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[Regina Machado]<br />
Não é uma pergunta absurda. Não é uma pergunta banal. SEMPRE pode não ser<br />
um lugar para onde se vá, digamos, a pé ou a cavalo. Mas com certeza é um lugar<br />
onde se vive. Onde moram os contos milenares, sementeiros ancestrais da palavra<br />
que se renova, a todo instante e em qualquer espaço, na voz de cada contador ou<br />
contadora de estórias.<br />
Guimarães Rosa disse uma vez numa célebre entrevista:<br />
“Para quem vive no Infinito, como eu...”<br />
Penso aqui com meus botões, que o SEMPRE é um lugar dentro da gente, como<br />
outros que habitamos, dependendo da circunstância.<br />
Há o lugar do “imediatamente” para onde queremos ir quando aquele chocolate<br />
nos acena da prateleira. O lugar do “nunca mais” onde muitas vezes nos grudamos<br />
feito chicletes de sofrimento e saudade.E tantos outros lugares que compõem o quebra<br />
cabeças daquilo que acreditamos que somos nós.<br />
A imagem que me aparece do SEMPRE é a de um lugar vazio, que pode ser tudo<br />
e ter tudo. Não de qualquer jeito, desarrumado, uma bagunça, mas numa ordem<br />
absolutamente mutável segundo a gramática da Fantasia.<br />
É o lugar em que, quando criança, a gente brincava de cabaninha. A gente se<br />
metia embaixo de lençóis e colchonetes muito bem arrumados pra gente caber lá<br />
dentro com nossos travesseiros e o que mais desse vontade. Para viver o SEMPRE.<br />
O SEMPRE que nunca foi antes e nunca será outra vez, existindo só e apenas<br />
naquele instante, fora do tempo horizontal da História, da contingência.<br />
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