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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />

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Portanto, falemos de pessoas e de indivíduos incluindo aí necessariamente as mulheres.<br />

Então, digo: somos seres que contam e ouvem histórias. E nisto as mulheres, até mais que<br />

os homens, são as grandes contadoras de história: mães, babás, tias, avós, madrinhas...<br />

Podemos avançar um pouco mais e dizer: o ser humano é não apenas um ser que<br />

conta histórias e ouve histórias, mas sobretudo é um ser que faz história. Fazer história<br />

é a suprema audácia dos humanos. Os romancistas, os cineastas e os líderes sociais,<br />

por exemplo, operam isto mais claramente. Não se contentam em ser atores, querem<br />

também ser autores, protagonistas de seu tempo.<br />

Portanto, somos seres irremediavelmente históricos.<br />

Digo isto e penso: eis uma observação banal. Qualquer pessoa sabe disto, não é<br />

necessário ser um erudito para chegar a essa conclusão. Aliás, até os analfabetos, que<br />

alimentam seu imaginário de contações de estórias, sabem disto. Então, por que fazer<br />

essa observação<br />

Primeiro por uma razão, digamos pleonasticamente, “histórica”. Ou seja, a contação<br />

de estórias passou a ser revalorizada de maneira notável nas últimas décadas, sobretudo<br />

a partir dos anos 1980. Uma diversificada bibliografia que permeia diversos ramos do<br />

conhecimento nos dá conta de uma verdadeira redescoberta da arte de contar histórias.<br />

Isto está até mesmo nos consultórios psicanalíticos, que utilizam a “narratividade” dos<br />

clientes como estratégia de tratamento, aperfeiçoando o que Freud há uns cem anos<br />

já praticara quando adotou “a cura pela palavra”, revalorizando assim a palavra falada<br />

capaz de destravar neuroses e traumas.<br />

E isto se tornou tão visível e notável que as universidades se voltaram para este fenômeno<br />

estudando o renascimento da contação de estórias em nossa cultura. Cursos de<br />

contadores de história se espalham por todas as partes, ao mesmo tempo em que, paralelamente,<br />

cursos sobre leitura, casas de leitura, secretarias de leitura e até mesmo Cátedras<br />

de Leitura (a exemplo da PUC–Rio) começam a ser criados nas universidades.<br />

Quer dizer, a leitura e a contação de estórias não apenas estão na moda, mas estão<br />

irremediavelmente geminadas.<br />

E isto, surpreendentemente, ocorre dentro de uma sociedade televisiva altamente

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