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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />

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enriquecer o imaginário dos presos, trazendo-lhes novas representações, situações<br />

semelhantes às suas, mas tratadas de outra maneira. Trata-se de oferecer-lhes a chance<br />

de se recriarem em uma nova história onde a queda seja um acidente de percurso e<br />

não um destino irrefutável. Um acidente com o qual se aprende o que tiver para ser<br />

aprendido e se avança no caminho.<br />

Como resultado desse trabalho, foi formado um Grupo – os Encantadores de<br />

Histórias – que desde 2004 vem representando a APAC de Itaúna em outras cidades,<br />

sensibilizando as comunidades para a necessidade de outro olhar e novas atitudes<br />

quanto à recuperação de presos. O Grupo já se apresentou também em diversas universidades,<br />

Encontros Internacionais de Contadores de Histórias no Rio e em São<br />

Paulo, presídios, Centros de Internação de Menores Infratores, Encontros de Magistrados,<br />

escolas, creches e teatros. Também já foi publicado o primeiro livro de autoria<br />

coletiva do Grupo: O segredo da caixa (2006). A escolha do nome do Grupo, sugerida<br />

pelos próprios presos, foi uma grata revelação: Encantadores de Histórias. A beleza do<br />

nome reflete um poderoso desejo se não apenas contar, mas encantar, o que, segundo<br />

os dicionários, significa: “exercer encantamento em; tornar-se encantado”. Não esperava<br />

o nível de envolvimento do grupo com a proposta nem o quanto aprenderia<br />

com eles. Durante as primeiras oficinas, lembrava-me recorrentemente das palavras<br />

de Guimarães Rosa: “mestre é aquele que de repente aprende”.<br />

Falar de arte-educação e contos de fadas dentro de uma cadeia como possibilidade<br />

de recuperação pode parecer, à primeira vista, mais uma utopia. Será que contadores<br />

de histórias e esses teóricos da arte-educação já entraram em uma penitenciária pelo<br />

menos uma vez na vida Será que eles acham que contando histórias ou ouvindo as<br />

histórias dos presos, estes vão sair de lá bonzinhos e nunca mais voltarão ao crime<br />

Certo é que por detrás de uma sociedade cada vez mais armada, onde as empresas de<br />

segurança proliferam e auferem lucros exorbitantes, onde crescem os condomínios<br />

fechados, onde impera a truculência policial, a violência urbana, os morros ocupados<br />

por traficantes e onde os altos índices de morte violenta causam indignação a poucos,<br />

há um sentimento: o MEDO.

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