotivada. A sua autoestima é afetada.<br />

Aos autores de livros para crianças e jovens, aos contadores de histórias e aos<br />

educadores cabe preservar, valorizar e divulgar as tradições orais. As histórias são<br />

importante fator de enriquecimento e afirmação de identidade social, especialmente<br />

em um país plural como o nosso.<br />

Rogério Andrade Barbosa<br />

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