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[Célia Linhares]<br />
Logo que fiz nove anos, perdi meu pai. Voltei para o Maranhão e encontrei uma<br />
paisagem já conhecida pelas conversas familiares e que, de vez em quando, ganhavam<br />
um tom nostálgico, próximo de um sentimento de exílio. Ah! Como o Rio de<br />
Janeiro ficava longe de São Luís!<br />
O re-encontro com minha cidade, me fez descobrir que ao construí-la, imaginariamente,<br />
nela havia reservado lugares de relevo para os primos e os tios, as alvoradas<br />
com suas brisas, os sabores e os batuques das festas populares. Então, me surpreendi<br />
com tantas ladeiras (difíceis de subir), com as travas de poderes estagnados, enfim,<br />
com as noites e suas tormentas...<br />
Sei que num desses dias em que os bondes pareciam saltar dos trilhos para trafegar<br />
em meu coração, me assombrei com a intensidade de perguntas que nem sabia formular.<br />
Acreditei que não ia dar conta da vida. Pedi a Deus que me ajudasse, mandando<br />
um anjo me buscar de forma veloz, se possível, fulminante.<br />
De repente, ao entrar numa das alcovas do sobrado, onde vivíamos, no Canto da<br />
Viração, deparei com uma imagem trêmula, estranha, assustadora, que se associou a um<br />
conjunto de vozes que cantavam, com determinação, se encontrando em desencontros.<br />
— Os céus me ouviram Resolveram me atender Estes eram os sinais não de um, mas de uma<br />
legião de anjos Como poderia eu recuar de minhas súplicas, diante de uma decisão celestial<br />
— Não, não queria ir pro céu. Era urgente, urgentíssimo declinar da viagem com os anjos.<br />
Pedi, com o coração aos saltos, uma prorrogação.<br />
Corri pra janela, arriscando um canto de olho e decifrando o mistério da figura<br />
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