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alargamento do espaço do conhecido, como um salto livre para o que ainda não sei,<br />

para o que tenho vontade de saber, ou até para o que sei, mas não sabia que sabia.<br />

Digamos que não é exatamente na escola, na igreja, na família ou no ambiente<br />

de trabalho que as pessoas do mundo de hoje são convidadas a esse tipo essencial de<br />

busca de conhecimento.<br />

Mas é precisamente no SEMPRE da arte da Fantasia, onde os contos tradicionais<br />

milenares existem como expressão privilegiada e vigorosa, que esse convite é feito<br />

a qualquer um, criança ou adulto, sem cerimônia ou hierarquia, planejamentos ou<br />

dinâmicas de equipes de RH.<br />

É a própria estrutura narrativa, desenhada como uma rede de relações simbólicas,<br />

que pega cada um pela mão e a gente se vê num instante lá dentro da estória brincando<br />

de cabaninha, enredando nossa própria história nas ações dos personagens.<br />

Na nossa vida, todos os dias de manhã acordamos para o desconhecido, mas nós<br />

não nos lembramos disso.<br />

Nas culturas tradicionais os mitos, artefatos, cantos, danças e outras narrativas<br />

são documentos dessa lembrança, são símbolos.<br />

Os contos tradicionais são uma substância que armazena, perpetua e difunde<br />

conhecimento na forma de arte da Fantasia.<br />

Os contos dispõem uma situação que instiga nossa curiosidade, por meio de uma<br />

questão proposta logo no início da narrativa. E se a estória é boa, a gente se vê querendo<br />

saber “o que será que vai acontecer...depois” . E pouco a pouco, como uma<br />

espécie de contrário da alienação, que nos fixa no limite e na impossibilidade (“eu<br />

sou assim, sabe, o que é que vou fazer...”), podemos experimentar a liberdade do<br />

SEMPRE possível, num exercício de autonomia em que nos arriscamos a ficar horas<br />

dentro do ventre de uma baleia, a voar nas costas de uma águia, a conversar com um<br />

cavalo que é um príncipe encantado por um bruxo.<br />

Visitar esse espaço do SEMPRE dentro de nós, penso que é uma necessidade.<br />

Os contos tradicionais sacodem um lugar de confortável aparente certeza em que<br />

nos escoramos no dia a dia e desafiam em nós algum tipo de representação imaginária<br />

Regina Machado<br />

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