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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />
172<br />
Mais uma vez, uma Contadora e um livro de histórias. Uma Casa para tratamento<br />
psiquiátrico de adultos no Recife/Brasil (NAPPE) e outra em Braga/Portugal (Casa<br />
de Saúde do Bom Jesus).<br />
Também aqui os contos chegavam como fios, tentando alinhavar o emaranhado de<br />
desintegrações que faziam sofrer a alma das pessoas que ali buscavam cura, alívio, consolo.<br />
As pessoas com esquizofrenia vivem um processo de desintegração de sua personalidade<br />
e os contos ajudam a montar este mosaico desconectado a partir do reconhecimento<br />
de traços próprios nas características dos personagens. Por alguns momentos,<br />
uma história que pertence a toda a humanidade passa a pertencer a uma só pessoa,<br />
como se falasse dela, como se houvesse sido escrita pra ela, tamanha a empatia com seus<br />
feitos e personagens.<br />
Os contos são oferecidos como acalantos, como uma possibilidade de embalar<br />
sonhos reais, que estavam perdidos ou desacreditados. Eles carregam o cheiro da esperança<br />
um dia vivida, sobretudo da esperança de se viver um final feliz em seu próprio<br />
conto real, em sua história de vida.<br />
A estrutura literária dos contos possibilita a reestruturação do pensamento esquizofrênico:<br />
quando escuta um conto, a pessoa segue o seu fio, seu trajeto e assim começa<br />
a ordenar seus pensamentos quebrados, desconectados a partir de uma mesma ordem<br />
e então é possível se compreender muitas de suas atitudes, dos seus delírios, das suas<br />
ausências, das suas desintegrações com a ‘vida comum’.<br />
Ademais dos contos, também é rico se trabalhar com as imagens que estes contos<br />
suscitam nas pessoas. Com estas imagens, propomos a conexão entre a história<br />
literária e a história de vida, história humana. Uma conexão com o que há de saudável<br />
nesta pessoa que sofre e buscar fazer com que esta salubridade se manifeste frente<br />
à doença. É um duelo difícil, mas possível. Ao escutar, escrever, ler e contar esta<br />
história ao longo do seu tratamento, a pessoa que está doente começa a tomar posse<br />
da sua própria história, vai juntando as linhas para tecer-se como o croché de um novo<br />
sujeito que agora se reconhece e conhece o seu entorno e pode ir voltando a tomar as<br />
suas próprias decisões e voltar a funcionar de forma ativa em sua vida; podendo falar