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“ESPECTROSCOPIA NÃO LINEAR COM LUZ ... - DF-UFPE Pessoal

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TESE DE DOUTORADO<br />

“ESPECTROSCOPIA NÃO <strong>LINEAR</strong> <strong>COM</strong> <strong>LUZ</strong> INCOERENTE<br />

EM MOLÉCULAS ORGÂNICAS”<br />

POR<br />

Leonardo de Souza Menezes<br />

Universidade Federal de Pernambuco<br />

Departamento de Física<br />

Recife – PE, Brasil<br />

Junho de 2001


Universidade Federal de Pernambuco<br />

Departamento de Física<br />

“ESPECTROSCOPIA NÃO <strong>LINEAR</strong> <strong>COM</strong> <strong>LUZ</strong> INCOERENTE<br />

EM MOLÉCULAS ORGÂNICAS”<br />

Leonardo de Souza Menezes<br />

Tese apresentada ao Departamento de Física da Universidade<br />

Federal de Pernambuco como parte dos pré-requisitos<br />

para a obtenção do Título de Doutor em Ciências<br />

Banca Examinadora<br />

Prof. Dr. Cid Bartolomeu de Araújo (orientador), <strong>DF</strong>/<strong>UFPE</strong><br />

Prof. Dr. Celso Pinto de Melo, <strong>DF</strong>/<strong>UFPE</strong><br />

Prof. Dr. José Roberto Rios Leite, <strong>DF</strong>/<strong>UFPE</strong><br />

Prof. Dr. Luiz Davidovich, IF/UFRJ<br />

Prof. Dr. Ricardo Rego Bordalo Correia, IF/UFRGS


Esta tese é dedicada àqueles que se dedicaram e se<br />

dedicam a mim; familiares, amigos, professores,<br />

colegas e todos que se sentirem parte disto tudo.


Agradecimentos<br />

Esta Tese é o resultado do esforço de muitas pessoas, que se envolveram<br />

direta ou indiretamente com o trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos e meio. É<br />

para estas pessoas que vão estes profundos e sinceros agradecimentos.<br />

À minha mãe Sandra, ao meu pai Antônio, à minha tia Tânia, às minhas avós<br />

Conceição e Zezé e a todos os demais familiares, que sempre me apoiaram muito<br />

durante estes tempos, cada qual à sua moda. Muito obrigado. Vocês foram muito<br />

importantes e este trabalho também é de vocês. À Cau por toda a compreensão e<br />

paciência que teve para agüentar por todo este tempo sem reclamar (muito) de<br />

atitudes, horários, por dedicação e tudo o mais que ela merece. Muito obrigado pelo<br />

apoio em todos os sentidos.<br />

Ao Proféssor Cid, de quem fui o primeiro aluno do pacote mestrado+doutorado,<br />

pela formação e por ter conseguido me agüentar por mais quatro anos e meio (está de<br />

parabéns...), concedendo-me o privilégio de poder absorver por mais tempo um pouco<br />

de seus conhecimentos. Muito obrigado.<br />

Aos professores e pesquisadores do Grupo de Óptica – NEON – do<br />

Departamento de Física: Rios Leite, Anderson Gomes, Sandra Vianna, José Tabosa,<br />

Lúcio Acioli e Valery Kozich pelo ambiente excelente que criaram, cientificamente muito<br />

fértil, e pelas discussões sempre bastante frutíferas. Muito obrigado.<br />

Ao meu professor e amigo Ricardo Barthem por não ter deixado de<br />

acompanhar minha evolução ao longo destes anos. Muito obrigado. Aos professores e<br />

pesquisadores do Departamento de Química Fundamental, colaboradores em nossos<br />

trabalhos, por nos ensinar a fazer amostras, discutir a química e fornecer amostras:<br />

Walter Azevedo e Eduardo Falcão (polianilinas) e Alfredo Simas (compostos<br />

mesoiônicos). Muito obrigado.<br />

Aos tios e primos de Pernambuco e a todas as suas adoráveis famílias por tudo<br />

o que fizeram (e fazem) para que eu me sentisse (e sinta) em casa. Vocês<br />

conseguiram! Muito obrigado por tudo e perdão por alguns longos períodos sem<br />

aparecer...


Aos meus grandes amigos de jornada Carlos Alberto, Renato Araujo, Clayton<br />

Benevides, Alexandre Ramos, Márcio Cabral, Alexandre Rosas, Alexandre Carvalho e<br />

Sérgio Falcão. Muito obrigado por vocês existirem. Foram fundamentais para aliviar a<br />

tensão e me tornar uma pessoa melhor ao longo destes anos, através da simples<br />

convivência.<br />

Aos meus colegas de laboratório: Glauco Maciel, Nikifor Gomez, Arandi Júnior,<br />

Edilson Filho e Márcio Alencar (os dois herdeiros), pelo companheirismo no dia-a-dia.<br />

Desculpem pelos dias de mau-humor e por eventuais grosserias de minha parte.<br />

Nunca foram propositais. Também pelas discussões sobre física e por tudo mais,<br />

muito obrigado.<br />

Aos funcionários do Departamento de Física, sem os quais o <strong>DF</strong> não é o <strong>DF</strong>,<br />

por todo o apoio dado nas horas de necessidade: Clécio e Virgínia (química), S. Ivo<br />

(reprografia), Joana e Ana (biblioteca), Cristina (eletrônica), Márcio e Luís (S.O.S.<br />

computadores), Blênio e João Carlos (cristais). <strong>Pessoal</strong> da administração e<br />

gerenciamento: Linet Santos (secretaria de pós-graduação), D. Ângela e Sr. Marrom<br />

(secretaria geral), S. Humberto (almoxarifado), Carlos Alberto, Breno e Claudécio (setor<br />

de compras) e Flávia (setor financeiro). Severino, João e Valdomiro (oficina mecânica)<br />

e, representando o pessoal da manutenção, o Grande Wellington. A todos vocês,<br />

muito obrigado. Também todo o corpo de funcionários da limpeza, sem os quais o <strong>DF</strong><br />

se tornaria um lugar impossível de se trabalhar.<br />

Finalmente, ao CNPq e à FACEPE pelas bolsas concedidas nos primeiros 4<br />

anos e últimos 6 meses de programa de doutoramento, sem as quais nada disso seria<br />

possível.


Resumo<br />

Nesta Tese utilizamos luz temporalmente incoerente para estudar fenômenos<br />

de dinâmica ultra rápida na matéria condensada. As propriedades estatísticas destes<br />

campos foram exploradas em experimentos de mistura de ondas para obter resoluções<br />

temporais de até 10 fs usando-se pulsos de luz incoerente de 10 ns de duração.<br />

No capítulo 1 definimos luz incoerente, o limite de validade da óptica não linear,<br />

discutimos a origem da polarização não linear e analisamos o processo de mistura de<br />

ondas e de geração de grades por campos de laser, situando as nossas condições<br />

experimentais.<br />

No capítulo 2 expomos os fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

para deduzir algumas de suas propriedades importantes, tais como funções de<br />

distribuição e densidade, médias estatísticas, teorema do limite central, variáveis<br />

aleatórias Gaussianas, processos aleatórios e ergodicidade e funções de auto<br />

correlação.<br />

No capítulo 3 descrevemos os experimentos realizados com luz temporalmente<br />

incoerente. Em um primeiro experimento, demonstramos que as oscilações que<br />

aparecem em perfis de auto correlação em experimentos de auto difração não podem,<br />

contrariamente ao que já foi publicado na literatura, ser associadas ao tempo de<br />

defasamento da transição eletrônica investigada.<br />

Demonstramos em corantes orgânicos que a intensidade dos feixes de luz<br />

incoerente gera um alargamento não homogêneo em uma transição vibrônica, devido à<br />

população de níveis vibracionais excitados do estado fundamental e, sob estas<br />

condições, estimamos o valor do tempo de defasamento eletrônico.<br />

Efeito análogo foi observado em um outro experimento ao estudar soluções de<br />

polianilina em dois estados de oxidação, porém as suas causas são bem distintas do<br />

caso anterior. Discutimos possíveis mecanismos físicos responsáveis pelo efeito.<br />

Em um outro experimento, uma nova técnica foi desenvolvida para a medida de<br />

tempos de vida de estados excitados, que podem ser fluorescentes ou não, de<br />

moléculas em solução e chamamos atenção para o fato de que efeitos de emissão


estimulada devem ser levados em consideração sempre que houver ressonâncias de<br />

um fóton com os campos de excitação, algo que não fora notado mesmo após 19 anos<br />

de existência das técnicas espectroscópicas com luz incoerente.<br />

Finalmente, foi implementada uma chave Kerr óptica que possibilitou investigar<br />

a dinâmica dos efeitos de terceira ordem em um composto mesoiônico excitado na sua<br />

região de transparência no visível com uma resolução temporal de aproximadamente<br />

150 fs.<br />

O capítulo 4 traz as conclusões do trabalho, que incorporam um sumário dos<br />

resultados obtidos.


Abstract<br />

In this work we use temporally incoherent light fields to study ultra-fast<br />

dynamics in condensed matter. The statistical properties of the optical fields are<br />

exploited in four wave mixing experiments to achieve a 10 fs time resolution using 10 ns<br />

laser pulses.<br />

In chapter 1 we define incoherent light, the domains of nonlinear optics, we<br />

discuss the origins of nonlinear polarization and analyze the wave mixing process and<br />

laser induced gratings in the context of our experiments.<br />

In chapter 2 the statistical aspects of random processes are exposed and they<br />

are used to derive important properties, such as density and distribution functions,<br />

statistical averages, the central limit theorem, random processes and ergodicity and the<br />

Wiener-Kintchine theorem.<br />

In chapter 3 we describe the wave mixing experiments performed with<br />

temporally incoherent light. In a first experiment we demonstrate that the oscillations<br />

which appear in self correlation traces of self diffraction experiments can not be<br />

associated to the dephasing time of the electronic transition under investigation,<br />

contrarily to what is found in the literature.<br />

In a second experiment we demonstrate that in organic dye solutions the<br />

intensity of the incoherent light fields gives rise to an inhomogeneous broadening in a<br />

vibronic transition, resulting in the population of higher vibrational levels of the electronic<br />

ground state after an optical pumping cycle and we estimate the magnitude of the<br />

dephasing time under these conditions.<br />

An analogous effect to the previous one was observed in a third experiment, in<br />

which liquid solutions of polyaniline in two different oxidation states were studied.<br />

However, the origin of the effect is different. In this case we discuss a set of possible<br />

physical mechanisms that can lead to the observed results.<br />

In a fourth experiment a new technique to measure the lifetime of fluorescent or<br />

non fluorescent electronic excited states of molecules in solution was developed. It was<br />

shown that effects associated to stimulated emission have to be taken into account


whenever the system under investigation presents one photon resonances. This has<br />

never been noticed in 19 years of incoherent light spectroscopy.<br />

Finally, in the fifth and last experiment an optical Kerr shutter was constructed<br />

and it made possible the investigation of the dynamics of third-order non linearities in a<br />

mesoionic compound excited in its transparency region in the visible with a time<br />

resolution of approximately 150 fs.<br />

In chapter 4 we summarize our results and state our conclusions, besides to<br />

giving some perspectives for new experiments with incoherent light.


Dedicatória<br />

Agradecimentos<br />

Resumo<br />

Abstract<br />

ÍNDICE<br />

CAPÍTULO 1 – Introdução ........................................................................................... 1<br />

1.1 - Pulsos ultracurtos e pulsos de luz incoerente ................................................... 2<br />

1.2 - Óptica não-linear ............................................................................................... 5<br />

a) Polarização não-linear: abordagem clássica ................................................ 5<br />

b) Polarização não-linear: abordagem quântica ............................................... 9<br />

c) Mistura de ondas ........................................................................................ 15<br />

1.3 - Grades formadas por laser ............................................................................. 21<br />

a) Introdução .................................................................................................. 21<br />

b) Formação de grades .................................................................................. 24<br />

c) Grades de interferência .............................................................................. 25<br />

d) Superposição de feixes com polarizações diferentes ................................. 27<br />

e) Efeitos de tamanho finito dos feixes de excitação ...................................... 30<br />

f) Grades de amplitude e de fase .................................................................... 32<br />

g) Detecção de grades ................................................................................... 35<br />

CAPÍTULO 2 – Fundamentos estatísticos de processos aleatórios ..................... 37<br />

2.1 – Introdução ...................................................................................................... 38<br />

2.2 – Funções distribuição e funções densidade .................................................... 38<br />

2.3 – Extensão a duas ou mais variáveis aleatórias conjuntas ............................... 40<br />

2.4 – Médias estatísticas ......................................................................................... 42<br />

a) Momentos de uma variável aleatória .......................................................... 43<br />

b) Momentos conjuntos de variáveis aleatórias .............................................. 43


c) Funções características .............................................................................. 45<br />

2.5 – Soma de variáveis aleatórias reais e o teorema do limite central .................. 46<br />

a) Soma de variáveis aleatórias reais ............................................................. 46<br />

b) O teorema do limite central ........................................................................ 48<br />

2.6 – Variáveis aleatórias Gaussianas .................................................................... 49<br />

2.7 – Definição e descrição de um processo aleatório ............................................ 53<br />

2.8 – Estacionaridade e ergodicidade ..................................................................... 55<br />

2.9 – Análise espectral de processos aleatórios ..................................................... 58<br />

2.10 – Funções de auto correlação e o teorema de Wiener-Kintchine .................... 60<br />

CAPÍTULO 3 – Espectroscopia não linear com luz incoerente ............................. 63<br />

3.1 – Introdução ...................................................................................................... 64<br />

3.2 – Oscilações em interferogramas de corantes e vidros dopados com<br />

semicondutores .............................................................................................. 76<br />

a) Introdução .................................................................................................. 76<br />

b) Experimento ............................................................................................... 78<br />

c) Discussão ................................................................................................... 83<br />

3.3 - Alargamento não homogêneo induzido por laser em solução de<br />

Sulfo-rodamina 640 em etanol ........................................................................ 87<br />

a) Introdução .................................................................................................. 87<br />

b) Experimento ............................................................................................... 87<br />

c) Discussão ................................................................................................... 93<br />

3.4 - Efeitos de altas intensidades em soluções de polianilina ............................. 100<br />

a) Polímeros condutores ............................................................................... 100<br />

b) A polianilina .............................................................................................. 102<br />

c) Estados de oxidação da PANI .................................................................. 104<br />

d) Estrutura eletrônica e propriedades ópticas da PANI ............................... 105<br />

e) Preparação das amostras de PANI .......................................................... 107<br />

f) Caracterização das amostras .................................................................... 109


g) Experimento ............................................................................................. 111<br />

h) Discussão ................................................................................................. 116<br />

3.5 - Mistura interferométrica de quatro ondas com ressonância de um fóton ...... 125<br />

a) Introdução ................................................................................................ 125<br />

b) Experimento e discussão ......................................................................... 127<br />

3.6 - Chave Kerr com luz incoerente em composto mesoiônico ........................... 139<br />

a) Chave Kerr óptica ..................................................................................... 139<br />

b) Compostos mesoiônicos .......................................................................... 142<br />

c) Chave Kerr óptica com luz incoerente ...................................................... 146<br />

CAPÍTULO 4 – Conclusões e perspectivas ........................................................... 154<br />

APÊNDICES ............................................................................................................. 163<br />

A.1 - Experimentos exploratórios .......................................................................... 164<br />

a) Espalhamento forçado de luz em soluções de metaloporfirina com cobre ... 164<br />

b) Interferência de duas grades ........................................................................ 167<br />

A.2 – Detalhamento de alguns cálculos ................................................................ 170<br />

a) Aproximação de onda girante ....................................................................... 170<br />

b) Método perturbativo da matriz densidade em forma integral ........................ 172<br />

c) Coeficiente de correlação ρ .......................................................................... 178<br />

d) Passagem da equação (2.38) para a (2.39) ................................................. 178<br />

e) Dedução da equação (3.16) ......................................................................... 180<br />

f) Exemplos de cálculo de termos constantes e dependentes de<br />

τ do sinal I(ω m ) (seção 3.5) ............................................................................. 182<br />

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 187


Capítulo 1<br />

Introdução


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

Neste capítulo apresentaremos aspectos básicos da óptica não linear, mais<br />

especificamente do processo de mistura de ondas, necessários para a compreensão<br />

dos trabalhos desenvolvidos nesta Tese. É feita uma breve discussão a respeito de<br />

pulsos ultra curtos e pulsos de luz incoerente, ressaltando o papel da limitação por<br />

transformada de Fourier. Na seção de óptica não linear, mostramos como se origina a<br />

polarização não linear, que é responsável pela geração de campos em ordens<br />

perturbativas superiores no campo de excitação. Em uma abordagem clássica, as<br />

equações de Maxwell são utilizadas para mostrar que a polarização serve como termo<br />

de fonte em uma equação de onda e o modelo perturbativo de um oscilador mecânico<br />

forçado amortecido é desenvolvido, através do qual se obtém uma expressão para a<br />

susceptibilidade óptica linear. O limite de validade da óptica não linear é discutido. Em<br />

uma abordagem quântica, o formalismo da matriz densidade é introduzido e sua<br />

dinâmica é investigada através da aplicação da equação de Liouville para um sistema<br />

de dois níveis. A expressão obtida para a polarização de terceira ordem será utilizada<br />

no capítulo 3 desta Tese, onde discutimos a espectroscopia não linear com luz<br />

incoerente. Ainda nesta seção, discutimos os processos básicos de mistura de ondas e<br />

analisamos as condições que levam ao casamento de fase. Na seção de grades<br />

formadas por laser, mostramos como podem se formar grades de população e de fase<br />

em um meio material quando este é excitado por radiação luminosa, assim como suas<br />

características dinâmicas e espaciais. Definimos também os regimes de grade delgada<br />

e espessa.<br />

1.1 – Pulsos ultra curtos e pulsos de luz incoerente<br />

Nenhuma fonte de luz é estritamente monocromática. Sempre existe uma<br />

dispersão em freqüência com uma largura característica, ∆ν, centrada em uma<br />

freqüência média ν. É interessante estudarmos a relação entre a largura de linha e o<br />

grau de coerência da fonte luminosa. A coerência se apresenta sob dois aspectos: o<br />

temporal e o espacial. A chamada coerência temporal de um campo do tipo<br />

2


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

E<br />

() t A cos( ω t)<br />

= ∑ é caracterizada por um tempo de coerência t c , que pode ser<br />

i<br />

i<br />

i<br />

entendido como sendo o intervalo de tempo relacionado ao atraso relativo entre os<br />

campos que se propagam nos dois braços de um interferômetro de Michelson, durante<br />

o qual é possível observar franjas de interferência caso estes campos sejam postos a<br />

interferir [Fo89]. Isto quer dizer que, num experimento de auto correlação, as franjas de<br />

interferência só podem ser vistas se a diferença de caminho óptico entre os braços do<br />

interferômetro for igual ou menor que o comprimento de coerência L c = ct c ~ c/∆ν da luz.<br />

O comprimento de coerência L c , também chamado de comprimento de coerência<br />

longitudinal, está relacionado às propriedades de coerência espacial do campo. Como<br />

ν = c/λ, obtemos ∆ν = c∆λ/λ 2 e assim temos L c ~ λ 2 /∆λ. Há ainda o chamado<br />

comprimento de coerência espacial transversal, conceito que tem utilidade melhor<br />

compreendida em problemas em que há necessidade de considerar o caráter extenso<br />

da fonte de radiação [Bo80]. Este conceito não é muito útil para os estudos<br />

apresentados nesta Tese e não será discutido mais profundamente. Uma excelente<br />

discussão sobre as propriedades de coerência de campos eletromagnéticos pode ser<br />

encontrada em [Ma95].<br />

Para estudarmos a relação entre a largura de linha e o tempo de coerência de<br />

uma fonte precisamos usar o teorema de Fourier, segundo o qual uma função f(t) pode<br />

ser expressa como uma integral sobre a variável ω, e vice-versa, da seguinte forma:<br />

f<br />

() t = ∫ g( ω) exp( − iωt)<br />

g<br />

1<br />

2π<br />

1<br />

( ω) = ∫ f() t exp( iωt) dt .<br />

2π<br />

+∞<br />

−∞<br />

+∞<br />

−∞<br />

dω<br />

,<br />

(1.1)<br />

As variáveis ω e t são ditas canonicamente conjugadas e as funções f(t) e g(ω)<br />

são transformadas de Fourier (TF) uma da outra. No nosso caso, as variáveis ω e t são<br />

freqüência angular e tempo, respectivamente. A função g(ω) representa a função f(t) no<br />

domínio espectral. Na maior parte dos casos de interesse físico (os que ocorrem na<br />

natureza), se f(t) for um processo com duração ∆t, g(ω) é uma função com largura<br />

3


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

espectral ∆ω. Devido às propriedades da TF, a um fenômeno extremamente rápido<br />

está associado um espectro extremamente largo.<br />

O mesmo ocorre com pulsos de radiação laser. Atualmente é possível gerar<br />

pulsos de laser com duração de até 4,5 fs no infravermelho próximo (800 nm) [Ba97]<br />

usando um cristal de Ti:Al 2 O 3 (titânio-safira). A duração do pulso corresponde a quase<br />

dois ciclos ópticos. Para este laser, a largura de linha é de ∆ν = 63 THz que, para o<br />

comprimento de onda central λ = 780 nm, dá aproximadamente ∆λ = 128 nm. Cabe<br />

observar que a relação de transformada de Fourier precisa entre a largura de banda ∆ν<br />

e a largura de pulso ∆t depende da forma do pulso. Por exemplo, um pulso “limitado<br />

por Fourier” com uma forma Gaussiana tem ∆ν∆t = 0,441, enquanto que um pulso<br />

Lorentziano tem ∆ν∆t = 0,6. Por convenção, ∆ν e ∆t são as larguras plenas à meia<br />

altura no espectro e no perfil temporal do pulso [Sc73].<br />

O campo de radiação gerado por este laser é coerente, ou seja: as suas<br />

componentes espectrais guardam uma relação de fase constante entre si. Este campo<br />

é “limitado por Fourier”, sendo esta a razão para possuir um espectro tão largo. Este<br />

tipo de radiação pode ser utilizado como ferramenta para excitar um conjunto de níveis<br />

de energia coerentemente e/ou sondar temporalmente fenômenos ultra rápidos (com<br />

tempos característicos de dezenas de fs), sendo a resolução temporal dada pela<br />

duração do pulso, t p . Na prática, estes pulsos podem até certo ponto ser considerados<br />

como impulsivos. Desta maneira, o fenômeno que se quer estudar é analisado em sua<br />

dinâmica pós-excitação pelo impulso.<br />

Uma outra forma de obter resolução temporal de dezenas de fs é o emprego de<br />

campos de radiação não limitados por Fourier. Neste caso, gera-se um campo que é<br />

resultado de pulsos de longa duração (centenas de ps a dezenas de ns) e com largo<br />

espectro, tal que ∆ν∆t>>1. Embora o pulso seja muito longo, ainda pode ser utilizado<br />

como prova em um processo com dinâmica ultra rápida, pois este campo de radiação<br />

não apresenta travamento de modos e possui um tempo de coerência t c de dezenas de<br />

fs, que é o parâmetro que determina a resolução temporal da técnica. É este tipo de<br />

recurso que empregaremos ao longo desta Tese. No caso dos experimentos aqui<br />

descritos, em geral o produto ∆ν∆t é da ordem de 5×10 4 .<br />

4


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

1.2 – Óptica não-linear<br />

A partir da realização do primeiro experimento de óptica não linear (geração de<br />

segundo harmônico do laser de rubi em uma placa de quartzo) [Fr61], este ramo da<br />

ciência conheceu rápido desenvolvimento pela sua beleza e interesses científico e<br />

tecnológico. A observação do segundo harmônico se deveu fundamentalmente à<br />

disponibilidade de um laser de rubi, que apresentava uma densidade de potência 10 12<br />

vezes maior do que as lâmpadas de arco de mercúrio até então utilizadas nos<br />

laboratórios.<br />

a) Polarização não linear: abordagem clássica<br />

O núcleo da óptica não linear está nos conceitos de susceptibilidades e<br />

polarização não lineares [Bl67]. Para melhor compreendermos tais conceitos, podemos<br />

modelar a situação considerando os materiais ópticos como uma coleção neutra de<br />

partículas carregadas, os elétrons e os íons. Quando o material é submetido a um<br />

campo eletromagnético, as suas cargas se movem. Se o material for metálico,<br />

observaremos a geração de uma corrente elétrica. Entretanto, em um material<br />

dielétrico as cargas positivas e negativas estão ligadas de forma não rígida, de tal forma<br />

que as nuvens eletrônicas possuem certa mobilidade, a qual depende do tipo de ligação<br />

eletrônica do material. Desta maneira, durante a presença do campo há um<br />

deslocamento de cargas em relação às posições de equilíbrio, resultando na indução<br />

de momentos de dipolo microscópicos, que por sua vez originam uma polarização<br />

macroscópica no material. No caso da luz, o campo eletromagnético oscila em torno de<br />

10 14 vezes por segundo, o que significa que os dipolos elétricos induzidos também são<br />

oscilantes. Devido à massa dos íons ser muito maior do que a da nuvem eletrônica,<br />

suas inércias não os permitem acompanhar as oscilações do campo. Sendo assim, a<br />

contribuição relevante para a oscilação dos momentos de dipolo é dada pelas nuvens<br />

eletrônicas. Estes dipolos oscilantes então reemitem radiação na freqüência em que<br />

oscilam [Gr89]. Isto pode ser facilmente visto se utilizarmos as equações de Maxwell<br />

para os campos elétrico e magnético:<br />

5


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

∇ ⋅D<br />

= ρ ,<br />

(1.2a)<br />

∇ ⋅B = 0 ,<br />

(1.2b)<br />

r<br />

r r ∂B<br />

∇ × E = ∂ t<br />

,<br />

(1.2c)<br />

r<br />

r r ∂D<br />

r<br />

∇ × H = + J .<br />

∂t<br />

(1.2d)<br />

As relações constitutivas são dadas por<br />

r<br />

D E<br />

r r<br />

= ε<br />

0<br />

+ P , (1.3a)<br />

r r r<br />

B = µ 0H + M , (1.3b)<br />

onde P r é a polarização elétrica do meio, ε 0 é a permissividade elétrica do vácuo e µ 0 é<br />

a permeabilidade magnética do vácuo. Se o material não for magnético ( M<br />

r = 0<br />

r<br />

),<br />

tomando o rotacional de (1.2c) e usando (1.1d), (1.3 a ) e (1.3b) obtemos:<br />

r r<br />

r r r r r<br />

2<br />

2 ∂ D ∂J<br />

∇( ∇ ⋅E) − ∇ E = −µ<br />

0<br />

− µ<br />

0<br />

.<br />

(1.4)<br />

2<br />

∂t<br />

∂t<br />

Se o material não possuir cargas livres, ρ = 0, ∇ r ⋅D r r r<br />

= 0 e J = 0 . Então, de (1.4),<br />

temos<br />

r r<br />

r r<br />

2<br />

2<br />

2 1 ∂ E ∂ P<br />

∇ E − = µ<br />

2 2 0<br />

. (1.5)<br />

2<br />

c ∂t<br />

∂t<br />

Desta forma, a polarização do meio serve como termo de fonte para o campo<br />

eletromagnético. É o efeito do material respondendo ao estímulo do campo, alterando<br />

o próprio campo.<br />

Os efeitos não lineares, relacionados com a parte não linear da polarização,<br />

podem ser compreendidos empregando-se o modelo do oscilador não harmônico, que é<br />

a analogia mecânica do sistema elétron-íon. Neste modelo, o meio é composto por N<br />

osciladores não harmônicos clássicos por unidade de volume. Neste caso, o elétron de<br />

massa m e carga –e é ligado ao íon por uma mola (oscilador amortecido forçado). A<br />

posição do elétron muda em resposta ao campo elétrico segundo a equação de<br />

movimento<br />

6


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

2<br />

eE<br />

( )<br />

( t) ax + bx + ... = − ,<br />

2<br />

d x dx 2<br />

3<br />

+ Γ + ω0x<br />

−<br />

(1.6)<br />

2<br />

dt dt<br />

m<br />

onde x(t) é o deslocamento a partir da posição de equilíbrio, ω 0 é a freqüência de<br />

ressonância e Γ é a constante de amortecimento. As constantes a, b, ... quantificam o<br />

grau de não harmonicidade do potencial e são consideradas de pequena magnitude, de<br />

forma a podermos tratá-las como pequenas perturbações. Para resolvermos (1.6),<br />

escrevemos x(t) como uma série perturbativa no campo elétrico na forma<br />

x(t) = x (1) (t) + x (2) (t) + x (3) (t) + … . (1.7)<br />

Inicialmente, desconsideramos os termos não harmônicos e fazemos x(t) =<br />

x (1) (t). Então a equação (1.6) fica<br />

(1)<br />

d )<br />

2<br />

x<br />

dt<br />

2<br />

( ) .<br />

(1)<br />

dx 2 (1 eE t<br />

+ Γ + ω0x<br />

= −<br />

(1.8)<br />

dt<br />

m<br />

Supondo um campo incidente monocromático senoidal, isto é,<br />

E0<br />

E(t) = E0 cos( ωt)<br />

= [ exp( iωt) + exp( − iωt)<br />

] ,<br />

(1.9)<br />

2<br />

encontramos que a solução para (1.8) é uma expressão na forma<br />

( ωt) exp( − iωt)<br />

eE ⎡ exp i<br />

⎤<br />

0<br />

(t) = − ⎢<br />

+<br />

.<br />

2 2<br />

2 ⎥<br />

(1.10)<br />

2m ⎣ω0<br />

− ω + iΓω<br />

ω0<br />

− ω − iΓω⎦<br />

(1)<br />

x<br />

2<br />

Havendo N dipolos por unidade de volume, a polarização induzida no meio é<br />

dada por P(t) = -Nex(t), cuja dependência com o campo elétrico incidente é dada pela<br />

susceptibilidade χ(ω), podendo ser escrita como<br />

onde<br />

∗ ∗<br />

[ χ( ω) Eexp( −iωt)<br />

+ χ ( ω)<br />

E exp(i t) ] .<br />

1<br />

P(t)<br />

= ε0 ω<br />

2<br />

(1.11)<br />

2<br />

Ne 1<br />

χ ( ω) =<br />

.<br />

(1.12)<br />

2 2<br />

m ω − ω − iΓω<br />

0<br />

Assim, a polarização linear oscila na mesma freqüência do campo incidente.<br />

A solução em segunda ordem x (2) (t) é encontrada usando-se a expressão obtida<br />

em (1.10) como entrada na equação (1.6). Verifica-se que as soluções da equação<br />

resultante são termos que oscilam em uma freqüência 2ω e outro de freqüência zero,<br />

7


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

que são responsáveis respectivamente pelos fenômenos de geração de segundo<br />

harmônico e de retificação óptica. Se o campo incidente for bicromático, teremos<br />

também a geração de soma e diferença de freqüências. Procedimentos análogos e<br />

sucessivos vão fornecendo as soluções de ordens superiores para o deslocamento não<br />

harmônico da nuvem eletrônica. Os diversos termos da polarização associados a estas<br />

soluções não lineares de ordens sucessivamente mais altas representam os termos de<br />

polarização não linear, onde o termo não linear de ordem n é dado por<br />

P (n) (t) = -Nex (n) (t) . (1.13)<br />

Desta forma, vemos que a polarização P pode ser expandida em uma série de<br />

potências do campo elétrico como<br />

P = P L + P NL = χ (1) E + χ (2) E 2 + χ (3) E 3 + ... (1.14)<br />

onde P L = χ (1) E é a polarização linear, P NL = χ (2) E 2 + χ (3) E 3 + ... é a polarização não<br />

linear, χ (1) é a susceptibilidade linear, que representa a solução de (1.8) (de acordo com<br />

as equações (1.11) e (1.12)), e χ (n) são as susceptibilidades não lineares de n-ésima<br />

ordem (n ≥ 2).<br />

A possibilidade de se fazer uma expansão perturbativa como a realizada em<br />

(1.7) ou, equivalentemente, em (1.14) é calcada em uma razão física. O parâmetro de<br />

expansão é a razão entre a amplitude do campo elétrico incidente na amostra e o<br />

campo interno atômico E a , isto é, aquele que mantém o elétron ligado ao núcleo, que é<br />

da ordem de 3×10 10 V/m. Um campo óptico desta magnitude é obtido se pudermos<br />

dispor de um laser com intensidades de 10 14 W/cm 2 . Assim, pode-se mostrar que, para<br />

ω 0 >> ω [Sh84], [Bu90], tem-se<br />

( n+1)<br />

E<br />

( )<br />

~ .<br />

n<br />

P<br />

P<br />

E<br />

a<br />

(1.15)<br />

Entretanto, intensidades tão altas quanto 10 14 W/cm 2 não são necessárias para<br />

a observação de efeitos ópticos não lineares. Por exemplo, se o conjunto de dipolos<br />

induzidos oscila coerentemente, com uma relação de fase bem definida entre eles,<br />

então os campos que irradiam individualmente podem somar-se construtivamente para<br />

produzir uma intensidade muito maior. Esta condição de interferência construtiva é<br />

denominada de casamento de fase. Além disto, a intensidade necessária para<br />

8


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

observar fenômenos não lineares pode ser ainda mais reduzida se nos aproximarmos<br />

da condição de ressonância, fazendo a freqüência do campo incidente aproximar-se da<br />

freqüência de oscilação dos dipolos. É o que se chama de “acentuação ressonante”, e<br />

a forma através da qual se manifesta pode ser vista observando-se a equação (1.10).<br />

Se ω ≈ ω 0 então os termos entre colchetes podem ter um aumento considerável em<br />

seus valores, diminuindo a intensidade do campo óptico necessária para a observação<br />

do efeito não linear. Neste caso, a equação (1.15) perde a validade, pois não há como<br />

prever a forma funcional das susceptibilidades ópticas sucessivas relacionadas com<br />

P (n+1) e P (n) , podendo serem elas bastante distintas.<br />

Uma vasta relação de fenômenos ópticos não lineares e as formas das<br />

susceptibilidades a eles associadas está disponível na literatura [Sh84], [Bu90], [Ba69],<br />

[Gu90].<br />

b) Polarização não linear: abordagem quântica<br />

Outra forma de abordar o problema da polarização não linear é lançando mão<br />

do conceito de matriz densidade (ou operador densidade), que é utilizado quando não<br />

se tem informações suficientes para determinar o estado de um sistema quântico, ou<br />

seja, quando não se conhecem exatamente a função de onda ou as funções de onda<br />

que o descrevem. O formalismo da matriz densidade fornece uma maneira de calcular<br />

os valores esperados de operadores. O sistema quântico em questão é o conjunto de<br />

N dipolos elétricos induzidos no material pelo campo eletromagnético incidente.<br />

Seja o estado do sistema quântico expresso como uma combinação linear de<br />

seus auto-estados:<br />

r<br />

r<br />

Ψ ( ,t) = ∑c<br />

n<br />

() t un<br />

() ,<br />

(1.16)<br />

com c () t u () r | Ψ( r,t)<br />

n<br />

n<br />

n<br />

r r<br />

= . Se A for o operador correspondente a um dado observável,<br />

r r<br />

〈 . Usando a<br />

podemos calcular o seu valor esperado como A〉<br />

= Ψ( r,t) | A | Ψ( r,t)<br />

equação (1.16), obtemos<br />

∗<br />

r r<br />

∗<br />

r<br />

〈 A〉<br />

= c t u<br />

| A | u<br />

c t = c t c t A<br />

(1.17)<br />

∑<br />

m,n<br />

m<br />

()<br />

m<br />

()<br />

n<br />

( )<br />

n<br />

( ) ∑ m<br />

( )<br />

n<br />

( )<br />

mn<br />

( ) .<br />

m,n<br />

9


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

Não conhecer o estado do sistema quântico significa não conhecer os c i (t)<br />

(i=m,n). Entretanto, suponhamos que seja possível obter informações suficientes para<br />

∗<br />

calcular a média de conjunto de c ( t) c ( t)<br />

〈 A〉<br />

=<br />

∑<br />

m,n<br />

c<br />

∗<br />

m<br />

r<br />

m<br />

() t c<br />

n<br />

() t A<br />

mn<br />

() r = ∑ρnm<br />

( t) A<br />

mn<br />

( r ) .<br />

m,n<br />

n<br />

. De (1.17), obtemos<br />

r<br />

(1.18)<br />

A matriz densidade ρ(t) é aquela cujos elementos são dados por ρ nm (t) e a partir<br />

da equação (1.18), encontramos<br />

r<br />

r<br />

〈 A〉<br />

= ∑ ρ t A<br />

= Tr ρ t A<br />

(1.19)<br />

n<br />

[ () ()] [ ( ) ( )] .<br />

nn<br />

A matriz densidade é Hermiteana e sempre tem traço unitário. Os elementos diagonais<br />

r<br />

ρ nn (t) representam as probabilidades de encontrarmos o sistema no estado ()<br />

e os<br />

r<br />

elementos fora da diagonal ρ nm (t) são as coerências entre os estados ()<br />

u n<br />

u n<br />

e ( r )<br />

(n≠m) [To79]. De acordo com (1.19), se quisermos calcular a polarização média do<br />

conjunto de dipolos, temos que tomar o traço do produto da matriz densidade pelo<br />

momento de dipolo, multiplicando o resultado pela densidade de dipolos. A matriz<br />

densidade tem sua dinâmica governada pela equação de Liouville<br />

∂ρ i<br />

=<br />

∂t<br />

h<br />

[ ρ,H] ,<br />

(1.20)<br />

onde [ρ,H] é o comutador entre ρ e H, sendo este último o Hamiltoniano total do sistema<br />

[Ya88].<br />

Vamos aplicar o formalismo da matriz densidade a um sistema de dois níveis<br />

eletrônicos, como se vê na figura 1.1. A freqüência ω do campo monocromático é<br />

quase ressonante com a transição eletrônica.<br />

u m<br />

r<br />

E 2<br />

2<br />

Figura 1.1: Esquema de dois níveis para o problema<br />

considerado. As energias dos níveis |1> e |2> são E 1 e<br />

E 2 , respectivamente. A freqüência do laser incidente é<br />

ω e a freqüência de Bohr ω 0 é dada por 2π(E 2 -E 1 )/h.<br />

O Hamiltoniano que descreve o sistema é dado por<br />

E 1<br />

ω 0 ω<br />

1<br />

10


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

com<br />

H(t) = H 0 + V(t) , (1.21)<br />

⎛ 1H0<br />

1 1H0<br />

2 ⎞ ⎛E1<br />

0 ⎞<br />

H ⎜<br />

⎟<br />

0<br />

=<br />

=<br />

⎜<br />

⎟<br />

. (1.22)<br />

⎝ 2 H0<br />

1 2 H0<br />

2 ⎠ ⎝ 0 E2<br />

⎠<br />

Na aproximação de dipolo, V(t) = -µE(t), onde µ é a componente do operador<br />

r<br />

momento de dipolo na direção do campo ( ≈ e r r<br />

µ ). E(t)<br />

é um campo clássico. Assim,<br />

⎛ 1 V(t) 1 1 V(t) 2 ⎞ ⎛0<br />

1⎞<br />

V (t) = ⎜<br />

⎟<br />

= −µ E(t) ⎜ ⎟ , (1.23)<br />

⎝ 2 V(t) 1 2 V(t) 2 ⎠ ⎝ 1 0⎠<br />

onde fizemos µ 12 = µ 21 = µ. O valor médio de conjunto do momento de dipolo elétrico é<br />

dado então por = Tr( ρµ ) = ρ µ + ρ µ + ρ µ + ρ µ = µ ( ρ + ρ )<br />

µ , sendo a<br />

12<br />

21<br />

21<br />

12<br />

11<br />

11<br />

22<br />

22<br />

12<br />

21<br />

polarização dada por P = N µ<br />

. N é a densidade de átomos. Para sabermos como a<br />

polarização induzida evolui no tempo, derivaremos agora as equações da dinâmica dos<br />

elementos diagonais e não diagonais da matriz densidade. Da equação (1.20),<br />

podemos escrever<br />

onde<br />

dρ<br />

dt<br />

21<br />

i<br />

=<br />

h<br />

[ ρ,<br />

( H + V(t) )] ,<br />

0<br />

21<br />

(1.24)<br />

⎛ µ E(t)( ρ − ρ ) ρ (E − E ) + µ E(t)( ρ − ρ )<br />

0<br />

21(E1<br />

E2<br />

) E(t)(<br />

11 22<br />

) E(t)(<br />

12 21)<br />

⎟ ⎞<br />

ρ ⎜<br />

(1.25)<br />

⎝ρ<br />

− + µ ρ − ρ<br />

µ ρ − ρ ⎠<br />

21 12<br />

12 2 1<br />

22 11<br />

[ ,( H + V(t) )] = ⎜<br />

.<br />

Então,<br />

dρ<br />

dt<br />

dρ<br />

dt<br />

21<br />

11<br />

dρ<br />

dt<br />

22<br />

= −iω<br />

ρ<br />

i<br />

=<br />

h<br />

i<br />

=<br />

h<br />

0<br />

21<br />

iµ<br />

+ E t<br />

h<br />

()( ρ − ρ ),<br />

11<br />

iµ<br />

h<br />

[ ρ,<br />

( H + V(t) )] = E()( t ρ − ρ ),<br />

0<br />

11<br />

iµ<br />

h<br />

[ ρ,<br />

( H + V(t) )] = E()( t ρ − ρ ).<br />

0<br />

22<br />

22<br />

21<br />

12<br />

12<br />

21<br />

(1.26)<br />

(1.27)<br />

(1.28)<br />

Subtraindo membro a membro a equação (1.28) da equação (1.27) obtemos a equação:<br />

d( ρ11<br />

− ρ<br />

dt<br />

22<br />

) 2iµ<br />

= E t<br />

h<br />

2iµ<br />

∗<br />

()( ρ − ρ ) = E()( t ρ − ρ )<br />

21<br />

12<br />

h<br />

21<br />

21<br />

, (1.29)<br />

11


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

pois, como a matriz densidade é Hermiteana,<br />

∗<br />

ρ = ρ21<br />

12<br />

. Note entretanto que as<br />

equações (1.26) e (1.29) ainda não se encontram completas. Quando o campo E(t) é<br />

desligado, esperamos que ρ 21 (t) tenda a zero à medida que a coerência de fase entre<br />

as N autofunções do conjunto de dipolos é perdida, devido à interação com o banho<br />

(“defasamento puro”), num tempo característico T 2 (tempo de relaxação de fase, ou<br />

tempo de relaxação transversal, ou tempo de decaimento da polarização). Vamos<br />

incorporar a perda de coerência de fase no formalismo da matriz densidade<br />

modificando a equação (1.26) introduzindo ad hoc um termo de relaxação:<br />

dρ<br />

dt<br />

21<br />

= −iω<br />

ρ<br />

0<br />

21<br />

iµ<br />

+ E t<br />

h<br />

ρ<br />

T<br />

iµ<br />

h<br />

1 ⎞<br />

T ⎟ ρ<br />

2 ⎠<br />

21<br />

()( ρ − ρ ) − = E()( t ρ − ρ ) − ⎜iω<br />

+ ⎟ .<br />

11<br />

22<br />

2<br />

11<br />

22<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

0<br />

21<br />

(1.30)<br />

Lembrando que ρ ii é a probabilidade de encontrar um átomo no estado i, se N<br />

for a densidade de átomos, então N(ρ 11 - ρ 22 ) = ∆N é a densidade média da diferença<br />

de população entre os níveis. No equilíbrio, quando E(t) = 0, o valor de (ρ 11 - ρ 22 ) é<br />

denotado por (ρ 11 - ρ 22 ) 0 . Assumindo que quando o campo é desligado a diferença de<br />

população ∆N relaxa em direção ao seu valor de equilíbrio N(ρ 11 - ρ 22 ) 0 num tempo T 1<br />

(tempo de relaxação de população ou tempo de relaxação longitudinal), reescrevemos<br />

a equação (1.29) como<br />

ρ<br />

d( ρ<br />

∗<br />

()( ρ − ρ )<br />

( ρ − ρ ) − ( ρ − )<br />

11<br />

− ρ22<br />

) 2iµ<br />

11 22 11<br />

ρ22<br />

= E t<br />

21 21<br />

−<br />

dt h<br />

T1<br />

0<br />

. (1.31)<br />

De (1.30), vemos que se E(t)=0, então ρ 21 (t) pode ser escrita como<br />

() t = ρ ( 0) exp[ − ( iω<br />

+ 1/ )]<br />

21 21<br />

0<br />

T2<br />

. Se ω ≈ ω 0 , introduzimos as variáveis lentamente<br />

ˆ<br />

21 21<br />

ω<br />

variáveis no tempo definidas como sendo ( t) = ρ ( t) exp( i t)<br />

() t = ρ () t exp( − i t)<br />

ρ ˆ<br />

12 12<br />

ω<br />

ρ e<br />

, o que constitui a chamada aproximação da envoltória<br />

lentamente variável, nas equações (1.30) e (1.31), e finalmente teremos as equações<br />

finais para a dinâmica da matriz densidade:<br />

dˆ ρ21<br />

dt<br />

d( ρ<br />

() t<br />

⎡<br />

= ⎢i<br />

⎣<br />

1 ⎤<br />

⎥<br />

T<br />

ρ<br />

2 ⎦<br />

iµ<br />

2h<br />

( ω − ω ) − ˆ () t + E ( ρ − ρ ) ,<br />

0<br />

21<br />

∗<br />

[ ρˆ<br />

() t − ρˆ<br />

() t ]<br />

0<br />

11<br />

22<br />

( ρ − ρ ) − ( ρ − )<br />

11<br />

− ρ22<br />

) iµ<br />

11 22 11<br />

ρ22<br />

= E0<br />

21 21<br />

−<br />

dt h<br />

T1<br />

0<br />

(1.32)<br />

. (1.33)<br />

12


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

Para podermos calcular as polarizações nas diversas ordens do campo elétrico<br />

