o_19dm3aj1o1sup1j651bkj1drp13h6a.pdf
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />
180<br />
enriquecer o imaginário dos presos, trazendo-lhes novas representações, situações<br />
semelhantes às suas, mas tratadas de outra maneira. Trata-se de oferecer-lhes a chance<br />
de se recriarem em uma nova história onde a queda seja um acidente de percurso e<br />
não um destino irrefutável. Um acidente com o qual se aprende o que tiver para ser<br />
aprendido e se avança no caminho.<br />
Como resultado desse trabalho, foi formado um Grupo – os Encantadores de<br />
Histórias – que desde 2004 vem representando a APAC de Itaúna em outras cidades,<br />
sensibilizando as comunidades para a necessidade de outro olhar e novas atitudes<br />
quanto à recuperação de presos. O Grupo já se apresentou também em diversas universidades,<br />
Encontros Internacionais de Contadores de Histórias no Rio e em São<br />
Paulo, presídios, Centros de Internação de Menores Infratores, Encontros de Magistrados,<br />
escolas, creches e teatros. Também já foi publicado o primeiro livro de autoria<br />
coletiva do Grupo: O segredo da caixa (2006). A escolha do nome do Grupo, sugerida<br />
pelos próprios presos, foi uma grata revelação: Encantadores de Histórias. A beleza do<br />
nome reflete um poderoso desejo se não apenas contar, mas encantar, o que, segundo<br />
os dicionários, significa: “exercer encantamento em; tornar-se encantado”. Não esperava<br />
o nível de envolvimento do grupo com a proposta nem o quanto aprenderia<br />
com eles. Durante as primeiras oficinas, lembrava-me recorrentemente das palavras<br />
de Guimarães Rosa: “mestre é aquele que de repente aprende”.<br />
Falar de arte-educação e contos de fadas dentro de uma cadeia como possibilidade<br />
de recuperação pode parecer, à primeira vista, mais uma utopia. Será que contadores<br />
de histórias e esses teóricos da arte-educação já entraram em uma penitenciária pelo<br />
menos uma vez na vida Será que eles acham que contando histórias ou ouvindo as<br />
histórias dos presos, estes vão sair de lá bonzinhos e nunca mais voltarão ao crime<br />
Certo é que por detrás de uma sociedade cada vez mais armada, onde as empresas de<br />
segurança proliferam e auferem lucros exorbitantes, onde crescem os condomínios<br />
fechados, onde impera a truculência policial, a violência urbana, os morros ocupados<br />
por traficantes e onde os altos índices de morte violenta causam indignação a poucos,<br />
há um sentimento: o MEDO.