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de si e conhecendo os seus limites, pode fazer com que as novas histórias os ampliem<br />
cada vez mais.<br />
Este é o objetivo de se trazer as histórias, do popular para o individual, do plural<br />
para o singular, e cuidar de feridas emocionais tão particulares e tão comuns. E nesta<br />
teia de diversidades, tínhamos a pluralidade humana, a constantemente enriquecer<br />
o nosso enredo:<br />
Esta menina aqui é Contadora de Histórias. Contou-nos uma história tão linda e tão interessante<br />
na passada quinta-feira, que eu pedi a cópia para reler todas as vezes que a coragem me<br />
faltar para resolver a minha vida. Eu nunca vi um lugar com Contadora de Histórias, mas<br />
aqui é assim. E foi a melhor coisa que me aconteceu aí dentro. Eu quero esquecer que adoeci<br />
e tive que me internar estes dez dias por causa do meu marido, quero esquecer! Mas quero<br />
lembrar sempre desta história porque ela me ajudou a resolver como a tecelã resolveu. E depois<br />
eu percebi o que eu quero e percebi que não quero esta vida para mim, de trabalhar por quem<br />
só me quer para serviçal. Eu nunca vou esquecer esta história. Parece que a menina adivinhou<br />
e a trouxe mesmo para mim. Obrigada! Joca, 53 anos<br />
Para este trabalho com histórias, o diagnóstico pouco importa. O rótulo mais<br />
importante é o nome de cada uma destas pessoas – que também escolhem alcunhas<br />
para quando as suas frases aparecerem citadas. E sempre começamos a trabalhar em<br />
busca de se conhecer a história deste nome que se carrega por toda biografia, que,<br />
para tanta gente, traz uma força desigual. E, a partir daí, partilhamos enredos onde as<br />
pessoas traduzem capítulos das suas vidas... e das suas tantas mortes.<br />
São importantes as histórias para uma pessoa ouvir e vir a pensar sobre o que está a fazer<br />
da sua vida. Vico, 38 anos<br />
E cavando os alicerces dos seus trajetos, encontramos pessoas que foram se construindo<br />
enchidas de nada, carentes, carentes de tudo, inclusive de ouvidos para suas<br />
próprias histórias. E diante deste manancial, fazemos juntas um trabalho arqueológico<br />
mesmo. Trabalhamos com memória, com acervo, com patrimônio imaterial. Trabalhamos<br />
com a leitura e a constante proposta de releitura dos fatos vividos em busca<br />
de um sentido para esta vida.<br />
Kika Freyre<br />
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