(polarizações não lineares), devemos obter uma série perturbativa da matriz densidade,<br />

semelhante ao que foi feito para o caso da abordagem clássica. Para isto, suporemos<br />

que as forças externas ao sistema são nulas no passado remoto (t → -∞), quando o<br />

sistema se encontra em equilíbrio. Desta forma, V(-∞) = 0 e ρ(-∞) = ρ 0 . A tarefa se<br />

resume em resolver a equação (1.20) sujeita à condição de contorno ρ(-∞) = ρ 0 . Para<br />

isto, vamos expandir ρ(t) em várias ordens, que seguem as diversas potências do<br />

campo elétrico como se segue:<br />

() 1 ( 2<br />

() ( ) ) ( n<br />

t = ρ + ρ t + ρ () t + ... + )<br />

( t) .<br />

ρ (1.34)<br />

0<br />

ρ<br />

Como ρ(-∞) = ρ 0 , então no tempo t = -∞ todos os demais termos da expansão<br />

são nulos: ρ (n) (-∞) = 0, ∀ n ≠ 0. Igualando termos envolvendo a mesma potência do<br />

potencial de interação V(t) na equação de Liouville (1.20), encontramos que<br />

∂ρ0<br />

− ih = [ ρ0,H0<br />

] = 0 ,<br />

(1.35a)<br />

∂t<br />

(1)<br />

[ ρ () t ,H ] + [ ρ ,V()<br />

t ] ,<br />

(1)<br />

∂ρ<br />

− ih =<br />

0 0<br />

(1.35b)<br />

∂t<br />

(2)<br />

(1)<br />

[ ρ () t ,H ] + ρ ,V()<br />

t<br />

[ ] ,<br />

(2)<br />

∂ρ<br />

− ih =<br />

0<br />

(1.35c)<br />

∂t<br />

(n)<br />

(n−1)<br />

[ ρ () t ,H ] + ρ ,V()<br />

t<br />

[ ] .<br />

...<br />

(n)<br />

∂ρ<br />

− ih =<br />

0<br />

(1.35d)<br />

∂t<br />

Se ρ 0 for conhecida, podemos resolver o problema em primeira ordem, sujeito à<br />

condição de contorno ρ (1) (-∞) = 0 e encontrar ρ (1) (t). Assim, procedendo iterativamente,<br />

qualquer ordem perturbativa pode ser encontrada. No que se segue deduziremos uma<br />

expressão perturbativa em ordem n para os elementos diagonais e não diagonais da<br />

matriz densidade para uma situação específica, que será explorada mais adiante nesta<br />

Tese. A partir daí, calcularemos os elementos não diagonais em terceira ordem que<br />

contribuem para a geração de radiação em uma determinada direção, dada pelo<br />

casamento de fase. A quantidade encontrada é a responsável pela polarização não<br />

13


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

linear de terceira ordem que gera esta radiação. Os detalhes das passagens<br />

intermediárias do cálculo podem ser encontrados no apêndice A2b.<br />

Escrevendo a equação (1.32) para termos de mesma ordem em V(t), obtemos<br />

( n)<br />

∂ρˆ<br />

∂t<br />

21<br />

⎛<br />

+<br />

⎜i∆ω +<br />

⎝<br />

1<br />

T<br />

2<br />

⎞<br />

⎟ ρ ˆ<br />

⎠<br />

( n) ( n−1)<br />

( )<br />

21<br />

iµ<br />

r<br />

= Ê r,t<br />

h<br />

onde ∆ω=ω 0 -ω, ρ D =ρ 11 -ρ 22 e Ê( r,t<br />

r )<br />

análogo para a equação (1.33) nos fornece<br />

( n)<br />

∂ρD<br />

∂t<br />

+<br />

1<br />

T<br />

1<br />

ρ<br />

2iµ<br />

=<br />

h<br />

ρ<br />

D<br />

, (1.36)<br />

é o campo total incidente no sistema. Procedimento<br />

r<br />

r<br />

[ − Ê r,t ρˆ<br />

+ Ê r,t ρˆ<br />

] .<br />

( n) ( n−1) ∗ ( n−1)<br />

( ) ( )<br />

D<br />

A solução de (1.36) é dada por<br />

ρˆ<br />

iµ<br />

h<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

r<br />

( n )<br />

() ( ) ( n−1<br />

)<br />

21<br />

t = Ê r,t1<br />

ρD<br />

( t1) exp − ⎜i∆ω + ⎟( t − t1) dt1<br />

e a solução de (1.37) é dada por<br />

12<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

1 ⎞<br />

T ⎟<br />

2 ⎠<br />

r<br />

r<br />

⎡ 1<br />

[<br />

1 12 1<br />

1 21 1<br />

] exp − ( t − t1) dt1<br />

21<br />

⎥<br />

⎦<br />

⎤<br />

(1.37)<br />

(1.38)<br />

t<br />

( n ) 2iµ<br />

() ( ) ( n−1<br />

) ∗<br />

( ) ( ) ( n−1<br />

) ⎤<br />

ρD<br />

t = ∫ − Ê r,t ρˆ<br />

t + Ê r,t ρˆ<br />

( t ) ⎢ ⎥ .(1.39)<br />

h<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

1 ⎦<br />

Fazendo-se substituições sucessivas dos termos de diversas ordens chegamos a<br />

ρˆ<br />

3 t t1 t2<br />

( 3 ) ( 0) ⎛ µ ⎞<br />

r r<br />

∗<br />

r<br />

21<br />

() t = −2iρ<br />

D ⎜ ∫dt1<br />

∫dt<br />

2 ∫dt<br />

3<br />

{ Ê( r,t1) Ê( r,t<br />

2<br />

) Ê ( r,t<br />

3<br />

) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

r<br />

Ê r,t<br />

⎝ h<br />

⎟<br />

⎠<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

∗<br />

( ) Ê ( r,t ) Ê( r,t ) exp − i∆ω( t − t + t − t )<br />

1<br />

r<br />

2<br />

r<br />

3<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

1<br />

⎡ 1<br />

⎤<br />

[ ]} exp − ( t − t ) exp − ( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

1<br />

2<br />

3<br />

(1.40)<br />

Se o campo total incidente puder ser escrito como<br />

r<br />

( ) E ~ r r r<br />

( ) ( ) E ~ r r r<br />

r,t exp ik<br />

( r,t) exp( ik<br />

) E ~ r r r<br />

Ê r,t =<br />

1<br />

1<br />

⋅ +<br />

2<br />

2<br />

⋅ +<br />

2′ ( r,t) exp( ik<br />

2′<br />

⋅<br />

), (1.41)<br />

E ~ r<br />

1<br />

r,t for coerente e os demais incoerentes, com um deles<br />

e, além disso, o campo ( )<br />

sofrendo um atraso temporal τ em relação ao outro, considerando que<br />

( ρµ )<br />

P = N µ = NTr teremos que a polarização que gera radiação em uma direção<br />

r r r r<br />

k = k + k ′ − k é dada por<br />

s<br />

2<br />

2<br />

1<br />

T<br />

1<br />

1<br />

2<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

⎢<br />

⎣<br />

T<br />

2<br />

1<br />

+<br />

2<br />

3<br />

.<br />

14


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

3 2<br />

( 3<br />

P )<br />

( t, τ) ∝ exp[ − iω<br />

( )] ( ) ⎥ ×<br />

2<br />

t − τ ∫dt<br />

3 ∫dt<br />

2 ∫dt1<br />

exp⎢−<br />

t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1 ⎦<br />

∗<br />

{[ E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

2<br />

) + E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t<br />

2<br />

− τ)<br />

] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

+ t1) − i( ω2<br />

− ω1)<br />

t1]<br />

∗<br />

[ E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t1) + E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t1<br />

− τ)<br />

] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

+ t<br />

2<br />

− t1) − i( ω2<br />

− ω1)<br />

t<br />

2<br />

]}<br />

⎡<br />

⎤<br />

exp − ( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

⎢<br />

⎣<br />

1<br />

T<br />

2<br />

3<br />

2<br />

1<br />

t t t<br />

⎡<br />

1<br />

⎤<br />

+<br />

. (1.42)<br />

×<br />

Os efeitos de alargamento não homogêneo podem facilmente ser incorporados<br />

a este resultado e isto é feito em detalhes no apêndice A2b. A expressão final é dada<br />

pela equação (A2b.23).<br />

c) Mistura de ondas<br />

Os processos de mistura de ondas são de fundamental importância na óptica e<br />

na espectroscopia não lineares, podendo-se dizer que todas as técnicas exploram<br />

fenômenos não lineares de mistura de ondas. Em todos os casos, o que ocorre é uma<br />

interação entre os campos incidentes mediada pelo meio material não linear, através da<br />

geração de radiação pela polarização não linear nele induzida que, como vimos na<br />

seção 1.2a, é um termo de fonte na equação de Maxwell para os campos.<br />

Para a situação em que todos os campos envolvidos no processo têm a mesma<br />

freqüência reservamos o nome de mistura degenerada de ondas. A mistura de n ondas<br />

está associada a uma susceptibilidade efetiva de ordem (n-1),<br />

χ .<br />

Em meios isotrópicos, a mistura de ondas de mais baixa ordem que pode<br />

ocorrer é a mistura degenerada de quatro ondas (MDQO). Em um enfoque holográfico,<br />

a MDQO pode ser vista como a leitura de uma modulação senoidal das propriedades<br />

(n−1)<br />

ef<br />

ópticas do material, como o índice de refração n(x) n + n cos( mqx)<br />

de absorção ( x) = α + cos( mqx)<br />

0 ∑α m<br />

m<br />

= e o coeficiente<br />

0 ∑<br />

m<br />

r r r<br />

α , onde q = q = k 1<br />

− k<br />

2<br />

é o vetor de onda da<br />

grade de modulação formada, e x a posição ao longo de q r , modulação esta gerada por<br />

dois feixes de escrita, com vetores de onda k r 1<br />

e k r 2<br />

. Em óptica quântica, a MDQO é<br />

vista como a aniquilação de um fóton de cada feixe de excitação e a criação de um<br />

m<br />

15


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

fóton no feixe de sonda e no de sinal. Este processo depende da susceptibilidade de<br />

terceira ordem χ (3) do material.<br />

A geometria da MDQO é vista na figura 1.2. Quatro ondas linearmente<br />

polarizadas na direção ŷ estão presentes no meio não linear, de forma que o campo<br />

elétrico total é<br />

r 1<br />

E =<br />

2<br />

4<br />

∑<br />

i=<br />

1<br />

r r<br />

r<br />

∗<br />

r<br />

{ Ei<br />

exp[ i( ωt<br />

− k<br />

i<br />

⋅<br />

)] + Ei<br />

exp[ − i( ωt<br />

− k<br />

i<br />

⋅<br />

)]} ê y<br />

. (1.43)<br />

I 1<br />

θ/2<br />

θ/2<br />

α<br />

ẑ<br />

xˆ<br />

ŷ<br />

I 2<br />

I 4<br />

I 3<br />

Figura 1.2: Geometria utilizada na mistura de quatro ondas.<br />

Esta configuração de feixes permite a ocorrência do<br />

casamento de fase entre os feixes.<br />

Para a geração eficiente de sinal de mistura de ondas tenta-se produzir<br />

polarizações em ω que gerem feixes satisfazendo a condição de casamento de fase, de<br />

forma a aumentar o comprimento de coerência π/∆k. Com ondas de mesma freqüência<br />

óptica ω, num meio isotrópico todos os k i são iguais, e o casamento de fase é<br />

independente do índice de refração. Só temos que escolher adequadamente os<br />

ângulos de incidência de forma que uma combinação linear dos k r i<br />

seja zero e também<br />

que a conservação de energia seja respeitada. A equação pode ser escrita como<br />

r r r r r<br />

k − k + k − k = 0<br />

(1.44)<br />

( ) ,<br />

m<br />

1 2 3 4<br />

onde m é a ordem da difração de Bragg (m = 1 para a MDQO, onde o feixe de leitura<br />

prova o primeiro termo da série de Fourier que descreve a grade [Ei86]). Esta condição<br />

é visualizada na figura 1.3 para os casos da MDQO e da mistura degenerada de seis<br />

ondas (MDSO).<br />

Na notação usual para MDQO os feixes 1, 2, 3 e 4 são, respectivamente, os<br />

bombeamentos para frente e para trás, o feixe de prova e o feixe de sinal. Notemos<br />

também que é possível descrever a geometria invertendo k r 3<br />

e k r 1<br />

. A polarização não<br />

16


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

linear com vetor de onda k r 4<br />

, responsável pela geração do campo de sinal, nesta<br />

direção, pode ser expressa como<br />

r 1 ( ) m<br />

r r r<br />

2m+ 1 m *<br />

r<br />

( ω,k<br />

) = ε [ χ E E E exp{ i[ ωt<br />

− [ m( k − k ) + k ] ⋅<br />

]}<br />

P<br />

4<br />

0<br />

1 2 3<br />

1 2 3<br />

2m<br />

2<br />

c.c. + termos de mais altas ordens]<br />

+<br />

,<br />

(1.45),<br />

onde ε 0 é a permissividade do vácuo, c.c. denota o complexo conjugado e χ (2m+1) =<br />

χ (2m+1) (-ω;mω,-mω,ω). Esta fonte pode ser vista como resultado da aniquilação de,<br />

respectivamente, m e 1 fótons dos feixes 1 e 3 e a criação de m e 1 fótons nos feixes 2<br />

e 4. A denominação de mistura de n ondas [n = 2(m+1)] segue desta interpretação até<br />

mesmo se mais de 4 feixes estão presentes no material. Notemos também que, exceto<br />

para a MDQO, k r 1<br />

e k r<br />

3<br />

não são contrapropagantes, e portanto a conjugação de fase<br />

não pode ser obtida.<br />

− k r 4<br />

k r<br />

3<br />

k r 1<br />

− k r 2<br />

− k r 4<br />

− k r 2<br />

k r 3<br />

− k r<br />

2<br />

k r 1<br />

k r 1<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 1.3: Diagrama de casamento de fase para: (a)<br />

MDQO, m = 1; (b) MDSO, m = 2.<br />

As aplicações da mistura de n ondas na configuração com casamento de fase<br />

são muitas. O primeiro trabalho que explorou esta técnica, possibilitando discriminar<br />

angularmente as contribuições de susceptibilidades de várias ordens, foi o de Raj et al.<br />

[Ra84], em que é chamada a atenção para a supressão de efeitos em cascata para a<br />

medida de não linearidades de mais altas ordens devido à geometria utilizada,<br />

permitindo o estudo de amostras espessas (regime de Bragg), no caso uma célula<br />

contendo neônio. Estes efeitos em cascata, via susceptibilidade óptica de terceira<br />

ordem, foram teoricamente investigados por Ma et al. [Ma93b], que sugerem<br />

procedimentos para evitar tais efeitos em experimentos de mistura de n ondas. Em<br />

gases moleculares esta técnica foi utilizada pela primeira vez por Tabosa et al. [Ta88]<br />

usando lasers de CO 2 em amostras de SF 6 . Alternativamente, uma técnica de<br />

17


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

modulação para medida de χ (5) foi apresentada em [Sc95]. A condição de casamento<br />

de fase foi obtida para situações de mistura degenerada de quatro, seis, oito e dez<br />

ondas, variando-se o ângulo de incidência do feixe k r<br />

3<br />

entre 5 e 20 mrad. Este ângulo é<br />

crítico, e um desvio de 1 mrad é suficiente para extinguir o sinal de MDO. Em outro<br />

experimento, Blouin et al. [Bl89] aplicaram a técnica de MDSO para analisar a<br />

dependência do sinal gerado com a intensidade de cada feixe e a seletividade angular<br />

da grade numa amostra de um vidro comercial dopado com semicondutor (VDS) de<br />

espessura igual a 2,5 mm e com feixes de escrita formando um ângulo de 8°. As<br />

previsões teóricas foram confirmadas experimentalmente. Em trabalho posterior [Bl91],<br />

este mesmo grupo avalia teoricamente a mistura degenerada de n ondas (n = 1 – 3) em<br />

um absorvedor saturável usando os modelos holográfico e não linear simultaneamente,<br />

aplicando-os aos regimes transiente e estacionário, demonstrando experimentalmente a<br />

concordância entre ambos.<br />

Aplicando-se a MDO também foi possível medir as susceptibilidades ópticas<br />

não lineares até χ (11) em VDS de Cd(S x Se 1-x ) [Ac88]. Os módulos das susceptibilidades<br />

eram obtidos medindo-se a eficiência de difração da grade gerada. Em [Ac89a], Acioli<br />

et al. demonstraram a conversão de imagem do infravermelho para o visível usando a<br />

não linearidade refrativa de um VDS com um tempo de resposta menor do que 20 ps<br />

(devido a processos eletrônicos) através da mistura não degenerada de 4 ondas,<br />

sugerindo que este tipo de material poderia ser usado em um processador rápido de<br />

imagem com conversão de cor.<br />

A mistura não degenerada de ondas e o casamento de fase foram explorados<br />

em [Ma93] através do fenômeno de batimento de polarizações. Com esta técnica, uma<br />

modulação de intensidade do sinal difratado em uma dada direção, devido a ondas<br />

geradas por uma polarização de terceira ordem e outra de quinta ordem em um VDS, é<br />

verificada ao se variarem as fases de 2 campos participantes da mistura simultânea de<br />

4 e 6 ondas através de uma linha de atraso, permitindo através deste procedimento<br />

medir a fase relativa entre as duas polarizações não lineares induzidas no material. O<br />

fenômeno de batimento de polarização foi ainda usado para determinar a dispersão de<br />

fase de χ (3) próximo a uma transição Raman, especificamente o modo em 656 cm -1 do<br />

18


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

CS 2 [Ma92a]. Nesta variante da técnica, somente polarizações de terceira ordem são<br />

excitadas e feixes bicromáticos são utilizados. A medida da fase de χ (3) foi feita<br />

registrando-se os sinais de MQO em duas direções distintas simultaneamente.<br />

Uma outra geometria é utilizada quando fazemos mistura de ondas “para<br />

frente”, e seu diagrama é mostrado na figura 1.4. Nesta configuração, dois feixes com<br />

vetores de onda k r 1<br />

e k r<br />

2<br />

são usados e incidem na amostra formando um pequeno<br />

ângulo ϕ entre si, da ordem de dezenas de mrad. A terminologia “degenerada” em<br />

mistura de ondas “para frente” também é utilizada quando os campos misturados<br />

possuem a mesma freqüência óptica.<br />

k r k r 10<br />

k r 8<br />

6<br />

k r k r 5<br />

9 7<br />

k r α α α<br />

1<br />

4<br />

α<br />

ϕ<br />

k r α<br />

α α α<br />

2<br />

k r<br />

k r k r<br />

3<br />

Figura 1.4: Diagrama de vetores de onda num processo de<br />

mistura de ondas “para frente”, ou autodifração.<br />

Para este tipo de configuração de feixes, a mistura de ondas também é<br />

chamada de autodifração. Os feixes de excitação k r 1<br />

e k r<br />

2<br />

formam uma grade, cujos<br />

diversos tipos serão analisados na seção 1.3. Em geral, os lasers utilizados neste tipo<br />

de experimento emitem pulsos de duração de ~10 ns, o que significa dizer pulsos de<br />

comprimentos de ~3 m. Assim, ao incidirem na amostra não linear, as partes dianteiras<br />

de k r 1<br />

e k r<br />

2<br />

formam uma grade transiente, que persiste até um tempo característico<br />

após o final do pulso. Formada a grade, ela acaba por difratar as partes central e<br />

traseira dos mesmos pulsos. Desta forma, o termo “autodifração” torna-se evidente. As<br />

ondas difratadas em n-ésima ordem correspondem a um processo de mistura de 2n+2<br />

r<br />

r r r<br />

r r<br />

ondas, gerando sinais nas direções k<br />

2n+ 1<br />

= ( n + 1) k1<br />

− nk<br />

2<br />

e k<br />

2n+ 2<br />

= ( n + 1) k<br />

2<br />

− nk1<br />

, que<br />

são relacionadas à susceptibilidade efetiva de (2n+1)-ésima ordem,<br />

χ<br />

(2n+<br />

1)<br />

ef<br />

. Esta<br />

susceptibilidade efetiva pode ter contribuições do processo direto de (2n+1)-ésima<br />

19


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

ordem e dos processos em cascata oriundos da interação entre os campos<br />

fundamentais e os campos gerados via processos de mais baixas ordens [Ac90],<br />

[Ac88]. Estas duas contribuições têm mesmos vetores de onda e dependências com as<br />

intensidades dos feixes de excitação. A separação das duas contribuições é difícil, mas<br />

pode ser feita de forma quase total usando-se de artifícios geométricos [Wu92].<br />

Na configuração de autodifração não é possível encontrar a situação de perfeito<br />

r r<br />

r r<br />

casamento de fase, ∆ k = 0 . O que sempre se obtém é algo do tipo ∆ k ≠ 0 . Por isto, a<br />

mistura de ondas realizada utilizando-se esta configuração é chamada de “quasecasada<br />

de fase”. O processo está ilustrado na figura 1.5 para a autodifração<br />

r<br />

degenerada nas várias direções k<br />

2n + 1<br />

.<br />

3α<br />

Figura 1.5: Diagrama de vetores de onda<br />

k r k r k r<br />

1<br />

1<br />

2α<br />

da mistura degenerada de ondas para<br />

k r<br />

1<br />

frente, ou autodifração. O casamento de<br />

α 7<br />

k r k r 5<br />

fase é progressivamente pior à medida<br />

ϕ k r 1<br />

3<br />

que a ordem de difração n aumenta.<br />

k r k r k r<br />

2<br />

2<br />

2<br />

Para um ângulo ϕ suficientemente pequeno, a condição de casamento de fase<br />

r r<br />

é quase atingida (a impossibilidade de termos ∆ k = 0 é justificada pela desigualdade do<br />

triângulo) e α ≅ ϕ. Devido a isto, um espalhamento deste tipo é dito ocorrer no regime<br />

Raman-Nath, ou de grade delgada, conforme veremos adiante.<br />

A autodifração encontra muitas aplicações na espectroscopia não linear e é<br />

reconhecida como técnica simples de ser implementada e prática em seu uso. Usandose<br />

esta técnica é possível, por exemplo, medir os módulos das susceptibilidades não<br />

lineares efetivas através da eficiência de autodifração da grade formada utilizando uma<br />

relação simples [Ac88]. Koudoumas et al. [Ko97] verificaram emissões até 15 a ordem<br />

(mistura de 16 ondas) em soluções de C 60 e C 70 em tolueno, medindo as razões<br />

( 2n+<br />

3) ( 2n+<br />

1)<br />

χ χ para ambas as substâncias. Em [Ma93d], os autores descrevem uma<br />

ef<br />

ef<br />

chave totalmente óptica controlada por potência baseada na modulação dos feixes<br />

autodifratados por um terceiro feixe de controle que modifica a grade de terceira ordem<br />

20


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

excitada no meio não linear, uma amostra de VDS. Numa aplicação metrológica, foi<br />

proposto o uso de fenômeno de batimento de polarização em uma configuração de<br />

autodifração com feixes bicromáticos para medida de comprimentos ópticos [Ma92b]. A<br />

justificativa para a implementação da técnica é que a interferometria Michelson, com<br />

resolução nanométrica, é precisa demais para a medida de comprimentos<br />

micrométricos. Assim, uma escala de medida mais adequada foi proposta. Em<br />

aplicações de interesse mais fundamental, mediu-se, usando a mesma técnica, a fase<br />

das susceptibilidades ópticas de 5 a ordem em VDS [Ma93c]. Posteriormente, o mesmo<br />

grupo usou a técnica para medir a dispersão de fase de susceptibilidades ópticas não<br />

lineares de 3 a e 5 a ordens em VDS [Ma91], [Ar93].<br />

1.3 – Grades formadas por laser<br />

a) Introdução<br />

Na região de interferência entre duas ondas luminosas dentro de um dado<br />

material, o índice de refração e o coeficiente de absorção são espacialmente<br />

modulados, formando grades de índice e de população, respectivamente. Estas grades<br />

podem ser permanentes, como é o caso daquela que se forma quando se produz um<br />

holograma. Entretanto, as grades que nos interessarão nesta Tese são as transientes,<br />

que desaparecem após algum tempo decorrido a partir do final da incidência da<br />

radiação de excitação, usualmente representada por um laser. Estas grades são<br />

comumente produzidas em sólidos [Ac90a], líquidos [Ko00] ou gases [Ta99], e suas<br />

evoluções temporais são geralmente acompanhadas utilizando-se a técnica de<br />

autodifração dos feixes laser incidentes na amostra ou por difração de um feixe de<br />

sonda pela grade formada por outros dois feixes, os de excitação.<br />

Particularmente, os lasers se mostram bastante adequados como fonte de<br />

radiação para a geração de grades, na medida em que apresentam propriedades<br />

interessantes para a formação de padrões de interferência, tais como a coerência<br />

espacial, intensidade suficiente e coerência temporal, embora esta última não seja<br />

sempre necessária, como veremos mais adiante nesta Tese. Além do mais, a<br />

21


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

variedade disponível de lasers operando em diversos comprimentos de onda permite<br />

explorar de forma bastante completa a maneira através da qual a matéria responde aos<br />

campos de excitação.<br />

Para a criação de uma grade, dois feixes gêmeos, obtidos através da divisão de<br />

um feixe originado em uma única cavidade laser, são postos a interferir em uma região<br />

do espaço, ocupada pela amostra. A incidência destes feixes gêmeos ocorre em<br />

pequenos ângulos, que podem variar tipicamente entre 0,5° e 10°. O ideal é que se<br />

utilizem modos TEM 00 [Ya88] do laser de excitação, pois são aqueles que dão origem a<br />

grades planas quando postos a interferir. Assim, a interferência produz uma<br />

intensidade de luz espacialmente periódica ou uma distribuição de polarização também<br />

periódica que muda as propriedades ópticas do material que se encontra na região de<br />

interação. Genericamente, a modulação espacial do índice de refração complexo<br />

(índice de refração e coeficiente de absorção) produz um efeito semelhante a uma<br />

grade de difração por transmissão.<br />

Uma mudança no índice de refração complexo induzida por laser em um<br />

material está sempre associada a um tipo de excitação, quer dizer, um deslocamento<br />

do equilíbrio térmico. Por exemplo, a absorção de luz visível popula níveis eletrônicos<br />

excitados. Portanto, dentro da região de interação cria-se uma grade de população no<br />

material. Durante o decaimento destas excitações eletrônicas, vários níveis eletrônicos,<br />

vibracionais etc... podem ser populados, gerando grades secundárias [Be98], [Ca99].<br />

Um exemplo notável é o caso das grades de carga, que aparecem como resultado da<br />

excitação de materiais fotorefrativos por lasers. Neste caso, o que ocorre basicamente<br />

é que, quando um laser com um determinado comprimento de onda incide num material<br />

deste tipo, como o niobato de lítio (LiNbO 3 ) ou o titanato de bário (BaTiO 3 ), fotoelétrons<br />

são gerados e migram pela rede, sendo eventualmente armadilhados em defeitos. A<br />

distribuição espacial de cargas origina uma distribuição espacial de campo elétrico<br />

dentro do material, que sofre alterações em seu índice de refração devido ao efeito<br />

eletro-óptico. Finalmente, as excitações termalizam e ocorre a formação de grades<br />

térmicas, que estão relacionadas a variações de densidade e pressão, que se<br />

manifestam em última instância como variações no índice de refração.<br />

22


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

Nesta Tese, estaremos lidando com as chamadas grades quase-estacionárias,<br />

que são aquelas em que seus máximos e mínimos não oscilam nem se propagam, isto<br />

é, quando os feixes de excitação são desligados, a amplitude destas grades decai<br />

monotonicamente. Entretanto, alguns mecanismos responsáveis pela formação de<br />

grades envolvem rápidas oscilações de amplitude, geralmente relacionadas a algum<br />

tipo de propagação da grade. Por exemplo, mudanças de densidade criam ondas<br />

acústicas, regiões de maiores e menores densidades do que aquela de equilíbrio. Neste<br />

caso, o que se observam são os fônons acústicos, relacionados com o espalhamento<br />

Brillouin. No entanto, também pode haver a excitação de grades de amplitude de<br />

vibração molecular, correspondentes a fônons ópticos, que têm relação com o<br />

espalhamento Raman. Estes espalhamentos se caracterizam pelo deslocamento da<br />

freqüência do feixe espalhado em relação ao feixe de prova incidente.<br />

As aplicações das grades induzidas por laser são muitas, e em sua maioria são<br />

baseadas na mistura de quatro ondas. A configuração espacial de feixes a ser utilizada<br />

depende da aplicação a que se destina. Por exemplo, no caso da conjugação de fase<br />

óptica (mistura degenerada de quatro ondas), dois feixes de bombeamento k r b1<br />

e k r b2<br />

propagam-se de forma antiparalela e são misturados num meio não linear com um<br />

terceiro feixe k r<br />

s<br />

(sonda), que se propaga em uma outra direção, conforme pode ser<br />

visto na figura 1.6. Todos os feixes possuem a mesma freqüência óptica. O processo<br />

de geração da quarta onda pode ser entendido como a difração do segundo feixe de<br />

bombeamento na grade formada pelo primeiro feixe de bombeamento e o feixe de<br />

sonda. A quarta onda (difratada) propaga-se então antiparalelamente ao feixe de sonda<br />

com vetor de onda k r<br />

cf<br />

, retraçando o caminho do feixe de prova, como conseqüência da<br />

condição de casamento de fase. Qualquer aberração de fase que possa ter ocorrido no<br />

feixe de sonda é cancelada na onda difratada caso ela passe novamente pela fonte de<br />

aberração.<br />

Diversas aplicações de mistura de quatro ondas já foram demonstradas. Além<br />

da conjugação de fase óptica [Ta97], a conversão de imagens do infravermelho para o<br />

visível com tempos de resposta rápidos [Ac89a] são exemplos.<br />

23


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

k r b1<br />

k r b2<br />

k r<br />

s<br />

k r cf<br />

Figura 1.6: Arranjo de feixes para a observação da<br />

conjugação de fase óptica.<br />

b) Formação de grades<br />

Grades são produzidas interferindo-se feixes provenientes de lasers.<br />

Considerando-se os feixes de laser no modo TEM 00 , podemos descrevê-los como:<br />

onde ( )<br />

r 1 r r r<br />

( r,t) = E exp[ i( k.r − ωt)<br />

] c.c. ,<br />

r<br />

E<br />

0<br />

+<br />

2<br />

r<br />

E r,t<br />

r é o vetor de campo elétrico local, E r<br />

0<br />

(1.46)<br />

é a amplitude do campo elétrico, k r é o<br />

vetor de onda e ω = 2πν é a freqüência angular de oscilação do campo. O modo TEM 00<br />

possui uma distribuição de amplitude Gaussiana com simetria de rotação azimutal:<br />

r r<br />

2 2<br />

E ρ = E′<br />

exp − / w<br />

(1.47)<br />

( ) ( ) ,<br />

0 0<br />

ρ<br />

onde ρ é a coordenada cilíndrica radial e w é o raio da cintura do feixe. Nas unidades<br />

SI, a intensidade I de um feixe num ponto r r e num tempo t é dada por<br />

r 1 r 2<br />

I( r,t) = ε0cnE0<br />

,<br />

(1.48)<br />

2<br />

onde c é a velocidade da luz no vácuo, ε 0 é a permissividade do vácuo e n é o índice de<br />

refração do material. A distribuição de intensidade tem a forma<br />

2 2<br />

( ) = I exp( − 2 / w ) .<br />

I ρ (1.49)<br />

0<br />

ρ<br />

Em ρ = w, o campo elétrico tem seu valer reduzido a 1/e (~37% de seu valor em ρ = 0),<br />

enquanto que a intensidade tem seu valor reduzido a 1/e 2 (~14% de I 0 ). A potência<br />

total de um feixe TEM 00 é<br />

∞<br />

1<br />

Pt<br />

= 2π∫I<br />

0<br />

2<br />

0<br />

2<br />

( ρ) ρdρ = πw<br />

I .<br />

(1.50)<br />

24


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

Aproximadamente 90% desta potência estão contidos numa área de raio igual à cintura<br />

do feixe w.<br />

Como o diâmetro de um feixe de laser muda conforme este se propaga, exceto<br />

no plano focal de uma lente as ondas não são perfeitamente planas e a cintura do feixe<br />

é uma função da distância percorrida. Como a divergência é inversamente proporcional<br />

ao diâmetro do feixe, uma cintura do feixe suficientemente grande (w >> λ) é necessária<br />

para observarmos o comportamento típico de ondas planas.<br />

c) Grades de interferência<br />

A interferência entre dois feixes de polarizações paralelas produz um campo<br />

espacialmente modulado em intensidade, chamado de grade de interferência.<br />

Entretanto, a excitação de grades também pode se dar pela interferência entre campos<br />

com polarizações arbitrárias. Isto leva à formação de uma grade de interferência com<br />

uma amplitude descrita por um tensor.<br />

Pode-se criar uma grade de interferência como se vê na figura 1.7. O feixe de<br />

um laser de excitação é dividido em dois feixes com vetores de onda k r 1<br />

e k r 2<br />

, com<br />

amplitudes de campo elétrico E r 1<br />

e E r<br />

2<br />

e intensidades I 1 e I 2 . Os dois feixes se cruzam<br />

na amostra formando um ângulo θ, criando um padrão de interferência com um vetor de<br />

grade dado por<br />

r r r<br />

q = ± ( k 1<br />

− k 2<br />

). (1.51)<br />

O período espacial é dado por Λ = 2π/q, onde q = q r . Λ pode ser expresso em<br />

termos do comprimento de onda do laser de excitação λ e do ângulo de cruzamento θ,<br />

como pode ser facilmente deduzido com o auxílio da figura 1.8(a):<br />

Λ = λ/2sen(θ/2) . (1.52)<br />

Para ângulos θ pequenos, sen(θ/2) ≈ θ/2 e temos<br />

Λ = λ/θ . (1.53)<br />

25


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

λ<br />

x<br />

θ<br />

Λ<br />

k r 1<br />

k r I (x)<br />

2<br />

Figura 1.7: Representação esquemática da formação de<br />

uma grade pela interferência de dois feixes. À direita podese<br />

ver a distribuição transversal de intensidade.<br />

λ<br />

θ / 2<br />

θ<br />

x<br />

Λ<br />

( a)<br />

x<br />

y<br />

k r<br />

1<br />

θ<br />

k r<br />

2<br />

q r<br />

z<br />

(b)<br />

Figura 1.8: Construção geométrica para visualização da<br />

relação entre Λ e θ (a); Definição do sistema de<br />

coordenadas Cartesianas usado na descrição da grade (b).<br />

Variando-se o ângulo θ de interseção entre os feixes pode-se mudar o período<br />

Λ da grade formada. O valor máximo de Λ é limitado pelo diâmetro dos feixes de laser<br />

que incidem na amostra, enquanto que o menor valor é alcançado quando os feixes de<br />

excitação são antiparalelos, sendo igual a Λ = λ/2. Para um laser de excitação no<br />

visível, Λ pode ter valores entre 100 nm e 1 µm. Na maior parte dos trabalhos<br />

desenvolvidos nesta Tese, o valor de Λ ficou em torno de 15 µm.<br />

Conforme mostrado na figura 1.8(b), definimos os eixos cartesianos x e z no<br />

plano formado pelos vetores k r 1<br />

e k r<br />

2<br />

e o eixo y aponta para fora do plano da figura.<br />

26


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

Assim, o eixo x é paralelo a q r e o eixo z quase coincide com k r 1<br />

e k r<br />

2<br />

para pequenos<br />

ângulos θ. Desta forma, podemos escrever<br />

r<br />

k1 = k<br />

zẑ<br />

+ k<br />

xxˆ<br />

,<br />

r<br />

k<br />

2<br />

= k<br />

zẑ<br />

− k<br />

xxˆ<br />

,<br />

r<br />

q = ± qxˆ = ± 2k xˆ .<br />

x<br />

(1.54a)<br />

(1.54b)<br />

(1.55)<br />

A distribuição de amplitude do campo elétrico na região de interferência é<br />

r r<br />

r<br />

E0 = E01<br />

exp( ik<br />

xx) + E02<br />

exp( − ik<br />

xx) .<br />

(1.56)<br />

r<br />

O campo total E( r r,t)<br />

é dado por<br />

r<br />

r r E0<br />

E( r,t) = exp[ i( k<br />

zz<br />

− ωt)<br />

] + c.c. .<br />

(1.57)<br />

2<br />

A distribuição de intensidade é obtida substituindo-se as equações (1.56) e<br />

(1.57) na equação (1.48):<br />

nc r r nc<br />

2 2<br />

I E E<br />

⎡<br />

r r r r<br />

∗<br />

∗<br />

= ε0 0<br />

⋅<br />

0<br />

= ε0<br />

E01<br />

+ E02<br />

+ 2E<br />

01.E<br />

02<br />

cos(2k<br />

xx)<br />

⎤<br />

= I1<br />

+ I2<br />

+ 2∆Icos(2k<br />

xx)<br />

, (1.58)<br />

2<br />

2 ⎢⎣<br />

⎥⎦<br />

nc r r<br />

∗<br />

com ∆I<br />

= ε0E01<br />

⋅E02<br />

, sendo ∆I a amplitude de modulação. É este o parâmetro<br />

2<br />

importante para caracterizar a amplitude de uma grade na situação onde as<br />

polarizações dos campos são paralelas. Entretanto, grades também podem ser<br />

induzidas se r<br />

⊥ E<br />

r<br />

( ∆I<br />

0)<br />

, como no caso de uma interação anisotrópica. Neste<br />

E01 02<br />

=<br />

caso, define-se o tensor de interferência [Ei86] ∆ M como<br />

nc<br />

*<br />

∆ Mij = ε 0<br />

E01,iE<br />

02,j<br />

,<br />

(1.59)<br />

2<br />

e ∆I é definida como sendo o valor absoluto do traço de<br />

∆ M .<br />

d) Superposição de feixes com polarizações diferentes<br />

As grades formadas por laser têm características ópticas e dinâmicas diferentes<br />

a depender da configuração das polarizações dos campos que as geram.<br />

Analisaremos nesta seção quatro casos:<br />

27


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

r r<br />

i) Polarização s: //E // ŷ<br />

E01<br />

02<br />

(figura 1.9a): é a configuração mais<br />

freqüentemente usada nesta Tese.<br />

∆ M pode ser escrito como:<br />

⎛0<br />

0 0⎞<br />

⎜ ⎟<br />

∆ M = ⎜0<br />

∆I<br />

0⎟<br />

,<br />

(1.60)<br />

⎜0<br />

0 0⎟<br />

⎝ ⎠<br />

com ∆ I = I 1<br />

I2<br />

. Se I 1 = I 2 , então I = I 1<br />

∆ e I 2I [ 1 cos(<br />

qx)<br />

]<br />

1<br />

+<br />

= . (1.61)<br />

Assim, a intensidade é totalmente modulada, variando entre 0 e 4I 1 .<br />

r r<br />

r r<br />

ii) Polarização p: E01,E02<br />

⊥ ŷ (figura 1.9b): neste caso, E01 e E02<br />

estão no plano<br />

xz com E 01x , E 02x , E 02z ≥ 0 e E 01z < 0. O tensor de interferência assume a forma<br />

∆M<br />

=<br />

c<br />

2<br />

⎛E<br />

⎜<br />

ε0<br />

⎜<br />

⎜<br />

⎝<br />

E<br />

01x<br />

01x<br />

E<br />

0<br />

E<br />

∗<br />

02x<br />

∗<br />

02z<br />

0<br />

0<br />

0<br />

E<br />

E<br />

01z<br />

01z<br />

E<br />

0<br />

E<br />

∗<br />

02x<br />

∗<br />

02z<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎟<br />

⎟<br />

⎠<br />

.<br />

(1.62)<br />

E r 2<br />

E r<br />

2<br />

E r E r<br />

1<br />

1<br />

(a) x<br />

θ<br />

(b)<br />

y<br />

z<br />

r<br />

−<br />

E 2<br />

,σ<br />

E r 2<br />

E r<br />

1<br />

(c)<br />

r<br />

+<br />

E 1<br />

,σ<br />

(d)<br />

Figura 1.9: Os quatro arranjos de polarização dos feixes de<br />

excitação discutidos nos ítens i – iv (a)-(d). Ao centro, a<br />

definição dos eixos coordenados.<br />

(1.62):<br />

A modulação em intensidade é obtida tomando-se o traço da matriz da equação<br />

28


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

c<br />

∗<br />

∗<br />

∆ I = ε0<br />

E01xE<br />

02x<br />

+ E01zE<br />

02z<br />

.<br />

(1.63)<br />

2<br />

Devemos notar que o segundo termo em (1.63) é negativo. Isto significa que,<br />

dependendo da fase relativa ϕ 12 = qx entre os campos ao longo do eixo x, a<br />

superposição de E r 01<br />

e E r<br />

02<br />

resulta em uma polarização que varia entre linear e elíptica.<br />

A modulação de intensidade ∆I desaparece completamente em θ = 90°, pois neste caso<br />

E r 01<br />

é perpendicular a E r 02<br />

. Se | E r 01| = | E r<br />

02<br />

|, a polarização do campo de interferência<br />

aponta na direção do eixo x se ϕ 12 = 0, torna-se circular se ϕ 12 = π/2 e volta a ser linear,<br />

na direção do eixo z, quando ϕ 12 = π.<br />

iii) Polarizações cruzadas: E r r<br />

01// ŷ , E 02<br />

⊥ ŷ (figura 1.9c): neste caso, os campos<br />

elétricos dos feixes de excitação são perpendiculares entre si para qualquer valor de θ.<br />

O tensor de interferência é<br />

∆M<br />

=<br />

c<br />

2<br />

⎛<br />

⎜<br />

ε0<br />

⎜E<br />

⎜<br />

⎝<br />

01y<br />

0<br />

E<br />

0<br />

∗<br />

02x<br />

0<br />

0<br />

0<br />

E<br />

01y<br />

0<br />

E<br />

0<br />

∗<br />

02z<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎟ .<br />

⎟<br />

⎠<br />

(1.64)<br />

Neste caso, ∆I = 0 e não existe modulação em intensidade. A polarização sofre<br />

mudanças periódicas como no caso anterior, como pode ser visto na figura 1.10. É a<br />

configuração mais interessante para se estudar meios anisotrópicos [Va82].<br />

iv) Polarizações circulares opostas com | E r 01| = | E r<br />

02<br />

| (figura 1.9d): neste caso,<br />

os campos podem ser escritos como:<br />

r<br />

E01<br />

= cos( θ / 2) xˆ + iŷ − sen( θ / 2)<br />

ẑ<br />

r<br />

E = cos θ / 2 xˆ − iŷ + sen θ / 2 ẑ<br />

02<br />

[ ] E01<br />

/ 2<br />

r<br />

[ ( ) ( ) ] E / 2<br />

O tensor de interferência é dado pela expressão<br />

c<br />

∆M<br />

=<br />

4<br />

ε<br />

0<br />

r<br />

E<br />

01<br />

2<br />

⎛cos<br />

⎜<br />

⎜ icos<br />

⎜<br />

⎝<br />

− sen<br />

r<br />

01<br />

( θ / 2) icos( θ / 2)<br />

senθ<br />

/ 2 ⎞<br />

( θ / 2) −1<br />

isen( θ / 2)<br />

2<br />

θ / 2 − isen( θ / 2) − sen ( θ / 2) ⎟⎟⎟ ⎠<br />

. (1.65)<br />

. (1.66)<br />

29


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

•<br />

•<br />

• • •<br />

x<br />

(a)<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

(b)<br />

•<br />

• •<br />

•<br />

•<br />

(c)<br />

•<br />

•<br />

(d) • • • • •<br />

Figura 1.10: Esquema para a formação de uma grade de<br />

dicroísmo induzido. Polarização de um dos feixes de<br />

excitação em função da coordenada transversal (a);<br />

Polarização do segundo feixe de excitação (b); Polarização<br />

do campo total (c); Direção e magnitude do dicroísmo<br />

induzido (d).<br />

A intensidade de modulação é<br />

c r 2<br />

2<br />

∆I<br />

= ε 0<br />

E01<br />

sen θ .<br />

(1.67)<br />

2<br />

Note que ∆I é muito pequena se θ → 0, enquanto que a polarização tende a ser linear e<br />

a girar com o período da grade Λ ao longo do eixo x. É a configuração indicada para o<br />

estudo de meios opticamente ativos.<br />

e) Efeitos de tamanho finito dos feixes de excitação<br />

A seção reta finita dos feixes de excitação limita a extensão da região de<br />

interferência. Assim, as amplitudes dos campos elétricos nas equações (1.55) a (1.59)<br />

são funções lentamente variáveis de x, y e z além da modulação transversal à amostra,<br />

na direção x. Sob estas condições, foram calculados os comportamentos das funções<br />

que descrevem um feixe TEM 00 [Br74]. O resultado é visto na figura 1.11, em que a<br />

região de interferência é mostrada para o caso de intensidades dos feixes de excitação<br />

iguais e diferentes. A relevância deste efeito pode ser avaliada através da relação<br />

Φ × α ≤ L c<br />

, onde Φ é o diâmetro dos feixes de excitação, α o ângulo formado entre eles<br />

e L c é o comprimento de coerência. Em nossos experimentos, tipicamente tivemos<br />

Φ × α = 130 µm × 50 mrad = 6,5 µm, menor do que L c ≈ 30 µm (para um t c ≈ 100 fs).<br />

30


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

A interferência entre dois feixes TEM 00 tende a uma grade plana ideal se três<br />

condições são simultaneamente satisfeitas: a) a largura mínima da região de interação<br />

deve ser grande comparada com o período da grade, ou seja, qw >> 1; b) O<br />

comprimento de superposição z 0 dos dois feixes na direção z deve ser grande<br />

comparado com a espessura d da amostra, ou seja, z 0 >> d; c) A atenuação dos feixes<br />

de excitação deve ser desprezível dentro da amostra, isto é, αd


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

No que se refere a estas condições, entretanto, verifica-se que os resultados<br />

permanecem quantitativamente corretos ainda que uma ou mais destas condições não<br />

sejam bem satisfeitas. Para as condições gerais dos experimentos desta Tese, tivemos<br />

