Comportamento Todo caminho é parte <strong>de</strong> um sonho 26 <strong>Leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>Bordo</strong> | Jan/Fev <strong>2015</strong> | www.leitura<strong>de</strong>bordo.com.br
Comportamento Os cerca <strong>de</strong> sete mil servidores do Tribunal <strong>de</strong> Justiça do Distrito Fe<strong>de</strong>ral conhecem as histórias <strong>de</strong> uma catadora <strong>de</strong> latinhas e <strong>de</strong> um ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> bananas - e orgulham-se <strong>de</strong>las. Os dois protagonistas <strong>de</strong>ssas crônicas da vida real fazem parte da força <strong>de</strong> trabalho da Casa. Uma como técnica judiciária e o outro como juiz <strong>de</strong> direito. Ambos encontraram nos estudos a porta <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong> inúmeras privações. A trajetória do juiz Edilson das Chagas e da servidora Marilene Lopes têm em comum o trabalho, o estudo, a persistência e a fé em Deus. Ele, filho <strong>de</strong> mãe viúva, trabalhou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito novo para ajudar em casa. Fazia <strong>de</strong> tudo, vendia bananas, picolés, vigiava carro. Ela, com cinco filhos pequenos, catava latinhas nas ruas para ven<strong>de</strong>r e comprar uns poucos mantimentos que precisava cozinhar usando gravetos, por falta <strong>de</strong> gás. Ambos ultrapassaram as fronteiras da <strong>de</strong>sesperança e puseram o foco <strong>de</strong> suas vidas no trabalho e não nas dificulda<strong>de</strong>s que os cercavam. As histórias do juiz e da técnica judiciária extrapolaram os limites do Tribunal e foram contadas e recontadas por jornais, rádios, emissoras <strong>de</strong> televisão e muitos portais <strong>de</strong> internet. Com a divulgação, ambos passaram a ser reconhecidos em locais públicos, sendo abordados por pessoas que, <strong>de</strong> alguma forma, foram tocadas ao saber do percurso que os levou à vitória. Muitos talvez os tenham procurado para tentar enxergar o que aquelas pessoas têm <strong>de</strong> tão especial para conseguir vencer adversida<strong>de</strong>s, persistir diante <strong>de</strong> fracassos eventuais, acreditar que o futuro será melhor e apostar nisso. Outros provavelmente apenas para ver que é real, que as pessoas po<strong>de</strong>m, sim, mudar seu próprio <strong>de</strong>stino. Os mais atentos, provavelmente, perguntaram-se como tudo começou. Como nasce uma gran<strong>de</strong> vitória Simples: <strong>de</strong> um pensamento. É aquele momento especial e inesquecível, ou simplesmente quieto e repetitivo, quando a pessoa consegue ver além <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong> imediata. Quando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mudar é maior que o <strong>de</strong>sânimo, a <strong>de</strong>sesperança, a falta <strong>de</strong> recursos e, algumas vezes, a ausência <strong>de</strong> uma simples palavra <strong>de</strong> incentivo, <strong>de</strong> quem quer que seja. Por que algumas pessoas acreditam que po<strong>de</strong>m conquistar o que <strong>de</strong>sejam e muitas acham que jamais chegarão lá Por que algumas sequer se permitem <strong>de</strong>sejar Quem consegue julgar-se merecedor <strong>de</strong> coisas boas certamente já trilhou os primeiros passos nessa caminhada. Mas, sem ilusões: ela seguramente será laboriosa e <strong>de</strong>safiadora. Foco, persistência, trabalho. Todos conhecem o caminho, mas nem todos conseguem chegar lá. O sonho é o primeiro passo, mas a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> buscá-lo <strong>de</strong>ve vir em seguida. Algumas vezes, essa <strong>de</strong>cisão é acompanhada <strong>de</strong> uma boa dose <strong>de</strong> ânimo inicial, outras apenas <strong>de</strong> um sereno, mas firme propósito. Dado o primeiro passo, aquele que nos põe no caminho, há que se realizar a caminhada - e é justamente essa que separa os meninos dos homens. Um maratonista não vence a corrida saindo em disparada nos primeiros metros. Ele a vence na persistência. É a persistência que nos leva ao final <strong>de</strong> todas as jornadas. Persistência é aquela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acreditar no próprio sonho, quando todos duvidam <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> recomeçar após cada fracasso e <strong>de</strong> seguir em frente sempre e sempre. É a resiliência que nos move a levantar após a queda e prosseguir com o mesmo ânimo, usando o contratempo como aprendizado. Aliás, o termo resiliência traduz muito bem esse tipo <strong>de</strong> coragem. Muito empregada em psicologia, a palavra foi emprestada da física e, <strong>de</strong> modo bem simplificado, refere-se a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais que, após serem dobrados ou torcidos, voltam à sua forma original, ou algo bem próximo a ela. Trazendo o conceito para nosso contexto, seriam aquelas pessoas que tomam para si o famoso slogan: Sou brasileiro, não <strong>de</strong>sisto nunca! Para os nossos personagens, a resiliência esteve presente naqueles momentos em que o juiz Edilson conta que saía do trabalho e ia a pé para a faculda<strong>de</strong>, pois precisava economizar o dinheiro do ônibus para comprar alguma coisa para comer antes da aula. Ou nas noites em que Marilene, após um dia estafante, punha os filhos na cama e pegava os livros para estudar. Uma coisa é certa - sem plantio, não há colheita. E só colhem aqueles que têm esperança para plantar, persistência para regar e força para retirar as ervas daninhas e enxotar os <strong>de</strong>voradores, estejam eles do lado <strong>de</strong> fora ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro. www.leitura<strong>de</strong>bordo.com.br | Jan/Fev <strong>2015</strong> | <strong>Leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>Bordo</strong> 27