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mente conhecida de todos os brasileiros minimamente informados. O sistema penal<br />
brasileiro vem sofrendo modificações legislativas, muitas vezes por pressão da sociedade,<br />
que vê no recrudescimento das penas e do aparato penitenciário a solução<br />
para a questão da segurança pública e da defesa social. Porém, cresce o número de<br />
encarcerados e cresce também a criminalidade. Não é mais possível e nem útil nos<br />
negarmos a reconhecer que os criminosos são parte do mesmo tecido social do qual<br />
também fazemos parte.<br />
Nesse tecido, eles tanto influenciam quanto são influenciados. Trabalhar pela<br />
recuperação real dessas pessoas, a fim de que possam se reintegrar de forma harmoniosa<br />
na comunidade, oferecer-lhes a oportunidade da socialização em lugar de excluílas<br />
parece ser a melhor alternativa, senão a única, na busca de uma solução definitiva<br />
do problema. Essa não é uma tarefa só do aparato estatal, mas de toda a sociedade.<br />
Mas é preciso esclarecer que a APAC de Itaúna é um estabelecimento prisional<br />
diferente, uma associação civil juridicamente constituída, sem fins lucrativos e tem<br />
apoio dos Poderes Judiciário e Executivo do Estado de Minas Gerais. Sua filosofia de<br />
trabalho é a de que um bandido recuperado é um bandido a menos nas ruas. Lá não<br />
há policiais nem agentes carcerários. Voluntários atuam em diversas áreas e os presos<br />
tomam conta dos presos. A APAC de Itaúna é referência mundial em recuperação de<br />
presos e foi o solo fértil para o desenvolvimento do trabalho com os contos.<br />
Nem é preciso dizer que aceitei o convite. Quantas portas se abrem quando nos<br />
permitimos entrar na aventura e nos lançamos com paixão em nosso ofício!<br />
Os participantes – todos condenados cumprindo pena em regime fechado –<br />
começaram a escutar histórias, contar, recontar, ler e criar, além de ter aulas sobre<br />
postura corporal, técnica vocal, expressão oral, gestual e visual e outros segredos que<br />
formam o bom contador de histórias. Nas improvisações, a criatividade e a memória<br />
são estimuladas; surgem belíssimas histórias, transcritas e incorporadas ao repertório<br />
do grupo. Antigos contos de fadas são recontados e discutidos, gerando reflexão e<br />
aprendizagem. Os contos surgem como opção de resignificação de vidas, de encantamento<br />
da própria história, que passa a ter valor. Esse é o principal objetivo do projeto:<br />
Rosana Mont’Alverne<br />
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