λ ≈ 580 nm, θ ≈ 50 mrad, o que dá Λ ≈ 10 µm, que é menor do que o raio da região de<br />

focalização dos feixes de excitação nas amostras, estimado em torno de 65 µm. Além<br />

disto, o comprimento de superposição z 0 dos feixes de excitação é estimado em torno<br />

de 1,8 mm, fazendo-se z 0 × θ/2 = 2w, que é 80% maior do que a espessura d das<br />

amostras, igual a 1 mm. A condição (c) não é muito bem satisfeita, pois na maior parte<br />

dos casos tivemos A = αd ≈ 1,5. Entretanto, isto não constitui fator problemático, pois,<br />

além do fato já mencionado de que não há necessidade estrita de satisfazer ipsis literis<br />

as condições de planaridade da grade citadas, as potências utilizadas na maior parte<br />

dos experimentos foi tal que era possível observar efeitos de saturação na absorção da<br />

amostra.<br />

f) Grades de amplitude e de fase<br />

Os mecanismos que descrevem as mudanças induzidas por luz nas<br />

propriedades ópticas de um sistema são freqüentemente descritos em duas etapas: na<br />

primeira, a luz produz alguma excitação no material e na segunda esta excitação causa<br />

uma mudança nas propriedades ópticas. Assim, como casos mais simples, a absorção<br />

e a refração do material são modificadas resultando em grades de amplitude e de fase,<br />

respectivamente.<br />

Quando um material é colocado na região de interação de duas ondas, a<br />

interação luz-matéria (por exemplo, absorção de luz) cria uma modulação espacial<br />

(uma grade) de alguma propriedade do material, como por exemplo a população em um<br />

estado eletrônico excitado, a orientação molecular, a densidade ou a temperatura. Isto<br />

representa uma situação fora do equilíbrio. Em geral, o processo de termalização<br />

requer transporte de calor e de matéria, o que geralmente ocorre por difusão. A<br />

dependência da excitação do material com a intensidade do campo incidente é função<br />

da dinâmica do material, e sua relaxação é freqüentemente descrita por equações do<br />

tipo da de transporte de calor. Sob condições estacionárias, a amplitude da excitação<br />

32


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

do material ∆A é proporcional à amplitude de modulação de intensidade ∆I. No caso<br />

mais simples,<br />

∆A = g(λ)∆I(λ) , (1.68)<br />

onde g(λ) é uma constante de acoplamento que depende do material e do comprimento<br />

de onda dos feixes de excitação, λ.<br />

Dependendo do tipo de excitação, ∆A pode ser um escalar (como temperatura),<br />

um vetor (como campo elétrico) ou um tensor (como distribuição orientacional de<br />

moléculas excitadas). Assim, é conveniente reescrever a equação (1.68) numa forma<br />

tensorial, mais geral, utilizando o conceito previamente introduzido do tensor de<br />

modulação de interferência<br />

∆ M , definido na equação (1.59):<br />

∆A ij = g ijkl ∆M kl , (1.69)<br />

onde i, j, k e l são coordenadas espaciais. Note que a definição (1.68) proporciona um<br />

r r<br />

∆A ij ≠ 0 mesmo quando E 1 ⊥ E2<br />

.<br />

i) Grades escalares<br />

Em geral, a excitação do material está associada a mudanças do coeficiente de<br />

absorção, cuja amplitude é ∆α(λ), e a mudanças no índice de refração de amplitude<br />

∆n(λ), que exibem uma modulação espacial, do tipo grade. Por exemplo, a modulação<br />

∂n<br />

∂T<br />

do índice de refração causada por uma grade térmica é ∆ n = ( ) ∆T<br />

, onde ∆T é a<br />

amplitude da grade térmica e ∂ n é definido como o coeficiente termo-óptico.<br />

∂T<br />

De forma geral, qualquer modulação de alguma propriedade do material ∆A<br />

estará associada a uma grade óptica com amplitudes<br />

( α )<br />

∆n<br />

=<br />

∆α =<br />

( ∂n<br />

) ∆A<br />

,<br />

∂A<br />

( ∂α ) ∆A<br />

.<br />

∂A<br />

(1.70)<br />

Porém, muito freqüentemente, uma das constantes de acoplamento ( ∂ n ∂A<br />

) ou<br />

∂ é pequena. Assim, dizemos que a grade é de fase (índice) ou de população<br />

∂A<br />

(amplitude). Podemos condensar a notação e combinar índice de refração e coeficiente<br />

33


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

de absorção em uma única grandeza, o índice de refração complexo, que pode ser<br />

definido como:<br />

i<br />

n<br />

~ α<br />

= n +<br />

2k<br />

, (1.71)<br />

i<br />

n<br />

~ ∆α<br />

∆ = ∆n<br />

+<br />

2k<br />

onde k é o módulo do vetor de onda da luz em cujo comprimento de onda as<br />

propriedades ópticas são medidas. Assim, combinando as equações (1.70) e (1.71),<br />

temos<br />

( ∂n<br />

~ ) ∆A<br />

∆ n ~ = . (1.72)<br />

∂A<br />

ii) Grades tensoriais<br />

O índice de refração complexo é relacionado à constante dielétrica complexa ε<br />

e à susceptibilidade óptica pela relação<br />

~2<br />

n<br />

= ε = 1+ χ , (1.73)<br />

donde<br />

∆ε<br />

∆n<br />

~<br />

=<br />

2 ε<br />

=<br />

2<br />

∆χ<br />

. (1.74)<br />

1+ χ<br />

Então, uma grade corresponde à modulação espacial de quaisquer das<br />

grandezas n ~ , ε ou χ. A componente da susceptibilidade χ ij relaciona a componente do<br />

campo elétrico E j com a componente da polarização P i :<br />

Pi<br />

= ε0χijE<br />

j<br />

. (1.75)<br />

∆P<br />

= ε ∆χ E<br />

i<br />

0<br />

ij<br />

j<br />

O caráter tensorial de ∆χ ij inclui a birrefringência e o dicroísmo induzidos, isto é,<br />

um índice de refração e um coeficiente de absorção dependentes de polarização.<br />

Como geralmente ∆A e ∆χ são tensores de ordem dois, a constante de acoplamento<br />

que os relaciona é um tensor de ordem quatro:<br />

⎛∂χ<br />

⎞<br />

ij<br />

∆ A<br />

ij<br />

= ⎜ ∆A<br />

∂A<br />

⎟ kl<br />

. (1.76)<br />

kl<br />

⎝<br />

⎠<br />

34


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

A amplitude da grade óptica pode ser diretamente relacionada com a amplitude<br />

do campo de excitação através das equações (1.76) e (1.69):<br />

onde<br />

∆ χ = f ∆M<br />

, (1.77)<br />

ij<br />

ijkl<br />

kl<br />

f<br />

ijkl<br />

⎛∂χ<br />

ij<br />

= ⎜ g<br />

∂A<br />

mnkl<br />

. (1.78)<br />

mn<br />

⎝<br />

⎟<br />

⎠<br />

⎞<br />

g) Detecção de grades<br />

Grades podem ser sondadas com um terceiro laser de intensidade I 3 e<br />

freqüência ω 3 . A grade difrata alguma parte da intensidade do feixe sonda em várias<br />

direções. Quando o feixe sonda atravessa a região da amostra onde está formada a<br />

grade, cria uma polarização periódica<br />

∆ P = ∆ E .<br />

(1.79)<br />

3i<br />

χij<br />

3 j<br />

A radiação emitida de diferentes partes da grade de polarização interfere<br />

construtivamente somente em certas direções com relação à orientação da grade e à<br />

direção do feixe sonda, isto é, nas direções q r e k r 3<br />

. As amplitudes E r<br />

m<br />

ou intensidades<br />

nc 2<br />

Im<br />

= ε0Em<br />

de diferentes ordens m = ±1, ±2, ... são uma medida da modulação do<br />

2<br />

índice de refração complexo e da excitação do material.<br />

As características do processo de difração são fortemente dependentes da<br />

espessura d da amostra. Se d é da ordem do período da grade Λ ou menor, a grade é<br />

chamada de delgada; caso d seja maior do que Λ, é chamada espessa.<br />

i) Regime Raman-Nath (ou de grade delgada)<br />

A transformada de Fourier de uma grade delgada não é uma delta no eixo k x (q x<br />

= q = | q r |), mas contém contribuições k z da ordem de 1/d devido à espessura finita da<br />

amostra. Assim, a interferência construtiva é possível para várias direções do feixe<br />

sonda e em geral várias ordens podem ser observadas [Ac88]. As leis da difração são<br />

as que ditam os ângulos de emissão dos feixes das várias ordens m:<br />

[ ( φ + α)<br />

− senα] = mλ<br />

, m = 0, ± 1, 2,... ,<br />

Λ sen<br />

m 3<br />

±<br />

(1.80)<br />

35


Capítulo 1 __________________________________________________________________ Introdução<br />

com α definido como sendo o ângulo de incidência. Quando α e φ m são pequenos,<br />

obtém-se uma separação angular constante φ entre os vários feixes difratados [Ko97]:<br />

φ = φ m+1 - φ m ≈ λ 3 / Λ . (1.81)<br />

A equação (1.80) significa que a componente k mx do vetor de onda k r<br />

m<br />

da onda<br />

difratada é dada pela componente k 3x do vetor de onda k r<br />

3<br />

do feixe sonda mais um<br />

múltiplo inteiro da constante de grade q:<br />

k mx = k x + mq, m = ±1, ±2, … . (1.82)<br />

ii) Regime de Bragg (grade espessa)<br />

A transformada de Fourier de uma grade espessa é dominada por q x = | q v |.<br />

Como conseqüência, grades espessas podem ser sondadas eficientemente somente<br />

sob a condição de Bragg [Ki96]:<br />

r r r<br />

− k = mq , m = ± 1, 2,... .<br />

(1.83)<br />

k<br />

m 3<br />

±<br />

Em contraste à equação (1.82), a condição de Bragg (1.83) determina completamente o<br />

vetor de onda k r<br />

m<br />

da onda difratada e não só a sua componente x. Se não houver<br />

mudança de freqüência, k 3 = k m , o que impõe uma restrição no vetor de onda do feixe<br />

sonda k r 3<br />

. O ângulo de incidência tem que ser metade do ângulo de difração.<br />

Tendo abordado neste capítulo os aspectos fundamentais dos processos de<br />

mistura de ondas e de formação de grades, no capítulo que se segue introduziremos<br />

alguns conceitos estatísticos importantes para a compreensão dos fundamentos das<br />

técnicas espectroscópicas que utilizam luz incoerente.<br />

36


Capítulo 2<br />

Fundamentos estatísticos<br />

de processos aleatórios<br />

2.1 – Introdução


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Este capítulo tem como objetivo introduzir conceitos importantes para a<br />

compreensão da espectroscopia com luz incoerente. Algumas seções serão<br />

necessárias como fundamentação e estabelecimento de notação para outras mais<br />

importantes, que versam diretamente sobre os conceitos chave deste capítulo, tais<br />

como médias estatísticas, independência estatística, momentos de uma variável<br />

aleatória, variáveis aleatórias Gaussianas, estacionaridade e ergodicidade, funções de<br />

auto correlação, tempo de correlação e, finalmente, o teorema de Wiener-Kintchine<br />

[Ma95].<br />

2.2 – Funções distribuição e funções densidade<br />

Uma variável aleatória G é dita discreta se os valores de suas medidas<br />

experimentais são discretos, e é dita contínua caso tais valores possam ser quaisquer<br />

num intervalo contínuo de possíveis valores. Existem também as variáveis aleatórias<br />

mistas, mas elas não apresentam relevância para o presente estudo.<br />

É sempre interessante descrever uma variável aleatória G por uma função de<br />

distribuição de probabilidade F G (g), que é definida como a probabilidade de que a<br />

variável aleatória G assuma um valor menor ou igual a g. As propriedades<br />

fundamentais de F G (g) são:<br />

V F G (g) sempre cresce, quando g cresce;<br />

V F G (-∞) = 0;<br />

V F G (+∞) = 1.<br />

Uma outra quantidade de grande importância para aplicações práticas é a<br />

função de densidade de probabilidade p G (g), definida como<br />

d<br />

pG ( g) = FG<br />

( g)<br />

. (2.1)<br />

dg<br />

Para uma variável aleatória contínua G é fácil aplicar esta definição. Usando a<br />

definição de derivada, podemos escrever<br />

38


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

p<br />

G<br />

( g)<br />

( g + ∆g) − F ( g)<br />

FG<br />

G<br />

lim<br />

. (2.2)<br />

∆ g 0 ∆g<br />

=<br />

→<br />

Para ∆g suficientemente pequeno, p G (g)∆g = F G (g+∆g) - F G (g), quer dizer, p G (g)∆g é a<br />

probabilidade de encontrar um valor de G pentencente ao intervalo entre g e g+∆g. A<br />

partir das propriedades de F G (g), podemos mostrar que p G (g) satisfaz a<br />

+∞<br />

∫ p G<br />

=<br />

p G (g) > 0; ( g) dg 1<br />

−∞<br />

. (2.3)<br />

A probabilidade de que G assuma um valor entre os limites a e b pode ser<br />

expressa em termos da função densidade de probabilidade como<br />

F<br />

G<br />

( a G ≤ b) = ∫pG<br />

( g)dg<br />

b<br />

≤ . (2.4)<br />

a<br />

Quando G é uma variável aleatória discreta, F G (g) é descontínua e portanto<br />

p G (g) não existe na forma usual de uma derivada. Para resolver este problema, é<br />

necessário redefinir o conceito utilizando-se funções δ de Dirac. A função densidade de<br />

probabilidade torna-se<br />

p<br />

G<br />

( g) P( g ) δ( g − g )<br />

= ∑ ∞<br />

=<br />

k 1<br />

k<br />

k<br />

, (2.5)<br />

onde {g 1 , g 2 , ..., g k , ...} é o conjunto discreto de valores possíveis de g. Como exemplo<br />

de funções de densidade de probabilidade nos casos contínuo e discreto temos,<br />

respectivamente, a Gaussiana e a Poissoniana, muito freqüentes na física. Suas<br />

expressões matemáticas são mostradas abaixo.<br />

2<br />

( g − g) ⎤<br />

⎥⎦<br />

1 ⎡<br />

p<br />

G,G<br />

( g)<br />

= exp⎢−<br />

, (2.6)<br />

2<br />

2πσ<br />

⎣ 2σ<br />

p<br />

G,P<br />

k<br />

k!<br />

( )<br />

( )<br />

g exp( − k) δ( g − k)<br />

= ∑ ∞<br />

=<br />

k<br />

0<br />

k<br />

. (2.7)<br />

Na equação (2.6), os parâmetros que caracterizam a distribuição de Gauss são<br />

g e σ, que representam respectivamente a posição do máximo da curva Gaussiana e a<br />

sua largura característica. Na equação (2.7), o parâmatro k representa o número<br />

médio de partículas da distribuição de Poisson.<br />

39


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

2.3 – Extensão a duas ou mais variáveis aleatórias conjuntas<br />

O objetivo desta seção é introduzir o conceito de variáveis aleatórias<br />

estatisticamente independentes. Consideremos dois experimentos aleatórios, um com<br />

um conjunto de possíveis resultados {A} e o outro com {B}. Se os resultados forem<br />

tomados aos pares, um valor de cada conjunto, definimos um novo conjunto de<br />

resultados conjuntos, {A×B}. A freqüência relativa na qual o resultado A ocorre<br />

conjuntamente com o B é n/N, onde N é o número total de experimentos (duplos) e n o<br />

número de vezes em que os resultados A e B se verificam conjuntamente.<br />

Relacionamos a estes eventos a probabilidade conjunta P(A,B) associada a este par de<br />

resultados. Para cada resultado A do primeiro experimento relacionamos um valor<br />

numérico g(A) e, semelhantemente para B, h(B). A variável aleatória conjunta GH é<br />

definida como sendo a coleção de todos os possíveis números conjuntos (g,h), junto a<br />

uma medida de probabilidade.<br />

A função de distribuição de probabilidade F GH (g,h) para a variável aleatória<br />

conjunta GH é definida como sendo a probabilidade de encontrar o valor da variável<br />

aleatória G menor do que g e o da variável aleatória H menor do que h. Estendendo o<br />

procedimento feito para variáveis aleatórias simples, podemos definir a função de<br />

densidade de probabilidade como<br />

2<br />

∂<br />

pGH<br />

( g,h) = FGH<br />

( g,h)<br />

. (2.8)<br />

∂g∂h<br />

Da mesma forma que p G (g), isto é, baseado nos mesmos argumentos, temos<br />

+∞ +∞<br />

∫∫ p GH<br />

( g,h) dgdh = 1<br />

−∞ −∞<br />

. (2.9)<br />

Se conhecermos as probabilidades conjuntas de todos os eventos específicos A<br />

e B, podemos determinar a probabilidade de um determinado evento A ocorrer, seja<br />

qual for o evento B que o acompanhar. Esta probabilidade é dada por P ( A) = ∑P( A,B)<br />

B<br />

e, semelhantemente, P ( B) = ∑P( A,B)<br />

. Isto nos leva ao conceito de probabilidade<br />

A<br />

marginal, P(A) e P(B).<br />

40


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Da mesma forma as funções densidade de probabilidade marginais das<br />

variáveis aleatórias G e H são definidas por<br />

p<br />

p<br />

G<br />

H<br />

+∞<br />

( g) = ∫pGH( g,h)<br />

−∞<br />

+∞<br />

( h) = ∫pGH<br />

( g,h)dg<br />

−∞<br />

dh<br />

. (2.10)<br />

Por outro lado, a probabilidade de observar o evento B num experimento tendo<br />

observado o evento A no outro experimento é chamada de probabilidade condicional de<br />

B, dado A, sendo denotada por P(B|A). Notemos que a freqüência relativa do evento<br />

conjunto (A,B) pode ser escrita como:<br />

n n m<br />

= ⋅ , (2.11)<br />

N m N<br />

onde n é o número de vezes em que o evento conjunto ocorre em N tentativas e m é o<br />

número em que o evento A acontece em N tentativas, qualquer que seja o valor de B.<br />

Mas m/N representa a freqüência marginal de A e n/m representa a freqüência relativa<br />

condicional de B, dado que A ocorreu. Assim, as probabilidades se escrevem:<br />

P ( A,B) = P( A)<br />

⋅P(B | A) ∴<br />

P(A,B)<br />

P(B | A) = .<br />

P(A)<br />

(2.12)<br />

Analogamente,<br />

P(A,B)<br />

P (A | B) = . (2.13)<br />

P(B)<br />

Substituindo a equação (2.12) em (2.13), obtemos<br />

P(B)<br />

P(B | A) = ⋅P(A | B) . (2.14)<br />

P(A)<br />

A equação (2.14) é conhecida como regra de Bayes. É possível mostrar a<br />

validade de (2.14) para as densidades de probabilidade de G e H:<br />

p<br />

p<br />

H|G<br />

G|H<br />

pGH(g,h)<br />

(h | g) =<br />

pG<br />

( g)<br />

. (2.15)<br />

pGH(g,h)<br />

(g | h) =<br />

p<br />

H<br />

( h)<br />

41


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Duas variáveis aleatórias são ditas estatisticamente independentes se o<br />

conhecimento sobre o valor assumido por uma não afeta as probabilidades associadas<br />

aos possíveis valores que a outra pode assumir. Assim, podemos escrever<br />

( h)<br />

pH |G(h,g)<br />

= pH<br />

. (2.16)<br />

Por sua vez, as equações (2.15) e (2.16) nos indicam que<br />

p (g,h) = p (g) ⋅p<br />

(g,h) = p g ⋅p<br />

h . (2.17)<br />

GH<br />

G<br />

H|G<br />

G<br />

( ) ( )<br />

H<br />

Assim, concluímos que para duas variáveis aleatórias estatisticamente<br />

independentes, a função de densidade de probabilidade conjunta pode ser escrita como<br />

o produto das densidades de probabilidade marginais das variáveis aleatórias. De<br />

forma mais geral, dois eventos A e B são estatisticamente independentes se<br />

P(A,B)<br />

= P(A) ⋅P(B)<br />

.<br />

2.4 – Médias estatísticas<br />

Seja f(g) uma função que para cada número real g associe um novo número<br />

real f(g). Se g representar o valor de uma variável aleatória, f(g) também é o valor de<br />

uma variável aleatória.<br />

Definimos a média estatística (ou valor médio, ou valor esperado) de f(g)<br />

através da expressão<br />

f(g)<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

[ ] = f(g)p ( g)dg<br />

= E f(g)<br />

. (2.18)<br />

G<br />

Para uma variável aleatória discreta, p G (g) tem a forma dada pela equação (2.5), de<br />

forma que<br />

f(g)<br />

∑<br />

k<br />

k<br />

( g )<br />

= P(g )f . (2.19)<br />

k<br />

a) Momentos de uma variável aleatória<br />

As propriedades mais simples de médias de variáveis aleatórias são<br />

representadas por seus momentos, que são obtidos fazendo-se f(g) = g n na equação<br />

(2.18). De especial importância são o primeiro momento, também chamado de valor<br />

médio ou valor esperado,<br />

42


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

g = gp (g)dg, (2.20)<br />

G<br />

e o segundo momento, também chamado de valor médio quadrático:<br />

g<br />

2<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

2<br />

= g p (g)dg. (2.21)<br />

G<br />

Muito freqüentemente, as flutuações de uma variável aleatória em torno de sua<br />

média são de grande interesse. Nestes casos, usamos os momentos centrais, obtidos<br />

fazendo-se<br />

f<br />

( g) ( g − g) n<br />

= . (2.22)<br />

Particularmente, de grande importância é o segundo momento central, ou a variância<br />

σ 2 , definida como<br />

+∞<br />

2<br />

2<br />

σ = ∫ ( g − g) pG<br />

( g)dg<br />

. (2.23)<br />

−∞<br />

A partir das definições, é muito fácil demonstrar a seguinte relação entre os<br />

momentos de qualquer variável aleatória, muito útil em diversos problemas de física:<br />

2 2 2<br />

σ = g − g . (2.24)<br />

A raiz quadrada da variância, σ, é chamada de desvio padrão e é uma medida<br />

direta da dispersão em relação ao valor médio dos valores assumidos pela variável<br />

aleatória G.<br />

b) Momentos conjuntos de variáveis aleatórias<br />

Sejam G e H variáveis aleatórias conjuntamente distribuídas com função de<br />

densidade de probabilidade p GH (g,h). Os momentos conjuntos de G e H são definidos<br />

por<br />

n<br />

g h<br />

m<br />

+∞ +∞<br />

∫∫<br />

( g,h) dgdh<br />

n m<br />

= g h p<br />

. (2.25)<br />

−∞ −∞<br />

GH<br />

De grande importância é a chamada correlação entre G e H, definida como<br />

( g,h) dgdh<br />

Γ = gh = ghp<br />

. (2.26)<br />

GH<br />

+∞ +∞<br />

∫∫<br />

−∞ −∞<br />

GH<br />

43


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

A covariância entre G e H, definida abaixo, possui propriedade trivialmente<br />

demonstrável:<br />

C<br />

GH<br />

= (g − g) ⋅(h<br />

− h) = Γ − g ⋅ h . (2.27)<br />

GH<br />

O chamado coeficiente de correlação ρ é uma medida direta da similaridade<br />

das flutuações de G e H. É definido como sendo<br />

C GH<br />

ρ ≡ . (2.28)<br />

σ σ<br />

G<br />

H<br />

O módulo de ρ é limitado entre 0 e 1, conforme demonstrado no apêndice A2c.<br />

Se ρ = 1, dizemos que G e H são perfeitamente correlacionadas, o que significa que<br />

suas flutuações são idênticas, a menos de fatores de escala. Se ρ = -1, dizemos que G<br />

e H são anti-correlacionadas, isto é, suas correlações são defasadas de π, o que<br />

equivale a dizer que suas flutuações são idênticas, mas uma flutuação positiva e G se<br />

verifica com uma flutuação negativa de H e vice-versa.<br />

Se ρ é zero, dizemos que G e H são descorrelacionadas. Duas variáveis<br />

estatisticamente independentes são sempre descorrelacionadas. Neste caso, C GH = 0,<br />

o que significa dizer que<br />

Γ = g ⋅ h . Mas, por definição, Γ gh , então gh = g ⋅ h .<br />

GH<br />

GH<br />

=<br />

Desta forma, a média do produto entre os valores das variáveis estatisticamente<br />

independentes é igual ao produto de suas médias.<br />

O caso em que a correlação é zero, entretanto, nem sempre indica que as<br />

variáveis em questão são estatisticamente independentes. Um exemplo muito simples<br />

é dado pelas variáveis aleatórias<br />

G = cosΦ<br />

, (2.29)<br />

H = senΦ<br />

com Φ uma variável aleatória uniformemente distribuída no intervalo (-π/2,π/2):<br />

⎧1/<br />

π,<br />

−π / 2 ≤ θ ≤ π / 2<br />

p<br />

Φ<br />

( θ)<br />

= ⎨<br />

. (2.30)<br />

⎩ 0, outro caso.<br />

O conhecimento de G determina o valor de H. Assim, as duas variáveis são<br />

estatisticamente dependentes. Entretanto, é muito fácil mostrar que G e H são<br />

variáveis aleatórias descorrelacionadas.<br />

44


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

c) Funções características<br />

A função característica de uma variável aleatória G é definida como o valor<br />

esperado de exp(iωg):<br />

M<br />

G<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( ) = exp( iωg) p ( g)dg<br />

ω . (2.31)<br />

G<br />

Assim, a função característica é uma transformada de Fourier da função densidade de<br />

probabilidade de G. Se esta integral existir, é possível expressar a função densidade<br />

de probabilidade como a transformada inversa de Fourier<br />

+∞<br />

1<br />

pG ( g) = ( ω) ( − ω ) ω<br />

π<br />

∫MG<br />

exp i g d . (2.32)<br />

2<br />

−∞<br />

Portanto, a função característica contém todas as informações sobre as<br />

propriedades estatísticas de primeira ordem da variável aleatória G.<br />

Às vezes é possível obter a função característica, e portanto a função<br />

densidade de probabilidade, conhecendo-se os momentos de n-ésima ordem para<br />

todos os n. Podemos ver isto da seguinte maneira: se expandirmos a exponencial na<br />

equação (2.31) em uma série de potências, exp ( iωg)<br />

∑ ∞<br />

n=<br />

0<br />

( iωg)<br />

= , e se supusermos que<br />

n!<br />

as ordens da soma e da integração podem ser trocadas, obtemos<br />

M<br />

G<br />

( ω)<br />

=<br />

∞<br />

( iω)<br />

∑<br />

n=<br />

0<br />

n!<br />

n +∞<br />

∫<br />

−∞<br />

n<br />

g p<br />

G<br />

( g)<br />

dg =<br />

∞ n<br />

( iω) n<br />

∑ ⋅ g<br />

n=<br />

0<br />

n!<br />

n<br />

. (2.33)<br />

O resultado expresso na equação acima depende da finitude de todos os momentos e a<br />

conseqüente convergência da série infinita [Pa65]. Além disto, se o n-ésimo momento<br />

absoluto, definido como<br />

encontrado por<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

g<br />

n<br />

p<br />

G<br />

( g)dg<br />

existir, então o n-ésimo momento de G pode ser<br />

g<br />

n<br />

n<br />

1 d<br />

= MG ( ω) . (2.34)<br />

n n<br />

ω= 0<br />

i dω<br />

Como exemplo, pode-se facilmente encontrar as funções características das variáveis<br />

aleatórias Gaussianas e Poissonianas substituindo-se as expressões para as<br />

densidades de probabilidade, respectivamente dadas pelas equações (2.6) e (2.7), na<br />

equação (2.31), obtendo<br />

45


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

M<br />

M<br />

G,G<br />

G,P<br />

2<br />

⎛ σ ω<br />

( ω)<br />

= exp<br />

⎜−<br />

⎝ 2<br />

( ω)<br />

=<br />

∑ ∞<br />

k=<br />

0<br />

( ωg)<br />

k<br />

( k) exp( − k) exp( iωk)<br />

k!<br />

2<br />

⎞<br />

⎟exp i<br />

⎠<br />

. (2.35)<br />

Podemos também definir a função característica conjunta de duas variáveis<br />

aleatórias G e H, definida por<br />

M<br />

GH<br />

+∞ +∞<br />

(<br />

G,<br />

ωH<br />

) = ∫∫exp[ i( ωGg<br />

+ ωHh)<br />

] pGH<br />

( g,h) dgdh<br />

ω . (2.36)<br />

−∞ −∞<br />

Da mesma forma que no caso de apenas uma variável aleatória, a função de<br />

densidade de probabilidade conjunta p GH (g,h) pode ser conhecida a partir de<br />

M GH (ω G ,ω H ) através de uma transformada de Fourier inversa bidimensional, e os<br />

momentos conjuntos de G e H são expressos como<br />

n<br />

g h<br />

m<br />

1 ∂<br />

= ( ωG,<br />

H<br />

) . (2.37)<br />

ωG<br />

=ωH<br />

= 0<br />

i<br />

n+<br />

m<br />

M<br />

n m n m GH<br />

ω<br />

+<br />

∂ωG∂ωH<br />

2.5 – Soma de variáveis aleatórias reais e o teorema do limite central<br />

a) Soma de variáveis aleatórias reais<br />

Queremos saber agora como encontrar a função densidade de probabilidade de<br />

uma variável aleatória que é a soma de outras duas variáveis aleatórias. Seja a<br />

variável aleatória E definida como E = G + H, com G e H variáveis aleatórias com<br />

função de densidade de probabilidade conjunta p GH (g,h), a partir da qual queremos<br />

conhecer p E (e). Pela definição, para encontrarmos p E (e) calculamos F E (e) e<br />

diferenciamos a função de probabilidade com relação a e. A figura 2.1 ilustra o<br />

procedimento. A região pontilhada é aquela em que E ≤ e.<br />

Assim, F E (e) representa a probabilidade de que (g,h) esteja na região<br />

considerada. Esta função de probabilidade é dada por<br />

F<br />

E<br />

+∞<br />

e−h<br />

( e) ∫ dh ∫pGH<br />

( g,h)dg<br />

= . (2.38)<br />

−∞<br />

−∞<br />

46


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

h<br />

e = g + h<br />

Figura 2.1: A linha reta representa a<br />

equação e=g+h e e região pontilhada<br />

é aquela em que E ≤ e.<br />

g<br />

Derivando a equação (2.38) em relação a e obtemos, conforme apêndice A2d,<br />

( e)<br />

dFE<br />

pE (e) = = pGH<br />

( e − h,h)<br />

dh, (2.39)<br />

de<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

Desta forma, a partir de uma dada função de densidade de probabilidade conjunta<br />

p GH (g,h) é possível encontrar p E (e).<br />

Se a variável aleatória E representar a soma de duas variáveis aleatórias<br />

independentes G e H, a função p E (e) apresenta uma relação simples com as funções<br />

de densidade de probabilidade de G e de H. Para G e H estatisticamente<br />

independentes, o integrando de (2.39) é escrito como<br />

p<br />

GH<br />

( h)<br />

(e - h,h) = p (e - h) ⋅p<br />

. (2.40)<br />

G<br />

Substituindo a equação (2.40) em (2.39), encontramos<br />

p<br />

E<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( e) p ( e − h) p ( h)dh<br />

G<br />

H<br />

H<br />

= . (2.41)<br />

A equação (2.41) é a expressão de uma convolução. O fato de que p E é uma<br />

convolução de p G e p H também pode ser demonstrado usando-se a definição de função<br />

característica, como pode ser visto no apêndice A2d.<br />

b) O teorema do limite central<br />

Sejam G 1 , G 2 , ..., G n variáveis aleatórias estatisticamente independentes com<br />

distribuições de probabilidade arbitrárias, médias<br />

Seja a variável aleatória E definida por<br />

g e variâncias<br />

1,g2,<br />

..., gn<br />

σ , σ .<br />

2 2<br />

1<br />

σ2,<br />

...,<br />

2<br />

n<br />

47


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

n<br />

1 G −<br />

= ∑<br />

k<br />

g<br />

E k<br />

. (2.42)<br />

n k = 1 σk<br />

O valor médio de E é zero, para todo n. O teorema do limite central assegura que à<br />

medida em que o número n de variáveis aleatórias tende para infinito, a função de<br />

densidade de probabilidade p E (e) tende a uma Gaussiana, isto é,<br />

2<br />

1 ⎛ e<br />

lim pE<br />

( e) exp ,<br />

n<br />

2 2 ⎟ ⎞<br />

=<br />

⎜ −<br />

(2.43)<br />

→∞<br />

π ⎝ ⎠<br />

desde que E satisfaça a um dos seguintes conjuntos de condições [Co80]:<br />

i) As variáveis aleatórias G k são estatisticamente independentes e<br />

identicamente distribuídas, com variâncias finitas. Se o teorema do limite central for<br />

enunciado com base neste conjunto de condições, recebe o nome de teorema de<br />

Lindeberg-Lévy;<br />

ii) As variáveis aleatórias G k são estatisticamente independentes, mas não<br />

necessariamente identicamente distribuídas, porém o valor esperado de<br />

G , E[ G ],<br />

exista para todos os k [Fi63]. Se o teorema do limite central for enunciado com base<br />

neste conjunto de condições, recebe o nome de teorema de Lapunov;<br />

iii) As variáveis aleatórias G k não são nem estatisticamente independentes nem<br />

identicamente distribuídas. Neste caso, as condições são mais complexas e<br />

numerosas do que nos casos anteriores. Para detalhes, o leitor é dirigido para [Fi63].<br />

Um excelente texto introdutório a respeito das distribuições de probabilidade<br />

para um grande número de variáveis aleatórias e de aplicações do teorema do limite<br />

central podem ser encontrados em [Re85].<br />

Nosso caso de interesse é a fonte de radiação incoerente utilizada em nossos<br />

experimentos. Tal fonte consiste em uma cavidade de laser de corante sem elementos<br />

dispersivos, tais como grades de difração, prismas ou etalons tipo Fabry-Perot.<br />

Tipicamente, tais cavidades são formadas por um espelho de refletividade igual a 100%<br />

e outro de refletividade variando entre 8% e 30% (acoplador de saída), separados por<br />

uma distância da ordem de L = 15 cm. O meio de ganho é, tal como em um laser de<br />

corante usual, uma cubeta contendo uma solução alcoólica de um determinado corante,<br />

escolhido conforme a região espectral de interesse. A cavidade assim descrita, quando<br />

bombeada transversalmente com uma potência muito acima do limiar de emissão laser,<br />

3<br />

k<br />

3<br />

k<br />

48


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

pode gerar radiação com uma largura espectral ∆ν da ordem de 100 cm -1 (3 THz), num<br />

processo denominado amplificação de emissão espontânea. A partir da largura de linha<br />

da radiação gerada por este tipo de cavidade, podemos estimar o número de modos<br />

longitudinais excitados N através da relação N=∆ν/(c/2L) ≈ 3000, que podem ser<br />

considerados independentes. Neste limite, a estatística do campo gerado se aproxima<br />

da Gaussiana.<br />

Uma prova apenas argumentativa do teorema do limite central, usando o<br />

conceito de função característica, é mostrada no apêndice A2d, mas uma<br />

demonstração com todo o rigor matemático é feita em [Ka90].<br />

2.6 – Variáveis aleatórias Gaussianas<br />

Em várias situações de interesse encontramos fenômenos aleatórios que são<br />

resultado da aditividade de eventos aleatórios independentes. Devido ao teorema do<br />

limite central, a estatística Gaussiana é muito importante na análise estatística destes<br />

fenômenos. Por isto, descreveremos a seguir as propriedades mais importantes das<br />

variáveis aleatórias Gaussianas.<br />

Uma variável aleatória é chamada de Gaussiana se sua função característica é<br />

da forma<br />

2 2<br />

⎛ ω σ ⎞<br />

MG , (2.44)<br />

( ω) = exp<br />

⎜iωg<br />

− ⎟ ⎝ 2 ⎠<br />

onde g e σ são a média e o desvio padrão da variável aleatória G. Além disto, n<br />

variáveis aleatórias G 1 , G 2 , ..., G n são ditas conjuntamente Gaussianas se sua função<br />

característica conjunta for da forma<br />

onde<br />

⎛ ω~<br />

t<br />

C ~ ω~<br />

⎞<br />

MG , (2.45)<br />

( ω) = ⎜<br />

~ t<br />

~ exp ig<br />

ω~<br />

−<br />

⎟ ⎝ 2 ⎠<br />

49


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

⎛ g ⎞<br />

⎜<br />

1<br />

⎟<br />

~ ⎜g2<br />

⎟<br />

g = ⎜ ⎟,<br />

⎜ ... ⎟<br />

⎝gn<br />

⎠<br />

⎛ ω1<br />

⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎜ω<br />

⎟<br />

ω ~ 2<br />

= ⎜ ⎟ , (2.46)<br />

...<br />

⎜ ⎟<br />

⎝ωn<br />

⎠<br />

e C ~ é uma matriz n×n com elementos<br />

2<br />

σ<br />

ij<br />

definidos por<br />

2<br />

σ = g − g ) ⋅(g<br />

− g ) . (2.47)<br />

ik<br />

(<br />

i i j j<br />

A função de densidade de probabilidade de n-ésima ordem é, como de<br />

costume, a transformada de Fourier inversa de (2.45). Após um longo procedimento<br />

matricial algébrico, obtém-se que<br />

( 2π)<br />

t<br />

(<br />

~<br />

⎤<br />

−<br />

~ −<br />

) C ~ 1<br />

g g (<br />

~<br />

g −<br />

~<br />

g) ⎥⎦<br />

1 ⎡ 1<br />

p ( ~ g)<br />

=<br />

exp⎢−<br />

G<br />

C ~ 1/ 2<br />

n / 2 ⎣ 2<br />

. (2.48)<br />

Por exemplo, quando temos duas variáveis Gaussianas aleatórias conjuntamente<br />

distribuídas G e H (por exemplo, amplitude e fase de um campo), cada qual com média<br />

nula e com<br />

p<br />

GH<br />

σ<br />

2<br />

G<br />

( g,h)<br />

= σ<br />

2<br />

H<br />

2<br />

= σ , a equação (2.48) fica<br />

2 2<br />

⎡ g + h − 2ρgh⎤<br />

exp⎢−<br />

2 2 ⎥<br />

⎣ 2σ<br />

(1− ρ )<br />

=<br />

⎦<br />

, (2.49)<br />

2 2<br />

2πσ<br />

1− ρ<br />

onde o coeficiente de correlação é dado por<br />

ρ = gh / σ<br />

2<br />

. A figura 2.2 mostra os<br />

contornos de probabilidade constante no plano (g,h) para os casos ρ = 0 (variáveis<br />

descorrelacionadas), 0 < |ρ| < 1 (ρ > 0, parcialmente correlacionadas; ρ < 0,<br />

parcialmente anti-correlacionadas) e ρ = 1 (variáveis totalmente correlacionadas).<br />

50


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Figura 2.2: Contornos de probabilidade constante para os<br />

casos: (a), de variáveis descorrelacionadas, ρ = 0; (b), de<br />

variáveis parcialmente correlacionadas, 0 < ρ < 1 e (c), de<br />

variáveis totalmente correlacionadas (adaptada de [Go85]).<br />

As variáveis aleatórias Gaussianas têm propriedades que facilitam muito o seu<br />

uso no estudo de problemas em física. A seguir enumeraremos algumas propriedades<br />

que serão usadas no próximo capítulo desta Tese.<br />

1) Duas variáveis aleatórias Gaussianas conjuntamente descorrelacionadas<br />

são também estatisticamente independentes. Como já mencionado, a descorrelação<br />

nem sempre significa independência estatística. Entretanto, para variáveis aleatórias<br />

Gaussianas as duas propriedades se equivalem. Podemos ver isto ao fazermos o<br />

coeficiente de correlação ρ = 0 na equação (2.49):<br />

p<br />

GH<br />

2 2<br />

⎛ g + h ⎞<br />

exp<br />

⎜−<br />

2<br />

2<br />

⎟<br />

2<br />

2<br />

⎝ σ 1 ⎛ g ⎞ 1 ⎛ h ⎞<br />

=<br />

⎠<br />

2<br />

2<br />

2 G H<br />

2πσ<br />

2πσ<br />

⎜<br />

2<br />

⎟ ⋅<br />

2πσ<br />

⎜<br />

2<br />

⎟<br />

, (2.50)<br />

⎝ σ ⎠ ⎝ σ ⎠<br />

( g,h) = exp⎜<br />

− ⎟ exp⎜<br />

− ⎟ = p ( g) ⋅p<br />

( h)<br />

isto é, como a função de densidade de probabilidade conjunta é igual ao produto das<br />

funções de densidade de probabilidade marginais, G e H são estatisticamente<br />

independentes, conforme (2.17).<br />

2) A soma de duas variáveis aleatórias estatisticamente independentes<br />

conjuntamente Gaussianas é Gaussiana. Suponhamos que G e H sejam variáveis<br />

Gaussianas com funções características<br />

2 2<br />

2 2<br />

⎛ ω σ ⎞<br />

⎛ ω σ<br />

( ) ( )<br />

⎟ ⎞<br />

G<br />

H<br />

M ⎜<br />

⎟ ω = ⎜<br />

G<br />

ω = exp<br />

iωg<br />

−<br />

; MH<br />

exp<br />

iωh<br />

− . (2.51)<br />

⎝ 2 ⎠<br />

⎝ 2 ⎠<br />

Seja E a soma de G e H. Assim, pela equação (A2d.3) do apêndice A2d,<br />

51


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

2<br />

⎡ ω 2 2<br />

⎤<br />

( ω) = M ( ω) ⋅M<br />

( ω) = exp iω( g + h) − ( σ + σ ) ⎥⎦<br />

M<br />

E<br />

G H ⎢<br />

G H<br />

, (2.52)<br />

⎣ 2<br />

de forma que E é uma variável aleatória Gaussiana com média ( g + h)<br />

e variância<br />

2 2<br />

( σ + σ ).<br />

G<br />

H<br />

3) A soma de duas variáveis aleatórias Gaussianas estatisticamente<br />

dependentes é Gaussiana. Sejam G e H variáveis Gaussianas com coeficiente de<br />

correlação ρ ≠ 0. Por simplicidade, façamos g = h = 0 e<br />

σ<br />

2<br />

G<br />

= σ<br />

2<br />

H<br />

= σ<br />

2<br />

. Definindo a<br />

variável aleatória E como E = G + H, temos, substituindo a equação (2.49) em (2.41),<br />

p<br />

⎡<br />

exp⎢−<br />

2 2<br />

( e − h) + h − 2ρ( e − h)<br />

+∞<br />

2 2<br />

( )<br />

⎣<br />

⎦<br />

E<br />

e = ∫<br />

dh.<br />

2 2<br />

−∞<br />

2πσ<br />

2σ<br />

(1− ρ )<br />

1−<br />

ρ<br />

Completando o quadrado da exponencial e fazendo a integração obtemos finalmente<br />

p<br />

E<br />

( e)<br />

2<br />

⎡ e ⎤<br />

exp⎢−<br />

2 ⎥<br />

⎣ 4σ<br />

( 1+ ρ)<br />

=<br />

⎦<br />

. (2.53)<br />

2πσ<br />

2(1 + ρ)<br />

Assim, E é Gaussiana, com média zero e variância σ = 2σ<br />

2 ( 1+ ρ)<br />

ρ → 0,<br />

2 2<br />

σ<br />

E<br />

→ 2σ e quando ρ → 1,<br />

σ<br />

2<br />

E<br />

h⎤<br />

⎥<br />

2<br />

E<br />

. Vemos que quando<br />

2<br />

→ 4σ . Como corolário, qualquer combinação<br />

linear de variáveis aleatórias conjuntamente Gaussianas, estatisticamente dependentes<br />

ou independentes, é Gaussiana: seja E definida por<br />

n<br />

E = ∑a G i<br />

, com a i constantes e G i<br />

variáveis conjuntamente Gaussianas. Aplicando-se sucessivamente o procedimento<br />

recém descrito, conclui-se que E é Gaussiana.<br />

4) Para variáveis conjuntamente Gaussianas G 1 , G 2 , ..., G n os momentos de<br />

ordem maior do que 2 podem sempre ser expressos em termos de momentos de<br />

primeira e segunda ordens. Se escrevermos (2.37) numa forma mais geral, vemos que<br />

i=<br />

1<br />

i<br />

um momento na forma<br />

característica:<br />

g<br />

p q k<br />

1<br />

g2<br />

⋅...<br />

⋅ gn<br />

⋅ pode ser obtido diferenciando-se a função<br />

p q k 1 ∂<br />

g1<br />

⋅ g2<br />

⋅...<br />

⋅ gn<br />

=<br />

( ~ )<br />

ω= ~ 0<br />

i<br />

~ . (2.54)<br />

(p+<br />

q+<br />

... + k)<br />

M<br />

(p q ... k) p q k G<br />

ω<br />

+ + +<br />

∂ω1∂ω2<br />

... ∂ωn<br />

52


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Em particular, se n = 4 e q = p = ... = k = 1, temos<br />

4<br />

∂<br />

g1<br />

⋅ g2<br />

⋅ g3<br />

⋅ g4<br />

=<br />

MG<br />

( ω~<br />

)<br />

ω= ~ 0<br />

∂ω ∂ω ∂ω ∂ω<br />

~ . (2.55)<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

Derivando-se a função característica (um cálculo longo, porém trivial, que não<br />

será apresentado aqui), nos leva à importante propriedade do momento de quarta<br />

ordem de uma variável aleatória Gaussiana (teorema dos momentos Gaussianos):<br />

g<br />

1<br />

g2<br />

⋅ g3<br />

⋅ g4<br />

= g1<br />

⋅ g2<br />

⋅ g3<br />

⋅ g4<br />

+ g1<br />

⋅ g3<br />

⋅ g2<br />

⋅ g4<br />

+ g1<br />

⋅ g4<br />

⋅ g2<br />

⋅ g3<br />

⋅ , (2.56)<br />

que é o resultado final desta seção, completamente geral. O teorema dos momentos<br />

Gaussianos tem uma enorme utilidade prática, como poderá ser claramente verificado<br />

na seção 3.5 desta Tese.<br />

2.7 – Definição e descrição de um processo aleatório<br />

Para o processo aleatório (ou estocástico), que generaliza o conceito de<br />

variável aleatória, os eventos básicos imprevisíveis são usualmente funções do tempo<br />

e/ou do espaço. Estas funções são de grande importância na óptica; por exemplo, a<br />

amplitude de uma onda emitida por uma fonte tem propriedades que mudam com o<br />

tempo de modo até certo ponto imprevisível. Para fazer a definição de um processo<br />

estocástico, consideremos um experimento aleatório, com um conjunto de eventos<br />

possíveis {A} e uma probabilidade de medida associada. Para definir uma variável<br />

aleatória, associamos um número g(A) a cada evento A. Para definir um processo<br />

estocástico, vamos associar uma função g(A;t), com t sendo uma variável<br />

independente, a cada evento A. A coleção de funções amostra possíveis, g(A;t),<br />

juntamente com suas probabilidades de medida associadas, constitui um processo<br />

estocástico.<br />

A maneira mais geral de descrever matematicamente um processo estocástico<br />

é enumerar todas as funções amostra que o compõem, juntamente com a<br />

especificação de suas probabilidades. Entretanto, este tipo de descrição raramente é<br />

possível e nem sempre é desejável. Na maior parte das aplicações práticas, somente<br />

uma descrição parcial do processo estocástico é necessária para o cálculo das<br />

quantidades de interesse físico. Vários tipos de descrições parciais são possíveis. Em<br />

