09.02.2015 Views

o_19dm3aj1o1sup1j651bkj1drp13h6a.pdf

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

[Maria de Lourdes Soares]<br />

1. Memória de Mnemosyne<br />

Musa ensina-me o canto / Venerável e antigo<br />

Sophia de Mello Breyner Andresen<br />

Palavras cantadas. Na mitologia grega, Mnemosyne, irmã de Cronos (Tempo) e<br />

Okeanós (Rio-Oceano), é a deusa da recordação vivificadora. São as Musas, filhas de<br />

Mnemosyne e Zeus, que concedem ao aedo (poeta-cantor) o dom de cantar a Verdade<br />

(Aletheia, desvelamento), oposta ao Esquecimento (Lethe). Inflamado pelas Musas, o<br />

aedo transmite o conhecimento do que foi, é e será. Engendrando a memória coletiva<br />

através das gerações, as palavras cantadas (Musas) são, portanto, inseparáveis da<br />

memória (Mnemosyne).<br />

Por parte de Zeus pai, as Musas adquirem qualidades que lhes permitem acordar<br />

nos homens certas propriedades da memória. Não a memória absoluta, como<br />

a do personagem de Jorge Luís Borges, do conto “Funes, o memorioso”: incapaz de<br />

selecionar, pensar e esquecer, Funes acumula incessantemente memórias, “como um<br />

despejadouro de lixo”. Não o esquecimento total, como, até certo ponto, o do protagonista<br />

de Amnésia (Memento, do latim “Lembra-te”, no significativo título original),<br />

filme de Cristopher Nolan: Leonard não consegue guardar acontecimentos recentes<br />

e por isso fotografa pessoas que considera importantes e tatua em sua pele dados<br />

(faz-se corpo-livro com vários “memento”), na tentativa de posteriormente conseguir<br />

215

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!