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09.02.2015 Views

Como as histórias foram entrando na minha vida... o

[Ana Luísa Lacombe] Na verdade, elas estavam lá o tempo todo, era só prestar atenção. Nas férias, meu irmão e eu íamos para o sítio dos meus avós maternos. De manhã vivíamos histórias de aventura que inventávamos nas nossas brincadeiras: encarapitados no alto das árvores, fazendo acampamentos, pintando nosso corpo com urucum. Na hora do lanche, sentados em torno da enorme mesa de madeira rústica da cozinha, ouvíamos as histórias de quando minha mãe e meus tios eram crianças e passavam as férias naquele sítio. Minha mãe narrava as brincadeiras que faziam, as brigas, as tristezas e as histórias que sua avó contava para ela. Eram contos dos Irmãos Grimm, vindos pela oralidade brasileira. À noite, minha mãe lia para nós Monteiro Lobato, Condessa de Ségur, Coleção Menina e Moça, A Ilha do Tesouro... Essa tinha sido a leitura de sua infância, e foi também a minha iniciação aos livros. Minha avó Lucia, mãe da minha mãe, me ensinou a bordar, a fazer tricô, tapeçaria e um pouquinho de costura. Bem pequena, já me interessei pelo assunto e ela pacientemente me ensinou. Nessas horas conversávamos bastante e ela me contava um pouco das histórias da família, um pouco de como eram os vestidos, sobre a moda... Meu avô materno era brigadeiro da aeronáutica e adorava política. Comprava TODOS os jornais, que lia de cabo a rabo. Com ele as histórias eram dos acontecimentos do momento em discussões inflamadas onde defendia suas ideias. Em casa, minha mãe sempre nos contava histórias na hora de dormir. A nossa preferida “O anjinho que tinha medo do escuro”, criada por ela, hoje faz parte do meu repertório. 115

[Ana Luísa Lacombe]<br />

Na verdade, elas estavam lá o tempo todo, era só prestar atenção.<br />

Nas férias, meu irmão e eu íamos para o sítio dos meus avós maternos. De manhã<br />

vivíamos histórias de aventura que inventávamos nas nossas brincadeiras: encarapitados<br />

no alto das árvores, fazendo acampamentos, pintando nosso corpo com urucum.<br />

Na hora do lanche, sentados em torno da enorme mesa de madeira rústica da<br />

cozinha, ouvíamos as histórias de quando minha mãe e meus tios eram crianças e<br />

passavam as férias naquele sítio. Minha mãe narrava as brincadeiras que faziam, as<br />

brigas, as tristezas e as histórias que sua avó contava para ela. Eram contos dos Irmãos<br />

Grimm, vindos pela oralidade brasileira.<br />

À noite, minha mãe lia para nós Monteiro Lobato, Condessa de Ségur, Coleção<br />

Menina e Moça, A Ilha do Tesouro... Essa tinha sido a leitura de sua infância, e foi<br />

também a minha iniciação aos livros.<br />

Minha avó Lucia, mãe da minha mãe, me ensinou a bordar, a fazer tricô, tapeçaria<br />

e um pouquinho de costura. Bem pequena, já me interessei pelo assunto e ela pacientemente<br />

me ensinou. Nessas horas conversávamos bastante e ela me contava um<br />

pouco das histórias da família, um pouco de como eram os vestidos, sobre a moda...<br />

Meu avô materno era brigadeiro da aeronáutica e adorava política. Comprava<br />

TODOS os jornais, que lia de cabo a rabo. Com ele as histórias eram dos acontecimentos<br />

do momento em discussões inflamadas onde defendia suas ideias.<br />

Em casa, minha mãe sempre nos contava histórias na hora de dormir. A nossa preferida<br />

“O anjinho que tinha medo do escuro”, criada por ela, hoje faz parte do meu repertório.<br />

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