53


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

algumas aplicações pode ser suficiente considerar o parâmetro t fixo e especificar a<br />

função de densidade de probabilidade de primeira ordem p G (g;t) da variável aleatória<br />

G(t). A partir deste tipo de descrição podemos especificar g,<br />

2<br />

g e outros momentos<br />

de G para qualquer valor de t.<br />

Mais comumente, a função de densidade de probabilidade de segunda ordem<br />

de G, com parâmetros t 1 e t 2 , é necessária. A figura 2.3 ilustra o conjunto de formas de<br />

onda e o par de parâmetros t 1 e t 2 . A função de densidade de segunda ordem é a<br />

função de densidade conjunta das variáveis aleatórias G(t 1 ) e G(t 2 ). Em geral, esta<br />

função densidade depende de t 1 e t 2 , sendo denotada por p G (g 1 ,g 2 ;t 1 ,t 2 ), onde g k =g(t k ).<br />

A partir desta descrição podemos calcular momentos conjuntos, como por exemplo:<br />

g<br />

+∞ +∞<br />

1<br />

g2<br />

∫∫g1<br />

g2<br />

pG<br />

dg<br />

−∞ −∞<br />

( g1,g2;t1,t<br />

2<br />

) dg1<br />

2<br />

= . (2.57)<br />

Figura 2.3: Conjunto de funções amostra. t 1 e<br />

t 2 são os valores dos parâmetros para os<br />

quais a função de densidade de probabilidade<br />

é especificada (adaptada de [Go85]).<br />

g 1<br />

(t)<br />

g 2<br />

(t)<br />

g 3<br />

(t)<br />

g k<br />

(t)<br />

Em alguns casos podem ser necessárias funções de densidade de ordens<br />

superiores. A descrição completa do processo estocástico G(t) requer a especificação<br />

da função de densidade de n-ésima ordem ( g ,g ,...,g ;t ,t ,..., t )<br />

p para todo n.<br />

G<br />

1<br />

2<br />

n<br />

1<br />

2<br />

n<br />

2.8 – Estacionaridade e ergodicidade<br />

Seja o parâmetro t, introduzido na seção anterior, representante do tempo. Um<br />

processo estocástico é dito estacionário strictu sensu se a função densidade de<br />

54


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

probabilidade conjunta de n-ésima ordem ( g ,g ,...,g ;t ,t ,..., t )<br />

da escolha da origem dos tempos para todo n, isto é,<br />

p<br />

G<br />

p for independente<br />

( g ,g ,...,g ;t ,t ,...,t ) p ( g ,g ,...,g ;t − T,t − T,...,t − T)<br />

1<br />

2<br />

n<br />

1<br />

2<br />

n<br />

G<br />

1<br />

2<br />

G<br />

n<br />

1<br />

1<br />

2<br />

= (2.58)<br />

para todos os n e todos os T. Para tal tipo de processo estocástico, a função<br />

densidade de primeira ordem é independente do tempo e, portanto, pode ser escrita<br />

como p G (g). Analogamente, a função densidade de segunda ordem depende somente<br />

da diferença temporal τ = t 2 – t 1 , podendo ser escrita como p G (g 1 ,g 2 ;τ). Um processo<br />

estocástico é dito estacionário latu sensu se satisfizer às seguintes condições:<br />

a) E[g(t)] é independente de t;<br />

b) E[g(t 1 )g(t 2 )] depende somente de τ = t 2 – t 1 .<br />

Todo processo estocástico estacionário strictu sensu é estacionário latu sensu,<br />

mas um processo estocástico estacionário latu sensu não necessariamente é<br />

estacionário strictu sensu. A classe mais restritiva de processo estocástico é a classe<br />

dos ergódicos [Re80], [Le73]. Neste caso, estamos interessados numa comparação<br />

das propriedades de uma função amostra individual em sua evolução temporal com as<br />

propriedades do conjunto como um todo em um ou mais instantes de tempo<br />

específicos. Assim, gostaríamos de saber se cada função amostra é representante<br />

típica do conjunto completo. Tal conceito pode ser ilustrado como na figura 2.4.<br />

2<br />

n<br />

1<br />

2<br />

n<br />

n<br />

t 3<br />

t 5<br />

t 6<br />

t 0<br />

t 4<br />

t 1<br />

t 2<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 2.4: Diagramas fundamentais do conceito de<br />

ergodicidade. Em (a) vemos um instantâneo do conjunto,<br />

onde aparecem todos os seus elementos. Em (b)<br />

acompanhamos a dinâmica de um elemento típico do<br />

conjunto.<br />

55


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Para um processo estocástico ser ergódico é necessário que seja estacionário<br />

strictu sensu. Este requerimento é melhor compreendido se considerarmos um<br />

exemplo de um processo estocástico que não é ergódico devido à não<br />

estacionariedade. Algumas funções amostra de um processo como este podem ser<br />

vistas na figura 2.5. Suponhamos que todas as funções amostra tenham as mesmas<br />

distribuições de freqüência (no sentido de ocorrência) ao longo do tempo. Podemos<br />

ver claramente que as freqüências observadas no processo nos instantes de tempo em<br />

torno de t 1 e em torno de t 2 não são as mesmas, já que as flutuações de todas as<br />

funções amostra são maiores em torno de t 2 do que em torno de t 1 . Assim, não existe<br />

uma única distribuição de freqüência para o processo, não sendo elas idênticas para<br />

todos os tempos. Portanto, o processo não é ergódico.<br />

( t)<br />

g 1<br />

g 2<br />

( t)<br />

g k<br />

( t)<br />

Figura 2.5: Funções amostra de um<br />

processo aleatório não estacionário<br />

(adaptada de [Go85]).<br />

t 1 t 2<br />

Embora o processo deva ser estacionário strictu sensu para ser ergódico, nem<br />

todo processo estacionário strictu sensu é necessariamente ergódico. Por exemplo,<br />

seja o processo estocástico G(t), representando a amplitude e a fase de um campo<br />

elétrico, ilustrado na figura 2.6:<br />

G(t) = A cos(ωt + Φ) , (2.59)<br />

onde ω é uma constante e A e Φ são variáveis aleatórias independentes com funções<br />

de densidade de probabilidade<br />

( a −1) δ( a − 2)<br />

δ<br />

p A<br />

(a) = +<br />

2 2<br />

. (2.60)<br />

⎧1 2π<br />

, − π ≤ ϕ < π<br />

pΦ<br />

( ϕ)<br />

= ⎨<br />

⎩ 0 , outro caso<br />

56


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Figura 2.6: Exemplo de um processo<br />

estacionário que não é ergódico. As<br />

curvas representam a amplitude e a fase<br />

de um campo elétrico, por exemplo<br />

(adaptada de [Go85]).<br />

g 1<br />

() t<br />

g 2<br />

() t<br />

g 3<br />

() t<br />

g 4<br />

() t<br />

Como a distribuição de Φ é uniforme no intervalo considerado, este processo<br />

aleatório é estacionário strictu sensu. Entretanto, uma única função amostra não é<br />

representante de todo o processo: há duas classes de funções amostra: uma com<br />

amplitude 1, que ocorre com probabilidade ½, e outra com amplitude 2, ocorrendo com<br />

a mesma probabilidade. Evidentemente, as freqüências de ocorrência observadas em<br />

funções amostra de cada uma das classes são diferentes e o processo não é ergódico.<br />

Se um processo estocástico for ergódico, qualquer média temporal (calculada<br />

sobre uma função amostra) é igual à média de conjunto. Se f(g) for a quantidade da<br />

qual se quer saber a média, podemos calcular a média temporal:<br />

f<br />

T<br />

2<br />

1<br />

= lim f[ g()<br />

t ]dt<br />

T→∞<br />

T<br />

∫ . (2.61)<br />

−T<br />

2<br />

Esta média é igual à média de conjunto<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

f = p (g)f(g)dg. (2.62)<br />

G<br />

Assim, para um processo estocástico ergódico, as médias temporal e de<br />

conjunto são completamente equivalentes [Re85].<br />

57


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

2.9 – Análise espectral de processos aleatórios<br />

Seja ϕ(t) uma função conhecida do tempo. Duas classes de funções do tempo<br />

podem ser identificadas. Se ϕ(t) tiver a propriedade<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

() dt < ∞<br />

ϕ t (2.63)<br />

então podemos definir a transformada de Fourier de ϕ(t). Entretanto, pode ocorrer que<br />

ϕ(t) não tenha a propriedade (2.63), mas satisfaça à condição<br />

T<br />

2<br />

2<br />

→∞ ∫ ϕ<br />

T<br />

−T<br />

2<br />

() t<br />

lim dt < ∞ . (2.64)<br />

Neste caso, ϕ(t) tem potência média finita. Em casos práticos, estas propriedades<br />

estão ligadas ao problema da distribuição de energia ou potência do campo óptico em<br />

função da freqüência. Tais descrições são chamadas de densidade espectral de<br />

energia (espectro de energia) e densidade espectral de potência (espectro de potência)<br />

da função ϕ(t).<br />

Analogamente, se Φ(t) for um processo estocástico com funções amostra<br />

satisfazendo (2.63) ou (2.64), é importante saber caracterizar a maneira através da<br />

qual a energia ou a potência média são distribuídas em função da freqüência não só<br />

para uma função amostra, mas para todo o processo aleatório. Como não se conhece<br />

a priori a função amostra que vai ocorrer no experimento, a quantidade a ser<br />

considerada é a distribuição esperada de energia ou de potência média em função da<br />

freqüência. Estas distribuições esperadas, ou distribuições médias, são também<br />

chamadas de densidade espectral de energia e densidade espectral de potência do<br />

processo estocástico Φ(t).<br />

Se ϕ(t) for uma função com transformada de Fourier, então<br />

ξ<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( ν) = ϕ( t) exp( iωt)dt<br />

sempre existe. Usando o teorema de Parseval [Ma95], a área<br />

sobre ξ ( ν) 2<br />

é igual à energia total contida em ϕ(t), isto é,<br />

58


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

+∞<br />

+∞<br />

∫ ϕ 2<br />

2<br />

() t dt = ∫ ξ( ν) dν<br />

−∞<br />

−∞<br />

Assim, a quantidade ( ) ( ) 2<br />

. (2.65)<br />

ε ν = ξ ν tem dimensões de energia por unidade de<br />

freqüência, sendo identificada como a densidade espectral de energia de ϕ(t).<br />

Por outro lado, suponhamos que ϕ(t) não tenha transformada de Fourier, mas<br />

tem uma potência média finita. A integral que define ξ(ν) neste caso não existe, mas<br />

para o caso da função truncada<br />

() t<br />

⎪⎧<br />

ϕ , − T ≤ t ≤ T<br />

ϕ () = ⎨ 2 2<br />

T<br />

t<br />

(2.66)<br />

⎪⎩ 0, outro caso<br />

existe a transformada, ξ T (ν). A quantidade ( ) 2<br />

ξ ν representa a distribuição de energia<br />

sobre as freqüências para a função truncada ϕ T (t). Portanto, o espectro de energia<br />

normalizado ( ν) = ξ( ν) T<br />

T<br />

2<br />

T<br />

Σ tem dimensões de potência por unidade de freqüência.<br />

Definimos então a densidade espectral de potência de ϕ(t) como<br />

Σ<br />

( ν)<br />

ξ<br />

= lim<br />

T→∞<br />

T<br />

( ν)<br />

T<br />

2<br />

. (2.67)<br />

As definições acima para ε(ν) e Σ(ν) aplicam-se a uma única função ϕ(t).<br />

Entretanto, um processo aleatório contém uma série de diferentes funções ϕ i (t) e uma<br />

nova definição de densidade espectral de potência é necessária. Como queremos<br />

encontrar uma distribuição espectral que caracteriza todo o processo aleatório, é<br />

razoável definir as quantidades em questão em termos de médias. Assim, temos que<br />

ε<br />

Σ<br />

Φ<br />

Φ<br />

( ν) = E ξ( ν)<br />

( ν)<br />

= lim<br />

2<br />

[ ]<br />

2<br />

E[ ξT<br />

( ν)<br />

]<br />

T→∞<br />

T<br />

. (2.68)<br />

As funções de densidade espectrais acima definidas são sempre positivas e<br />

funções pares da freqüência. Notamos também que<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

Φ<br />

+∞<br />

2<br />

( ν) dν<br />

= ∫ϕ<br />

( t)dt<br />

ε (2.69) e<br />

−∞<br />

59


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

+∞<br />

∫ Σ<br />

−∞<br />

Φ<br />

( ν)<br />

⎪<br />

⎧ ϕ<br />

ν = ⎨<br />

ϕ ⎪⎩<br />

d<br />

2<br />

2<br />

,<br />

() t<br />

,<br />

se Φ(t)<br />

for estacionário<br />

, (2.70) pois<br />

se Φ(t)<br />

não for estacionário<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

Σ<br />

Φ<br />

( ν)<br />

dν =<br />

+∞<br />

∫<br />

E<br />

lim<br />

T→∞<br />

−∞<br />

2<br />

+∞<br />

+∞<br />

[ ξ ( ν)<br />

] ⎡ ⎤ ⎡ ⎤<br />

T 2<br />

T<br />

1<br />

2 1<br />

ν = ⎢ ∫ ξ ( ν) ν⎥<br />

= ⎢ ∫ ϕ<br />

2<br />

1 2<br />

d lim E<br />

T<br />

d lim E<br />

T<br />

() t dt⎥<br />

= lim ∫E<br />

ϕT<br />

() t<br />

T<br />

T→∞<br />

T<br />

⎣<br />

−∞<br />

⎦<br />

T→∞<br />

T<br />

⎣<br />

−∞<br />

⎦<br />

T→∞<br />

T<br />

−T<br />

2<br />

[ ]<br />

onde na penúltima igualdade utilizamos o teorema de Parseval. Finalmente, podemos<br />

notar que o último membro da cadeia de igualdades acima é igual a ϕ 2 se Φ(t) for<br />

2<br />

estacionário e é igual a ϕ () t se Φ(t) não for estacionário.<br />

dt<br />

2.10 – Funções de auto correlação e o Teorema de Wiener-Kintchine<br />

Dada uma função do tempo g(t), que pode ser uma função amostra de um<br />

processo estocástico G(t), define-se a sua função de auto correlação como<br />

~<br />

Γ<br />

G<br />

∗<br />

∗<br />

() τ = g( t + τ) g() t = lim ∫ g( t + τ) g( t)<br />

T→∞<br />

1<br />

T<br />

T<br />

2<br />

−T<br />

2<br />

dt . (2.71)<br />

~<br />

A propriedade de um processo aleatório G(t) relacionada com () τ é a função<br />

de auto correlação estatística, definida como<br />

G<br />

+∞ +∞<br />

( t<br />

2,t1) = g( t<br />

2<br />

) g( t1) = ∫∫g2g1p<br />

G<br />

( g1,g2;t<br />

2,t1) dg1dg2<br />

Γ . (2.72)<br />

−∞ −∞<br />

Fisicamente, a função de auto correlação temporal mede a semelhança<br />

estrutural de g(t) e g(t+τ) numa média sobre todos os tempos, enquanto que a função<br />

de auto correlação estatística mede a semelhança entre g(t 1 ) e g(t 2 ) sobre o conjunto<br />

estatístico. No caso de um processo aleatório estacionário (ao menos latu sensu), Γ G é<br />

função somente da diferença entre os tempos t 2 -t 1 =τ. Além disto, para um processo<br />

aleatório ergódico, as funções de auto correlação temporal de todas as funções<br />

amostra são idênticas e também são iguais à função de auto correlação estatística, isto<br />

é, no caso mais restrito de processos aleatórios, Γ ( τ) = Γ ( τ)<br />

~<br />

G<br />

G<br />

.<br />

Γ G<br />

60


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Como propriedades diretamente derivadas da definição de função de auto<br />

correlação temos que<br />

a) Γ<br />

b) Γ<br />

c) Γ<br />

G<br />

G<br />

G<br />

2<br />

( 0)<br />

= g ;<br />

( − τ) = ΓG<br />

( τ)<br />

() τ ≤ Γ ( 0).<br />

G<br />

;<br />

(2.73)<br />

A propriedade c) pode ser facilmente verificada utilizando-se os mesmos<br />

argumentos que levaram à equação (A2c.4). Grande importância das funções de auto<br />

correlação é de ordem prática, pois elas apresentam uma relação estreita com a<br />

densidade espectral de potência, formando um par canonicamente conjugado. Da<br />

definição de densidade de potência espectral, obtemos<br />

Σ<br />

G<br />

( ν)<br />

E[ ξ<br />

= lim<br />

T→∞<br />

T<br />

( ν)<br />

ξ<br />

T<br />

∗<br />

T<br />

( ν)]<br />

E<br />

= lim<br />

T→∞<br />

[ ξ ( ν) ξ ( − ν)<br />

]<br />

Da definição de ξ T (ν) e da equação (2.66), vemos que<br />

ξ<br />

ξ<br />

T<br />

T<br />

+∞<br />

⎛ α ⎞<br />

⎝ T ⎠<br />

( ν) = ∫ ρ⎜<br />

⎟g( α) exp( i2πνα)<br />

−∞<br />

+∞<br />

⎛ β ⎞<br />

⎝ T ⎠<br />

dα<br />

( − ν) = ∫ ρ⎜<br />

⎟g( β) exp( i2πνβ) dβ<br />

−∞<br />

T<br />

T<br />

T<br />

. (2.74)<br />

, (2.75)<br />

onde foi introduzida a função ρ(x)=1 (caso |x|≤1/2) e ρ(x)=0 (em qualquer outro caso).<br />

Substituindo a equação (2.75) em (2.74), obtemos<br />

E<br />

[ ( ) ] 2<br />

+∞ +∞<br />

ξT<br />

ν 1 ⎛ α ⎞ ⎛ β ⎞<br />

= ∫∫ρ⎜<br />

⎟ρ⎜<br />

⎟E[ g ( α ) g ( β ) ] exp[ i2πν( α − β)<br />

] dα<br />

dβ<br />

T<br />

T<br />

−∞ −∞<br />

⎝ T ⎠<br />

⎝ T ⎠<br />

Na expressão acima, identificamos E[g(α)g(β)] como a função de auto correlação<br />

estatística de G(t). Assim,<br />

E<br />

[ ( ) ] 2<br />

+∞ +∞<br />

ξT<br />

ν 1 ⎛ α ⎞ ⎛ β ⎞<br />

= ∫∫ρ⎜<br />

⎟ρ⎜<br />

⎟Γ ( α β ) [ πν ( α − β )<br />

G<br />

, exp i2 ] dα<br />

dβ<br />

T<br />

T<br />

−∞ −∞<br />

⎝ T ⎠<br />

⎝ T ⎠<br />

Fazendo α → t+τ e β → t, obtemos<br />

Σ<br />

G<br />

( ν)<br />

E<br />

= lim<br />

T→∞<br />

. (2.76)<br />

[ ( ) ] 2<br />

+∞ +∞<br />

ξT<br />

ν 1 ⎛ t + τ ⎞ ⎛ t ⎞<br />

= lim ∫∫ρ⎜<br />

⎟ρ⎜<br />

⎟Γ ( t + τ,t<br />

) exp ( i2πντ<br />

) dt d τ<br />

G<br />

T<br />

T→∞<br />

T<br />

−∞ −∞<br />

⎝<br />

T<br />

⎠<br />

⎝ T ⎠<br />

, donde<br />

61


Capítulo 2 ___________________________________ Fundamentos estatísticos de processos aleatórios<br />

Σ<br />

+∞<br />

+∞<br />

+∞<br />

⎧ 1 ⎛ t + τ ⎞ ⎛ t ⎞<br />

⎫<br />

⎩ ⎝ T ⎠ ⎝ T ⎠<br />

⎭<br />

(2.77)<br />

A equação (2.77) é geral. Quando o processo aleatório é pelo menos<br />

( ν) = ∫⎨lim<br />

∫ρ⎜<br />

⎟ρ⎜<br />

⎟ΓG<br />

( t + τ,t<br />

) dt⎬exp( i2πντ) dτ<br />

= ∫ ΓG<br />

( t + τ,t<br />

) exp( i2πντ) dτ<br />

G<br />

.<br />

T→∞<br />

T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

estacionário latu sensu, Γ G (t+τ,t)=Γ G (τ) e<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( ν) = Γ ( τ) exp( i2πντ) dτ<br />

ΣG G<br />

. (2.78)<br />

Esta relação pode ser invertida para expressar a função de correlação a partir da<br />

função densidade de potência espectral<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

() τ = Σ () ν exp( − i2πντ)<br />

ΓG G<br />

dν<br />

. (2.79)<br />

As equações (2.78) e (2.79) são conhecidas como teorema de Wiener-<br />

Kintchine, que encontra muitas aplicações na Física. Estas relações são<br />

extremamente úteis, pois permitem contornar problemas de convergência nas<br />

transformadas de Fourier definidas em (1.1) quando f(t) representa uma variável<br />

aleatória de um processo estocástico [Nu73].<br />

Na terceira parte desta Tese, correspondente aos resultados experimentais<br />

obtidos e descrita a seguir, utilizaremos os conceitos introduzidos neste capítulo, que<br />

são explicitamente aplicados na seção 3.5.<br />

62


Capítulo 3<br />

Espectroscopia não linear<br />

com luz incoerente


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

3.1 – Introdução<br />

Após fazermos um apanhado geral sobre as características dos primeiros<br />

experimentos de mistura de ondas com luz incoerente e seus resultados, mostramos<br />

neste capítulo as bases teóricas das técnicas de mistura de ondas com luz incoerente e<br />

traçamos um paralelo entre a autodifração com luz incoerente e o fenômeno do eco de<br />

fótons estimulado (EFE). As seções 3.2 a 3.6 contêm os resultados experimentais que<br />

representam as contribuições originais desta Tese.<br />

O ponto de partida das técnicas espectroscópicas empregando luz incoerente<br />

foi o trabalho de Vasil’eva e colaboradores [Va82], que examinou com certo detalhe<br />

vários aspectos do uso da luz incoerente para a espectroscopia resolvida no tempo,<br />

que até então era feita utilizando-se pulsos ultra curtos, cuja duração tinha que ser<br />

menor do que os tempos de relaxação investigados para que estes pudessem ser<br />

medidos. À época isto era relativamente problemático, pois a produção de pulsos ultra<br />

curtos era difícil e as relaxações de interesse eram muito rápidas, da ordem de dezenas<br />

de fs a dezenas de ps. Como alternativa, Vasil’eva e colaboradores propuseram o uso<br />

da técnica de autodifração com luz incoerente, após perceberem que se os feixes<br />

incidentes na amostra não forem coerentes, o padrão de interferência na região de<br />

interação não é estacionário: as posições dos máximos e dos mínimos variam com o<br />

tempo (somente o período espacial do padrão, determinado pelo ângulo entre os feixes,<br />

se mantém constante). Os materiais estudados foram moléculas de corantes orgânicos<br />

e a grandeza medida era a intensidade de difração em função do atraso relativo τ entre<br />

os feixes formadores da grade, I(τ), normalizada pelo seu valor em τ=0, I(0). I(τ)/I(0) é<br />

independente dos valores das intensidades dos feixes, da absorção do corante, da<br />

transmissão e da espessura da solução. A única grandeza restante é o tempo<br />

característico da relaxação τ r .<br />

Estas moléculas de corante são anisotrópicas, o que faz com que a<br />

probabilidade de absorção de radiação seja dependente da sua orientação em relação<br />

ao vetor campo elétrico E r<br />

incidente. Assim, a relaxação medida não é uma<br />

exponencial simples. Existe uma componente rápida, associada à relaxação eletrônica,<br />

e outra mais lenta, associada à relaxação (difusão) rotacional. Além disto, alguma<br />

64


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

energia dos campos de excitação é convertida em calor na amostra. Assim, pode-se<br />

observar também uma relaxação de origem térmica, bastante mais lenta do que as<br />

demais. Para evitar contribuições deste tipo, propuseram a utilização dos feixes de<br />

excitação com polarizações ortogonais, configuração em que obtém-se pouca ou<br />

nenhuma interferência de intensidade, havendo uma variação espacial periódica do<br />

estado de polarização do campo total, determinado a cada ponto pela diferença de fase<br />

entre os campos. A resposta do corante a um campo com estas características é a<br />

formação de uma grade de dicroísmo induzido, que é responsável pela rotação da<br />

polarização dos feixes incidentes.<br />

Asaka e colaboradores [As84] estudaram o fenômeno do eco de fótons<br />

acumulado usando luz coerente e incoerente. Neste último caso, mostraram que a<br />

resolução temporal é determinada pelo tempo de coerência do campo de excitação t c e<br />

não pela duração do pulso t p . Teoricamente previram, para o caso em que o tempo de<br />

coerência é muito menor do que o tempo de relaxação da polarização induzida, um<br />

sinal da forma I() τ ∝ exp( − 4τ<br />

/ )<br />

T 2<br />

, onde τ é o atraso relativo entre dois feixes gêmeos<br />

em um esquema de auto difração e T 2 é o tempo de defasamento óptico. O tempo de<br />

subida do sinal era determinado por t c . Em amostras de vidro silicato dopado com 3%<br />

molar de Nd 3+ a T=20 K, compararam os resultados da intensidade do sinal de eco de<br />

fótons com o atraso usando pulsos ultra curtos (t p = 3 ps) e pulsos de luz incoerente (t c =<br />

0,7 ps), medindo valores de T 2 de 60 ps e 57 ps, respectivamente. Também<br />

demonstraram que, com um laser quase CW, operando em regime de travamento de<br />

modos propositadamente mal alinhado, que proporcionava uma emissão de radiação<br />

com largura de linha de 4,4 nm em 591 nm (correspondendo a um t c = 220 fs), puderam<br />

medir os valores de T 2 concordantes com as medidas anteriores. Logo após este<br />

trabalho, Nakatsuka e colaboradores [Na84] mediram T 2 nesta mesma amostra a 10 K<br />

com a luz incoerente de um laser de Nd:YAG operando em modo “Q-switch” e com<br />

pulsos de duração t p = 10 ns com uma resolução temporal de 0,6 ps. A dependência de<br />

T 2 com a temperatura para amostras mais dopadas foi verificada usando-se esta<br />

técnica por Nakanishi e colaboradores [Na88]. Beach e Hartmann [Be84] usaram fonte<br />

de luz térmica (incoerente) para demonstrar o eco de fótons num regime em que não há<br />

65


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

superposição temporal entre as intensidades dos lasers incidentes para gerar o sinal<br />

em uma amostra de vapor de sódio.<br />

Morita e Yajima estabeleceram as bases teóricas para a compreensão da<br />

espectroscopia transiente em processos de mistura degenerada de quatro ondas<br />

ressonante no limite perturbativo para um sistema de dois níveis [Mo84]. Muitos<br />

aspectos interessantes podem ser encontrados neste trabalho. A partir da observação<br />

de que a luz incoerente aparece como um único pulso de duração t c numa medida de<br />

auto correlação, espera-se que tenha o mesmo papel de um pulso ultra curto em<br />

espectroscopias não lineares usando técnicas de correlação. Assim, sugeriram a<br />

interpretação da luz incoerente como uma série de pulsos ultra curtos aleatórios, de<br />

forma que o processo de mistura de quatro ondas pode ser entendido como um<br />

conjunto de numerosos processos de mistura de quatro ondas causados por<br />

combinações de três pulsos. Neste trabalho, os autores também fazem uma<br />

comparação das formas dos sinais de mistura de quatro ondas usando luz coerente e<br />

incoerente para os casos de transições homogeneamente e não homogeneamente<br />

alargadas, em que destacam três diferenças básicas dos sinais de correlação, de<br />

compreensão não trivial, a priori:<br />

a) Os traços de correlação não são curvas de decaimento necessariamente<br />

exponenciais quando se usa luz incoerente, ao passo que o sinal sempre decai com<br />

uma única taxa<br />

1<br />

T −<br />

2<br />

quando utilizando pulsos ultra curtos;<br />

b) Sempre existe um sinal de fundo nos traços de correlação usando luz<br />

incoerente, mesmo para<br />

curtos.<br />

τ<br />

>> t<br />

c<br />

, o que não acontece para o caso de pulsos ultra<br />

c) Os traços de correlação para transições homogeneamente alargadas<br />

crescem com τ na região de τ < 0 para o caso de pulsos incoerentes, enquanto que é<br />

zero para o caso de pulsos ultra curtos.<br />

Mi e colaboradores [Mi89] estudaram teoricamente o caso de um sistema multinível<br />

alargado homogeneamente, mostrando que o parâmetro que determina a<br />

dependência da intensidade do sinal de mistura degenerada de quatro ondas não é a<br />

66


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

largura<br />

1<br />

T −<br />

2<br />

de uma transição individual, mas a largura de linha efetiva da banda de<br />

absorção total.<br />

A escala de tempo em que ocorrem os processos estudados é muito importante<br />

para a análise das medidas de defasamento. Por exemplo, se a reorganização do<br />

sistema soluto/solvente (para o caso de uma solução) é mais rápida do que a duração<br />

dos pulsos de sonda (ou algo equivalente), então as flutuações do solvente que<br />

originam os diferentes ambientes para as moléculas do soluto dão média zero. Assim,<br />

a distribuição de níveis de energia, inicialmente não homogênea, aparece homogênea.<br />

Rápidas flutuações no líquido, causadas por flutuações de densidade ou de<br />

concentração, têm impacto diferente nas transições eletrônicas e vibracionais de<br />

moléculas em solução. As larguras de linha de transições eletrônicas são fortemente<br />

influenciadas por flutuações do solvente, enquanto que as de transições vibracionais<br />

são menos afetadas. Isto pode ser explicado pela maior inércia dos núcleos<br />

comparada com a dos elétrons moleculares, de forma que as rápidas flutuações do<br />

solvente se cancelam e, portanto, têm uma importância reduzida para o defasamento<br />

vibracional. Para a maior parte das vibrações, as flutuações do solvente são mais<br />

rápidas do que os tempos de defasamento, de modo que elas estão no limite de<br />

modulação rápida, isto é, as linhas Raman e infravermelhas são alargadas<br />

predominantemente de forma homogênea.<br />

As técnicas com luz incoerente são muito versáteis e permitem medir vários<br />

tempos de relaxação na matéria condensada. A mistura de quatro ondas incoerente na<br />

configuração de três feixes foi analisada teoricamente por Morita e colaboradores<br />

[Mo87], que encontraram uma forma de medir o tempo de relaxação de população T 1<br />

de um material ressonante. Os autores argumentam que a técnica que apresentam é<br />

mais vantajosa do que a de excitação e prova, pois nesta última o sinal vai direto para o<br />

detector e as flutuações em intensidade podem obscurecer o sinal a ser medido,<br />

enquanto que na técnica proposta o sinal é emitido em uma direção diferente da dos<br />

feixes incidentes. A técnica de excitação e prova com luz incoerente foi proposta por<br />

Tomita e colaboradores [To86]. Neste trabalho, os autores perceberam que o laser de<br />

Nd:YAG, que quando opera no modo Q-switch pode ser considerado uma fonte de luz<br />

incoerente [Pi70], [Ku73], poderia ser empregado num experimento de excitação e<br />

67


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

prova para medir T 1 com resolução temporal da ordem do inverso da largura de linha do<br />

laser, isto é, ~ 30 ps. Em [Mi89a], Minami e Hasegawa propuseram a configuração de<br />

excitação e prova usando dois lasers diferentes: um laser Nd:YAG e um laser de<br />

corante bombeado pelo primeiro. Neste caso, a correlação medida era de ordem mais<br />

alta e a resolução temporal era dada pelo tempo de correlação de intensidade dos<br />

lasers, que era em torno de 50 ps para os lasers utilizados. Em [Ba79] os autores<br />

chamam a atenção para o fato de que se pode obter informação a respeito do tempo de<br />

relaxação vibracional de transições vibrônicas usando a técnica de excitação e prova<br />

com luz incoerente. Em qualquer dos casos acima, é necessário ter um laser com boa<br />

estabilidade em intensidade para se obter um sinal de qualidade. Além de técnicas<br />

para medidas de tempos de relaxação, a luz incoerente também pode ser usada para<br />

realizar dispositivos ultra rápidos. Em [Ul97], Ulness e colaboradores propuseram o uso<br />

do espalhamento Raman estimulado [Bl67] com luz incoerente para construir uma<br />

chave lógica AND e uma XOR de uma maneira extremamente simples e elegante.<br />

A motivação para o desenvolvimento de técnicas espectroscópicas com luz<br />

incoerente foi composta por três fatores principais: à época em que foi concebida,<br />

lasers gerando pulsos de até 10 fs já eram disponíveis. Porém, eram muito caros e de<br />

estrutura complexa. Além disto, o comprimento de onda central de emissão desses<br />

lasers era restrito à região do espectro entre 615 e 625 nm, devido à limitação imposta<br />

pela combinação adequada do meio de ganho com o absorvedor saturável. Isto<br />

limitava muito o intervalo de comprimentos de onda no qual o material podia ser<br />

estudado. Hoje em dia estas dificuldades foram praticamente removidas com o<br />

desenvolvimento e a popularização dos osciladores paramétricos ópticos. Um terceiro<br />

fator, entretanto, permanece. Um pulso ultra curto é alargado temporalmente devido à<br />

dispersão em componentes ópticos e/ou na amostra, diminuindo a resolução temporal<br />

do sistema.<br />

As fontes de luz incoerente apresentavam-se como boas opções aos pulsos<br />

ultra curtos, pois é mais fácil operar lasers de nanosegundos do que fontes de pulsos<br />

ultra curtos, o comprimento de onda de lasers de corante de ns pode ser mudado<br />

facilmente mudando a solução de corante usada como meio de ganho e, mais<br />

importante, a resolução temporal não é afetada pela dispersão, mesmo quando o<br />

68


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

campo de luz incoerente usado no experimento se propaga por longos caminhos<br />

ópticos, conforme demonstrado por Gomes e colaboradores [Go89].<br />

Entretanto, cabe observar que se paga um preço pelas facilidades oferecidas<br />

pelas técnicas com luz incoerente. Em alguns casos, devido ao aparecimento do típico<br />

pico de coerência e/ou da componente de fundo constante no sinal, aquilo que se quer<br />

medir fica encoberto por estes artefatos. Para a obtenção de uma boa relação<br />

sinal/ruído é necessário ajustar a largura espectral do laser (ajustar o t c ) para uma<br />

condição ótima. Além disto, como as técnicas espectroscópicas com luz incoerente<br />

empregam lasers de pulsos com duração da ordem de ns, a energia dos feixes é<br />

necessariamente maior do que a dos feixes de pulsos ultra curtos com a mesma<br />

potência de pico. Então, os efeitos térmicos em experimentos com luz incoerente<br />

podem ter maior influência do que em experimentos usando pulsos ultra curtos. O<br />

efeito térmico pode ser representado pelo índice de refração não linear térmico<br />

T ⎛ dn ⎞ α<br />

dn<br />

n2<br />

= ⎜ ⎟ τd<br />

, onde é a derivada do índice de refração n em relação à<br />

⎝ dT ⎠ ρC<br />

dt<br />

temperatura T, C é o calor específico do material, ρ é a sua densidade de massa, α é<br />

seu coeficiente de absorção linear e τ d o tempo de decaimento do aumento de<br />

temperatura, que pode ser relacionado com o coeficiente de difusão térmica D através<br />

da relação τ d =(α 2 D) -1 [Ko88]. Se o comprimento de absorção d=1/α for da ordem de 10<br />

nm a 1 µm, τ d é da ordem de ns – ps. Quando pulsos ultra curtos de duração t p da<br />

ordem de dezenas de fs são usados, o n T 2<br />

devido ao aumento da temperatura é<br />

reduzido por um fator t p /τ d . Portanto, os efeitos térmicos são mais importantes quando<br />

fontes de luz de duração de ns são usadas. Por exemplo, no caso da medida do tempo<br />

de defasamento eletrônico T 2 em um experimento de autodifração em um material<br />

ressonante, se as polarizações dos dois feixes incoerentes são paralelas, a contribuição<br />

para o sinal devida à grade térmica pode ser bem maior do que a contribuição<br />

eletrônica. Em casos como este, os feixes de excitação devem ter suas polarizações<br />

perpendiculares entre si. Entretanto, ainda assim pode ser bem difícil eliminar os<br />

efeitos térmicos quando, por exemplo, os feixes de excitação se propagam em uma<br />

amostra anisotrópica, em que a condição de polarizações perpendiculares é destruída<br />

se um dos feixes não coincidir com o eixo óptico.<br />

69


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A técnica mais simples para a medida de tempos de defasamento eletrônico T 2<br />

seja a autodifração degenerada com luz incoerente. Nesta configuração, mostrada na<br />

figura 3.1, dois feixes de mesma freqüência óptica ω, originados de uma mesma<br />

cavidade laser, incidem no material não linear ressonante com vetores de onda k r 1<br />

e k r<br />

2<br />

formando um pequeno ângulo entre si. O feixe na direção k r<br />

1<br />

pode sofrer um atraso τ<br />

em relação ao feixe que se propaga na direção k r 2<br />

, já que passa por uma linha de<br />

atraso variável controlada por computador.<br />

k r 2<br />

k r<br />

1<br />

A<br />

r<br />

k<br />

r<br />

k<br />

r<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

r<br />

r<br />

r<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

Figura 3.1: Esquema de feixes usado na autodifração<br />

degenerada para medida do tempo de defasamento<br />

eletrônico T 2 .<br />

No que se segue consideraremos que o material pode ser representado por um<br />

sistema de dois níveis e usamos a aproximações de dipolo e de onda girante. O campo<br />

elétrico total incidente na amostra é dado por<br />

() E ~ r r<br />

( ) { [ ( )]} E ~ r r<br />

Ê t = t − τ exp i k1 ⋅<br />

− ω t − τ + ( t) exp[ i( k<br />

2<br />

⋅<br />

− ωt)<br />

], (3.1)<br />

onde E ~ () t é a envoltória lentamente variável do campo. Usando o método perturbativo<br />

da matriz densidade, como discutido no capítulo 1, obtemos a polarização não linear de<br />

terceira ordem responsável pela geração do campo que se propaga na direção<br />

r r r<br />

k = 2k − :<br />

4 2<br />

k1<br />

t t t<br />

( ) (<br />

r<br />

) [( r<br />

+∞<br />

1 2<br />

3<br />

r )]<br />

⎡<br />

( ) ( )<br />

1<br />

⎤<br />

P t, τ;k<br />

4,<br />

ω ∝ exp i k<br />

4<br />

⋅<br />

− ωt<br />

∫ d ∆ω g ∆ω ∫dt1<br />

∫dt<br />

2 ∫dt<br />

3<br />

exp⎢−<br />

( t − t1<br />

+ t<br />

2<br />

− t<br />

3 ) ⎥ ×<br />

T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

⎣ 2<br />

⎦<br />

∗<br />

∗<br />

{ Ê( t ) Ê( t ) Ê ( t − τ) exp[ − i∆ω( t − t − t + t )] + Ê( t ) Ê ( t − τ) Ê( t ) exp[ − i∆ω( t − t + t − t )]}<br />

1<br />

⎡<br />

× exp⎢−<br />

⎣<br />

2<br />

1<br />

T<br />

1<br />

( t − t ) ,<br />

1<br />

3<br />

2<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

(3.2)<br />

70


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

onde g(∆ω) é a função de distribuição da diferença entre a freqüência de Bohr do<br />

material e a freqüência óptica do laser ω. A dependência com o atraso τ da intensidade<br />

do sinal I(τ) é dada pela média de conjunto sobre todos os modos do campo integrando<br />

sobre todos os tempos de modo que:<br />

( ∗<br />

r<br />

( )<br />

() )( ) (<br />

r<br />

3<br />

3<br />

τ = dt P t, τ;k<br />

, ω ⋅P<br />

t, τ;k<br />

, ω )<br />

+∞<br />

I ∫<br />

4<br />

4<br />

−∞<br />

. (3.3)<br />

Consideramos que o campo elétrico possa ser representada por<br />

E ~<br />

() t ε() t ⋅ η()<br />

t<br />

= , (3.4)<br />

onde ε(t) representa a envoltória do campo (uma função determinística, lentamente<br />

variável) e η(t) contém as propriedades estatísticas do campo incoerente. Se o campo<br />

obedece a uma estatística estacionária Gaussiana complexa, η(t) tem as seguintes<br />

propriedades:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

η<br />

η<br />

η<br />

∗<br />

() t = η ( t)<br />

= 0;<br />

∗ ∗<br />

() t η( t − τ) = η () t η ( t − τ)<br />

∗() t η( t − τ) = Γ(),<br />

τ<br />

= 0;<br />

(3.5)<br />

onde Γ(τ) é a função de auto correlação e a operação ... é uma média temporal sobre<br />

toda a duração do pulso de luz incoerente.<br />

Para o caso de forte alargamento não homogêneo, g(∆ω) é uma constante na<br />

integral em ∆ω. Quando T 1 >>T 2 e t c , que é a situação de maior interesse nesta Tese, e<br />

⎛ 2 ⎞<br />

supondo uma função de correlação Gaussiana Γ() τ = exp ⎜−<br />

τ<br />

2 ⎟ , a equação (3.3)<br />

⎝ t<br />

c ⎠<br />

pode ser escrita como<br />

+∞<br />

∗<br />

( τ) ∝ dt ∫ dt′<br />

Γ( t′<br />

− τ) Γ( t − τ) Γ ( t′<br />

− τ) exp[ − 2( t + t )/<br />

T2<br />

]<br />

I ∫<br />

′ . (3.6)<br />

0<br />

+∞<br />

0<br />

Quando T 2 >>t c , o sinal decai exponencialmente a uma taxa característica 4/T 2 . Na<br />

figura 3.2 a forma do sinal descrito pela equação (3.6) é mostrada para vários valores<br />

do tempo de defasamento T 2 , onde funções de correlação Gaussianas foram utilizadas.<br />

Podemos observar que, à medida em que T 2 cresce, o sinal fica<br />

sistematicamente mais assimétrico e o pico desloca-se para valores de τ mais distantes<br />

71


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

de zero. Quando o tempo de defasamento é menor ou da ordem do tempo de<br />

correlação, o sinal é simétrico. Entretanto, o pico continua aparecendo deslocado em<br />

relação ao atraso zero como uma função monotonicamente crescente de T 2 . Se o sinal<br />

na direção k r 3<br />

tiver seu pico deslocado para valores de τ positivos, o sinal na direção k r<br />

4<br />

terá seu pico deslocado para valores de τ negativos.<br />

Intensidade<br />

T 2 /t c<br />

Figura 3.2: Resultados dos cálculos<br />

da dependência da intensidade do<br />

sinal com o atraso entre os feixes<br />

num experimento de MDQO para a<br />

medida de T 2 [Ko88].<br />

τ / t c<br />

Isto ocorre devido a uma simetria de inversão temporal compartilhada pelos<br />

sinais nas direções k r 3<br />

e k r 4<br />

, isto é, para obter o perfil temporal do sinal emitido na<br />

direção k r<br />

3<br />

basta substituir τ por -τ na equação (3.6). Isto é visto facilmente analisandose<br />

as fases temporais destas ondas: para k r 3<br />

, temos Φ 3 = 2(t-τ)-t = t-τ, enquanto que<br />

para k r 4<br />

, obtém-se Φ 4 = 2t-(t-τ) = t+τ. A conclusão é que mesmo para pequenos<br />

valores de T 2 , a técnica permite medi-los se forem registrados os sinais nas direções k r<br />

3<br />

e k r<br />

4<br />

simultaneamente e medindo a separação entre os picos dos sinais. A relação<br />

entre a separação entre os picos τ s e o tempo de defasamento T 2 é calculada<br />

considerando funções de correlação Gaussianas e os resultados são mostrados na<br />

figura 3.3.<br />

O mesmo tipo de comportamento foi encontrado por Weiner e colaboradores<br />

[We85] usando pulsos curtos em MQO numa configuração de três feixes. Neste caso,<br />

entretanto, é possível detectar um deslocamento do máximo do sinal difratado mesmo<br />

para tempos de defasamento nulos se T 1 >>t p .<br />

72


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

τ s<br />

/ t c<br />

Figura 3.3: Separação entre os picos τ s<br />

em função do tempo de defasamento<br />

eletrônico T 2 [Ko88].<br />

T 2 / t c<br />

O deslocamento dos picos de sinal ocorre de forma análoga ao que acontece<br />

no fenômeno de eco de fótons estimulado (EFE), cuja seqüência temporal de pulsos é<br />

ilustrada na figura 3.4.<br />

τ<br />

τ<br />

1 2 3 e<br />

γ<br />

−1<br />

NH<br />

t<br />

Figura 3.4: Esquema da seqüência temporal de pulsos π/2<br />

usado num experimento de EFE (ou mistura de quatro<br />

ondas com três feixes).<br />

Faremos no que se segue uma descrição sucinta do fenômeno de EFE [Le82].<br />

Na seqüência de excitações, o pulso π/2 em t 1 (1) promove a população, inicialmente no<br />

estado fundamental (vetor de Bloch no sentido negativo do eixo de simetria azimutal da<br />

esfera de Bloch) para o plano equatorial da esfera de Bloch, quando os dipolos<br />

induzidos começam a defasar com velocidades e sentidos diferentes, a depender da<br />

dessintonia ∆=ω 0 -ω de cada um (ω 0 é a freqüência de Bohr da transição e ω é a<br />

freqüência óptica do campo de excitação). O pulso π/2 em t 2 (2) promove os dipolos de<br />

forma que os vetores de Bloch passem a estar sobre o eixo de simetria azimutal da<br />

esfera de Bloch, apontando agora no sentido positivo, isto é, a população encontra-se<br />

no estado excitado. Os vetores de Bloch carregam a informação da fase adquirida<br />

pelos dipolos durante a evolução no plano equatorial da esfera de Bloch durante o<br />

tempo em que lá permaneceram, a saber τ=t 2 -t 1 . O pulso π/2 aplicado no tempo t 3 (3)<br />

