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Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes<br />

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Do primeiro movimento, ao redor da fogueira, onde soou pela primeira vez a voz de<br />

um contador de histórias, até a imersão no ciberespaço, onde pode soar a voz de um<br />

contador do tempo de agora, se passaram séculos. Porém, o que sustenta essas ações é<br />

a história que, enquanto sujeito, engendra o encantamento necessário para nos emocionar.<br />

E na essência, a palavra que desperta a memória, reaviva lembranças e afetos,<br />

propõe, instiga, efetiva vivências.<br />

O século XXI é assim. Sugere a hibridez das linguagens. Em Paiquerê Piquiri Fiietó<br />

foi assim. O presencial se fundia ao digital e nos mostrava como duas linguagens<br />

distantes no tempo podiam gerar uma terceira, que trazia consigo a marca da contemporaneidade.<br />

Atuei na interface entre a arte e as novas tecnologias. Ao mesmo tempo<br />

em que me utilizei de sofisticados recursos digitais, me apropriei da velha arte de contar<br />

histórias, técnica ancestral que chega ao século XXI agregada a valores estéticos,<br />

significados e significantes distintos. É dessa forma que em cena ocorreu um diálogo,<br />

em tempo real, entre o narrador presencial e o narrador virtual.<br />

Ora, se durante a contação presencial, o espectador se vê envolvido pelos sentimentos<br />

suscitados pelo sujeito-contador, na contação digital há um distanciamento<br />

que permite ao sujeito-ouvinte comentar a ação e senti-la sob outro ângulo, não<br />

menos envolvente, apenas distinto. Pensar a narração oral de histórias no século XXI<br />

é pensar nos meios disponíveis para que se dê a fruição desse conto. Supõe a reflexão<br />

sobre novas mídias e sobre o conceito de arte interativa. É de se considerar que a criança<br />

da atualidade encontra-se envolvida num imaginário construído por produções<br />

que utilizam tecnologia de ponta e que chegam até ela através da internet, softwares,<br />

blogs, games, redes de bate-papo. São os novos códigos geradores de poéticas. Novas<br />

leituras e outros tantos sentidos. A hibridez do meio e dos processos expondo diferentes<br />

significações.<br />

E no Paiquerê Piquiri Fiietó o espetáculo foi se fazendo, devagarinho, apresentando<br />

um personagem aqui, uma ação cênica acolá, revelando como a linguagem teatral<br />

pode dialogar com a digital. A atriz cedia lugar à contadora de histórias que, de<br />

posse da palavra, apenas sugeria e apresentava os personagens e as ações. Não mais

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