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A sageza do contador não consiste apenas em transmitir a sua experiência, nadando<br />

contra a corrente de “uma geral configuração traumática da modernidade” que<br />

quase emudeceu os narradores, mas também na capacidade de ser um elo na milenar<br />

corrente de experiência humana formada pelas histórias. Em cada contador vive uma<br />

Xerazade, “que imagina uma nova história em cada história que está contando” (Benjamin).<br />

Ou um Homero. No filme As asas do desejo de Wim Wenders “há um velho<br />

que se chama Homero e anda no mundo a contar histórias. Ele é o garante de uma<br />

experiência imemorial que se transmite. Num universo dominado pela celeridade da<br />

informação, é preciso recuperar o sentido da sageza e da experiência que apenas as<br />

histórias são capazes de dar. Histórias para adormecer, histórias para comer a sopa<br />

até o fim, histórias para seduzir. Alguma coisa decisiva sobrevive em nós através desse<br />

regresso do prazer do ficcional” (Eduardo Prado Coelho). Para que o círculo mágico<br />

da palavra se faça, refaça e propague. De mão em mão, de voz em voz, por dom e<br />

graça da arte de contar, ouvir e recontar. Na dialética entre tradição e inovação, permanência<br />

e mudança, sem a qual o templo das Musas (Museu) não será casa móvel,<br />

água viva, lugar de criação e disseminação, onde o conhecimento adquirido, ao ser<br />

rememorado, possibilite estabelecer nexos com o conhecimento novo. No canto alongado<br />

(Drummond). Na “continuação inventada” (Guimarães Rosa).<br />

Maria de Lourdes Soares<br />

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