73


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

então promove os dipolos de volta para o plano equatorial, onde, após um tempo τ=t 2 -t 1 ,<br />

todos se refasam, emitindo o sinal de EFE.<br />

O ponto chave neste processo é o fato de a detecção deste sinal ser feita com<br />

um detetor lento, que integra o sinal no tempo. A depender da largura de linha da<br />

distribuição não homogênea γ NH da amostra e do valor de τ pode acontecer de uma<br />

parte do sinal de EFE não ser emitida por ser não causal, como mostrado na figura 3.5.<br />

τ<br />

τ′<br />

τ′′<br />

I(τ)<br />

3 e<br />

(a)<br />

t<br />

3 e<br />

(b)<br />

t<br />

3 e<br />

(c)<br />

t<br />

0<br />

(d)<br />

τ<br />

Figura 3.5: Sinais de EFE em várias situações de atraso τ entre os pulsos 1 e<br />

2. Neste diagrama, τ > τ′ > τ ′′ . Em (a), a intensidade integrada é grande,<br />

pois todo o sinal de EFE é causal; em (b) e em (c) as intensidades decrescem<br />

sucessivamente, pois as partes não causais dos sinais vão se tornando mais<br />

significativas. Em (d), o resultado final, mostrando a intensidade detectada de<br />

EFE para vários valores τ de atraso relativo entre os pulsos 1 e 2. Em (a), (b) e<br />

(c) as regiões pontilhadas representam as partes causais do sinal de EFE, que<br />

é a quantidade de sinal integrada no detetor.<br />

r r r<br />

No caso de nosso experimento, para o sinal emitido na direção k<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

e<br />

segundo a interpretação da luz incoerente como uma seqüência de pulsos ultra curtos<br />

com duração t c , o que temos é um pulso do feixe na direção k r<br />

1<br />

e outro do feixe na<br />

direção k r<br />

2<br />

representando os pulsos 1 e 2 no EFE. Depois, o outro pulso do feixe na<br />

direção de k r<br />

1<br />

prova o sistema. É bom lembrar que ainda há de se fazer uma média<br />

estatística sobre o processo, o que eqüivale a considerar várias combinações possíveis<br />

destes pulsos de duração t c .<br />

É preciso ainda considerar o efeito da largura finita do alargamento não<br />

homogêneo sobre a separação entre os picos de sinal de MDQO. A equação (3.6) foi<br />

obtida considerando-se um alargamento não homogêneo infinito, mas na realidade ele<br />

sempre é finito. O que se verifica é que para um alargamento não homogêneo finito a<br />

74


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

separação entre os picos é menor do que para o caso de alargamento infinitamente não<br />

homogêneo, sendo a separação entre os picos igual a zero quando o sistema é<br />

alargado de forma puramente homogênea. Assim, o tempo de defasamento medido<br />

através de τ s pode ser uma subestimativa do seu valor real. Podemos calcular a<br />

relação entre a separação entre os picos τ s e a razão entre a largura de linha<br />

homogênea e a largura de linha não homogênea r = 1/δωT 2 na região linear da figura<br />

3.3, considerando uma forma de linha não homogênea Gaussiana dada por<br />

2<br />

1 ⎡ ⎛ ∆ω ⎞ ⎤<br />

g ( ∆ω)<br />

= exp⎢−<br />

⎜ ⎟ ⎥ , (3.7)<br />

πδω ⎢⎣<br />

⎝ δω ⎠ ⎥⎦<br />

onde δω é a grandeza que caracteriza a dispersão da distribuição de freqüências de<br />

Bohr do sistema. Daí, obtemos que<br />

T<br />

2<br />

2<br />

( 2r −1/ r) exp( r ) erfc( r)<br />

1−<br />

= τ<br />

2<br />

2<br />

2<br />

S<br />

. (3.8)<br />

r[(2r + 1/ r) − (4r + 4 −1/ r )exp(r )erfc(r)]<br />

A função erro complementar introduzida na equação acima é definida como<br />

erfc<br />

r<br />

2<br />

≡ . (3.9)<br />

π<br />

2<br />

2<br />

() r 1−<br />

∫ exp( −t<br />

)dt = ∫ exp( − t )dt<br />

0<br />

A relação (3.8) está mostrada na figura 3.6.<br />

∞<br />

r<br />

τ s<br />

/ T 2<br />

Figura 3.6: Relação entre a separação<br />

entre os picos τ s e a largura de linha não<br />

homogênea da transição, calculada na<br />

região linear da figura 3.3, onde τ s =T 2<br />

[Ko88].<br />

r<br />

Os conceitos abordados nesta seção são utilizados e bem discutidos em [Fu85]<br />

e [Ha87], onde os autores estudam o defasamento em um filme do corante Cresyl Violet<br />

em celulose e em um filme do polímero polidiacetileno, respectivamente.<br />

75


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

3.2 – Oscilações em interferogramas de corantes e vidros dopados com<br />

semicondutores<br />

a) Introdução<br />

Nesta seção descrevemos a observação de batimentos com períodos de fs em<br />

líquidos e sólidos usando a técnica de mistura degenerada de quatro ondas (MDQO),<br />

em sua configuração de autodifração [Ko00]. A origem dos batimentos é discutida e<br />

demonstra-se que é devida à interferência entre o sinal puro de MDQO gerado na<br />

amostra e o espalhamento Rayleigh dos feixes de excitação nas direções de emissão<br />

dos sinais de MDQO.<br />

Existe uma boa quantidade de trabalhos publicados onde batimentos ópticos<br />

com períodos variando entre fs e dezenas de fs foram observados em experimentos de<br />

mistura de quatro ondas. As origens dos batimentos são diversas.<br />

Na referência [Be88], bombeando uma célula de vapor de sódio com dois feixes<br />

de laser bicolores (λ 1 = 589,0 nm e λ 2 = 589,6 nm, correspondentes respectivamente às<br />

transições 3S 1/2 – 3P 3/2 e 3S 1/2 – 3P 1/2 do sódio) numa configuração tipo autodifração,<br />

r r<br />

os autores verificaram batimentos na direção 2k 2 − k1<br />

com período de 0,98 fs, atribuído<br />

à interferência entre os sinais gerados por duas grades distintas, neste caso, grades<br />

produzidas pela excitação de transições ópticas separadas (os lasers utilizados eram<br />

de banda estreita, com larguras de linha em torno de 5 GHz, ou 0,16 cm -1 , o que<br />

corresponde a um tempo de coerência em torno de 600 µs).<br />

Em [Ac89], os autores usam a radiação Raman gerada em 9 m de fibra óptica<br />

de sílica (até quinta ordem Stokes). Com um filtro eliminam os comprimentos de onda<br />

menores do que aquele referente ao quarto Stokes. Fazem com esta radiação um<br />

experimento de autodifração, observando o sinal em uma das direções de quasecasamento<br />

de fase 2k 1 − k<br />

r r r r<br />

2 ou 2k 2 − k1<br />

. Um batimento é registrado, cujo período de 76<br />

fs é igual ao inverso da separação em freqüência das bandas Raman sucessivas<br />

usadas como fonte de radiação para a realização do experimento. A modulação é<br />

originária de uma espécie de batimento de polarização, fenômeno descrito em detalhes<br />

em [Ma92a] e [Ma93], com a diferença que no caso ora descrito usa-se luz incoerente,<br />

76


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

pois como a radiação Raman é originária do ruído, pode ser tratada como sendo<br />

temporalmente incoerente.<br />

Já em [Kw90] e [Hu90], utilizando um arranjo de autodifração e como fonte de<br />

luz incoerente um laser de corante em configuração de cavidade aberta, bombeado por<br />

um laser de N 2 emitindo pulsos de 500 ps, os autores puderam observar oscilações nos<br />

interferogramas em escalas diferentes de períodos. A configuração de cavidade aberta,<br />

representada pela cubeta contendo o meio de ganho e o espelho de realimentação, não<br />

emprega espelho de saída. Sendo assim, o fator de qualidade da cavidade é muito<br />

baixo, o que faz com que a radiação dê no máximo uma volta dentro da cavidade. O<br />

ganho é alto e a emissão, fundamentalmente emissão espontânea amplificada, é muito<br />

larga espectralmente e apresenta um curto tempo de coerência. No experimento<br />

citado, a largura espectral à meia altura e o pico de emissão do corante foi de 19 e 509<br />

nm, respectivamente, o que significa um tempo de coerência de 42 fs, muito próximo do<br />

valor obtido através da transformada de Fourier do espectro (46 fs). A amostra usada<br />

foi uma solução de Rodamina 590 em poliéster. A excitação deu-se uns 3000 cm -1<br />

acima da transição zero-fônon S 0 -S 1 , fazendo com que T 2 fosse curto e o decaimento<br />

da grade conseqüentemente rápido. As oscilações de maiores períodos observadas<br />

(~35 fs) são conseqüência de uma modulação vibracional do momento de transição,<br />

que consegue ser resolvido no tempo devido à grade estar sendo provada num regime<br />

de fs, suficiente para ver as vibrações nucleares. As oscilações de menores períodos<br />

tiveram origem sugerida como sendo devido a interferências ópticas, mas não houve<br />

discussão aprofundada do assunto.<br />

O caso mais interessante (e controverso) é estudado em [Gr98]. Neste<br />

trabalho, medidas de defasamento óptico T 2 usando MDQO foram feitas em filmes de<br />

polímeros dopados com o corante Nile Blue à temperatura ambiente. Um laser de<br />

corante operando sem elementos dispersivos na cavidade foi usado como fonte de luz<br />

incoerente, com pico de emissão em 590 nm, comprimento de onda menor do que o<br />

pico de absorção do corante. O tempo de coerência medido foi ≈ 100 fs. Quando o<br />

atraso de um dos feixes de excitação foi variado, observaram-se oscilações com o<br />

período do ciclo óptico. A partir dos resultados deste trabalho, os autores afirmam que<br />

desenvolveram um novo método para medir tempos de defasamento óptico quando<br />

77


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

estes são muito curtos (menores do que 10 fs), que usa os efeitos de interferência<br />

observados (oscilações) para quantificar os tempos de defasamento nestes materiais.<br />

Em baixas temperaturas (~10 K), registrando de forma simultânea os sinais emitidos<br />

r r r r<br />

nas direções 2k 1 − k<br />

2 e 2k 2 − k1<br />

, os autores observaram sinais simétricos e com uma<br />

separação entre os picos de 94 fs, praticamente equivalente a T 2 . À medida que a<br />

temperatura da amostra foi subindo, a separação entre os picos foi diminuindo e por fim<br />

foi a zero à temperatura ambiente, revelando um comportamento predominantemente<br />

de alargamento homogêneo. Ao afastarem-se mais ainda para o azul em relação ao<br />

pico de absorção do corante, usando outro laser de corante como fonte de luz<br />

incoerente (575 nm), novos fenômenos ocorreram: observaram uma rápida modulação<br />

no sinal de mistura de ondas, com período igual ao ciclo óptico. A profundidade de<br />

modulação diminuiu à medida em que a temperatura da amostra era reduzida,<br />

desaparecendo completamente a T=100 K. Usando uma teoria equivocada, deduzem<br />

uma expressão para a intensidade de radiação gerada em uma das direções de<br />

autodifração. Verificam que, para um T 2 igual a 2 fs, a profundidade de modulação do<br />

sinal à temperatura ambiente é de 0,45 nas proximidades de τ = 0 (atraso nulo entre os<br />

feixes de excitação) e para T 2 igual a 3 fs, a profundidade de modulação é de 0,33.<br />

Como os resultados experimentais mostram uma profundidade de modulação de<br />

aproximadamente 0,4, concluem que T 2 deve estar entre 2 e 3 fs.<br />

No que descreveremos a seguir, mostramos que também observamos<br />

batimentos com o período do ciclo óptico, assim como com períodos de dezenas de fs,<br />

discutindo as possíveis origens desta modulação e que deve-se tomar cuidado para<br />

que não se chegue a conclusões erradas a respeito das propriedades ópticas do<br />

material sob estudo. Os resultados obtidos demonstram que o método e o modelo<br />

propostos em [Gr98] não estão corretos e portanto não representam uma nova<br />

alternativa de espectroscopia com luz incoerente.<br />

b) Experimento<br />

Na figura 3.7 mostramos a geometria de feixes utilizada. A placa de meia onda<br />

e o prisma Glan-Thompson usados em conjunto permitiam o controle da polarização<br />

relativa dos feixes de excitação, assim como a intensidade de um deles. Os sinais<br />

78


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

r r r r r r<br />

emitidos nas direções k<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

e k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

foram estudados em função do<br />

atraso τ entre os feixes de excitação incidentes, que se propagam ao longo de k r<br />

1<br />

e de<br />

k r 2<br />

. As amostras estudadas foram solução de Sulfo-rodamina 640 em etanol (cujo<br />

espectro de absorção linear está mostrado na figura 3.13) e vidro dopado com<br />

semicondutor (Corning 2-73). A fonte de luz incoerente utilizada foi um laser de corante<br />

(Rodamina 560) bombeado pelo segundo harmônico de um laser Nd:YAG (10 ns, 5 Hz),<br />

cuja cavidade era desprovida de elementos dispersivos, e com um estágio de<br />

amplificação transversal.<br />

E<br />

λ/2<br />

GT<br />

L<br />

r<br />

k<br />

r<br />

r<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

Feixe laser<br />

<strong>DF</strong><br />

k r 2<br />

k r<br />

1<br />

A<br />

r<br />

k<br />

r<br />

r<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

LA<br />

Figura 3.7: Diagrama experimental dos feixes de excitação.<br />

<strong>DF</strong>: divisor de feixe; E, espelho; λ/2, placa de meia onda;<br />

GT, prisma Glan-Thompson; L, lente de f = 10 cm; A,<br />

amostra; LA, linha de atraso óptico.<br />

O pico da emissão do laser de corante era 566 nm e o seu tempo de coerência<br />

t c de aproximadamente 150 fs. Os feixes incidentes tinham uma potência de pico<br />

máxima de 40 kW e foram focalizados na amostra com uma lente de 10 cm de distância<br />

focal, que produzia um feixe de raio de aproximadamente 65 µm na região focal. Esta<br />

dimensão foi estimada usando-se o método da lâmina de barbear cortando<br />

transversalmente o feixe. A linha de atraso foi controlada com um computador, sendo o<br />

atraso mínimo possível igual a 0,18 fs. Os sinais emitidos eram colimados e<br />

focalizados na entrada de fibras ópticas multi-modo, que eram acopladas a<br />

fotomultiplicadoras FW130. Os sinais eram então enviados a um integrador Boxcar<br />

(Stanford Research Systems), que se comunicava com o microcomputador através de<br />

79


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

uma interface programável. O programa de gerenciamento e aquisição de dados foi<br />

desenvolvido em BASIC.<br />

A figura 3.8 mostra os sinais emitidos pela Sulfo-rodamina 640 em função do<br />

atraso relativo τ entre os feixes de excitação. Os sinais são aqueles emitidos nas<br />

direções k r 3<br />

e k r<br />

4<br />

e foram gravados nas proximidades de τ = 0. Observamos uma<br />

modulação nos sinais com um período T = (1,88±0,06) fs, equivalente ao período do<br />

ciclo óptico T 0 .<br />

Sinal detectado (unidades arbitrárias)<br />

1.0<br />

0.9<br />

0.8<br />

0.7<br />

0.6<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0.0<br />

-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura 3.8: Sinais de interferência observados entre os sinal<br />

de MDQO e o sinal de espalhamento Rayleigh emitidos nas<br />

direções k r 3<br />

(linha contínua) e k r<br />

4<br />

(linha pontilhada) nas<br />

proximidades de τ = 0.<br />

Os sinais ao longo das direções k r 3<br />

e k r<br />

4<br />

podiam ter profundidades de<br />

modulação iguais ou diferentes que, conforme constatamos, depende da quantidade de<br />

luz espalhada na direção do sinal medido. Por exemplo, na figura 3.8 o sinal detectado<br />

ao longo de k r<br />

3<br />

(linha contínua) tem uma profundidade de modulação de quase a<br />

metade do sinal ao longo de k r<br />

4<br />

(linha tracejada), já que a figura está em escala.<br />

O período T foi determinado através de uma transformada rápida de Fourier<br />

(TRF), pois este método permite distinguir uma modulação regular de uma modulação<br />

80


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

aleatória, que é oriunda de flutuações na intensidade do sinal. A profundidade de<br />

modulação é definida como sendo P m = (S máx – S mín )/S máx , onde S máx (S mín ) representa o<br />

valor máximo (mínimo) do sinal detectado. A figura 3.9 mostra os espectros de TRF<br />

dos sinais de autodifração mostrados na figura 3.8. Pode-se ver que o período da<br />

modulação regular corresponde ao do comprimento de onda central do espectro do<br />

laser de excitação, 566 nm. Os picos adicionais presentes nos espectros de TRF não<br />

são reprodutíveis e são atribuídos a possíveis variações periódicas no sinal resultantes<br />

de flutuações no laser e do pequeno número de pontos usados para adquirir o sinal de<br />

mistura de ondas. Os picos adicionais nos espectros de TRF poderiam ser reduzidos<br />

se os arquivos contendo os dados experimentais tivessem mais pontos. Entretanto, isto<br />

não foi feito devido ao considerável aumento no tempo de aquisição de dados que<br />

implicaria.<br />

Amplitude de Fourier (unidades arbitrárias)<br />

0.04<br />

0.03<br />

0.02<br />

0.01<br />

0.00<br />

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0<br />

0.06<br />

0.04<br />

0.02<br />

0.00<br />

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0<br />

Freqüência (x10 15 Hz)<br />

Figura 3.9: Espectros de TRF das profundidades de<br />

modulação P m dos sinais oscilantes mostrados na figura 3.8;<br />

k r 3<br />

(linha contínua) e k r<br />

4<br />

(linha pontilhada).<br />

É muito importante ressaltar que as modulações desaparecem completamente<br />

e detectam-se apenas flutuações aleatórias se o sinal de MDQO for bem mais intenso<br />

do que a luz espalhada. A dependência da profundidade de modulação com a relação<br />

ruído/sinal ρ 2 = I Rayleigh /I MDQO , nas proximidades de τ = 0 na direção k r<br />

4<br />

é mostrada na<br />

81


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

figura 3.10 para a Sulfo-rodamina 640. A análise foi feita através da TRF da função<br />

amplitude de modulação f(S, τ) = S(τ)×[(S máx +S mín )/2] -1 -1, onde S(τ) é a magnitude do<br />

sinal detectado. Este procedimento permite eliminar a componente DC dos sinais de<br />

autodifração. Assim, a amplitude do harmônico em destaque no espectro de TRF é<br />

proporcional à profundidade de modulação. A linha tracejada representa o limite de<br />

detecção harmônica, que é determinado pelas flutuações aleatórias da intensidade do<br />

sinal. Uma profundidade de modulação crescente com a quantidade de luz espalhada<br />

é observada.<br />

Amplitude de Fourier (unidades arbitrárias)<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0.04 0.06 0.08 0.10 0.12<br />

Relação ruído/sinal, ρ 2<br />

Figura 3.10: Profundidade de modulação do sinal emitido ao<br />

longo da direção k r<br />

4<br />

em função da razão entre as<br />

intensidades do espalhamento Rayleigh e do sinal de<br />

MDQO em torno de τ = 0. A linha contínua é uma curva de<br />

ajuste proporcional à raiz quadrada da relação ruído/sinal.<br />

Também encontramos que a fase relativa das oscilações presentes nos sinais<br />

nas direções k r 3<br />

e k r<br />

4<br />

podiam variar entre 0 e π rad. A diferença de fase pode ser<br />

obtida a partir das fases dos harmônicos de modulação estudados nos espectros de<br />

TRF. Encontramos que a diferença de fase não depende da relação ruído/sinal, mas<br />

sim da posição da amostra. Em um experimento, cujo objetivo era observar esta<br />

variação, mudamos a inclinação da célula que continha a amostra e, portanto, a fase<br />

relativa entre o sinal de MDQO e o espalhamento Rayleigh era alterada. Efeitos<br />

82


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

semelhantes foram observados utilizando-se como amostra o vidro dopado com<br />

semicondutor Corning 2-73 para polarizações relativas entre os feixes de excitação<br />

paralelas e perpendiculares.<br />

c) Discussão<br />

Para analisar os resultados, descrevemos a dependência do sinal de MDQO<br />

com o atraso temporal τ entre os feixes de excitação. O campo total de excitação no<br />

volume de interação, localizado em uma posição R r<br />

0<br />

em relação a um ponto de<br />

observação distante, é dado por:<br />

r r<br />

r r r<br />

ET<br />

( r,t) = E [ t′<br />

1<br />

+ τ − nˆ<br />

1<br />

⋅ ( ′ − R0<br />

)/<br />

v] × exp[ −iω( t + τ) + k1<br />

⋅ ( ′ − R0<br />

)]<br />

+<br />

r r<br />

r r r<br />

E [ t′<br />

2<br />

− nˆ<br />

2<br />

⋅ ( ′ − R0<br />

)/<br />

v] × exp[ −iωt<br />

+ k<br />

2<br />

⋅ ( ′ − R0<br />

)]<br />

+ c.c. = . (3.10)<br />

r r<br />

r r<br />

E1(t<br />

+ τ)exp[ − iω(t<br />

+ τ)<br />

+ k1<br />

⋅<br />

] + E2(t)exp[ − iωt<br />

+ k<br />

2<br />

⋅<br />

] + c.c.<br />

r r r<br />

Na equação acima, v é a velocidade da luz no material, = ′ − R0<br />

e<br />

r r<br />

= t ′ − nˆ ⋅<br />

′ − R / . Supomos também que os feixes de excitação são quase paralelos,<br />

( ) v<br />

t<br />

0<br />

o que se traduz em nˆ<br />

1<br />

≈ nˆ<br />

2<br />

= nˆ . Usando o método perturbativo da matriz densidade<br />

para um sistema de dois níveis, obtemos a expressão abaixo para a polarização não<br />

linear de terceira ordem com vetor de onda k r 4<br />

[Mo84], conforme a equação (1.42) 1 :<br />

P<br />

t t<br />

r<br />

t 1 2<br />

( 3) r<br />

∗<br />

∝ exp[ i( k ⋅<br />

+ ωτ)<br />

] dt dt dt { E ( t ) E ( t ) E ( t + τ)<br />

exp<br />

exp<br />

4 ∫ 1 ∫ 2 ∫ 3<br />

×<br />

1 1 1 2 2 3<br />

−∞ −∞ −∞<br />

∗<br />

[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)] + E ( t ) E ( t + τ) E ( t ) × exp − i∆ω( t − t + t − t )<br />

1 1 2 2 1 3<br />

1 2 3<br />

r<br />

[ − ( t − t )/<br />

T − ( t − t + t − t )/<br />

T ] = A ( r,t, τ) exp( iωτ)<br />

1<br />

2<br />

1<br />

1<br />

2<br />

3<br />

2<br />

3<br />

[ ]}<br />

× , (3.11)<br />

onde T 1 e T 2 são respectivamente os tempos de relaxação de população e de<br />

polarização, ∆ω=ω 0 -ω é a dessintonia entre a freqüência central do laser e a<br />

ressonância eletrônica, e E i (t) (i = 1, 2) são funções aleatórias caracterizadas por um<br />

tempo de correlação substancialmente maior do que o período óptico T 0 = 2π/ω. Este<br />

modelo é particularmente apropriado para a descrição dos presentes experimentos,<br />

pois a amostra é excitada por pulsos que têm freqüências ópticas próximas à<br />

1 Uma forma alternativa de analisar o problema utilizando outra expressão para o campo de MDQO é<br />

dada em [Fa86].<br />

83


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

ressonância da transição singleto-singleto, fazendo assim com que a influência dos<br />

demais níveis, que evidentemente existem, seja bastante diminuída.<br />

É importante notar que, a partir da equação (3.11) e das considerações que<br />

levaram até ela (vide apêndice A2b), ao contrário da conclusão apresentada em [Gr98],<br />

o sinal puro de MDQO detectado, que é proporcional a |P (3) | 2 , não apresenta oscilações<br />

com freqüência ω em função de τ. De fato, para observar oscilações, é necessário que<br />

haja algum tipo de interferência do campo que é proporcional a P (3) com uma outra<br />

onda. No nosso caso esta interferência pode ser devida ao espalhamento Rayleigh dos<br />

feixes de bombeamento ao longo de k r 4<br />

. O campo representativo do espalhamento<br />

Rayleigh tem sua dedução feita nos capítulos 14 e 15 de [La60], sendo dado por<br />

r r r<br />

ER<br />

∝ ∫ dV ∆ε{<br />

E( t + τ − T) exp[ − iω( t + τ + R0<br />

/ v) − ( k<br />

4<br />

− k1)<br />

⋅<br />

] +<br />

r r r r<br />

r , (3.12)<br />

E( t − T) exp[ − iω( t + R0<br />

/ v) − ( k<br />

4<br />

− k<br />

2<br />

) ⋅<br />

]} = A1( r,t, τ) exp( − iωτ) + A<br />

2<br />

( r,t, τ)<br />

r<br />

= t − R − nˆ − nˆ ⋅<br />

/ . Observemos que,<br />

onde ∆ε é o tensor de espalhamento e [ ( ) ] v<br />

T<br />

0 4<br />

para obter uma expressão simplificada para a equação (3.12), consideramos que o<br />

volume de espalhamento pode ser tratado como uma fonte puntiforme quando<br />

observada da posição do detector, ou seja, supomos a detecção distante do volume de<br />

interação.<br />

Sendo S a designação do sinal detectado, temos que<br />

direção de k r<br />

4<br />

é dado por<br />

2<br />

S ∝ A [1+ ρ<br />

2<br />

ρ<br />

1<br />

3<br />

ρ<br />

2<br />

1<br />

cos<br />

+ ρ2<br />

+ 2 ρ2<br />

cos( ωτ + ϕ)<br />

( ωτ) + 2 ρ cos( 2ωτ + ϕ)]<br />

1<br />

2<br />

S ∝ Ε + E R<br />

ao longo da<br />

+<br />

, (3.13)<br />

onde as razões entre as amplitudes dos campos de espalhamento Rayleigh<br />

normalizadas pela amplitude do campo de mistura de ondas são dadas por ρ 1 = (A 1 /<br />

A 3 )2 e ρ 2 = (A 2 / A 3 ) 2 , e ϕ é um deslocamento de fase que é devido aos diferentes<br />

caminhos dos feixes de excitação dentro da amostra. O campo Ε é proporcional a P (3) .<br />

Segundo a equação (3.13), esperamos observar oscilações do sinal em ω e 2ω quando<br />

variamos o atraso relativo entre os feixes de excitação τ. A componente de freqüência<br />

2ω é devida à interferência entre o feixe de MDQO e o espalhamento Rayleigh devido<br />

ao feixe de excitação com vetor de onda k r 1, cuja direção forma um ângulo maior com o<br />

84


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

feixe de sinal na direção k r 4<br />

. Devido a estes feixes estarem espacialmente mais<br />

separados, tipicamente a contribuição da luz espalhada do feixe k r 1<br />

na direção k r<br />

4<br />

é<br />

substancialmente menor do que a do feixe k r 2<br />

.<br />

Nos experimentos ora descritos nós observamos oscilações de freqüência ω,<br />

mas não pudemos observar oscilações reprodutíveis de freqüência 2ω, embora<br />

pudéssemos controlar a quantidade de luz espalhada de ambos os feixes.<br />

Comparando-se com os resultados obtidos em [Bo89], onde oscilações com freqüência<br />

2ω foram observadas em sinais de MDQO numa amostra de 100 µm de espessura,<br />

concluímos que as coerências espacial e temporal são perdidas para o espalhamento<br />

da radiação em k r 1<br />

na direção de k r 4<br />

devido ao longo comprimento de espalhamento, 1<br />

mm. Isto explica porque o sinal descrito pelo último termo de interferência na equação<br />

(3.13) não foi observado.<br />

Notemos também que, na equação (3.13), a amplitude da modulação do sinal<br />

na freqüência ω deve ser proporcional a ρ<br />

2<br />

. De fato, pode-se ajustar uma função<br />

proporcional a ρ<br />

2<br />

aos dados experimentais, como pode ser visto na figura 3.10. Vêse<br />

que esta função está deslocada ao longo das abscissas. Este deslocamento ocorre<br />

devido ao fato de que nem toda a radiação de espalhamento Rayleigh ser coerente com<br />

o sinal de MDQO, isto é, uma parte desta luz não é capaz de interferir com o sinal de<br />

MDQO. Uma fração é adicionada incoerentemente, como simples soma de<br />

intensidades, semelhantemente ao que ocorre com as oscilações em freqüência 2ω.<br />

Como ρ 1 , ρ 2


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

manifestar de outras formas. Na figura 3.11 mostramos resultados obtidos num<br />

experimento de MDQO usando como amostra um vidro dopado com semicondutor<br />

(Corning 2-73), onde os feixes de excitação tinham suas polarizações perpendiculares.<br />

Batimentos com períodos de 20 fs, semelhantes aos observados em [Hu90] e [Kw90],<br />

são claramente observados.<br />

Intensidade do sinal (unidades arbitrárias)<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0.0<br />

-200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura 3.11: Sinal de MDQO no vidro dopado com<br />

semicondutor Corning 2-73 ao longo das direções k r<br />

3<br />

(linha<br />

contínua) e k r<br />

4<br />

(linha pontilhada) para polarizações<br />

perpendiculares dos feixes de excitação.<br />

Batimentos similares foram observados por nós em soluções alcoólicas de<br />

Sulfo-rodamina 640, outros corantes e metaloporfirinas. Estes padrões de batimento<br />

podem ter explicações físicas bastante sutis [Hu90, Kw90], mas não há como ignorar a<br />

possibilidade de observação do fenômeno de “aliasing”, que é traduzido por uma taxa<br />

de amostragem pequena demais para reproduzir a freqüência do sinal que se quer<br />

medir. A conseqüência é a medição de um sinal com freqüência menor do que a real.<br />

Procedendo-se de forma a somente alterar o passo da linha de atraso, o que se obtém<br />

é um sinal reprodutível em experimentos sucessivos; mudando-se o passo da linha de<br />

atraso, obtém-se períodos diferentes. No nosso caso a percepção deste fato foi muito<br />

útil para compreendermos a origem dos batimentos observados, por exemplo, na figura<br />

86


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

3.11, que corresponde a uma dada escolha do passo da linha de atraso. A aplicação<br />

desta técnica sem observar estes detalhes pode levar a conclusões equivocadas a<br />

respeito da física dos sistemas sob estudo. O deslocamento entre os picos relativos<br />

aos sinais de MDQO ao longo das direções k r 3<br />

e k r<br />

4<br />

mostrados na figura 3.11 revela a<br />

presença de alargamento não homogêneo na amostra de vidro dopado com<br />

semicondutor e corresponde a um tempo de defasamento de (37±4) fs, que é da<br />

mesma ordem do que foi medido em [Ac90a].<br />

3.3 – Alargamento não homogêneo induzido por laser em solução de Sulforodamina<br />

640 em etanol<br />

a) Introdução<br />

Nesta seção estudamos o defasamento eletrônico em soluções de Sulforodamina<br />

640 em etanol à temperatura ambiente e os efeitos das intensidades dos<br />

feixes de excitação em experimentos de autodifração com luz incoerente [Ko99a]. A<br />

separação entre os picos dos sinais de autodifração τ s revela que, no regime de baixas<br />

intensidades, a transição S 0 – S 1 da Sulfo-rodamina em etanol mostra-se<br />

homogeneamente alargada. No regime de altas intensidades, entretanto, a transição<br />

considerada apresenta um alargamento não homogêneo, que foi atribuído neste<br />

trabalho a uma redistribuição de população vibracional no multipleto S 0 durante a<br />

presença do pulso de luz incoerente com duração t p de 10 ns. Este efeito não havia<br />

sido considerado anteriormente na literatura embora várias medidas de T 2 tenham sido<br />

apresentadas em vários materiais, podendo alguns resultados estar contaminados por<br />

efeitos de alta intensidade.<br />

b) Experimento<br />

O esquema experimental usado é mostrado na figura 3.12. A fonte de luz<br />

incoerente era um laser de corante com um estágio de amplificação transversalmente<br />

bombeado por um laser de Nd:YAG operando em modo Q-switch (10 ns, 5 Hz). Os<br />

sinais de autodifração eram coletados por uma lente de distância focal f = 10 cm e<br />

87


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

focalizados na entrada de uma fibra multi-modo acoplada a uma fotomultiplicadora<br />

FW130. Os sinais elétricos eram enviados a um integrador boxcar (Stanford Research<br />

Systems SR250) equipado com uma interface programável (modelo SR245). Os dados<br />

eram lidos por um microcomputador, responsável também pelo controle do motor de<br />

passo da linha de atraso mostrada na figura 3.12. O laser de corante possuía uma<br />

largura espectral de 9 nm e pico de emissão em 566 nm, que é deslocado para o azul<br />

em relação ao máximo de absorção da Sulfo-rodamina 640, localizado em 577 nm,<br />

como pode ser visto na figura 3.13.<br />

E<br />

Feixe laser<br />

<strong>DF</strong><br />

λ/2<br />

GT<br />

LA<br />

L<br />

k r 2<br />

k r<br />

1<br />

A<br />

r<br />

k<br />

r<br />

k<br />

5<br />

= 3k<br />

r<br />

1<br />

− 2k<br />

r<br />

2<br />

r<br />

k<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

r<br />

r<br />

r<br />

r<br />

r<br />

k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

r r<br />

6<br />

= 3k<br />

2<br />

− 2k<br />

1<br />

Figura 3.12: Diagrama de feixes usado no experimento que<br />

verificou a ocorrência de alargamento não homogêneo<br />

induzido por intensidade dos feixes de excitação.<br />

A luz incoerente do laser era linearmente polarizada e dividida por um divisor de<br />

feixe de refletividade 50%, originando dois feixes com vetores de onda k r 1<br />

e k r 2<br />

. O<br />

feixe na direção de k r<br />

1<br />

passa por uma linha de atraso τ em relação ao feixe na direção<br />

de k r 2<br />

. As energias máximas dos feixes de bombeamento eram em torno de 160 µJ e<br />

suas polarizações podiam ser feitas paralelas ou perpendiculares usando-se uma placa<br />

de meia onda e um polarizador Glan-Thompson no braço do feixe na direção de k r 2<br />

. Os<br />

feixes foram focalizados numa região de diâmetro de 150 µm (o que dava uma<br />

intensidade máxima de 120 MW/cm 2 ) formando um ângulo de 26 mrad em uma célula<br />

de 1 mm contendo uma solução 10 -4 M de Sulfo-rodamina 640 em etanol. Os sinais de<br />

r r r r r r<br />

terceira ordem emitidos nas direções k<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

e k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

ou os sinais de quinta<br />

88


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

r r r r r r<br />

ordem emitidos nas direções k<br />

5<br />

= 3k<br />

1<br />

− 2k<br />

2<br />

e k<br />

6<br />

= 3k<br />

2<br />

− 2k<br />

1<br />

foram detectados<br />

simultaneamente.<br />

1.6<br />

566 nm<br />

1.2<br />

Absorbância<br />

0.8<br />

0.4<br />

0.0<br />

300 400 500 600 700 800<br />

Comprimento de onda (nm)<br />

Figura 3.13: Espectro de absorção linear de uma solução<br />

10 -4 M de Sulfo-rodamina 640 em etanol. A espessura da<br />

amostra é de 1 mm.<br />

Medimos as intensidades dos sinais nas direções k r 3<br />

e k r<br />

4<br />

em função do atraso<br />

τ para as configurações de polarizações dos feixes de excitação paralelas e<br />

perpendiculares. A intensidade do sinal para polarizações paralelas era<br />

aproximadamente 16 vezes maior do que aquele obtido quando as polarizações eram<br />

perpendiculares. As dependências dos sinais com a intensidade de bombeamento<br />

foram similares em ambos os casos. Como a razão entre as intensidades dos sinais de<br />

mistura de ondas para polarizações paralelas e perpendiculares deve ser 9 no caso de<br />

termos somente contribuições eletrônicas [Sh84], o fator 16 observado indica que<br />

outros mecanismos (como por exemplo efeitos térmicos) estão contribuindo para o<br />

processo de mistura de ondas. Portanto, para evitar contribuições de origem térmica,<br />

fizemos todas as medidas usando a configuração de polarizações ortogonais.<br />

Os perfis temporais dos sinais de mistura de ondas em função do atraso τ<br />

foram bem ajustadas por funções Gaussianas, o que permitiu calcular as posições dos<br />

picos de intensidade dos sinais, assim como as suas larguras. Estas últimas serviam<br />

como critério para validação de dados experimentais. Só eram considerados aqueles<br />

89


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

conjuntos de medidas em que as larguras dos sinais diferiam em não mais do que 10<br />

fs. Os resultados experimentais são médias de pelo menos quatro realizações<br />

experimentais e são mostrados na figura 3.14. Notamos que a separação entre os<br />

picos muito pequena de τ s =(-4±3) fs em baixas intensidades de bombeamento (~5<br />

MW/cm 2 ) indicam que sob estas condições a transição S 0 -S 1 tem um alargamento<br />

predominantemente homogêneo. O valor de τ s negativo para intensidades baixas pode<br />

ser atribuído ao potencial não harmônico das transições eletrônicas homogeneamente<br />

alargadas em moléculas grandes [We90]. É possível também haver influência de<br />

efeitos espaciais se a amostra estiver colocada ligeiramente além do plano focal da<br />

lente de focalização dos feixes de excitação, conforme demonstrado em [Wu92].<br />

20<br />

Separação entre os picos τ S<br />

(fs)<br />

16<br />

12<br />

8<br />

4<br />

0<br />

-4<br />

-8<br />

10 100<br />

Intensidade do laser ( MW/cm 2 )<br />

Figura 3.14: Separação τ s entre os picos dos sinais de<br />

terceira ordem de autodifração versus intensidade dos<br />

feixes de excitação.<br />

Quando as intensidades dos feixes de bombeamento crescem, obtemos valores<br />

positivos de τ s . A dependência verificada é próxima a linear em uma escala semilogarítmica<br />

e tem uma inclinação bastante reprodutível sobre várias séries de<br />

experimentos. A separação entre os picos dos sinais dependente das intensidades dos<br />

feixes de excitação foi interpretada como sendo devida a uma redistribuição de<br />

população vibracional no multipleto S 0 durante a incidência do pulso do laser de corante<br />

90


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

(t p = 10 ns), que leva o sistema a se tornar alargado não homogeneamente, conforme<br />

será detalhado adiante.<br />

Os sinais de quinta ordem também exibem uma separação entre os picos<br />

dependente das intensidades dos feixes de excitação. Na figura 3.15 os sinais de<br />

terceira e quinta ordens emitidos nas direções k r 3<br />

e k r<br />

5<br />

são mostrados para diferentes<br />

valores de intensidade dos feixes de excitação, que na figura 3.15a são quase uma<br />

ordem de grandeza menores do que na figura 3.15b. Vemos que ao aumentarmos a<br />

intensidade, o sinal de quinta ordem é deslocado do atraso zero de uma quantidade<br />

maior do que o sinal de terceira ordem.<br />

Intensidade do sinal (unidades arbitrárias)<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

-200 -100 0 100 200<br />

(b)<br />

-200 -100 0 100 200<br />

Atraso τ (fs)<br />

(a)<br />

Figura 3.15: Perfis temporais dos sinais de terceira ordem<br />

r r r<br />

ao longo de k<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

(linhas sólidas) e de quinta<br />

r r r<br />

ordem ao longo de k<br />

5<br />

= 3k<br />

1<br />

− 2k<br />

2<br />

(linhas pontilhadas)<br />

para intensidades dos feixes de excitação de 15 MW/cm 2 (a)<br />

e 112 MW/cm 2 (b).<br />

91


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Para sabermos se os dados mostrados na figura 3.14 foram afetados por<br />

efeitos de saturação, estudamos a dependência dos sinais com a intensidade de um<br />

dos feixes de excitação, mantendo a do outro fixada. A figura 3.16 mostra as<br />

amplitudes dos sinais de terceira ordem como função da intensidade do feixe na<br />

direção k r 2<br />

enquanto que a intensidade do feixe na direção k r 1<br />

foi fixa em 38 MW/cm 2 .<br />

Podemos observar que os sinais mostram dependências linear e quadrática, como seria<br />

de se esperar para um processo de terceira ordem, até uma intensidade do feixe na<br />

direção de k r<br />

2<br />

equivalente a 75 MW/cm 2 , quando começamos a observar um processo<br />

de saturação.<br />

Intensidade do sinal (unidades arbitrárias)<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Intensidade (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.16: Sinais ao longo de k r 3<br />

(círculos) e k r<br />

4<br />

(quadrados) em função da intensidade do feixe de excitação<br />

na direção de k r<br />

2<br />

mantendo fixa a intensidade do feixe de<br />

excitação na direção de k r<br />

1<br />

em 38 MW/cm 2 . As barras de<br />

erro são as variações sobre vários experimentos. As linhas<br />

contínuas são ajustes linear e parabólico.<br />

Existem duas razões principais para a saturação do sinal: uma é a contribuição<br />

do sinal de quinta ordem ao longo de k r 3<br />

devido ao efeito em cascata via χ (3)<br />

r r r r r<br />

k = 2k − k + k − ), que interfere destrutivamente com o sinal de terceira ordem<br />

(<br />

3 1 2 1<br />

k1<br />

[We90], [Wu92]. Consideramos que esta contribuição não afeta o comportamento<br />

92


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

observado em termos qualitativos, ocasionando apenas uma pequena correção<br />

quantitativa. Por outro lado, se a dependência com a intensidade desta contribuição for<br />

semelhante ao comportamento do sinal na direção de k r 5<br />

, então a interferência<br />

destrutiva poderia somente reduzir o deslocamento do pico de terceira ordem, pois, de<br />

acordo com a figura 3.15, o sinal de quinta ordem desloca-se mais do que o sinal de<br />

terceira ordem. Outro mecanismo que poderia contribuir para a saturação do sinal é a<br />

remoção de população do estado fundamental eletrônico das moléculas. Como<br />

observamos um “bleaching” do corante em altas intensidades, a saturação do sinal<br />

detectado é atribuída principalmente à depopulação do estado fundamental e à<br />

concomitante população do estado singleto excitado. Para simplificar a análise de<br />

nossos resultados, consideraremos daqui para a frente apenas o intervalo de<br />

intensidades dos feixes de excitação em que a saturação é desprezível e o sinal de<br />

terceira ordem domina o processo de mistura de ondas.<br />

c) Discussão<br />

A partir da expressão para as coerências em terceira ordem obtida usando-se o<br />

método perturbativo da matriz densidade, obtemos a expressão para a polarização não<br />

r r r<br />

linear de terceira ordem responsável pela geração do sinal na direção k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

[Mo84]:<br />

P<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

E<br />

∞<br />

∞<br />

4<br />

( 3 ) r<br />

( 3<br />

( ) ( ) ) r<br />

( 0) µ r r<br />

r,t, τ = N dω<br />

g ω µ ρˆ<br />

( r,t, ω ) = −2iρ<br />

N dω<br />

g( ω ) exp[ i( k ⋅<br />

− ωτ)<br />

]<br />

dt<br />

∗<br />

1<br />

∗<br />

{ E ( t ) E ( t ) E ( t − τ) exp[ − i( ω − ω)( t − t − t + t )] + E ( t )<br />

( t − τ) E ( t ) exp[ − i( ω − ω)( t − t + t − t )]} exp[ − γ ( t − t ) − γ ( t − t + t − t )]<br />

2<br />

t1<br />

∫<br />

1<br />

−∞<br />

dt<br />

t2<br />

∫<br />

2<br />

−∞<br />

2<br />

dt<br />

∫<br />

0<br />

3<br />

3<br />

0<br />

2<br />

1<br />

0<br />

2<br />

0<br />

ab<br />

2<br />

ba<br />

1<br />

3<br />

1<br />

0<br />

2<br />

3<br />

0<br />

∫<br />

0<br />

0<br />

1<br />

1<br />

1<br />

0<br />

h<br />

2<br />

2<br />

3<br />

3<br />

2<br />

4<br />

2<br />

1<br />

1<br />

2<br />

×<br />

3<br />

×<br />

. (3.14)<br />

Na equação acima, N é o número de dipolos induzidos, g(ω 0 ) é a função de<br />

distribuição de freqüências de Bohr do sistema (onde está contida a informação sobre o<br />

alargamento não homogêneo), ω é a freqüência angular do campo óptico,<br />

taxa de relaxação de população e<br />

1<br />

2<br />

T −<br />

2<br />

simplificar, escrevemos a equação (3.14) como<br />

γ = é a<br />

1<br />

1<br />

T −<br />

1<br />

γ = é a taxa de relaxação da coerência. Para<br />

93


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

P<br />

E<br />

1 2<br />

( 3 ) ∗<br />

( t, τ) ∝ d( ∆ω) g( ∆ω) ∫ dt1<br />

∫ dt<br />

2 ∫ dt<br />

3{ E2<br />

( t1) E2<br />

( t<br />

2<br />

) E1( t<br />

3<br />

− τ) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

2<br />

∗<br />

( t ) E ( t − τ) E ( t ) exp[ − i∆ω( t − t + t − t )]} exp[ − γ( t − t ) − Γ ( t − t + t − t )]<br />

