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[Almir Mota]<br />
Quando eu era criança, na casa da minha avó, tínhamos o hábito de sentar na<br />
calçada na “boca da noite”, para ouvir histórias. Era assim todos os dias, ali se<br />
reuniam meus tios, tias, meus pais e minha avó paterna. E se preparavam depois do<br />
jantar, sentados em cadeiras de couro de bode, para ouvir uma boa prosa. O terreiro<br />
era de barro batido branco e, em noite de lua, tudo ficava claro ao redor da casa.<br />
Ali surgia um novo mundo na minha cabeça. Distante daquela realidade difícil do<br />
sertão, da falta de inverno e muita carestia. A roda de histórias na casa da minha avó,<br />
a Dona Canela, era o momento de lazer de toda a família.<br />
Chegado o meu tempo de escola, não me lembro de ter ouvido histórias na sala<br />
de aula, acho que histórias a gente já tinha em casa, então a professora se preocupava<br />
com outros conteúdos pedagógicos, além de ensinar a ler, escrever e fazer somas.<br />
Reconheço que se tratava de uma escola pequenina, mas o rosto gordo da mestra eu<br />
ainda lembro.<br />
Observo que nos últimos vinte anos as histórias foram saindo dos lares e aos poucos<br />
foram invadindo as escolas, ganhando a voz do professor. Hoje reconheço vozes<br />
que tecem o imaginário, o lúdico e o literário na sala de aula. São as novas metas<br />
educacionais. As promoções do livro, da leitura e da literatura fazem parte de novos<br />
parâmetros, e na escola surge o professor encantador, aquele que prepara histórias deliciosas<br />
para os seus alunos como se fossem biscoitos. O forno desta nova educação é<br />
a memória do professor, a imaginação onde cada vez mais crianças e adolescentes são<br />
convidados a sonharem os mundos que moram nos livros.<br />
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