1<br />

1<br />

∞<br />

0<br />

2<br />

2<br />

3<br />

t<br />

t<br />

t<br />

∫ +<br />

,<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

1<br />

2<br />

3<br />

(3.15)<br />

onde fizemos ∆ω=ω 0 -ω representando a diferença entre a freqüência de transição do<br />

material e a freqüência do laser, γ 1 =γ e γ 2 =Γ. Conforme descrito no apêndice A2e, a<br />

equação (3.15) pode ser escrita de uma forma mais interessante como<br />

( 3 ) 2<br />

P ( t, τ) ∝ ∫d( ∆ω) ∫dT exp[ βT<br />

+ i∆ωT] ∫ dx∫dy∫dz exp[ − γ y − Γ( x + z)<br />

]<br />

0 −∞<br />

0 0 0<br />

∗<br />

{ E2<br />

( t − x) E2<br />

( t − x − y) E1( t − x − y − z − τ) exp[ − i∆ω( x − z)<br />

] +<br />

∗<br />

E ( t − x) E ( t − x − y − τ) E ( t − x − y − z) exp − i∆ω( x + z)<br />

2<br />

∞<br />

1<br />

∞<br />

2<br />

∞<br />

∞<br />

∞<br />

[ ]}<br />

×<br />

, (3.16)<br />

onde Γ e β representam os alargamentos homogêneo e não homogêneo da transição<br />

vibrônica. Consideraremos no que segue que o tempo de defasamento T 2 =1/Γ é um<br />

parâmetro independente da temperatura vibracional, pois é a interação do sistema com<br />

os graus de liberdade internos e externos do banho que é responsável pelos<br />

fenômenos de defasamento. Portanto, o defasamento não pode ser afetado pela<br />

temperatura vibracional T vib . A partir da equação (3.16), a polarização de terceira<br />

ordem na direção de k r<br />

3<br />

pode ser obtida se trocarmos τ por -τ. O sinal medido no<br />

experimento é proporcional à média estatística<br />

( 3 )<br />

( ) 2<br />

P t, τ e a técnica de dedução da<br />

expressão do sinal medido sob a condição de excitação com luz incoerente segundo<br />

um processo aleatório estacionário Gaussiano é similar ao que será descrito na seção<br />

seguinte. Não faremos aqui por não ser necessário para a análise de nossos<br />

resultados.<br />

Quando o alargamento não homogêneo domina, obtém-se uma separação<br />

entre os picos dos sinais emitidos ao longo de k r 3<br />

e k r 4<br />

, que cresce como função da<br />

−1 2<br />

T 2<br />

= 4β<br />

= δω , que representa a largura característica da distribuição<br />

∗<br />

−1<br />

magnitude de ( )<br />

de freqüências de transição do material, conforme descrito no apêndice A2e. Assim, é<br />

razoável supor que os valores medidos de τ s são o resultado de um alargamento não<br />

homogêneo efetivo da transição que pode ocorrer devido à população de níveis<br />

94


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

vibracionais excitados do multipleto do estado eletrônico fundamental em decorrência<br />

da ação do próprio laser. Este alargamento não homogêneo efetivo não é atribuído a<br />

mudanças no ambiente ao redor das moléculas do corante.<br />

Em moléculas grandes, os pacotes de onda vibrônicos criados por excitação<br />

óptica alargam-se rapidamente e eventualmente o acoplamento não harmônico de<br />

diferentes modos vibracionais resultam em uma redistribuição do excesso de energia<br />

pelo multipleto vibracional. A transferência do excesso de energia da molécula<br />

vibracionalmente excitada para as moléculas de solvente em suas vizinhanças<br />

representa outro processo importante que pode, em princípio, ocorrer simultaneamente<br />

com a relaxação intramolecular ou após ela [El91], [Sh77].<br />

Para uma análise quantitativa do espectro de absorção transiente (quando em<br />

presença de excitação), a estrutura da banda vibrônica precisa ser entendida. Um<br />

cálculo quantitativo da banda de absorção S 0 -S 1 da Sulfo-rodamina 640 incluindo toda a<br />

sua estrutura vibrônica requer as freqüências dos modos vibracionais relevantes e os<br />

valores do deslocamento dos seus mínimos de potencial no estado excitado<br />

(“deslocamento da origem”) [Pa91]. Estes deslocamentos são obtidos através de<br />

espectros Raman usando-se o seguinte formalismo: a intensidade espectral integrada<br />

do sinal de espalhamento Raman espontâneo do modo vibracional ω j é proporcional ao<br />

módulo ao quadrado da polarizabilidade Raman correspondente:<br />

∞<br />

∫Ij<br />

0<br />

dω<br />

j<br />

=<br />

α<br />

j<br />

( z ) 2<br />

j<br />

, (3.17)<br />

onde a polarizabilidade Raman α j depende do deslocamento da origem<br />

z<br />

2 2<br />

( mef<br />

ω<br />

j<br />

q0 j<br />

) ω<br />

j<br />

= h , com deslocamentos entre os mínimos de potencial dos estados<br />

2<br />

j<br />

2<br />

eletrônicos fundamental e excitado q 0j e a massa efetiva do oscilador m ef . A relação<br />

entre a polarizabilidade Raman e a susceptibilidade de primeira ordem χ (1) da transição<br />

vibrônica molecular é dada por [Ch81], [Pa81]<br />

j<br />

2<br />

2 () 1<br />

() 1<br />

( ∆ω, z ) ∝ z χ ( ∆ω) − χ ( ∆ω + ω ) 2<br />

α . (3.18)<br />

j<br />

j<br />

χ (1) é obtido através do espectro de absorção à temperatura ambiente. A absorbância é<br />

proporcional a Imχ (1) e a parte refrativa Reχ (1) é obtida por uma transformação de<br />

Kramers-Kronig [Ja75].<br />

95<br />

j


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A seção de choque de transição em função da diferença entre a freqüência de<br />

Bohr do material e a freqüência do laser ∆ω e a temperatura vibracional é dada por<br />

[Mu95], [Le94]:<br />

[( + 1) exp( − iω<br />

t) + n ( T) exp( iω<br />

t)<br />

]<br />

∞<br />

⎧<br />

⎫<br />

2<br />

2<br />

A ( ∆ω,T<br />

) ∝ ∫ dt exp⎨−<br />

i∆ωt<br />

− Γ t − βt<br />

+ α∑<br />

z<br />

j<br />

n<br />

j<br />

( T)<br />

j j<br />

j ⎬ .(3.19)<br />

0 ⎩<br />

j<br />

⎭<br />

A estrutura vibracional do espectro entra através da soma na exponencial que<br />

contém as contribuições dos modos normais moleculares. As contribuições individuais<br />

para a soma dependem dos deslocamentos da origem z j e da população vibracional n j<br />

−<br />

do j-ésimo modo, cuja distribuição é expressa como n [ exp( ω kT ) − ] 1<br />

= h . α é uma<br />

j j vib<br />

1<br />

constante associada ao peso da contribuição da estrutura vibracional como um todo,<br />

podendo ser determinada a partir das seções de choque Raman das moléculas.<br />

Para baixas temperaturas vibracionais, somente o estado fundamental é<br />

populado e o alargamento homogêneo domina (Γ > β 1/2 ), de forma que obtemos τ s ~ 0<br />

no regime de baixas intensidades de excitação. Quando estas aumentam, níveis<br />

vibracionais mais excitados do multipleto S 0 são populados, estabelecendo uma nova<br />

distribuição estacionária de população vibracional durante o pulso de 10 ns do laser de<br />

corante. A redistribuição de população corresponde a uma temperatura vibracional<br />

efetiva que dá origem a uma banda de absorção modificada devido ao acoplamento de<br />

modos vibracionais com grandes fatores de Franck-Condon com o primeiro estado<br />

excitado S 1 .<br />

A figura 3.17 mostra o espectro de absorção da Sulfo-rodamina 640 calculado<br />

nas temperaturas vibracionais efetivas de T vib = 300 K e T vib = 1500 K, enquanto que a<br />

amostra está à temperatura ambiente. Para a descrição correta do espectro,<br />

precisamos de saber todos os parâmetros da espectroscopia Raman espontânea.<br />

Como não dispúnhamos destas informações, fizemos um modelo com um mínimo de<br />

parâmetros. Para o cálculo dos espectros supusemos que a transição eletrônica era<br />

homogeneamente alargada (β = 0), com Γ = 650 cm -1 (obtida do espectro de absorção)<br />

e consideramos apenas dois modos vibracionais da Sulfo-rodamina 640 de freqüências<br />

ω 1 = 600 cm -1 e ω 2 = 2400 cm -1 . Observamos claramente que o espectro torna-se<br />

alargado não homogeneamente de forma substancial quando a temperatura vibracional<br />

96


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

aumenta. Por exemplo, para modos de baixa freqüência (ω j


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

para o fundo da banda em uma escala de tempo tipicamente sub-ps [El91], [So78]. Há<br />

neste ponto um acúmulo de população, pois a transição puramente eletrônica 0-0<br />

apresenta um tempo de decaimento da ordem de alguns ns, o que faz com que<br />

transições S 1 -S 2 sejam excitadas pelo mesmo pulso de excitação que promoveu a<br />

transição S 0 -S 1 .<br />

S 2<br />

Figura 3.18: Esquema do caminho de excitação<br />

proposto para explicação do alargamento não<br />

homogêneo induzido por laser. As setas duplas<br />

representam fótons do laser, a seta contínua<br />

curta uma relaxação vibracional intrabanda, a<br />

seta pontilhada longa um decaimento interbanda<br />

e a seta contínua longa representa um<br />

decaimento por emissão estimulada.<br />

~1 ps<br />

S 1<br />

S 0<br />

~250 fs<br />

A relaxação a partir de S 2 para o multipleto S 1 é muito rápida, acontecendo em<br />

um intervalo de tempo máximo de 250 fs [El91]. Daí, a população vibracional é<br />

transferida para os níveis vibracionais do multipleto S 0 devido à emissão estimulada.<br />

Como conseqüência de todo o processo, durante o pulso de laser com t p = 10 ns uma<br />

distribuição estacionária de população vibracional no estado fundamental é criada.<br />

Esta distribuição, por sua vez, produz um alargamento não homogêneo devido ao<br />

acoplamento com níveis vibrônicos do multipleto S 1 . Devemos notar que o nível<br />

eletrônico do estado S 1 deve ser parcialmente populado e pode contribuir para o<br />

processo estudado caso a seção de choque de transição S 1 -S 2 na freqüência ω seja<br />

grande. Entretanto, como a Sulfo-rodamina 640 é um corante para laser, não<br />

esperamos que esta contribuição seja substancial no intervalo de intensidade dos feixes<br />

de excitação utilizado. O fato de que níveis vibracionais do estado fundamental podem<br />

ser populados via multipleto S 1 após longa e intensa excitação também foi observado<br />

em [He72], em que os autores propuseram a população de níveis vibracionais excitados<br />

para explicar os resultados observados na Rodamina B excitada por um laser de rubi de<br />

ns em experiências de absorção de dois fótons.<br />

A partir de nossos dados, podemos estimar T 2 usando os conceitos introduzidos<br />

na seção 3.1 e a figura 3.6. Para as potências mais baixas, o parâmetro r = Γ/β 1/2 não<br />

98


Capítulo 3 _______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

deve ser maior do que 4, que corresponde a uma razão entre a separação entre os<br />

picos e o tempo de defasamento T 2 = Γ -1 de ~ 0,1. Para as maiores intensidades, r<br />

pode diminuir até o valor r ~ 1,5 (quando o sistema é caracterizado pela temperatura<br />

vibracional T vib = 1500 K) e a razão τ s /T 2 chega a 0,4. Assim, estimamos que 30 fs < T 2<br />

< 50 fs se considerarmos a separação máxima entre os picos observada na figura 3.14<br />

de 15 fs. Este valor é próximo ao valor de Γ -1 = 50 fs usado em nossos cálculos do<br />

espectro de absorção. A estimativa também corrobora o valor limite de τ s em torno de<br />

30 fs obtido no regime de intensidades muito altas, quando o sinal é saturado e o<br />

sistema deve ser muito alargado não homogeneamente, de forma que τ s /T 2 ~ 1.<br />

Com relação à separação entre os picos dos sinais de quinta ordem, é razoável<br />

supor que o alargamento não homogêneo induzido por laser também a origine. Uma<br />

descrição dos processos de quinta ordem induzidos por luz incoerente é bastante<br />

complicada na situação que abordamos aqui, apesar de nenhum conceito novo surgir.<br />

Para provar que a separação entre os picos não é conseqüência de algum<br />

efeito de depleção dos feixes de excitação associada à absorção saturada ou a<br />

interações não lineares, que poderiam alterar a estatística dos feixes de luz [Vo96],<br />

fizemos o seguinte experimento, esquematizado na figura 3.19: os feixes de excitação,<br />

após a interação na amostra no regime de altas intensidades, foram novamente<br />

combinados em uma outra amostra para produzir autodifração. Quando os feixes foram<br />

atenuados antes da segunda amostra, não observamos uma separação entre os picos<br />

dos sinais. Isto indica que não houve mudanças na estatística dos campos de<br />

excitação que pudessem levar a uma observação de separação entre picos de sinal.<br />

k r 2<br />

k r A<br />

1<br />

1 A 2<br />

Figura 3.19: Diagrama de feixes do experimento concebido<br />

para verificar se há mudança na estatística dos campos de<br />

excitação. A 1 e A 2 são as amostras e as setas duplas são<br />

lentes convergentes.<br />

99


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

3.4 – Efeitos de altas intensidades em soluções de polianilina<br />

a) Polímeros condutores<br />

Polímeros são macromoléculas que se caracterizam por um alto peso<br />

molecular e por apresentarem unidades que se repetem ao longo das suas estruturas,<br />

que são chamadas de monômeros. A reação química responsável pela união dos<br />

monômeros é a polimerização. Nos polímeros, as propriedades físico-químicas não<br />

são determinadas pelos monômeros, como se estivessem separados, mas sim pela<br />

cadeia polimérica formada por eles. A polimerização é basicamente de dois tipos: por<br />

adição, em que os monômeros se unem uns aos outros sem que haja perda de uma<br />

molécula mais simples, e por condensação, em que há perda de moléculas (em geral a<br />

água). O tipo de polimerização que ocorre é função do tipo de monômero a partir do<br />

qual será formado o polímero [Bi84].<br />

A motivação inicial da síntese de polímeros era a de substituir polímeros<br />

naturais, que por algum motivo começavam a se tornar escassos e caros. Como<br />

exemplos, podemos citar o náilon, que substituiria a seda, e a borracha sintética, que<br />

substituiria a borracha natural. A partir da sintetização dos primeiros polímeros, muitas<br />

aplicações foram encontradas e hoje em dia estes materiais são muito versáteis. Sua<br />

utilidade foi grandemente aumentada quando se descobriram polímeros com uma nova<br />

propriedade, que até então era exclusiva dos metais, que era a possibilidade de<br />

condução de eletricidade. Esta propriedade foi observada pela primeira vez em 1977<br />

por Chiang e colaboradores [Ch77], que verificaram que o transpoliacetileno<br />

aumentava a sua condutividade elétrica à medida em que era dopado com iodo.<br />

Apesar de não apresentarem propriedades físico-químicas e mecânicas tão boas como<br />

as que apresentam os demais polímeros, os polímeros condutores (também chamados<br />

de “não convencionais” – PNC’s) diferem dos metais por permitirem que as suas<br />

propriedades de condutividade elétrica sejam manipuladas dentro de uma ampla faixa<br />

de valores [Ch86]. As propriedades físicas e químicas destes polímeros podem ser<br />

modificadas reversivelmente através de um processo químico chamado de dopagem,<br />

que se baseia no controle do estado de oxidação do polímero. A figura 3.20 mostra<br />

alguns destes polímeros não convencionais de importância acadêmica e aplicada.<br />

100


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

(a)<br />

(b)<br />

S<br />

S<br />

S<br />

S<br />

(c)<br />

H<br />

H<br />

N<br />

N<br />

N<br />

N<br />

(d)<br />

H<br />

H<br />

H<br />

H<br />

N<br />

N<br />

(e)<br />

N<br />

H<br />

N<br />

H<br />

Figura 3.20: Exemplos importantes de polímeros não<br />

convencionais. (a): Transpoliacetileno; (b): Poli p-fenileno;<br />

(c): politiofeno; (d) Polipirrol e (e): Polianilina.<br />

Dentre as aplicações tecnológicas de PNC’s, podemos destacar o uso como<br />

eletrodos em baterias, dispositivos para microeletrônica, sensores químicos de gases<br />

(“nariz eletrônico”) [So99] e de moléculas orgânicas de interesse biológico, LED’s,<br />

limitadores ópticos etc... Assim, os PNC’s representam uma importante classe de<br />

materiais, exigindo que os mecanismos que determinam suas propriedades sejam<br />

entendidos da melhor forma possível.<br />

Os polímeros condutores podem mudar suas propriedades elétricas<br />

reversivelmente, passando de isolantes a semicondutores, podendo atingir valores de<br />

condutividade típicas de metais. A diferença mais marcante entre os PNC’s e os<br />

semicondutores intrínsecos é que estes aumentam sua condutividade com o aumento<br />

da temperatura, enquanto que o contrário acontece com os PNC’s [Ha88]. Devido a<br />

101


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

isto, os PNC’s são também chamados de “metais sintéticos”. O processo de tornar o<br />

PNC mais ou menos condutor está associado ao controle da criação de níveis de<br />

energia de defeitos localizados dentro do “gap”, região que será definida mais adiante.<br />

Tal mecanismo é semelhante ao que ocorre na dopagem dos semicondutores<br />

extrínsecos, mas há uma diferença fundamental ente os dois casos: as energias dos<br />

níveis criados na região do “gap” de um semicondutor extrínseco é função do dopante,<br />

enquanto que nos PNC’s isto não ocorre. Os níveis de energia criados na região do<br />

“gap” são determinados basicamente pela estrutura do polímero [St88].<br />

b) A Polianilina<br />

Em particular, a polianilina (PANI) é o polímero sintetizado pela oxidação da<br />

anilina, cuja estrutura molecular plana pode ser vista na figura 3.21. A PANI foi<br />

sintetizada pela primeira vez em 1862 na Inglaterra, quando era conhecida como<br />

“Negro de Anilina”, com o objetivo de usá-la na indústria têxtil inglesa para tingir<br />

algodão. Desde então uma enorme quantidade de trabalhos sobre o material tem sido<br />

feita.<br />

NH 2<br />

Figura 3.21: Fórmula estrutural plana da molécula de<br />

anilina. A anilina é líquida à temperatura ambiente.<br />

Entretanto, um estudo amplo e sistemático das propriedades físico-químicas da<br />

PANI, como sua estrutura [Ma96], seus mecanismos de polimerização e degradação,<br />

sua condutividade e seu mecanismo de oxidação e redução e suas propriedades<br />

ópticas lineares e não lineares [Ma99], [Ma01], foi iniciado só recentemente [Ge90].<br />

Ainda assim, após alguns anos de estudo, estes aspectos ainda são focos de grande<br />

polêmica, sobretudo pelo fato de estas propriedades serem dependentes do método de<br />

síntese da PANI adotado.<br />

A polimerização da anilina resulta na formação de um radical cátion em sua<br />

fase inicial, que é mostrado na figura 3.22a. Então, forma-se um produto intermediário<br />

na reação, que é a molécula de para-aminodifenilamina, mostrada na figura 3.22b, que<br />

102


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

por sua vez sofre um processo de oxidação, levando à formação de uma forma de<br />

PANI chamada esmeraldina básica (EB). As unidades resultantes com dois anéis<br />

unem-se, formando os tetrâmeros, octâmeros e assim por diante.<br />

NH 2 NH 2 + + e - (a)<br />

N<br />

H<br />

NH 2<br />

(b)<br />

Figura 3.22: Formação do radical cátion (a); Fórmula<br />

estrutural plana da molécula de para-aminodifenilamina (b).<br />

Há dois métodos de síntese da polianilina. No método químico, que será o<br />

utilizado para a preparação das amostras usadas nesta Tese, um agente químico<br />

oxidante é utilizado, como o persulfato de amônio ((NH 4 ) 2 S 2 O 8 ), o dicromato de<br />

potássio (K 2 Cr 2 O 7 ), o peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ), o nitrato cérico (Ce(NO 3 ) 4 ), o<br />

sulfato cérico (Ce(SO 4 ) 2 ) ou o cloreto férrico (FeCl 3 ). Constatou-se que o melhor<br />

método químico é aquele em que se emprega o persulfato de amônio em meio ácido<br />

aquoso (geralmente ácido sulfúrico (H 2 SO 4 ) ou ácido clorídrico (HCl)) com pH entre 0 e<br />

1 [Ku87]. No método eletroquímico, a polimerização pode ser feita usando-se as<br />

técnicas galvanostática, potenciostática ou a voltametria cíclica [Ge90]. Nas duas<br />

primeiras técnicas uma corrente e um potencial elétrico, respectivamente, são fixos e<br />

aplicados entre os eletrodos. Na terceira técnica, que é a mais indicada dentre as<br />

eletroquímicas, um potencial elétrico é variado de forma cíclica dentro de um intervalo<br />

de valores pré-estabelecidos em taxas que variam entre 10 e 100 mV/s. O limite<br />

superior do potencial não deve ultrapassar 0,8 V, sob pena de ocorrer a degradação do<br />

polímero [Ko84]. Em ambos os métodos de síntese, a degradação do polímero pode<br />

ocorrer no caso de uma concentração muito alta de material oxidante ser utilizada.<br />

103


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

c) Estados de oxidação da PANI<br />

A PANI apresenta vários estados de oxidação, que podem ser quimicamente<br />

interconvertidos entre si. Uma representação esquemática da polianilina é mostrada na<br />

figura 3.23 [Ma87]. Se x assumir os valores 1 ou 0, teremos os estados de oxidação<br />

extremos da PANI. Se x = 1, temos a PANI leucoesmeraldina básica (LB),<br />

correspondente ao estado completamente reduzido. Por outro lado, se x = 0, temos a<br />

PANI pernigranilina básica (PB), correspondente ao estado completamente oxidado.<br />

No caso ideal de x = 0,5, temos a PANI esmeraldina básica (EB), correspondente ao<br />

estado de oxidação intermediário. Há possibilidade de termos ainda vários valores de x<br />

entre 1,0 e 0,5 e entre 0,5 e 0,0. Para os casos em que x = 0,75 obtemos a PANI<br />

protoesmeraldina e quando x = 0,25 obtemos a PANI nigranilina. Assim, a partir do<br />

estado de oxidação intermediário x = 0,5 (EB), se formos oxidando a PANI obteremos a<br />

PANI nigranilina (x = 0,25) e por fim a PANI pernigranilina (x = 0,0). Se formos<br />

reduzindo a PANI, obteremos a PANI protoesmeraldina (x = 0,75) e finalmente a PANI<br />

leucoesmeraldina (x = 1,0).<br />

H<br />

N<br />

N<br />

N<br />

H<br />

x<br />

N<br />

(1-x)<br />

Figura 3.23: Representação esquemática da dependência<br />

da estrutura química da PANI com o seu estado de<br />

oxidação. Na PANI EB os ângulos das ligações químicas<br />

nos átomos de nitrogênio variam entre 116° e 122° e os<br />

comprimentos das ligações entre 1,08 Å e 1,47 Å.<br />

Assim, o estado de oxidação está relacionado com a quantidade dos átomos<br />

de nitrogênio das funções amina (três ligações simples) e imina (uma ligação simples e<br />

uma dupla) presentes na estrutura da molécula, o que determina a estrutura eletrônica<br />

do polímero. Por exemplo, a EB é um estado de oxidação com as características de<br />

um semicondutor. Ao ser tratada com uma solução ácida, isto e, ao ser protonada,<br />

ocorre uma transição isolante-metal e a EB forma um sal com uma condutividade típica<br />

104


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

de metais [Ch86], que pode crescer 10 11 vezes, atingindo valores de 10 S/cm. Em<br />

geral dizemos que nesta forma protonada a PANI EB está dopada, em analogia à<br />

situação similar de dopagem no caso dos semicondutores. O processo da formação do<br />

sal esmeraldino está exemplificado na figura 3.24 [Gi89]. Desta forma, para cada um<br />

dos três estados de oxidação principais, existe uma forma dopada (salina), denotada<br />

por uma letra S antes de sua abreviatura. As duas formas de PANI do estado de<br />

oxidação intermediário (EB e SEB) são bastante estáveis às condições ambiente<br />

normais, o que não acontece para as outras formas de PANI. Na figura 3.25<br />

mostramos as formas principais de PANI e as suas formas de interconversão.<br />

H<br />

N<br />

H +<br />

N<br />

H<br />

Cl - Cl -<br />

N<br />

H +<br />

N<br />

Figura 3.24: Exemplo de estrutura de um sal polimérico de<br />

PANI (sal esmeraldino), obtido após o tratamento da PANI<br />

EB com ácido clorídrico, num processo conhecido também<br />

como dopagem por protonação.<br />

d) Estrutura eletrônica e propriedades ópticas da PANI<br />

A PANI apresenta efeitos de eletrocromismo (coloração dependente de<br />

eletricidade), solvatocromismo (coloração dependente do solvente) e propriedades<br />

ópticas não lineares. Estas propriedades estão associadas a defeitos na estrutura da<br />

PANI, que dependem do meio em que o polímero está [Ki88], [Ch93].<br />

A espectroscopia linear das PANI’s revela a presença de unidades poliméricas<br />

correspondentes a estruturas tipo radical cátion, amina aromática e quinona di-imina,<br />

apresentadas na figura 3.26, que estão associadas às formas condutora (SEB),<br />

reduzida (LB) e oxidada (EB) da PANI [An88]. Na forma reduzida LEB (x = 1,0) a PANI<br />

apresenta só uma transição eletrônica com máximo de absorção em torno de 320 nm,<br />

associada à transição da banda de valência π para a banda de condução π ∗ do anel<br />

benzênico [Ca90], o que a relaciona com o “gap” de energia neste polímero, que se<br />

comporta como um semicondutor intrínseco (isolante). Quando a PANI se encontra no<br />

105


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

estado de oxidação intermediário EB (x = 0,5), alguns anéis benzênicos dão lugar a<br />

anéis quinóides [Hu93]. A transição π-π ∗ também é encontrada e adicionalmente se<br />

verifica o surgimento de outras bandas de absorção, com máximos em torno de 270 nm<br />

e 620 nm, que são associadas respectivamente à transição π-π ∗ dos anéis quinóides à<br />

transição n-π ∗ dos elétrons não ligantes dos átomos de nitrogênio para a banda de<br />

condução (banda de excitons) [Ki89]. As transições existentes com energias maiores<br />

do que 2,2 eV podem ser associadas a excitons localizados em anéis fenílicos<br />

individuais [Du86]. Nas formas dopadas de PANI surgem novas bandas de absorção<br />

associadas a outros tipos de defeitos presentes na cadeia [St87], que têm sua<br />

espectroscopia estudada em detalhes em [Ca90a]. Estudos de diluição mostram que<br />

não existe deslocamento dos picos de absorção na EB e no SEB, indicando que a<br />

absorção óptica é uma interação intracadeia [Zu89].<br />

N<br />

N<br />

N<br />

N<br />

(a)<br />

ácido<br />

base<br />

H<br />

N<br />

+<br />

N<br />

+ e - - e -<br />

N<br />

H<br />

H<br />

N<br />

N<br />

(c)<br />

+ e - - e - +<br />

+<br />

N<br />

N<br />

H<br />

H 2 H 2<br />

N<br />

N<br />

N<br />

H<br />

H<br />

H<br />

N<br />

N<br />

(e)<br />

ácido<br />

N<br />

H<br />

base<br />

Figura 3.25: Diagrama de interconversão entre as formas de<br />

PANI. A oxidação (redução) é equivalente a perda (ganho)<br />

de elétrons. As formas rotuladas são: PB (a); SEB (b); EB<br />

(c); SLB (d) e LB (e).<br />

N<br />

+<br />

(d)<br />

(b)<br />

106


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

H<br />

N<br />

(a)<br />

+<br />

N<br />

H<br />

H<br />

N<br />

(b)<br />

N<br />

H<br />

N<br />

(c)<br />

N<br />

Figura 3.26: Estruturas poliméricas associadas a bandas de<br />

absorção na PANI. Radical cátion (a); amina aromática (b)<br />

e quinona di-imina (c).<br />

e) Preparação das amostras de PANI<br />

As amostras utilizadas em nossos experimentos foram sintetizadas no<br />

laboratório de química do Departamento de Física e no Departamento de Química<br />

Fundamental da <strong>UFPE</strong>. O objetivo era obter PANI em pó através do método de síntese<br />

química para o preparo posterior de soluções de interesse. Os reagentes de partida<br />

eram 125 ml de solução de cloreto de anilínio ácida (anilina 0,5 M em ácido clorídrico<br />

1,0 M), 500 ml de uma solução de 50 ml de ácido clorídrico concentrado (~97%) em<br />

450 ml de água destilada e uma solução 0,8 M de persulfato de amônio (NH 4 ) 2 S 2 O 8 ,<br />

que é um forte oxidante.<br />

Primeiramente, diluímos 125 ml da solução ácida de cloreto de anilínio para<br />

500 ml com a solução de ácido clorídrico diluído. Depois, durante 3 horas adicionaramse<br />

gota a gota 50 ml da solução de persulfato de amônio à solução anterior, que fora<br />

mantida sob vigorosa e constante agitação e em um banho de gelo, a uma temperatura<br />

de aproximadamente 5° C. O gelo tinha que ser reposto regularmente. Após a adição<br />

dos 50 ml do persulfato de amônio, mantivemos a solução sob agitação por mais 10<br />

horas. Ao final deste tempo, iniciou-se o processo de lavagem com filtração a vácuo,<br />

usando um filtro de vidro sinterizado e uma bomba mecânica.<br />

Seguiu-se a lavagem da PANI com água destilada por umas vinte vezes e com<br />

acetonitrila (C 2 H 3 N) por umas quarenta vezes a fim de remover impurezas e oligômeros<br />

que tenham surgido como subprodutos, deixando apenas as moléculas com peso<br />

molecular da ordem de 10.000, pois os oligômeros menores se dissolvem facilmente<br />

em acetonitrila. A quantidade de acetonitrila usada foi de aproximadamente 1,5 l,<br />

devido a que foi necessário o procedimento repetido de recuperação desta substância<br />

107


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

pelo processo de destilação, o que tornou o processo de lavagem da PANI bastante<br />

lento. À medida em que se vai lavando a PANI, ela começa a se apresentar cada vez<br />

menos aglutinada, tendendo a formar um pó quando seca e mexida com um bastão de<br />

vidro. Após a lavagem da PANI com acetonitrila, o pó já se encontra bem solto.<br />

Lavamos o pó umas três vezes com água deionizada para remover a acetonitrila e<br />

deixamos o pó secar por umas 12 horas em um dessecador com sílica gel e vácuo.<br />

Neste ponto, o que temos é a PANI ácida (ou PANI salina). Para torná-la básica<br />

precisamos adicionar uma certa quantidade de PANI ácida a aproximadamente 200 ml<br />

de solução aquosa de amônia (NH 4 OH) a 1,0 M e deixar sob agitação por quatro horas.<br />

Após este período, filtra-se a vácuo a mistura com um filtro de vidro sinterizado. Após<br />

seco, o pó básico deve ser homogeneizado, quebrando-se os pedaços maiores para<br />

que o pó fique o mais fino possível, com o intuito de facilitar sua dissolução em um<br />

solvente conveniente. A PANI EB resultante é parcialmente solúvel em dimetilsulfóxido<br />

(DMSO), dimetilformamida (DMF), piridina, tetrahidrofurano (THF) e N-metil 2-<br />

pirrolidona (NMP). Ao ser protonada com ácidos inorgânicos, formando o sal<br />

polimérico condutor SEB, apresenta-se completamente insolúvel nos solventes citados.<br />

Para fazer 25 ml de uma solução fortemente concentrada de PANI EB em<br />

DMSO devemos utilizar aproximadamente 34 mg do pó. Com estas substâncias em<br />

um pequeno Erlenmeyer, deve-se manter a mistura sob agitação por umas quatro<br />

horas, tomando o cuidado para deixar o Erlenmeyer bem vedado, pois o DMSO é um<br />

solvente altamente higroscópico. Ao final destas quatro horas filtramos a solução com<br />

um filtro de papel, que foi previamente pesado. Os resíduos que ficarem no filtro são<br />

pesados depois da secagem do filtro para que se possa estimar a concentração da<br />

solução. Ao final do processo, obtivemos uma solução de PANI EB em DMSO com<br />

uma concentração de 1,3 g/l. Para a obtenção da PANI completamente oxidada (PB) ,<br />

um certo volume de uma solução de concentração conhecida de PANI BE foi tratado<br />

através da adição lenta, gota a gota, de uma solução de persulfato de amônio,<br />

mantendo a solução sob vigorosa agitação até a completa oxidação da PANI, que foi<br />

observada através do seu espectro de absorção óptica linear.<br />

108


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

f) Caracterização das amostras<br />

As figuras 3.27a e 3.27b mostram os espectros de absorção óptica de<br />

amostras de PANI EB e PB, que serão as estudadas nesta Tese. Os espectros de<br />

absorção apresentam as bandas típicas da PANI em suas respectivas formas de<br />

oxidação [Ca89]. As bandas centradas em 322 nm (EB) e 316 nm (PEB, quase não<br />

resolvida no espectro) correspondem à transição π-π ∗ dos anéis benzênicos das<br />

cadeias e as bandas centradas em 619 nm e 554 nm correspondem à formação de<br />

excitons relativos a deslocamentos de cargas entre os anéis quinona e benzênico<br />

[Ro88]. Através de estudos de absorção fotoinduzida no regime de ps, conclui-se que<br />

quando a luz incide na PANI estes excitons são criados em um tempo inferior a 8 ps e<br />

a metade decai em 4 ns. Esta dinâmica do sinal de “bleaching” fotoinduzido é<br />

estudada com detalhes em [Ro89].<br />

1.5<br />

1.2<br />

(a)<br />

Absorbância<br />

0.9<br />

0.6<br />

0.3<br />

0.0<br />

1.5<br />

1.2<br />

300 400 500 600 700 800<br />

(b)<br />

Absorbância<br />

0.9<br />

0.6<br />

0.3<br />

0.0<br />

300 400 500 600 700 800<br />

Comprimento de onda (nm)<br />

Figura 3.27: Espectros de absorção linear da PANI em<br />

DMSO. Esmeraldina básica (0,13 g/l), (a); Pernigranilina<br />

(0,10 g/l), (b). A espessura das amostras é 1 mm.<br />

109


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A figura 3.28 apresenta o espectro de absorção na região do infravermelho da<br />

PANI EB. Podemos destacar a região entre 700 cm -1 e 900 cm -1 , que corresponde à<br />

região de deformação das ligações C-H de anéis aromáticos. Na PANI, a absorção em<br />

830 cm -1 e a ausência de outras transições são características de substituições para<br />

nos anéis aromáticos [Oh84], [Ha89], o que indica que o polímero apresenta baixa<br />

quantidade de cadeias ramificadas. A banda situada em torno de 1160 cm -1 é uma<br />

“banda eletrônica”, que indica o grau de deslocalização de elétrons na cadeia<br />

polimérica [Qu94]. Observa-se que esta banda de absorção cresce à medida em que o<br />

polímero vai sendo dopado. Os modos vibracionais responsáveis pelas absorções em<br />

torno de 1490 cm -1 e 1580 cm -1 são característicos da PANI e correspondem,<br />

respectivamente, a deformações do anel aromático das seqüências nitrogêniobenzeno-nitrogênio<br />

e nitrogênio-quinona-nitrogênio [Ta88a]. A intensidade de uma<br />

destas absorções em relação à outra indica o grau de oxidação do polímero. No<br />

espectro apresentado na figura 3.28 estas bandas se apresentam bem pronunciadas e<br />

de intensidades comparáveis, indicando que a PANI se encontra em um estado de<br />

oxidação intermediário. A região entre 2700 e 3000 cm -1 corresponde às energias de<br />

vibração das ligações C-H e as fortes absorções na região entre 3000 cm -1 e 4000 cm -1<br />

são atribuídas ao estiramento da ligação N-H [Oh84].<br />

Transmitância (%)<br />

Número de onda (cm -1 )<br />

Figura 3.28: Espectro de absorção de infravermelho da<br />

PANI EB preparada com (NH 4 ) 2 S 2 O 8 (adaptada de [Ya93]).<br />

110


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Há uma grande quantidade de trabalhos sobre as vibrações moleculares da<br />

PANI [Bo98], quanto às atividades Raman e infravermelha [Oh87], quanto aos efeitos<br />

isotópicos [Lo96] e quanto aos efeitos dos eletrólitos na sua oxidação eletroquímica<br />

[La95], o que caracteriza muito bem o comportamento vibracional da PANI.<br />

g) Experimento<br />

Para investigar o defasamento eletrônico em soluções de PANI EB utilizamos a<br />

técnica da auto difração com luz incoerente, descrita na seção 3.1 e usada nas seções<br />

3.2 e 3.3. A configuração de feixes utilizada foi a mesma que aquela mostrada na<br />

figura 3.7. Foram utilizados dois lasers operando no regime de banda larga: um com<br />

pico de emissão em 583 nm e com largura de linha de 3,7 nm (t c ~ 160 fs) e outro com<br />

pico de emissão em 682 nm e largura de linha de 11,9 nm (t c ~ 90 fs). Seus espectros<br />

são mostrados na figura 3.29.<br />

Intensidade (unidades arbitrárias)<br />

1.2<br />

pico de emissão: 583 nm<br />

largura de linha: 3,7 nm<br />

0.9<br />

0.6<br />

0.3<br />

0.0<br />

560 570 580 590 600 610<br />

Comprimento de onda (nm)<br />

Intensidade (unidades arbitrárias)<br />

3.0 pico de emissão: 682 nm<br />

largura de linha: 11,9 nm<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0<br />

660 670 680 690 700<br />

Comprimento de onda (nm)<br />

Figura 3.29: Espectros dos lasers incoerentes utilizados nos<br />

experimentos de autodifração com luz incoerente em<br />

soluções de PANI EB e PB em DMSO.<br />

O laser com pico de emissão em 583 nm foi obtido utilizando-se como meio de<br />

ganho uma mistura de 2,5 ml de Rodamina 6G 1 mM em etanol com 5 gotas de<br />

Rodamina B 3 mM em metanol e o laser com pico de emissão em 682 nm foi obtido<br />

utilizando-se uma solução 0,5 mM de LDS 698 em metanol. As cavidades eram as<br />

mesmas para ambos os lasers e eram compostas por um espelho dielétrico de<br />

refletividade próxima de 100% apropriado para o comprimento de onda de operação e<br />

um espelho de saída com refletividade de 30%. Foi utilizado um estágio de<br />

111


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

amplificação transversal. Em particular, quando operando o laser em 682 nm foi<br />

necessário utilizar um agitador na cubeta do oscilador para evitar que efeitos térmicos<br />

influenciassem no perfil espacial do feixe.<br />

O experimento consistiu em verificar a dependência da separação entre os<br />

picos dos sinais de autodifração em função da intensidade incidente dos lasers de<br />

excitação, que estão numa configuração de polarizações paralelas. Alguns resultados<br />

podem ser vistos na figura 3.30 para a PANI EB e na figura 3.31 para a PANI PB.<br />

Sinal de auto difração<br />

5.0 λ P<br />

= 583 nm I = 4,2 MW/cm 2<br />

τ s<br />

= 11 fs<br />

4.0<br />

3.0<br />

2.0<br />

1.0<br />

Sinal de auto difração<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

λ p<br />

= 682 nm I = 35 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 7 fs<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

Sinal de auto difração<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

λ P<br />

= 583 nm<br />

I = 61 MW/cm 2<br />

τ s<br />

= 77 fs<br />

Sinal de auto difração<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

λ p<br />

= 682 nm<br />

I = 180 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 44 fs<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura 3.30: Resultados experimentais das intensidades dos<br />

sinais de autodifração em primeira ordem nas duas direções<br />

para a PANI EB em DMSO. A espessura da amostra é 1<br />

mm e a concentração é de 0,30 g/l.<br />

As separações entre os picos de sinal de autodifração foram obtidas após<br />

ajustarmos curvas Gaussianas aos sinais e medirmos as separações entre seus<br />

máximos. O erro experimental de ±3 fs foi determinado tal qual no experimento do<br />

alargamento não homogêneo induzido por laser nas soluções de Sulfo-rodamina 640<br />

112


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

em etanol: o sinal em uma das direções de autodifração foi dividido em dois, enviados<br />

aos canais de aquisição e processados. Após várias repetições do experimento, a<br />

separação entre os máximos das curvas gaussianas ajustadas aos sinais<br />

experimentais variava de no máximo ±3 fs. Podemos observar que nos quatro casos<br />

mostrados na figura 3.30 a resposta da PANI EB é mais rápida do que o tempo de<br />

coerência dos lasers, pois os sinais são simétricos. Portanto, o tempo de defasamento<br />

eletrônico T 2 pode ser medido como função da separação entre os picos dos sinais de<br />

autodifração. Lembrando que esta separação entre os picos só ocorre para sistemas<br />

que apresentam alargamento não homogêneo, podemos considerar a priori que o<br />

aumento da intensidade dos lasers de excitação está provocando um alargamento na<br />

distribuição não homogênea do sistema, o que se reflete no aumento da separação<br />

entre os picos dos sinais de autodifração.<br />

Sinal de auto difração<br />

0.8<br />

0.7<br />

0.6<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

λ P<br />

= 583 nm<br />

I = 7,4 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 14 fs<br />

Sinal de auto difração<br />

1.4<br />

1.2<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

λ P<br />

= 682 nm<br />

I = 32,4 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 6 fs<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

Sinal de auto difração<br />

5.0<br />

4.0<br />

3.0<br />

2.0<br />

1.0<br />

λ P<br />

= 583 nm<br />

I = 53 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 48 fs<br />

Sinal de auto difração<br />

2.0<br />

1.6<br />

1.2<br />

0.8<br />

0.4<br />

λ P<br />

= 682 nm<br />

I = 180 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 44 fs<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura 3.31: Resultados experimentais das intensidades dos<br />

sinais de autodifração em primeira ordem nas duas direções<br />

para a PANI PB em DMSO. A espessura da amostra é 1<br />

mm e a concentração é de 0,23 g/l.<br />

113


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

As dependências da separação entre os picos de sinal de autodifração com as<br />

intensidades dos lasers de excitação para as PANI’s EB e PB são mostradas nas<br />

figuras 3.32 e 3.33, respectivamente. Em todos os casos observamos um<br />

comportamento correspondente a um aumento sistemático da separação entre os picos<br />

de sinal com o crescimento da intensidade dos lasers de excitação. Podemos também<br />

observar regiões em que uma espécie de saturação começa a ocorrer, e os valores das<br />

intensidades de saturação são dependentes do comprimento de onda do laser de<br />

excitação.<br />

90<br />

50<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

(a)<br />

0 10 20 30 40 50 60 70<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

(b)<br />

-10<br />

0 50 100 150 200<br />

Intensidade (MW/cm 2 )<br />

Intensidade (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.32: Separação entre os picos em função da<br />

intensidade do laser de excitação na PANI EB. Laser de<br />

excitação em 583 nm (a); laser de excitação em 682 nm (b).<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

(a)<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

-10<br />

(b)<br />

0 50 100 150 200<br />

Intensidade (MW/cm 2 )<br />

Intensidade (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.33: Separação entre os picos em função da<br />

intensidade do laser de excitação na PANI PB. Laser de<br />

excitação em 583 nm (a); laser de excitação em 682 nm (b).<br />

114


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Para assegurarmos que o comportamento observado não é produto de efeitos<br />

térmicos devido à configuração de polarizações paralelas utilizada, fizemos o<br />

experimento com a PANI EB sob excitação em 583 nm, mas agora com polarizações<br />

perpendiculares entre os feixes de excitação. Os resultados de baixa e alta<br />

intensidades podem ser vistos na figura 3.34 e a dependência da separação entre os<br />

picos de sinal de autodifração com a intensidade do laser para este caso pode ser vista<br />

na figura 3.35.<br />

Sinal de auto difração<br />

1.2<br />

0.9<br />

0.6<br />

0.3<br />

λ P<br />

= 583 nm<br />

I = 21 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 27 fs<br />

Sinal de auto difração<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

λ P<br />

= 583 nm<br />

I = 64 MW/cm 2<br />

τ S<br />

= 65 fs<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura 3.34: Resultados dos sinais de autodifração em<br />

primeira ordem nas duas direções para a PANI EB em<br />

DMSO sob excitação em 583 nm numa configuração de<br />

polarizações perpendiculares entre os feixes de excitação.<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10 20 30 40 50 60 70 80<br />

Intensidade (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.35: Separação entre os picos em função da<br />

intensidade do laser de excitação na PANI EB. Laser<br />

operando em 583 nm, configuração de polarizações<br />

perpendiculares entre os feixes de excitação.<br />

Os resultados mostram que o efeito aparece também na configuração de<br />

polarizações perpendiculares.<br />

115


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

h) Discussão<br />

A primeira tentativa de explicar o efeito foi usando o mesmo modelo que<br />

explicou muito bem o comportamento que as soluções de Sulfo-rodamina 640<br />

apresentavam (seção 3.3). Assim, utilizando até três modos vibracionais da PANI em<br />

ω 1 ~ 830 cm -1 (estiramento C-H), ω 2 ~ 1500 cm -1 (estiramento C-C) e ω 3 ~ 3100 cm -1<br />

(estiramento N-H) [Oh87], não foi possível obter um resultado satisfatório para a<br />

reprodução do espectro de absorção linear na região da banda de excitons, como pode<br />

ser visto na figura 3.36.<br />

Absorção (unidades arbitrárias)<br />

2.0<br />

1.6<br />

1.2<br />

0.8<br />

0.4<br />

0.0<br />

(a)<br />

-6000 -4000 -2000 0 2000 4000 6000<br />

Absorção (unidades arbitrárias)<br />

2.0<br />

1.6<br />

1.2<br />

0.8<br />

0.4<br />

0.0<br />

(b)<br />

-6000 -4000 -2000 0 2000 4000 6000<br />

∆ω (cm -1 )<br />

∆ω (cm -1 )<br />

Figura 3.36: Espectros de absorção experimental (linha<br />

sólida) e calculados (linhas descontínuas) para a PANI EB<br />

sob excitação em 583 nm. As linhas tracejadas indicam<br />

espectro calculado à T vib = 300 K e as pontilhadas, à T vib =<br />

3500 K. Em (a) foram usados 2 modos vibracionais e em<br />

(b), 3.<br />

A banda de absorção experimental apresentada nas figuras 3.36a e 3.36b é<br />

aquela com máximo em torno de 619 nm mostrada na figura 3.27a. A expressão<br />

utilizada para ajuste é a equação (3.19), com parâmetros Γ = 5000 cm -1 e β = 0 cm -1 ,<br />

isto é, supusemos a transição sem alargamento não homogêneo inicial. Notemos que<br />

a diferença entre os espectros calculados não é muito acentuada mesmo para<br />

temperaturas vibracionais bastante diferentes, T vib = 300 K e T vib = 3500 K, além do fato<br />

de as curvas teóricas não ajustarem bem a forma de linha experimental quando<br />

calculadas com T vib = 300 K. Em mais uma tentativa de aplicar o modelo, introduzimos<br />

na equação de ajuste uma componente de alargamento não homogêneo, pois<br />

116


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

conforme [Ma98], esta transição seria alargada não homogeneamente. Os parâmetros<br />

utilizados foram Γ = 4000 cm -1 e β = 5100 cm -1 e apenas dois modos vibracionais com<br />

ω 2 ~ 1500 cm -1 e ω 3 ~ 3100 cm -1 foram utilizados. A melhor curva obtida para a<br />

absorção teórica, que pode ser vista na figura 3.37, mostra-se ainda insatisfatória para<br />

ajustar os resultados experimentais e definitivamente as vibrações moleculares da<br />

PANI não devem ser as responsáveis pelo comportamento induzido por laser verificado<br />

em nossas amostras.<br />

Absorção (unidades arbitrárias)<br />

2.0<br />

1.6<br />

1.2<br />

0.8<br />

0.4<br />

0.0<br />

-6000 -4000 -2000 0 2000 4000 6000<br />

∆ω (cm -1 )<br />

Figura 3.37: Espectros de absorção experimental (linha<br />

sólida) e calculados (linhas descontínuas) para a PANI EB<br />

sob excitação em 583 nm. As linhas tracejadas indicam<br />

espectro calculado à T vib = 300 K e as pontilhadas, à T vib =<br />

3500 K. Foram usados 2 modos vibracionais e um<br />

alargamento não homogêneo inicial de 5100 cm -1 .<br />

Passamos então a buscar uma outra explicação para o fenômeno. Em um<br />

trabalho teórico, Ginder e Epstein [Gi90] analisaram a influência da torção dos anéis<br />

aromáticos ao longo da cadeia da PANI na estrutura eletrônica do polímero. Devido ao<br />

potencial de interação entre os elétrons π de dois anéis aromáticos vizinhos, o polímero<br />

não apresenta uma estrutura planar, ou seja, os anéis não se encontram num mesmo<br />

plano. Por considerações de minimização de energia potencial entre os anéis, os<br />

autores determinaram que estes devem se dispor em ângulos de 56°, alternadamente,<br />

em relação ao que seria o plano da molécula. Associado a este mínimo de potencial<br />

existe um modo Raman torsional no qual dois anéis aromáticos oscilam defasados de<br />

π, cuja energia é de 90 cm -1 (equivalente a um período de ~330 fs). A dependência do<br />

potencial inter-anéis é anarmônica e ângulos maiores entre os anéis ficam mais<br />

117


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

prováveis de ocorrer se a temperatura é aumentada.<br />

A média térmica do<br />

deslocamento angular a partir do ângulo de torção de equilíbrio, θ − θ0<br />

, é encontrada<br />

usando-se a distribuição de Boltzmann:<br />

∫ ( θ − θ0<br />

) exp[ − V( θ − θ0<br />

) kT]<br />

∫ exp[ − V( θ − θ0<br />

) kT]<br />

dθ<br />

dθ<br />

θ − θ0 =<br />

. Com<br />

isto verifica-se que para temperaturas de 500 K encontram-se torções de 2° e uma<br />

variação de energia do “gap” de 200 meV. Experimentos com soluções de PANI EB<br />

mostram um deslocamento termocrômico do gap para o azul desta mesma ordem,<br />

enquanto que a transição em 619 nm, correspondente à transferência de cargas entre<br />

os anéis benzênico e quinóide (banda de excitons) desloca-se ainda mais [Zu89].<br />

Estudos mais detalhados mostram que esta transição em soluções de PANI EB à<br />

temperatura ambiente deslocam-se linearmente com a temperatura a uma taxa de<br />

aproximadamente 0,7 meV/K [Gi90].<br />

Para verificar se o aumento de temperatura causado pela absorção dos lasers<br />

de excitação poderia ser a origem do deslocamento entre os picos dos sinais de<br />

autodifração observados, realizamos um novo experimento. A hipótese neste caso é<br />

que, ao aumentarmos a intensidade dos lasers de excitação, mais energia seria<br />

depositada na amostra, devido a esta ser excitada ressonantemente, ocorrendo então<br />

a conversão de energia localmente em calor. Conseqüentemente ocorreria o aumento<br />

da largura da distribuição de ângulos de torção entre anéis da cadeia. Isto criaria<br />

ambientes localmente mais diversificados, e portanto bandas de excitons de energias<br />

mais diversas, causando um alargamento não homogêneo. Convém lembrar que a<br />

síntese da PANI não permite um bom controle do tamanho dos polímeros, sendo esta a<br />

razão, por exemplo, de não mencionarmos a concentração sob a forma de moles por<br />

unidade de volume. Isto poderia ser uma causa de um alargamento não homogêneo<br />

inicial. Entretanto, os excitons relacionados à banda de absorção em 612 nm não são<br />

muito deslocalizados, de forma que o comprimento da cadeia, embora diverso, não<br />

deve influenciar muito na distribuição das energias de transição associadas a este<br />

defeito. Entretanto, um fator que pode ter relevância é a conformação dos polímeros<br />

quando em solução. Devido ao fato de o DMSO ser um solvente altamente polar, a<br />

sua interação com defeitos carregados é bem alta. Assim, para conformações<br />

diferentes do polímero teremos ambientes localmente bastante diferentes. Como não<br />

118


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

há controle do tamanho dos polímeros durante a síntese, muitas conformações são<br />

possíveis. No caso de filmes de PANI este tipo de problema é amenizado. Entretanto,<br />

fizemos experimentos de autodifração em filmes de PANI EB, mas invariavelmente eles<br />

eram danificados devido às altas energias dos pulsos de laser, o que ocasionava o<br />

surgimento de grades permanentes nas amostras. Em suma, esperamos uma<br />

componente de alargamento não homogêneo na PANI quando em solução.<br />

O experimento proposto teve como idéia principal esquentar a amostra e<br />

verificar como a separação entre os picos de sinal de autodifração dependia da<br />

temperatura da amostra, mantendo-se fixas as intensidades dos feixes de excitação<br />

(laser de corante operando em 583 nm). Para isto, usamos o segundo harmônico de<br />

um laser de Nd:YAG com intensidade máxima de 270 MW/cm 2 focalizado na amostra<br />

em uma área de raio de aproximadamente r = 100 µm, enquanto que para o laser de<br />

corante tínhamos r = 65 µm como mostram as figuras 3.38 e 3.39. As regiões de<br />

cintura mínima dos feixes eram ligeiramente deslocadas com o propósito de se criar<br />

uma distribuição de temperatura a mais não homogênea possível. O laser de Nd:YAG<br />

passava por uma linha de atraso que tinha por finalidade fazer com que a frente do<br />

pulso chegasse na amostra alguns poucos ps antes das partes dianteiras dos lasers de<br />

excitação da grade de população, que tiveram fixas suas intensidades em ~ 15<br />

MW/cm 2 . Assim, variando-se a intensidade do laser de Nd:YAG obtivemos o resultado<br />

mostrado na figura 3.40.<br />

65 µm<br />

100 µm<br />

Figura 3.38: Diagrama da superposição dos feixes utilizada<br />

no experimento feito para verificar efeitos de rotação dos<br />

anéis da cadeia da PANI. O círculo menor representa a<br />

distribuição de intensidade dos dois feixes do laser de<br />

corante e o círculo maior corresponde ao laser de Nd:YAG.<br />

119


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

3<br />

= 2k − k<br />

k r 1 2<br />

2<br />

k r r r r<br />

1<br />

τ k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

SH Nd:YAG (532 nm)<br />

Figura 3.39: Diagrama do experimento de autodifração com<br />

laser de aquecimento da amostra.<br />

r<br />

k<br />

r<br />

r<br />

48<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

42<br />

36<br />

30<br />

24<br />

18<br />

12<br />

6<br />

0<br />

0 50 100 150 200 250 300<br />

Intensidade do SH do Nd:YAG (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.40: Comportamento da separação entre os picos<br />

dos sinais de autodifração em função da intensidade do<br />

laser de aquecimento. A amostra é a de PANI EB. Os<br />

feixes de excitação têm pico de emissão em 583 nm e suas<br />

intensidades foram constantes durante todo o experimento.<br />

Os resultados obtidos indicam, em princípio, que o aquecimento da amostra<br />

provocado pelo laser de Nd:YAG não é suficiente para fazer τ s variar. Para avaliar o<br />

grau de aquecimento provocado consideramos que a energia depositada na amostra<br />

E dep ao longo do tempo de duração do pulso t p pode ser dada por<br />

I<br />

A<br />

0<br />

E<br />

dep<br />

= K t<br />

p<br />

, (3.21)<br />

S<br />

120


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

onde K é uma constante de proporcionalidade, I 0 é a intensidade máxima de cada<br />

laser, A é a absorbância da amostra no comprimento de onda de cada laser e S é a<br />

área de focalização do feixe de cada laser. Usando-se os dados para a PANI EB<br />

A(583 nm)=1,52, A(532 nm) = 0,97, S(583 nm) = 1,3×10 -8 m 2 , S(532 nm) = 3,1×10 -8 m 2 ,<br />

I 0 (583 nm) = 60 MW/cm 2 e I 0 (532 nm) = 270 MW/cm 2 encontramos que o laser de<br />

Nd:YAG deposita 19% mais energia na amostra do que o laser de corante.<br />

Para confirmar os resultados anteriores, fizemos mais um experimento. Neste,<br />

fixadas as intensidades dos lasers que formam a grade em pouco menos que 15<br />

MW/cm 2 , medimos a separação entre os picos (τ s ) em função da concentração de<br />

PANI EB. A concentração máxima foi de 0,3 g/l, pois para valores acima deste limite<br />

verificamos sinais da ocorrência de auto modulação de fase espacial, como a<br />

observação de anéis. O limite inferior foi determinado pela possibilidade de deteção de<br />

sinal, isto é, a relação sinal ruído para a amostra mais diluída era a pior admissível para<br />

termos dados confiáveis. Os resultados obtidos são mostrados na figura 3.42.<br />

40<br />

Separação entre os picos τ s<br />

(fs)<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0.12 0.16 0.20 0.24 0.28<br />

Concentração de PANI EB (g/l)<br />

Figura 3.42: Separação entre os picos de sinal de<br />

autodifração em função da concentração de PANI EB.<br />

Com base nos resultados acima, podemos concluir que, de fato, o fenômeno<br />

que estamos estudando não é de origem térmica, pois se o fosse verificaríamos<br />

mudanças de τ s com a concentração, cujo aumento causa um incremento na absorção<br />

121


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

de energia pela amostra, que estaria sendo convertida em calor. Estes resultados<br />

também indicam que o fenômeno observado tem origem intramolecular, pois o<br />

afastamento (ou a aproximação) das moléculas umas das outras não influencia no<br />

resultado observado.<br />

Após todas estas considerações, podemos levantar três possíveis hipóteses<br />

sobre a origem do comportamento observado:<br />

i) Uma possibilidade seria devido ao alargamento não homogêneo produzido<br />

por vibrações moleculares ser muito pequeno para ser visto no cálculo teórico do<br />

espectro de absorção linear. Neste caso, a explicação para o comportamento<br />

observado seria semelhante àquela apresentada na seção 3.3 para soluções de Sulforodamina<br />

640 em etanol, embora não conheçamos exatamente a estrutura vibrônica da<br />

PANI nem os tempos de relaxação característicos. Inicialmente a transição excitônica<br />

centrada em 619 nm seria homogeneamente alargada e, devido à presença do laser de<br />

excitação, uma distribuição de população vibracionalmente excitada se estabeleceria<br />

no estado eletrônico fundamental, dando origem a um pequeno alargamento não<br />

homogêneo. Entretanto, lembrando que a transição em questão tem uma largura plena<br />

à meia altura de ~ 5100 cm -1 , consideremos alguns fatos: quando utilizando baixas<br />

intensidades para a PANI EB excitada em 583 nm verificamos uma separação entre os<br />

picos dos sinais de autodifração de τ s ≈ 10 fs, que equivale a uma largura de linha<br />

homogênea de aproximadamente 3400 cm -1 . Como a largura de linha de absorção da<br />

transição é de 5100 cm -1 , concluímos que este valor representa a largura de linha não<br />

homogênea da transição, correspondente a um valor de<br />

∗<br />

T<br />

2<br />

≈ 6,5 fs, e portanto maior<br />

do que a largura de linha homogênea. Como o tempo de coerência do laser é t c = 160<br />

fs, conforme a figura 3.3, estamos numa região em que τ s = T 2 . Entretanto, esta<br />

situação considera o alargamento não homogêneo infinito. Como é finito e tem uma<br />

valor de ~ 5100 cm -1 , usamos a figura 3.6 para determinar r =<br />

∗<br />

T<br />

2<br />

/ T 2 = 6,5 fs / 10 fs =<br />

0,65, o que nos leva a T 2 = τ s / 0,85 = 12 fs, em concordância com [Ma98]. Até um<br />

valor de τ s ≈ 50 fs esta análise tem validade (conforme figura 3.3), situação em que<br />

temos r = 0,13, o que nos dá T 2 = τ s / 0,98 = 51 fs (conforme figura 3.6).<br />

122


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Esta mesma análise pode ser feita para a excitação da PANI EB em 682 nm (t c<br />

= 90 fs) e para a PANI PB excitada em 583 nm e 682 nm. Para o laser vermelho, a<br />

separação máxima τ s para a qual este tipo de análise é válido é de ~ 30 fs. Os<br />

resultados para os valores da largura de linha homogênea<br />

1<br />

T −<br />

2<br />

para baixas e altas<br />

intensidades são reunidos na tabela 3.1 para ambas as formas de PANI excitadas por<br />

ambos os lasers de banda larga.<br />

λ exc = 583 nm<br />

λ exc = 682 nm<br />

AMOSTRA Baixa Intensidade Alta Intensidade Baixa Intensidade Alta Intensidade<br />

PANI EB 12 51 8 31<br />

PANI PB 17 49 7 45<br />

Tabela 3.1: Valores de T 2 (fs) para as amostras estudadas excitadas por ambos os<br />

lasers de banda larga. Os valores máximos de τ s para a validade da análise são 50 fs<br />

para λ exc = 583 nm e 30 fs para λ exc = 682 nm. “Alta Intensidade” é o valor de<br />

intensidade em cada caso correspondente ao valor limite de τ s .<br />

Para valores de τ s > 50 fs (para λ exc = 583 nm) e τ s > 30 fs (para λ exc = 682 nm)<br />

este tipo de análise não se aplica e a forma analítica do sinal de autodifração deve ser<br />

calculada considerando-se ab initio uma largura de linha não homogênea finita.<br />

ii) Uma segunda hipótese é a da influência da rotação não harmônica dos anéis<br />

benzênicos e quinóides da cadeia da PANI que, segundo sugestão de A. J. Epstein,<br />

poderiam ser travados em posições de grandes ângulos, gerando um estado<br />

metaestável e criando uma espécie de alargamento não homogêneo, caso a fluência<br />

de fótons nos cromóforos fosse suficientemente alta. Nesta situação, o grande número<br />

de fótons presentes interagindo com o polímero contrabalança a tendência dos anéis<br />

de retornarem à posição angular de mais baixa energia. Em [Sj88] Sjögren e Stafström<br />

fazem um estudo teórico das excitações eletrônicas e concluem que o ângulo de torção<br />

entre os anéis quinóides e a cadeia é crucial para reproduzir satisfatoriamente o<br />

espectro de absorção linear da PANI. Segundo Epstein, se houver um número em<br />

torno de 100 fótons por cromóforo este travamento poderia acontecer. Podemos<br />

estimar o número de fótons por cromóforo da seguinte maneira: para a PANI EB com<br />

concentração de 0,26 g/l, a absorbância A = 0,434 αl tem o valor 1,4, o que nos dá αl =<br />

123


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

3,23. A intensidade luminosa absorvida é I abs = I 0 (1- e -αl ) = 0,96 I 0 , onde I 0 é a<br />

intensidade logo antes da amostra. Para o laser com λ exc = 583 nm, I 0 = 60 MW/cm 2 e<br />

a sua área de focalização é S = π(6,5×10 -5 m) 2 ≈ 1,3×10 -4 cm 2 . Assim, a energia<br />

máxima do laser é E = I 0 St p ≈ 80 µJ. Com a energia do fóton de 583 nm E γ = 4×10 -19 J,<br />

então o número máximo de fótons é N γ = E/ E γ = 2×10 14 . A massa de um cromóforo da<br />

PANI EB é facilmente calculada se considerarmos sua constituição atômica: 3 anéis<br />

benzênicos, 1 anel quinóide, 4 átomos de nitrogênio e 18 átomos de hidrogênio, o que<br />

dá um total de 306 unidades de massa atômica. O volume da região de interação é V ri<br />

= S×l ≈ (5×10 -5 m) 2 10 -3 m = 2,5×10 -9 litros. Daí, a massa de cromóforos de PANI na<br />

região de interação é m ri = 0,26 g/l × 2,5×10 -9 l = 6,5×10 -10 g. Assim, o número de<br />

cromóforos na região de interação é facilmente obtido, sendo aproximadamente N c =<br />

1,3×10 12 .<br />

Conforme concluímos a partir do espectro de absorção linear, a probabilidade<br />

de absorção de um fóton em 583 nm pela PANI é de 0,96. Assim, o número de fótons<br />

absorvidos é N ′ = 0,96 N γ γ ≈ 10 14 . Desta forma, existem N ′ / N γ c = 80 fótons/cromóforo,<br />

número que é compatível com aquele enunciado por Epstein. Assim, o mecanismo de<br />

travamento de anéis pode ser uma das origens do comportamento observado.<br />

iii) Uma terceira hipótese para a explicação do comportamento do sistema seria<br />

a seguinte: o sistema é intrinsecamente não homogeneamente alargado devido aos<br />

fatores já mencionados no ítem i), isto é, às diversas conformações dos polímeros de<br />

PANI e à forte interação entre o solvente altamente polar e os excitons, que são<br />

defeitos carregados, que criam uma distribuição de ambientes nas vizinhanças dos<br />

anéis benzênicos. Supomos que a largura desta distribuição é constante em relação à<br />

intensidade dos lasers. Devido à excitação da amostra, ocorre a rotação dos anéis<br />

para ângulos maiores do que aqueles correspondentes ao estado de menor energia do<br />

sistema. O grau de planaridade do polímero está de certa forma associado à<br />

deslocalização de seus defeitos. Quanto menor for a planaridade da PANI (maior<br />

torção dos anéis), mais confinado estará o defeito. Conforme detalhado em [Zu89], as<br />

formas dos espectros de absorção para PANI em solução e em filmes são quase<br />

idênticas, indicando que estas excitações são bem localizadas. Considerando-se o<br />

124


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

modelo da partícula na caixa [Pr91], este maior confinamento significa uma caixa de<br />

menor comprimento, o que faz com que os níveis dos excitons desloquem-se para<br />

energias mais altas e separem-se uns dos outros. Como a energia do fóton do laser de<br />

excitação se mantém constante ao longo do experimento, o resultado final é que os<br />

excitons criados têm energias menos diversas, o que os faz defasarem mais<br />

lentamente, levando a valores de T 2 maiores, de acordo com o que observamos em<br />

nossos experimentos. Neste caso, a origem do defasamento seria a colisão entre<br />

excitons. Esta idéia acaba por ser uma extensão da sugestão de Epstein, pois analisa<br />

as conseqüências do fato de termos uma distribuição de torções não harmônicas das<br />

ligações dos anéis que formam a cadeia.<br />

Por fim, não é possível decidir qual das três hipóteses é a mais provável<br />

explicação do comportamento observado, embora as duas últimas sejam mais<br />

razoáveis, podendo inclusive contribuir simultaneamente para o processo.<br />

3.5 – Mistura interferométrica de quatro ondas com ressonância de um fóton<br />

a) Introdução<br />

Em 1987, Hattori e colaboradores propuseram um novo método de medida da<br />

dinâmica do defasamento vibracional molecular no regime sub-ps usando luz<br />

incoerente em lugar de pulsos ultracurtos e apresentaram resultados experimentais<br />

confirmando suas previsões [Ha87a]. A proposta baseava-se num processo Raman<br />

transiente coerente com três feixes. Dois destes feixes eram campos incoerentes<br />

oriundos da mesma cavidade, sendo que um deles sofria um atraso temporal τ em<br />

relação ao outro. O terceiro campo era monocromático (coerente na escala de tempo<br />

do experimento) e tinha freqüência óptica maior do que a dos primeiros. A diferença de<br />

freqüência entre os campos incoerentes e o campo coerente era tal que coincidia com<br />

a freqüência do modo vibracional da molécula de interesse. A dependência temporal<br />

da intensidade do sinal de espalhamento Raman Stokes dava a informação sobre a<br />

dinâmica da coerência da transição vibracional com uma resolução temporal<br />

determinada somente pelo tempo de coerência do campo de luz incoerente. O modelo<br />

125


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

teórico consistia de um sistema de três níveis e, através da solução da equação de<br />

Liouville para a dinâmica dos elementos da matriz densidade, os autores obtiveram<br />

expressões para excitação ressonante ou não ressonante com o terceiro nível. Em<br />

linhas gerais, a forma analítica do sinal sempre era determinada por uma componente<br />

constante e uma outra componente com uma parte decaindo com o tempo de<br />

coerência do campo de luz incoerente e outra decaindo com a taxa característica do<br />

defasamento observado. O caso investigado experimentalmente foi o do defasamento<br />

vibracional do modo em 2915 cm -1 da molécula de DMSO igual a T 2vib = 1,4 ps, obtido<br />

com uma resolução temporal de 100 fs, alcançada operando-se um laser de corante (t p<br />

= 10 ns) sem elementos dispersivos em sua cavidade. O valor de T 2vib medido<br />

representa o tempo em que as moléculas de DMSO passam a vibrar sem nenhuma<br />

relação de fase entre si. O sinal foi detectado sem seleção em comprimento de onda,<br />

isto é, foi empregada a detecção “branca”. Em alguns casos em que se aplica esta<br />

técnica, entretanto, a medida do tempo de defasamento pode ser dificultada devido à<br />

grande amplitude da componente constante do sinal em relação à componente<br />

dependente do atraso relativo τ entre os feixes.<br />

Um ano depois da proposta de Hattori e colaboradores, Dugan e colaboradores<br />

[Du88] propuseram uma nova forma de usar a técnica de luz incoerente introduzida em<br />

[Ha87a], em que a detecção era monocromática. Em sua dedução da forma analítica<br />

do sinal, Dugan e colaboradores mostraram que a resolução espectral do sinal de MQO<br />

(processo CARS ou CSRS) leva a um sinal com características completamente<br />

diferentes: o sinal não mais some a partir do pico de coerência (sinal na região |τ| ≤ t c ),<br />

mas exibe oscilações amortecidas, que tornam fácil a discriminação da componente do<br />

sinal que carrega a informação do defasamento da componente constante. As<br />

oscilações (chamadas de oscilações de dessintonia), num processo Raman, contêm a<br />

informação sobre a freqüência do modo Raman excitado. No experimento realizado<br />

para demonstrar a técnica, Dugan e colaboradores estudaram o modo vibracional em<br />

991 cm -1 do benzeno, correspondente à vibração radial simétrica do anel benzênico. O<br />

tempo de defasamento medido foi de T 2 = 4,6 ps. Estudando o benzeno deuterado,<br />

verificaram que a energia deste modo vibracional cai para 946 cm -1 . Tipicamente, a<br />

precisão que se obtém com esta técnica quando se quer determinar freqüências de<br />

126


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

modos Raman é de uma parte em 10 4 . Neste mesmo ano, Wynne e colaboradores<br />

propuseram uma técnica um pouco mais complexa para medir as freqüências dos<br />

modos Raman usando luz incoerente e dois feixes coerentes para sondar a região de<br />

interação [Wy90]. Usando técnicas diagramáticas [Fu86], [Ul96], os autores deduzem<br />

as formas analíticas dos sinais de espalhamento Raman Stokes, decaimento de franjas<br />

Raman e ganho Raman estimulado resolvido no tempo. Schaertel e colaboradores<br />

[Sc94] usaram a técnica de CARS interferométrico para obter a razão entre as<br />

hiperpolarizabilidades Raman não ressonante e ressonante de forma muito acurada e<br />

aplicaram a técnica para o estudo do tolueno.<br />

Uma grande contribuição para o entendimento da espectroscopia CARS/CSRS<br />

explorando a MQO com luz incoerente foi dada por Dugan e Albrecht [Du91], [Du91a].<br />

No primeiro artigo, essencialmente teórico, os autores usam teoria de campos e<br />

técnicas diagramáticas para analisar o processo de MQO interferométrica com luz<br />

incoerente, com detecção monocromática e branca em diversas situações possíveis<br />

para o estado de um sistema. No segundo artigo são demonstrados<br />

experimentalmente os resultados previstos.<br />

As técnicas de medida de tempos de defasamento despertam interesse até<br />

hoje e vários trabalhos foram publicados desde a proposta original de Hattori. Muitas<br />

variações foram desenvolvidas, como aquela para o estudo de processos de<br />

defasamento nas dinâmicas de população [Ok93] e de orientação molecular [Ko99].<br />

b) Experimento e discussão<br />

No experimento apresentado a seguir estendemos a técnica de MQO<br />

interferométrica com luz incoerente para estudo da relaxação de população, através do<br />

bombeamento ressonante por um fóton de um nível eletrônico excitado [Ko01]. É feita<br />

a medida do tempo de vida eletrônico quando o sistema está sob a influência dos<br />

feixes de excitação e mostramos que os efeitos da emissão estimulada podem afetar<br />

significativamente os resultados das medidas quando a MQO é realizada sob estas<br />

condições. Assim, na maior parte dos casos, os processos estimulados devem ser<br />

considerados na análise dos resultados, o que jamais fora observado até então.<br />

127


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A configuração experimental utilizada pode ser vista na figura 3.43. O segundo<br />

harmônico de um laser de Nd:YAG operando em modo “Q-Switch” (10 ns, 5 Hz) é<br />

usado para bombear dois lasers simultaneamente, um deles operando com banda<br />

larga e o outro com banda estreita. O laser de banda larga tem freqüência central ω 2 e<br />

é dividido em dois feixes de intensidades aproximadamente iguais, com vetores de<br />

onda k r r<br />

2<br />

e k 2′<br />

. O laser de banda estreita tem freqüência ω1 e se propaga na direção<br />

k r 1.<br />

E<br />

E<br />

<strong>DF</strong><br />

E<br />

E<br />

θ<br />

E<br />

τ<br />

LF<br />

A<br />

∫<br />

D<br />

S (t) dt<br />

PA<br />

Duplo Espectrômetro<br />

+ FM<br />

E<br />

Microcomputador<br />

SH Nd:YAG<br />

<strong>DF</strong><br />

E<br />

Banda Larga<br />

LC<br />

E<br />

<strong>DF</strong><br />

E<br />

Banda Estreita<br />

LC<br />

E<br />

Figura 3.43: Arranjo experimental. E: espelho; <strong>DF</strong>: divisor de<br />

feixe; LC: lente de colimação; LF: lente de focalização; A:<br />

amostra; D: diafragma íris; PA: polarizador analisador; τ:<br />

linha de atraso temporal; θ: controle do ângulo entre os<br />

feixes; FM: fotomultiplicadora. As linhas pontilhadas são<br />

sinais elétricos.<br />

Após o laser de banda larga ser dividido em dois feixes, um deles passava por<br />

uma linha de atraso relativa ao outro e então os três feixes eram focalizados na<br />

amostra por uma lente de distância focal de 10 cm formando um ângulo de 50 mrad<br />

entre si numa configuração denominada de “caixa” (“BOXCARS”), como pode ser visto<br />

na figura 3.44.<br />

128


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

D<br />

A<br />

E<br />

1<br />

2 3<br />

(a)<br />

F<br />

B<br />

3 2<br />

1<br />

H I<br />

G<br />

C<br />

(b)<br />

Figura 3.44: Diagrama de casamento de fase da geometria<br />

de “caixa”. Em (a) vemos as posições dos feixes ao<br />

incidirem na lente de focalização e em (b) vemos os<br />

diversos sinais gerados pela interação não linear dos feixes<br />

na amostra em um anteparo.<br />

Em geral, três feixes de entrada, com vetores de onda k r 1<br />

, k r 2<br />

e k r<br />

3<br />

interagem<br />

no meio não linear gerando uma variedade de sinais espacialmente distintos. Três<br />

destes feixes, A, B e C, representados pelos círculos vazios na figura 3.44(b),<br />

dependem dos três feixes 1, 2 e 3 simultaneamente, satisfazendo às condições de<br />

r r r r r r r r r r r r<br />

casamento de fase k<br />

A<br />

= k<br />

2<br />

+ k<br />

3<br />

− k1, k<br />

B<br />

= k<br />

3<br />

− k<br />

2<br />

+ k1<br />

e k<br />

C<br />

= k<br />

2<br />

− k<br />

3<br />

+ k1. Os círculos<br />

hachurados da figura 3.44 representam sinais de MQO dependentes somente de dois<br />

feixes, isto é, processos em que um feixe contribui com dois dos três campos do<br />

processo de mistura de ondas. Estes sinais satisfazem às condições de casamento de<br />

r r r r r r r r r r r r r r r<br />

fase k<br />

D<br />

= 2k<br />

3<br />

− k1, k<br />

E<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1, k<br />

F<br />

= 2k<br />

3<br />

− k<br />

2<br />

, k<br />

G<br />

= 2k<br />

2<br />

− k<br />

3<br />

, k<br />

H<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

e<br />

r r r<br />

k<br />

I<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

3<br />

. O sinal que estudaremos é aquele que se propaga na direção<br />

r r r r<br />

r r r r<br />

k<br />

A<br />

= k<br />

2<br />

+ k<br />

3<br />

− k1, que passaremos a denotar por k<br />

S<br />

= k<br />

2<br />

+ k<br />

2′ − k1, e tem freqüência<br />

ω<br />

S<br />

= 2ω2<br />

− ω1, já que os feixes que se propagam nas direções k r r<br />

2<br />

e k<br />

2 ′ são “gêmeos”.<br />

Na figura 3.45 mostramos a configuração de feixes utilizada de uma forma simplificada.<br />

O feixe de sinal é filtrado espectralmente por um monocromador e detectado por uma<br />

fotomultiplicadora. A informação temporal do sinal é adquirida pela variação do atraso<br />

τ entre os feixes de banda larga em uma escala de fs, controlada por computador.<br />

Conforme mostrado na figura 3.45, as polarizações dos feixes de banda larga (bl e bl’)<br />

e de banda estreita (be) são perpendiculares. Isto permite, com a ajuda de um<br />

polarizador, eliminar a luz espalhada pelos feixes de banda larga que sai na direção do<br />

sinal.<br />

129


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

k<br />

S<br />

r<br />

k<br />

1<br />

r<br />

k<br />

2<br />

r<br />

'<br />

k<br />

2<br />

bl'<br />

sinal<br />

be<br />

bl<br />

Figura 3.45: Diagrama simplificado da configuração de<br />

feixes usada no experimento.<br />

Especificamente para o caso que estudaremos (o da relaxação de população),<br />

é conveniente operar o laser de banda estreita na freqüência ω 1 igual à freqüência<br />

central do espectro do laser de banda larga ω 2 , pois isto permite aproveitar a maior<br />

densidade espectral dos feixes de banda larga de forma mais efetiva, pois a potência é<br />

maior nas freqüências centrais do espectro.<br />

Para obtermos a forma analítica do sinal emitido no caso particular do sistema<br />

que ora estudamos, começamos pela equação (1.42) para a polarização não linear<br />

responsável pela geração do campo de freqüência ω S propagando-se na direção k r S<br />

,<br />

deduzida usando-se o método perturbativo da matriz densidade para um sistema<br />

alargado homogeneamente:<br />

t t3<br />

t2<br />

⎡<br />

[ ( )]<br />

( t − t<br />

3<br />

+ t<br />

2<br />

− t1) ⎤ ⎡ ( t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

)<br />

P(t, τ)<br />

∝ exp − iω2<br />

t − τ ∫ dt<br />

3 ∫ dt<br />

2 ∫ dt1<br />

exp⎢−<br />

⎥ exp⎢−<br />

T2<br />

T<br />

−∞ −∞ −∞ ⎣<br />

⎦ ⎣ 1<br />

∗<br />

{[ E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

2<br />

) + E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t<br />

2<br />

− τ)<br />

] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

) − i( ω0<br />

− ω1)<br />

t1]<br />

+<br />

∗<br />

[ E ( t − τ) E ( t ) + E ( t ) E ( t − τ)<br />

] E exp − i∆ω( t − t − t ) − i( ω − ω ) t<br />

2<br />

3<br />

2<br />

1<br />

2<br />

3<br />

2<br />

1<br />

1<br />

[ ]}<br />

3<br />

1<br />

0<br />

1<br />

2<br />

⎤<br />

⎥ ×<br />

⎦<br />

, (3.22)<br />

onde T 2 é o tempo de defasamento eletrônico e ∆ ω = ω0 − ω2<br />

é a diferença entre as<br />

freqüências de transição eletrônica e vibrônica do material. A equação (3.22)<br />

apresenta uma pequena modificação em relação à equação (1.42) com o objetivo de<br />

deixar mais explícita a dependência do sinal com a freqüência de Bohr da transição<br />

observada. Isto é facilmente verificado se notarmos que<br />

[ i∆ω( t − t − t + t ) − i( ω − ω ) t ] = exp[ − i∆ω( t − t − t + t ) − i( ω − ω ) ]<br />

exp − . (3.23)<br />

3 2 1 2 1 1<br />

3 2 1 0 1<br />

t1<br />

130


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Portanto, a dessintonia em relação à freqüência ω 1 está presente no instante t 1 ,<br />

quando este campo entra em ação. O segundo termo da equação (3.22) também<br />

apresenta esta dessintonia, porém no instante t 2 . Os campos incoerentes envolvidos<br />

r r<br />

no processo podem ser escritos como E2 ( t − τ) exp{ i[ k<br />

2<br />

⋅<br />

− ω2<br />

( t − τ)<br />

]} + c.c.<br />

e<br />

r<br />

t exp i k ⋅ r<br />

− ω t c.c que, supondo representarem um processo aleatório<br />

() [ ( )] .<br />

E2 2 2<br />

+<br />

Gaussiano no mínimo strictu sensu (e portanto estacionário), podem ser descritos pela<br />

equação (3.4). Para efeitos de praticidade nos cálculos, as densidades espectrais dos<br />

campos de banda larga são consideradas Lorentzianas e sua função de correlação é<br />

expressa como:<br />

⎛ τ ⎞<br />

∗<br />

E () ( ) ⎜ ⎟<br />

2<br />

t E2<br />

t − τ = exp − = exp( − Γ τ ), (3.24)<br />

⎝ t<br />

c ⎠<br />

com as suas propriedades estatísticas descritas por (3.5). Considerando o caso<br />

particular em que T 2


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

No caso em que realizamos detecção monocromática, a equação (3.3) é<br />

generalizada como [Lo83]<br />

I<br />

∗<br />

( ω ) ∝ d( t − s) P ( s, τ) P( t, τ) exp iω<br />

( t − s)<br />

m<br />

[ − γ t − s ]<br />

+∞<br />

∫ m<br />

m<br />

. (3.27)<br />

−∞<br />

Na equação acima, a integração em (t-s) é feita durante o pulso do laser, considerado<br />

de duração infinita, e ... representa a média estatística das polarizações geradas<br />

pelos cromóforos, que carrega a informação sobre as propriedades estatísticas dos<br />

campos associados a elas. ω m é a posição espectral do monocromador e γ m é a<br />

largura de sua fenda. Desta forma, a expressão exp i ( t − s)<br />

[ − γ t − s ]<br />

ω em (3.27)<br />

representa um filtro de Fourier com amortecimento e γ m representa o limite superior do<br />

tempo que pode ser medido. Substituindo a equação (3.26) em (3.27) obtemos:<br />

+∞<br />

s<br />

⎡<br />

( ) ( ) [ ( )]<br />

( s − t ′′ )<br />

I ωm<br />

∝ ∫ d t − s exp iω2<br />

s − τ ∫ dt ′′ exp⎢−<br />

+ i( ω2<br />

− ω ) t ′′<br />

1<br />

T<br />

−∞<br />

−∞ ⎣ 1<br />

∗<br />

∗<br />

∗ ∗<br />

[ E2<br />

( s − τ) E ( t ′′<br />

2<br />

) + E ( s) E ( t′′<br />

2 2<br />

− τ)<br />

] E1<br />

exp[ − iω2<br />

( t − τ)<br />

] ×<br />

t<br />

⎡ ( t − t′<br />

)<br />

⎤<br />

∫ dt′<br />

exp⎢−<br />

− i( ω2<br />

− ω1) t′<br />

⎥ [ E2<br />

( t − τ) E2<br />

( t′<br />

) + E2<br />

( t) E2<br />

( t′<br />

− τ)<br />

]<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

1<br />

⎦<br />

exp[ iω<br />

( t − s)<br />

− γ t − s ]<br />

m<br />

m<br />

m<br />

E<br />

∗<br />

1<br />

m<br />

⎤<br />

⎥ ×<br />

⎦<br />

. (3.28)<br />

×<br />

Para simplificar o problema, tomemos o caso da detecção perfeitamente<br />

monocromática (γ m = 0) e consideremos a finitude da largura da fenda em um passo<br />

mais adiante. Assim, rescrevemos (3.28) como<br />

I<br />

∗<br />

( ωm<br />

) ∝ E1E1<br />

∫ d( t − s) exp[ − iω2<br />

( t − s)<br />

] exp[ iωm<br />

( t − s)<br />

]<br />

t s<br />

⎡ ( s − t ′′ )<br />

( )<br />

( t − t′<br />

)<br />

⎤<br />

∫ dt′<br />

∫ dt ′′ exp⎢−<br />

+ i ω ′′ ( ) ′ ⎥ ×<br />

2<br />

− ω1<br />

t − − i ω2<br />

− ω1<br />

t<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

1<br />

T1<br />

⎦<br />

∗<br />

∗<br />

∗ ∗<br />

[ E ( s − τ) E ( t′′<br />

) + E ( s) E ( t ′′ − τ)<br />

][ E ( t − τ) E ( t′<br />

) + E ( t) E ( t′<br />

− τ)<br />

]<br />

−∞<br />

2<br />

+∞<br />

−∞<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

×<br />

2<br />

2<br />

. (3.29)<br />

Efetuando as multiplicações dos termos em ... , e usando o teorema dos<br />

momentos Gaussianos, obtido no final da seção 2.6 [equação (2.56)], podemos<br />

escrever cada um dos quatro momentos de quarta ordem resultantes como uma soma<br />

de produtos de momentos de segunda ordem, o que nos leva a<br />

132


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

I<br />

∗<br />

( ωm<br />

) ∝ E1E1<br />

∫ d( t − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

]<br />

t<br />

∫ dt′<br />

∫ dt ′′ exp[ − γ( t − t′<br />

) − γ( s − t′′<br />

) − i( ω2<br />

− ω )( t′<br />

1<br />

− t′′<br />

)]<br />

×<br />

−∞ −∞<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

[ E2<br />

( s − τ) E2<br />

( t − τ) E ( t′′<br />

) E ( t′<br />

2 2<br />

) + E2<br />

( s − τ) E ( t′<br />

2<br />

) E2<br />

( t ′′ ) E2<br />

( t − τ)<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

E ( s − τ) E ( t) E ( t ′′ ) E ( t′<br />

− τ) + E ( s − τ) E ( t′<br />

− τ) E ( t ′′ ) E ( t)<br />

E<br />

E<br />

2<br />

∗<br />

2<br />

∗<br />

2<br />

s<br />

2<br />

+∞<br />

−∞<br />

2<br />

2<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

() s E2<br />

( t − τ) E ( t ′′<br />

2<br />

− τ) E ( t′<br />

2<br />

) + E () s E () t′<br />

E ( t ′′<br />

2 2 2<br />

− τ) E2<br />

( t − τ)<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

() s E2<br />

() t E2<br />

( t ′′ − τ) E2<br />

( t′<br />

− τ) + E2<br />

() s E2<br />

( t′<br />

− τ) E2<br />

( t ′′ − τ) E2<br />

( t) ]<br />

Assim, temos que<br />

I<br />

∗<br />

( ωm<br />

) ∝ E1E1<br />

∫ d( t − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

]<br />

t<br />

s<br />

+∞<br />

−∞<br />

∫ dt′<br />

∫ dt′′<br />

exp[ − γ( t − t′<br />

) − γ( s − t ′′ ) − i( ω2<br />

− ω1)( t′<br />

− t′′<br />

)]<br />

−∞ −∞<br />

[ A + B + C + D + E + F + G + H]<br />

2<br />

×<br />

2<br />

×<br />

×<br />

2<br />

2<br />

+ . (3.30)<br />

+<br />

+<br />

. (3.31)<br />

Podemos facilmente notar que os termos A, D, F e G contribuem para a parte<br />

constante do sinal enquanto que os termos B, C, E e H formam a parte do sinal<br />

dependente do atraso relativo entre os feixes de luz incoerente. Finalmente, para<br />

obtermos a forma analítica do sinal I(ω m ) temos que calcular as oito parcelas da<br />

equação (3.31):<br />

I<br />

( ωm<br />

) = IA<br />

( ωm<br />

) + IB<br />

( ωm<br />

) + IC<br />

( ωm<br />

) + ID<br />

( ωm<br />

)<br />

I ( ω ) + I ( ω ) + I ( ω ) + I ( ω )<br />

E<br />

m<br />

F<br />

m<br />

G<br />

m<br />

H<br />

m<br />

+<br />

(3.32)<br />

Para efetuar o cálculo de cada uma destas parcelas, escrevemos o momento<br />

de segunda ordem para os campos como sua transformada de Fourier, através da<br />

expressão<br />

+∞<br />

∗<br />

2Γ<br />

E ∫ 2 2<br />

−∞<br />

q + Γ<br />

( s − τ)( t′<br />

) = dq exp[ − iq( s − τ − t′<br />

)]<br />

, (3.33)<br />

que nada mais é do que o teorema de Wiener-Kintchine, apresentado na seção 2.10,<br />

onde o membro à direita é a transformada de Fourier de uma Lorentziana, conforme a<br />

equação (3.24).<br />

133


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Substituindo-se a equação (3.33) em cada uma das integrais (A-H) de (3.32),<br />

utilizando o teorema do resíduo [Bu88] e considerando que tipicamente Γ é pelo menos<br />

uma ordem de grandeza maior do que γ, obtemos que<br />

com<br />

IS<br />

I0<br />

I<br />

0<br />

Γ<br />

=<br />

γ<br />

= I<br />

S<br />

+ IΓ ( τ)<br />

+ I ( τ)<br />

, (3.34)<br />

(0)/ 2<br />

I ( τ)<br />

= A exp( −2Γ τ )<br />

Iγ<br />

( τ)<br />

= C<br />

[( ω<br />

2<br />

− ω<br />

1<br />

)<br />

2<br />

[ cos( δ τ ) + Bsen( δ τ )],<br />

exp( −2γ<br />

τ )<br />

2<br />

+ Γ ][( ω<br />

2<br />

− ω<br />

m<br />

)<br />

2<br />

. (3.35)<br />

⎡cos(<br />

∆ τ ) sen( ∆ τ ) ⎤<br />

⎢ −<br />

2<br />

⎥<br />

+ Γ ] ⎢⎣<br />

2γ<br />

∆ ⎥⎦<br />

Exemplos do cálculo para um termo de sinal constante e um termo dependente<br />

de τ são mostrados no apêndice A2f.<br />

Podemos fazer um paralelo entre o resultado obtido e aquele para o caso<br />

Raman. A equação (3.35) tem uma forma muito similar às equações obtidas em [Sc94]<br />

para o problema vibracional. Além do mais, no artigo publicado por Hattori e<br />

colaboradores [Ha87a], os autores estudam o espalhamento Raman coerente de<br />

vibrações de freqüência Ω = ω 2 - ω 1 . A equação (21) deste artigo dá uma expressão<br />

para a polarização de terceira ordem de um processo CSRS sem ressonância<br />

eletrônica. Podemos perceber que a equação (3.26) torna-se idêntica em sua forma à<br />

−<br />

equação (21) de [Ha87a] se fizermos T 1 → T vib = γ 1 (o tempo de defasamento<br />

vibracional) e ω 1 → ω 1 + Ω, isto é, nas equações de [Ha87a] devemos fazer Ω = 0.<br />

Este argumento pode ser entendido se interpretarmos que em nosso caso só podemos<br />

excitar transições correspondentes a Ω = 0.<br />

Então, se as formas das equações básicas são idênticas as equações<br />

resultantes devem ser semelhantes. Além disso, é de se esperar que a equação (3.35)<br />

seja parecida com as equações que descrevem as medidas interferométricas para os<br />

sistemas analisados em [Sc94] e [Du91], porém considerando que a freqüência de<br />

Bohr não está presente (ou equivalentemente Ω = 0).<br />

Nas equações (3.35), os fatores A, B e C contém parâmetros moleculares e<br />

dos feixes de excitação. As dessintonias são dadas por δ = 2ω2<br />

− ω1<br />

− ωm<br />

e<br />

∆ = ω1 − ω m<br />

. O termo I Γ (τ) decai numa escala de tempo da ordem de t c (≈ 150 fs em<br />

21<br />

134


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

nosso experimento) e só contribui para o pico de coerência, que não tem relevância<br />

para o presente estudo. O termo I γ (τ) apresenta um comportamento oscilatório<br />

amortecido por uma exponencial, cujo decaimento é determinado por γ. Neste ponto<br />

podemos considerar a largura finita da fenda do monocromador através da relação<br />

2γ = 2γ<br />

− γ γ , (3.36)<br />

med<br />

2<br />

m<br />

med<br />

onde γ é a verdadeira taxa de relaxação e γ med é a taxa de relaxação medida [Ku94].<br />

Em nosso experimento, ambos os lasers de corante (Rodamina 6G em etanol)<br />

eram excitados por um mesmo laser de Nd:YAG. O laser de banda larga tinha um<br />

tempo de coerência t c ≈ 150 fs com o pico central de emissão em 579 nm e o laser de<br />

banda estreita foi sintonizado para operar neste mesmo comprimento de onda e tinha<br />

uma largura de banda de no máximo 0,2 cm -1 (t c ≈ 160 ps). Para estes comprimentos<br />

de onda e este corante, o efeito “λ-τ” é desprezível [Ri89]. A amostra utilizada foi uma<br />

solução 4×10 -5 M de DQOCI em etanol contida em uma cubeta de 1 mm de espessura.<br />

O espectro de absorção linear da amostra pode ser visto na figura 3.46. Observamos<br />

que os lasers estão sintonizados para o azul em relação ao máximo de absorção do<br />

DQOCI, em 595 nm.<br />

2.0<br />

1.5<br />

579 nm<br />

Absorbância<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0<br />

240 320 400 480 560 640<br />

comprimento de onda (nm)<br />

Figura 3.46: Espectro de absorção linear do DQOCI em<br />

etanol. Espessura da amostra: 1 mm.<br />

135


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

As intensidades dos feixes de luz incoerente podiam ser variadas entre 40 e<br />

140 MW/cm 2 , enquanto que a intensidade do laser de banda estreita foi fixa em 13<br />

MW/cm 2 . Na figura 3.47 mostramos as intensidades dos sinais de mistura<br />

r r r r<br />

interferométrica de quatro ondas (MIQO) na direção k<br />

S<br />

= k<br />

2<br />

+ k<br />

2′ − k1<br />

em função do<br />

atraso temporal relativo entre os feixes de luz incoerente, que se propagam nas<br />

direções k r r<br />

2<br />

e k 2′<br />

, para as intensidades de 49 MW/cm 2 e 140 MW/cm 2 . As linhas<br />

sólidas na figura representam os resultados das equações (3.35) com valores de 2γ de<br />

0,32 ps -1 (a) e 0,66 ps -1 (b). A largura da fenda era de 1 cm -1 , o que determinava o<br />

tempo mais longo que podia ser medido como sendo 33 ps. A posição espectral do<br />

monocromador foi escolhida em ω m /2π = 17238 cm -1 , de tal forma que as oscilações<br />

tivessem um período de 1 ps, exatamente como se verifica na figura 3.47.<br />

1.0<br />

Sinal de MIQO (unidades arbitrárias)<br />

0.9<br />

0.8<br />

0.7<br />

0.6<br />

0.5<br />

2.2<br />

2.0<br />

1.8<br />

1.6<br />

1.4<br />

1.2<br />

1.0<br />

0.8<br />

(a)<br />

(b)<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Atraso τ (ps)<br />

Figura 3.47: Sinal de MIQO com intensidades dos feixes de<br />

banda larga iguais a: 49 MW/cm 2 (a) e 140 MW/cm 2 (b). A<br />

intensidade do laser de banda estreita é a mesma em (a) e<br />

(b), sendo igual a 13 MW/cm 2 . As curvas sólidas são<br />

resultados das equações (3.35) ajustando-se o valor de γ.<br />

136


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Quanto mais próxima a posição espectral da fenda do monocromador (ω m ) da<br />

freqüência do laser de banda estreita (ω 1 ), mais intenso é o sinal de MIQO, porém<br />

maior é o período de oscilação do sinal, o que diminui o número de pontos disponíveis<br />

para o ajuste de um decaimento exponencial, dificultando a medida de γ. Por outro<br />

lado, quanto mais distante ω m de ω 1 , menor será o período de oscilação do sinal de<br />

MIQO, facilitando a medida de γ, porém menor será a intensidade do sinal, piorando a<br />

relação sinal/ruído.<br />

A figura 3.48 mostra a dependência de 2γ com<br />

I<br />

Σ<br />

, que representa a soma<br />

das intensidades dos três feixes no volume de interação, que são adicionadas<br />

incoerentemente para τ > t c . Como 1/T M ≤ 0,005 ps -1 , que é um valor típico para<br />

soluções de corantes orgânicos em etanol [Vo91], os resultados revelam a taxa de<br />

relaxação de população durante a presença dos campos de excitação, isto é, quando<br />

ambos os processos de emissão espontânea e estimulada são relevantes.<br />

0.8<br />

Taxa de decaimento 2γ (ps -1 )<br />

0.7<br />

0.6<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0 40 80 120 160 200 240 280 320<br />

Intensidade de bombeamento (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.48: Taxa de relaxação de população γ em função<br />

da soma incoerente das intensidades médias dos três feixes<br />

de excitação, . A linha sólida é um ajuste por regressão<br />

linear dos pontos experimentais.<br />

137


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Para compreendermos os resultados obtidos descreveremos a molécula de<br />

DQOCI como um sistema de dois níveis na presença de um campo. Esta aproximação<br />

é bastante satisfatória do ponto de vista da dinâmica das populações, pois mesmo que<br />

consideremos o processo de absorção S 1 → S 2 além do processo S 0 → S 1 , seja qual<br />

for a seção de choque de absorção S 1 → S 2 a população em S 2 será muito próxima de<br />

zero devido à taxa de relaxação espontânea de S 2 ser muito alta (≥ 1 THz) [El91], de<br />

forma que a população rapidamente volta ao estado S 1 . Assim, não precisamos levar<br />

em conta o nível S 2 [Bo94]. Além do mais, o DQOCI é conhecido por ser um bom<br />

absorvedor saturável. Enfim, neste caso a taxa de relaxação do estado excitado é<br />

dada por um termo relacionado com a emissão estimulada e outro ligado com a<br />

emissão espontânea [Al75], [Si86]:<br />

2σ<br />

γ =<br />

hω<br />

12<br />

I<br />

Σ<br />

+<br />

1<br />

T<br />

1<br />

, (3.37)<br />

onde σ<br />

12<br />

é a seção de choque de absorção no comprimento de onda de excitação ω.<br />

O termo proporcional a<br />

I<br />

Σ<br />

é relacionado aos processos estimulados.<br />

A partir do comportamento linear de 2γ em função de<br />

I<br />

Σ<br />

mostrado na figura<br />

3.48, usando a equação (3.37) encontramos que 2γ = 2/T 1 = (0,10±0,01) ps -1 quando<br />

I<br />

Σ<br />

= 0 . Considerando o tempo de vida de um estado excitado da molécula do corante<br />

é dependente da viscosidade do solvente [Ta80] e que à temperatura ambiente a<br />

viscosidade do etanol é aproximadamente duas vezes a do metanol (η MetOH = 0,59 cp),<br />

o valor calculado de T 1 = (20±2) ps está em muito boa concordância com o tempo de<br />

vida do DQOCI em metanol (15,5 ps) medido através de decaimento da fluorescência<br />

excitada por um pulso de 2 ps de duração, conforme podemos ver na figura 3.49.<br />

A partir do coeficiente angular da reta da figura 3.48 podemos calcular um valor<br />

para a seção de choque de absorção de<br />

σ cm 2 , que é bastante próximo do<br />

−16<br />

12<br />

= 4 × 10<br />

valor encontrado a partir do espectro de absorção linear através de<br />

α = σN, onde α é o<br />

coeficiente de absorção linear e N é a densidade de moléculas. O valor encontrado<br />

desta forma é de<br />

σ = 4,2 × 10<br />

−16<br />

cm 2 . A ordem de grandeza destes valores para as<br />

138


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

seções de choque de absorção dos corantes orgânicos é típica para freqüências no<br />

espectro visível.<br />

Tempo de vida τ (ps)<br />

Viscosidade η (cp)<br />

Figura 3.49: Gráfico logarítmico do tempo de vida da<br />

fluorescência do DQOCI em função da viscosidade dos<br />

vários solventes utilizados (adaptada de [Ta80]).<br />

Assim, demonstramos que a técnica aqui desenvolvida é capaz de medir a taxa<br />

de relaxação de população γ de forma sensível à presença de campos externos,<br />

mesmo que o estado excitado não seja fluorescente. Para o caso do DQOCI em<br />

etanol, devido à emissão estimulada, γ -1 variou entre 20 ps (decaimento “livre”) e 3 ps<br />

(forte influência da emissão estimulada). Desde a sugestão pioneira do uso de luz<br />

incoerente como ferramenta para espectroscopia ultra rápida nenhum trabalho atentou<br />

para o papel da emissão estimulada, que tem que ser levada em consideração sempre<br />

que um nível excitado é populado.<br />

3.6 – Chave Kerr com luz incoerente em composto mesoiônico<br />

a) Chave Kerr óptica [Ho84]<br />

De uma forma geral, o efeito Kerr está associado a uma dependência do índice<br />

de refração do meio com a intensidade do campo que nele se propaga, que pode ser<br />

genericamente escrita como<br />

(I) = n n I . (3.38)<br />

n<br />

0<br />

+<br />

2<br />

139


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Na equação acima, n 0 é o índice de refração linear, n 2 é o índice de refração não linear<br />

e I é a intensidade do campo. O parâmetro n 2 contém as informações sobre a origem<br />

da não linearidade e sua magnitude. A técnica de chave Kerr óptica, que<br />

descreveremos a seguir, emprega lasers pulsados e permite determinar a magnitude<br />

de várias componentes da susceptibilidade não linear de um material, assim como o<br />

seu tempo de resposta, que são parâmetros importantes para a caracterização de um<br />

material para uso em dispositivos fotônicos.<br />

O experimento Kerr clássico emprega pulsos ultra curtos e consiste em incidir<br />

em uma amostra não linear um feixe de prova, de baixa intensidade, linearmente<br />

polarizado na direção pˆ , e um feixe de bombeamento, de alta intensidade, também<br />

linearmente polarizado, porém na direção bˆ , de forma que pˆ ⋅bˆ<br />

= cosθ<br />

. Neste caso,<br />

baixa (alta) intensidade significa aquele valor de intensidade incapaz (capaz) de alterar<br />

significativamente o índice de refração conforme a equação (3.38). O feixe de prova é<br />

detectado por uma fotomultiplicadora após passar por um polarizador analisador,<br />

orientado na direção â , tal que pˆ ⋅ â = 0 . A situação pode ser vista na figura 3.50.<br />

Assim, quando o feixe de bombeamento não estiver incidindo na amostra, o sinal<br />

detectado será zero, pois o polarizador analisador rejeitará toda a radiação nele<br />

incidente. Aqui supomos que a amostra seja isotrópica, de tal forma que o índice de<br />

refração é o mesmo em todos os pontos, o que significa dizer que não é capaz de<br />

alterar a polarização inicial do feixe de prova.<br />

ŷ<br />

pˆ<br />

θ<br />

bˆ = xˆ<br />

â<br />

Figura 3.50: Diagrama de polarizações usado num<br />

experimento de chave Kerr. θ é o ângulo entre o feixe de<br />

prova, linearmente polarizado na direção pˆ , e o feixe<br />

indutor da anisotropia na amostra, linearmente polarizado<br />

na direção bˆ .<br />

140


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A maneira através da qual o feixe de bombeamento induz uma anisotropia no<br />

material Kerr pode ser entendida através de polarizações não lineares induzidas por<br />

ele, que modificam o campo de prova. Como podemos arbitrariamente escolher um<br />

sistema de eixos para analisarmos o problema, faremos<br />

r<br />

Ep<br />

= Ep<br />

( cosθ<br />

xˆ + senθ<br />

ŷ)<br />

r<br />

, (3.39)<br />

E = E xˆ<br />

b<br />

b<br />

de forma que as polarizações não lineares que alteram o campo fraco são dadas por<br />

P<br />

P<br />

( 3) ( 3)<br />

x<br />

( 3) ( 3)<br />

y<br />

= χ<br />

= χ<br />

xxxx<br />

yxxy<br />

E<br />

E<br />

∗<br />

bx<br />

∗<br />

bx<br />

E<br />

E<br />

bx<br />

bx<br />

E<br />

E<br />

px<br />

py<br />

, (3.40)<br />

em que identificamos<br />

E E = I , a intensidade do feixe de bombeamento. Estas<br />

∗<br />

bx<br />

bx<br />

b<br />

polarizações são a origem da anisotropia induzida na amostra. Como<br />

n 2 = 1+<br />

4πχ<br />

, (3.41)<br />

então a anisotropia induzida pode ser representada pelas variações não lineares do<br />

índice de refração da amostra como<br />

δn<br />

δn<br />

x<br />

y<br />

2π<br />

= χ<br />

n<br />

0<br />

2π<br />

= χ<br />

n<br />

0<br />

( 3)<br />

xxxx b<br />

( 3)<br />

I<br />

I<br />

yxxy b<br />

. (3.42)<br />

Desta forma, após o campo de prova atravessar uma distância L na amostra<br />

não linear com anisotropia induzida, terá adquirido uma fase, tornando-se elipticamente<br />

polarizado:<br />

r<br />

L = E 0 cosθexp<br />

iδn<br />

kL xˆ + senθexp<br />

iδn<br />

kL ŷ exp in kL , (3.43)<br />

( ) ( )[ ( ) ( ) ] ( )<br />

Ep<br />

p<br />

x<br />

y<br />

0<br />

onde estamos ignorando a fase temporal do campo. A parte do feixe de prova que<br />

r<br />

passa pelo analisador é dada por , onde αˆ é o versor â no sistema de<br />

E p<br />

( L) ⋅ αˆ<br />

coordenadas<br />

xˆ × ŷ , dado por α ˆ = senθ<br />

xˆ − cosθ<br />

ŷ . Assim, a amplitude do campo que<br />

passa pelo polarizador é trivialmente obtida, sendo dada por<br />

Ep<br />

Eα = sen( 2θ) [ exp( iδn<br />

xkL) − exp( iδn<br />

ykL)<br />

]. (3.44)<br />

2<br />

Claramente, o ângulo θ que maximiza E α é θ máx = 45°. Assim, a intensidade<br />

que passa pelo analisador é dada por<br />

141


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

⎤<br />

( δn<br />

− δn<br />

) ⎥⎦<br />

2 ⎡kL<br />

I<br />

s<br />

= Ip<br />

sen ⎢ x y<br />

. (3.45)<br />

⎣ 2<br />

Usando-se as equações (3.42) em (3.45), obtemos<br />

( 3) ( 3)<br />

⎤<br />

( χ − χ ) ⎥⎦<br />

2<br />

⎡kL<br />

2π<br />

I<br />

s<br />

= Ip<br />

sen ⎢ Ib<br />

xxxx yxxy<br />

. (3.46)<br />

⎣ 2 n0<br />

Considerando-se o meio isotrópico e transparente (laser longe de ressonâncias<br />

eletrônicas), podemos usar a conjectura de Kleinman [Le82],<br />

( 3) ( 3) ( 3) 1 χ<br />

( 3)<br />

xxyy = χ<br />

xyxy = χ<br />

xyyx = χ<br />

xxxx . (3.47)<br />

3<br />

Quando as mudanças nos índices de refração são pequenas, podemos expandir o<br />

seno da equação (3.46), que juntamente com o resultado da equação (3.47) nos dá<br />

I<br />

s<br />

2<br />

⎛ 2π<br />

kL ( 3)<br />

⎞<br />

2<br />

= ⎜ χ<br />

xxxx<br />

Ib<br />

Ip<br />

3 n<br />

⎟ . (3.48)<br />

⎝ 0 ⎠<br />

b) Compostos mesoiônicos<br />

Na experiência que será descrita na seção (c) foi utilizado como amostra não<br />

linear um composto mesoiônico. Portanto, para maior conhecimento do sistema, nesta<br />

seção discutiremos algumas características do composto.<br />

Devido ao fato de as ligações π de elétrons em estruturas orgânicas serem<br />

mais fracas do que as ligações σ, a presença delas está associada a uma<br />

deslocalização da nuvem eletrônica na molécula, que implica grandes polarizabilidade<br />

e hiperpolarizabilidades. Após a percepção de que este fato poderia ser usado para a<br />

fabricação de dispositivos fotônicos com grandes não linearidades e tempos de<br />

resposta curtos, passou-se a estudar mais intensamente as propriedades ópticas dos<br />

materiais orgânicos, que podem apresentar muitas duplas ligações em uma única<br />

molécula. Os primeiros materiais que surgiram segundo este conceito foram aqueles<br />

cujas moléculas apresentavam um grupo doador de elétrons e outro grupo aceitador de<br />

elétrons, unidos por uma ponte poliênica - várias ligações duplas seqüenciadas que<br />

formam uma espécie de “fio molecular” [Pr91], [Ma97].<br />

Entretanto, as cadeias poliênicas não são as únicas estruturas capazes de<br />

atuar como um “fio molecular”. Como alternativa ao seu uso, foram propostos os<br />

142


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

compostos mesoiônicos, moléculas da família das betaínas, que são moléculas neutras<br />

que apresentam deslocalização de cargas e admitem representação em função de<br />

estruturas ressonantes. Um pequeno histórico dos compostos mesoiônicos pode ser<br />

encontrado em [Be99] e a forma de síntese destes materiais é descrita detalhadamente<br />

em [At99].<br />

Na figura 3.51 representamos um anel mesoiônico genérico. As características<br />

mais marcantes desta estrutura podem ser claramente visualizadas. Na situação de<br />

equilíbrio, os centros de carga positivo e negativo não são espacialmente coincidentes,<br />

apesar de a molécula ser neutra. Neste anel isto gera um momento de dipolo elétrico<br />

permanente no estado fundamental muito alto, da ordem de 5 Debye, podendo ser<br />

maior. Quando a molécula é promovida ao primeiro estado excitado, o seu momento<br />

de dipolo é reduzido a aproximadamente zero [Be99a] e uma grande resposta não<br />

linear é obtida devido ao estado de transferência de carga e à grande variação do<br />

dipolo molecular na excitação. Outra característica é a presença somente de ligações<br />

simples, ao contrário do que ocorre com as pontes poliênicas. Desta forma, o anel<br />

mesoiônico não é uma estrutura aromática. Todos os átomos se localizam em um<br />

mesmo plano molecular e o primeiro estado excitado da molécula corresponde à<br />

transferência de um elétron localizado na região do orbital molecular ocupado mais alto<br />

(a região nas vizinhanças do átomo de enxofre na cadeia lateral) para a região do<br />

orbital molecular desocupado mais baixo (a região entre os átomos de nitrogênio e de<br />

enxofre dentro do anel mesoiônico), o que causa uma grande mudança no seu<br />

momento de dipolo elétrico [Mo96].<br />

A<br />

_<br />

E<br />

+<br />

D<br />

C<br />

B<br />

F<br />

Figura 3.51: Anel mesoiônico genérico. Os átomos A, B, C,<br />

D, E e F são geralmente átomos de carbono, nitrogênio,<br />

oxigênio, enxofre e selênio.<br />

A molécula estudada nesta Tese que contém o anel mesoiônico é mostrada na<br />

figura 3.52. Ela é apenas uma dentre várias estruturas possíveis [Be99] e a<br />

143


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

denominaremos apenas de MIC. A caracterização das propriedades ópticas não<br />

lineares de compostos mesoiônicos tem sido objeto de pesquisa em nosso grupo. A<br />

determinação do índice de refração não linear e do coeficiente de absorção não linear<br />

foi feita através da técnica de varredura Z em [Be99a], onde os autores também<br />

verificaram a resposta instantânea do sinal Kerr nestes compostos quando excitados<br />

com pulsos de 60 fs em 800 nm. As seções de choque de absorção de dois fótons no<br />

visível (532 nm) e no infravermelho (1064 nm) foram medidas para dois compostos<br />

mesoiônicos em [Ra00]. Em [Ra01], Rakov e colaboradores verificaram absorção<br />

saturada reversa nestes mesmos compostos.<br />

Após a sua síntese, o composto mesoiônico é um pó. Para a preparação da<br />

amostra estudada dissolvemos este pó em DMSO, obtendo uma solução de<br />

concentração igual a 0,47 g/l (1,3 mM) de MIC. Os espectros de absorção linear da<br />

amostra tal como foi preparada e após filtrá-la com um filtro “micropore” com poros de<br />

450 nm de diâmetro estão mostrados na figura 3.53. Notamos que o processo de<br />

filtragem da solução causou algumas mudanças na absorção linear da solução:<br />

primeiramente, a amplitude do pico de absorção diminuiu. Além disto, o pico de<br />

absorção deslocou-se para o azul. Há duas hipóteses que podem explicar estes<br />

comportamentos. A primeira delas é a presença de agregados moleculares. Neste<br />

caso, a diminuição do pico de absorção seria explicada pelo fato de que muito mais<br />

moléculas de composto mesoiônico foram perdidas no processo de filtragem do que as<br />

de solvente, já que os agregados moleculares, bem maiores do que as moléculas de<br />

MIC isoladas e que as moléculas do solvente, ficam retidos no filtro microporo. A<br />

explicação para o deslocamento para o azul do pico de absorção pode ser dada com<br />

base no modelo do elétron na caixa. Para os agregados moleculares, temos uma caixa<br />

grande, com maior deslocalização dos elétrons, o que faz com que tenhamos<br />

transições eletrônicas de mais baixas energias e com distribuição de freqüências de<br />

transição mais próximas entre si. Quando filtramos a amostra, o que resta são as<br />

moléculas isoladas e os agregados menores, e portanto caixas menores. Caixas<br />

menores estão relacionadas a elétrons mais confinados, com estados excitados de<br />

energias mais altas.<br />

144


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A segunda hipótese que pode explicar as mudanças no espectro de absorção é<br />

a presença de vírus e/ou bactérias na solução. Neste caso, a contribuição destes<br />

organismos para a absorção seria devida à modificação dos estados eletrônicos do<br />

MIC resultante da interação entre os dois sistemas. Esta possível explicação pode ser<br />

confirmada se, ao adicionarmos vírus e bactérias à solução filtrada, recuperarmos o<br />

espectro de absorção original. Este experimento deverá ser feito futuramente.<br />

CH 3 N<br />

C<br />

C<br />

+<br />

S<br />

C<br />

_<br />

S<br />

Cl<br />

Figura 3.52: Estrutura molecular plana da molécula<br />

mesoiônica estudada nesta Tese. O seu peso molecular é<br />

de 359,5 unidades de massa atômica.<br />

2.5<br />

2.0<br />

Absorbância<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0<br />

300 400 500 600 700 800<br />

Comprimento de onda (nm)<br />

Figura 3.53: Espectro de absorção linear do MIC antes da<br />

filtragem (concentração 0,47 g/l) com filtro microporo (linha<br />

contínua) e depois da filtragem (linha tracejada). O pico<br />

agudo representa o espectro do laser utilizado no<br />

experimento de chave Kerr com luz incoerente, que será<br />

descrito mais adiante. A espessura da amostra é de 2 mm.<br />

145


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

c) Chave Kerr óptica com luz incoerente<br />

As técnicas com luz incoerente podem ser aplicadas ao estudo da dinâmica de<br />

não linearidades Kerr aplicando-se o mesmo conceito das demais técnicas com luz<br />

incoerente, isto é, o fato de que a resolução temporal do experimento ser determinada<br />

pelo tempo de coerência do laser e não pela duração do pulso [Ku87a].<br />

A relaxação Kerr de alguns sistemas já foi estudada usando-se esta técnica.<br />

Em [Ha91], Hattori e Kobayashi investigaram a dinâmica Kerr de vários líquidos<br />

transparentes com luz incoerente (t c ~ 60 fs) e puderam detectar efeitos de interação<br />

entre moléculas em misturas de CS 2 com vários outros líquidos na relaxação do<br />

dicroísmo induzido. Em [Vo91] os autores medem os tempos de relaxação<br />

orientacional (ou tempo de difusão orientacional) de moléculas de Rodamina 6G em<br />

etanol. Kozich e colaboradores [Ko99b] usaram a configuração de chave Kerr para<br />

estudar a difusão orientacional de diferentes tipos de porfirinas em vários solventes.<br />

Em [Na88a], Nakatsuka e colaboradores usam a configuração de chave Kerr para<br />

medir o tempo de decaimento da fluorescência do corante Cresil Violeta em etanol. A<br />

técnica também foi usada por Misawa e colaboradores [Mi89b] para medir o tempo de<br />

defasamento eletrônico do Cresil Violeta em poli-metil meta-acrilato em baixas<br />

temperaturas (T = 2 K).<br />

O ponto de partida para o cálculo da forma analítica do sinal é considerar uma<br />

configuração de três feixes incidentes na amostra, que induzem uma polarização de<br />

terceira ordem que carrega a informação sobre a taxa de relaxação Kerr do meio. A<br />

passagem para a configuração de chave Kerr é feita igualando-se o campo e os<br />

vetores de onda de dois dos três feixes da configuração original, levando-se em conta<br />

suas componentes de polarização. O cálculo da forma analítica do sinal na<br />

configuração de chave Kerr segue então um procedimento análogo ao que foi feito na<br />

seção 3.5, sob a condição de que não há ressonâncias multifotônicas no material. O<br />

resultado obtido pode ser escrito como<br />

1 2t ⎛ τ ⎞<br />

I . (3.49)<br />

2<br />

() τ ∝ 1+<br />

f() τ +<br />

c<br />

exp<br />

⎜−<br />

3 T<br />

⎟ Kerr ⎝ TKerr<br />

⎠<br />

Cálculos detalhados estão apresentados na referência [Ko88]. A equação<br />

(3.49) apresenta três termos, o primeiro representando um sinal constante, o segundo<br />

146


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

relaciona-se com o pico de coerência e o terceiro contém a informação sobre o tempo<br />

de relaxação Kerr. Vemos claramente que há um compromisso entre a resolução<br />

temporal e a amplitude do sinal Kerr a ser medido, pois quanto maior a resolução<br />

temporal (menor o tempo de coerência), menor será o sinal Kerr. Assim, torna-se<br />

necessário escolher bem os parâmetros do laser para cada aplicação.<br />

No experimento que detalharemos a seguir usamos a técnica de chave Kerr<br />

com luz incoerente para medir o tempo de resposta do composto mesoiônico<br />

apresentado na seção 3.6b. Apesar de o sinal ter uma componente instantânea<br />

(simétrica) muito grande foi possível medir uma componente assimétrica para esta<br />

molécula. A montagem experimental utilizada está mostrada na figura 3.54. Um laser<br />

de corante de banda larga é dividido em dois feixes por uma lâmina de vidro. O feixe<br />

refletido é o feixe de prova, com intensidade aproximadamente cem vezes menor do<br />

que a do feixe de bombeamento, que é aquele que é transmitido pela lâmina de vidro.<br />

O feixe de prova passa por um polarizador orientado verticalmente para assegurar que<br />

a polarização do feixe de prova seja a mais linear possível nesta direção. Após passar<br />

por lentes de focalização e colimação e por uma íris, o feixe de prova encontra um<br />

polarizador analisador cruzado com o primeiro, isto é, horizontalmente orientado.<br />

Desta forma, se o feixe de bombeamento não estiver presente na amostra, nenhuma<br />

luz é transmitida pelo analisador.<br />

E<br />

E<br />

<strong>DF</strong><br />

B<br />

E<br />

Pp θ<br />

A<br />

LF<br />

LC D PA D<br />

λ/2 Pb τ<br />

Fotomulti-<br />

∫ S (t) dt<br />

plicadora<br />

Banda Larga<br />

LC<br />

E<br />

Microcomputador<br />

Figura 3.54: Arranjo experimental da chave Kerr. E: espelho;<br />

<strong>DF</strong>: divisor de feixe; LC: lente de colimação; LF: lente de<br />

focalização; A: amostra; D: diafragma íris; B: bloqueador;<br />

PA: polarizador analisador; Pp: polarizador vertical; Pb:<br />

polarizador a 45°; λ/2: placa de meia onda; τ: linha de atraso<br />

temporal; θ: controle do ângulo entre os feixes; FM:<br />

fotomultiplicadora. As linhas pontilhadas são sinais elétricos.<br />

147


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

O feixe de bombeamento passa por uma placa de meia onda, por uma linha de<br />

atraso e por um polarizador orientado a 45° com relação à direção de polarização do<br />

feixe de prova (ou à orientação do analisador). Após passar pela lente de focalização e<br />

ser superposto na amostra (espessura de 5 mm) com o feixe de prova, o feixe de<br />

bombeamento é bloqueado. O sinal que passa pelo analisador é enviado a uma<br />

fotomultiplicadora e processado em um integrador de sinal e registrado em um<br />

microcomputador, que controla a linha de atraso.<br />

O composto mesoiônico (MIC) estudado foi sintetizado no Departamento de<br />

Química Fundamental da <strong>UFPE</strong> pelo grupo do Prof. Alfredo Simas. Sua estrutura<br />

molecular é aquela mostrada na figura 3.52, e seu espectro de absorção linear, assim<br />

como o espectro do laser de excitação, estão mostrados na figura 3.53. O sinal Kerr do<br />

MIC é mostrado na figura 3.55.<br />

Sinal Kerr (unidades arbitrárias)<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

-0.6 -0.3 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2<br />

Atraso τ (ps)<br />

Figura 3.55: Sinal Kerr para MIC em função do atraso<br />

relativo entre os feixes de bombeamento e de prova. A<br />

razão ligado/desligado da chave é de 33.<br />

O sinal apresenta uma componente constante e um pico de coerência<br />

simétrico, limitado pelo tempo de coerência do laser (~160 fs). Porém, é possível<br />

perceber uma componente assimétrica de pequena amplitude para valores de atraso<br />

maiores do que 160 fs. Esta componente pode ser melhor vista em um gráfico monolog<br />

do sinal, após subtrairmos sua parte constante, como podemos ver na figura 3.56.<br />

148


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Em uma série de experimentos pudemos determinar o tempo de relaxação desta<br />

componente do sinal como sendo de (560±50) fs. Para determinar o tempo de<br />

decaimento da componente lenta um ajuste de uma linha reta é feito por regressão<br />

linear, e ele é muito crítico com relação aos pontos em que se inicia e termina a<br />

análise.<br />

Sinal Kerr (unidades arbitrárias)<br />

1.0000<br />

0.3679<br />

0.1353<br />

0.0498<br />

0.0183<br />

0.0067<br />

-0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2<br />

Atraso τ (ps)<br />

T Kerr<br />

= 570 fs<br />

Figura 3.56: Gráfico mono-log do sinal Kerr do MIC. Nota-se<br />

nitidamente uma componente com um tempo de relaxação<br />

de 570 fs.<br />

Conforme a equação (3.48), a intensidade do sinal Kerr depende linearmente<br />

da intensidade do feixe de prova e quadraticamente da intensidade do feixe de<br />

bombeamento. Para verificar estas dependências, fizemos dois experimentos simples.<br />

No primeiro, com a linha de atraso na posição de máximo sinal, variamos igualmente a<br />

intensidade dos feixes de bombeamento e de prova simultaneamente colocando filtros<br />

neutros de densidades ópticas conhecidas antes do divisor de feixe. No segundo,<br />

introduzimos filtros neutros no feixe de bombeamento, após o divisor de feixe,<br />

mantendo a intensidade do feixe de prova constante. Neste caso, foi necessário<br />

encontrar a posição da linha de atraso que maximizasse o sinal Kerr em cada troca de<br />

filtro. Os resultados estão mostrados nas figuras 3.57a e 3.57b, respectivamente.<br />

149


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Sinal Kerr (unidades arbitrárias)<br />

100<br />

10<br />

1<br />

coeficiente angular = 2,9<br />

10<br />

Intensidade total (MW/cm 2 )<br />

(a)<br />

Sinal Kerr (unidades arbitrárias)<br />

100<br />

10<br />

1<br />

coeficiente angular = 2,0<br />

10<br />

(b)<br />

Intensidade do bombeamento (MW/cm 2 )<br />

Figura 3.57: Dependência do sinal Kerr do MIC com a<br />

variação simultânea das intensidades dos feixes de<br />

bombeamento e de prova (a) e somente a do feixe de<br />

bombeamento (b). As dependências estão de acordo com a<br />

equação (3.48).<br />

A título de comparação, realizamos também o experimento de chave Kerr para<br />

um vidro dopado como semicondutor (Corning 3-66), que tem um “gap” próximo ao do<br />

MIC, nas mesmas condições que o MIC. Os vidros dopados com semicondutores já<br />

tiveram sua dinâmica Kerr bem estudada [Ac89b] com pulsos de ps. Em [Ac90a] os<br />

autores estudaram a não linearidade não ressonante destes materiais através da<br />

técnica de auto difração com luz incoerente, medindo um tempo de resposta de cerca<br />

de 30 fs (essencialmente eletrônica). Os resultados de nossos experimentos podem<br />

ser vistos nas figuras 3.58a e 3.58b, em que mostramos o sinal em uma escala linear e<br />

logarítmica, respectivamente. Observamos um sinal de perfil Gaussiano, que segue o<br />

perfil de auto correlação do laser, além de ausência de componentes com decaimentos<br />

mais lentos, contrariamente ao que foi observado no MIC.<br />

Em um artigo bastante detalhado sobre a dinâmica da não linearidade Kerr em<br />

vários líquidos atômicos e moleculares, McMorrow e colaboradores [Mc88] concluíram<br />

que quatro respostas dinâmicas distintas associadas à susceptibilidade não linear são<br />

observadas em todo líquido que apresenta uma polarizabilidade anisotrópica, cada qual<br />

relaxando em um intervalo de tempo característico. A primeira delas, mais lenta, é<br />

associada a uma difusão orientacional das moléculas, em tempos característicos<br />

maiores do que 1 ps. A segunda resposta dinâmica, associada a interações<br />

150


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

moleculares que levam a distorções da polarizabilidade das moléculas, decai um pouco<br />

mais rapidamente, em tempos característicos entre 400 e 600 fs. A terceira,<br />

denominada “ultra rápida”, é associada à libração molecular e decai tipicamente numa<br />

escala de tempo de até 200 fs. Finalmente, temos a resposta instantânea, atribuída à<br />

distorção da nuvem eletrônica como um todo. O estudo desta componente mais rápida<br />

é sempre limitado pela duração (ou do tempo de coerência) do laser utilizado.<br />

Sinal Kerr (unidades arbitrárias)<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

-0.6 -0.3 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2<br />

Atraso τ (ps)<br />

(a)<br />

Sinal Kerr (unidades arbitrárias)<br />

1.0000<br />

0.3679<br />

0.1353<br />

0.0498<br />

0.0183<br />

0.0067<br />

0.0025<br />

-0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2<br />

Atraso τ (ps)<br />

(b)<br />

Figura 3.58: Resultados de chaveamento Kerr no vidro<br />

dopado com semicondutor 3-66. O sinal é puramente devido<br />

à não linearidade eletrônica, de resposta instantânea.<br />

O papel da simetria molecular é de fundamental importância para a<br />

interpretação dos resultados de chaveamento Kerr. Por exemplo, o xenônio líquido<br />

(Xe) é altamente simétrico e possui uma grande polarizabilidade eletrônica. A resposta<br />

Kerr do Xe foi medida usando-se pulsos ultra curtos de t p = 150 fs e o resultado<br />

mostrou uma grande componente instantânea e uma pequena componente com tempo<br />

de decaimento de aproximadamente 450 fs para atrasos positivos do feixe de sonda<br />

[Gr84]. Como líquidos de gases nobres não possuem anisotropia de polarização<br />

permanente, esta componente de sinal não instantânea tem origem em uma<br />

anisotropia associada a distorções transientes da polarizabilidade atômica, também<br />

chamadas de efeitos induzidos por interações moleculares (colisões, interações dipolodipolo<br />

etc...) [He77]. Estas interações são uma possível explicação para a origem da<br />

resposta em centenas de fs do CS 2 , além daquela bem conhecida de difusão<br />

orientacional molecular, que ocorre em um tempo característico de 1,6 ps [Gr83].<br />

151


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

Atribuímos a resposta observada em nosso experimento de chave Kerr com luz<br />

incoerente a estas interações moleculares. Esta conclusão é reforçada pelos seguintes<br />

argumentos: se considerarmos que o decaimento no sinal Kerr observado é devido à<br />

difusão orientacional teremos uma inconsistência, pois num líquido puro como o CS 2 ,<br />

cujas moléculas são bem menores do que o MIC, este tempo é de 1,6 ps. Não é muito<br />

provável que uma molécula como o MIC, de momento de inércia muito maior do que o<br />

CS 2 e num ambiente muito mais viscoso do que o próprio CS 2 vá apresentar tempos<br />

rotação molecular três vezes mais rápido do que as moléculas de CS 2 . A origem da<br />

resposta Kerr observada poderia ser libracional molecular, pois apesar de o tempo de<br />

relaxação da não linearidade Kerr ser três vezes o tempo típico associado a librações<br />

moleculares (até 200 fs), não seria algo impossível diante do fato de que o MIC é uma<br />

molécula grande, muito polar e está dissolvida em um solvente altamente polar. Daí<br />

entendermos que as interações moleculares devem ser importantes, principalmente<br />

pelo que se observa na figura 3.53.<br />

Fizemos uma comparação entre os valores da intensidade do sinal Kerr para o<br />

vidro 3-66, o MIC e o CS 2 . As intensidades relativas foram de 1,0 : 0,30 : 0,20,<br />

respectivamente. Esta proporção manteve-se constante em diversas seqüências de<br />

medidas. Em particular, a relação entre as intensidades dos sinais para o MIC e o CS 2<br />

é concordante com aquela verificada por Bezerra-Jr. em experimentos de chave Kerr<br />

óptica usando lasers com pulsos de 70 ps (λ = 532 nm) e de 60 fs (λ = 800 nm) de<br />

duração [Be99]. Como a medida de χ (3) em [Ac90] para o vidro 3-66 foi feita em<br />

condições de comprimento de onda e ressonância muito parecidas com as deste<br />

experimento, faz sentido estimar o valor de χ (3) para o MIC tomando-se como valor de<br />

referência aquele medido para o vidro 3-66. Assim, considerando<br />

(3)<br />

−10<br />

χ<br />

3− 66<br />

= 2×<br />

10 esu,<br />

que<br />

2 2<br />

IKerr<br />

∝ n2d<br />

, onde d é o comprimento da amostra [Ac89c], obtemos que<br />

χ esu, valor da mesma ordem de grandeza do que o vidro 3-66.<br />

(3)<br />

(3) −10<br />

MIC<br />

= 0,5 × χ3− 66<br />

= 10<br />

Em condições experimentais totalmente diferentes (pulsos selecionados de 70<br />

ps de duração em 532 nm), Bezerra-Jr. realizou o experimento de varredura Z neste<br />

composto mesoiônico, de concentração 2 mM, obtendo um valor para<br />

esu [Be99].<br />

(3)<br />

χ<br />

MIC<br />

de 6×10 -13<br />

152


Capítulo 3 ______________________________________ Espectroscopia não linear com luz incoerente<br />

A discrepância observada entre os valores das magnitudes de<br />

(3)<br />

χ<br />

MIC<br />

medidos<br />

pode ter origem nos regimes de excitação distintos usados em [Be99] e nesta Tese.<br />

No primeiro caso, em que são usados pulsos curtos (t p = 70 ps) e ultra curtos (t p = 60<br />

fs), a não linearidade que origina o sinal de chave Kerr óptica tem contribuição apenas<br />

de estados singletos, pois o tempo de decaimento de S 1 está entre 80 ps e 1 ns,<br />

conforme medidas realizadas em [Ra00] e [Ra01]. Assim, após o término dos pulsos<br />

curtos e ultra curtos, o sistema ainda se encontra em S 1 , e sua eventual relaxação para<br />

estados tripletos de menor energia só podem originar fluorescência e/ou decaimentos<br />

não radiativos para estados de menor energia. Já no segundo caso, como a excitação<br />

é feita com pulsos de duração de 10 ns, é possível que o sistema relaxe de S 1 para um<br />

estado tripleto próximo subjacente ainda durante o pulso do laser, o que cria população<br />

no estado tripleto que é passível de ser excitada para estados tripletos de maior<br />

energia por fótons do mesmo pulso de laser. Esta outra transição representa um canal<br />

extra que contribui para a não linearidade medida no experimento de chave Kerr com<br />

pulsos de 10 ns de duração.<br />

Esta seção finaliza o capítulo 3 desta Tese, que apresentou os resultados<br />

experimentais obtidos aplicando-se diversas técnicas espectroscópicas não lineares<br />

com luz incoerente. O próximo capítulo traz as conclusões obtidas a partir da análise<br />

destes resultados e delineia algumas perspectivas de trabalho.<br />

153


Capítulo 4<br />

Conclusões e<br />

perspectivas


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

Nesta Tese foram estudadas as dinâmicas ultra rápidas de processos não<br />

lineares em moléculas orgânicas (composto mesoiônico e corantes Sulfo-rodamina 640<br />

e DQOCI), polímeros (polianilinas base esmeraldina e pernigranilina) e vidros dopados<br />

com semicondutores (Corning 2-73 e 3-66) usando pulsos de luz incoerentes com<br />

duração de 10 ns.<br />

Nos capítulos 1 e 2 foram apresentados os aspectos fundamentais da óptica<br />

não linear e dos fenômenos de mistura de ondas e formação de grades por lasers,<br />

além dos fundamentos estatísticos dos processos aleatórios. As contribuições originais<br />

desta Tese foram apresentadas no capítulo 3.<br />

Em um primeiro experimento usamos a técnica de autodifração com luz<br />

incoerente em uma solução alcoólica de Sulfo-rodamina 640 para discutir as origens<br />

das oscilações que eventualmente aparecem em perfis de auto correlação e mostrar<br />

que estas oscilações não têm nenhuma relação com o tempo de defasamento<br />

eletrônico da transição excitada na amostra. Tais oscilações se devem tão somente à<br />

interferência entre os campos de mistura de ondas e de espalhamento Rayleigh na<br />

mesma direção. Observou-se que quanto maior é a amplitude do campo de<br />

espalhamento Rayleigh, tanto maior é a amplitude das oscilações no perfil de auto<br />

correlação. Usando um vidro dopado com semicondutor, mostramos também que o<br />

período destas oscilações nos perfis de auto correlação pode ser alterado se não<br />

escolhermos uma freqüência suficiente de amostragem do sinal, o que pode levar a um<br />

fenômeno de “aliasing” e a um conseqüente erro na interpretação dos resultados<br />

experimentais. Todos estes fenômenos também puderam ser observados em soluções<br />

de outros corantes e de metaloporfirinas.<br />

Em um segundo experimento estudamos o efeito de altas intensidades dos<br />

lasers de excitação em autodifração usando soluções de Sulfo-rodamina 640 em etanol<br />

como amostra não linear. Observamos que a separação temporal entre os picos dos<br />

r r r r r r<br />

sinais nas direções k<br />

3<br />

= 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

e k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

cresce em função da intensidade dos<br />

feixes de excitação e explicamos o fato como tendo origem em uma redistribuição de<br />

população entre níveis de energia vibracionalmente excitados do estado fundamental<br />

eletrônico que possuem altos fatores de Franck-Condon. Através de um modelo de<br />

osciladores não harmônicos acoplados e considerando dois modos vibracionais da<br />

155


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

Sulfo-rodamina 640 foi possível reproduzir a forma de linha da banda de absorção do<br />

corante em uma temperatura vibracional ambiente e mostramos que esta forma de<br />

linha apresenta um alargamento considerável em temperaturas vibracionais elevadas.<br />

A partir de toda a análise, pudemos estimar o tempo de defasamento da transição<br />

excitada entre 30 e 50 fs.<br />

Em um terceiro experimento também observamos uma dependência da<br />

separação entre os picos dos sinais de autodifração quando excitando<br />

ressonantemente a banda de excitons das polianilinas base esmeraldina e<br />

pernigranilina. A interpretação dos resultados neste caso é muito sutil. O efeito é<br />

análogo ao observado no experimento anterior e, portanto, a primeira tentativa de<br />

explicação dos resultados foi através da aplicação do modelo de osciladores não<br />

harmônicos acoplados. Quando isto foi feito, entretanto, o modelo não forneceu<br />

resultados satisfatórios nem mesmo em situações extremas, como temperaturas<br />

vibracionais da ordem da largura de linha da banda de excitons. A partir disto, vários<br />

experimentos seqüenciais foram realizados com o intuito de eliminar possibilidades.<br />

Dois experimentos distintos confirmaram que o efeito não pode ter origem térmica. A<br />

hipótese mais plausível é que as torções dos anéis ao longo da cadeia das polianilinas<br />

para posições angulares maiores do que as de equilíbrio, induzidas por luz, resultem<br />

em um aumento no grau de confinamento dos excitons, que por conseqüência têm as<br />

energias de seus estados excitados aumentada. Isto leva à formação de excitons com<br />

energias menos diversas (já que as freqüências dos fótons do laser de excitação não<br />

mudam), o que aumenta o tempo de defasamento da transição excitônica nos<br />

polímeros de PANI. As torções dos anéis para ângulos maiores podem ser explicadas<br />

como efeitos da excitação dos modos Raman torsionais em 56 cm -1 e 80 cm -1 da PANI<br />

[Sa93] através de um processo Raman induzido por pares de componentes espectrais<br />

do laser de banda larga distantes entre si destas quantidades de energia.<br />

Em um quarto experimento uma nova técnica de mistura de quatro ondas com<br />

luz incoerente foi desenvolvida. Através da interação não linear de dois campos<br />

gêmeos com um campo coerente numa configuração de feixes do tipo “caixa” em um<br />

absorvedor saturável (DQOCI) obtivemos um sinal de intensidade oscilante em função<br />

do atraso entre os feixes de luz incoerente com amortecimento dependente da<br />

156


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

intensidade dos campos incoerentes. Após o cálculo da forma analítica do sinal<br />

levando em conta detecção oligocromática e considerando um sistema de dois níveis,<br />

pudemos entender os resultados experimentais como conseqüência dos efeitos de<br />

emissão estimulada. No caso do DQOCI, o tempo de decaimento livre da população<br />

foi medido como sendo de T 1 = (20±2) ps, em concordância com medidas de<br />

decaimento de fluorescência excitada por pulsos ultra curtos. Em situação das mais<br />

altas intensidades disponíveis dos campos de luz incoerente o tempo de vida caiu para<br />

cerca de T 1 = 3 ps. Através dos resultados da taxa de decaimento das oscilações em<br />

função das várias intensidades dos feixes de banda larga foi possível medir a seção de<br />

choque de absorção de um fóton do DQOCI para o comprimento de onda do laser<br />

como sendo<br />

σ cm 2 , em acordo com o valor que se obtém a partir do<br />

−16<br />

12<br />

= 4 × 10<br />

espectro de absorção linear da amostra. Os efeitos de emissão estimulada jamais<br />

haviam sido considerados na literatura em trabalhos que usam luz incoerente com<br />

ressonâncias de um fóton. A técnica desenvolvida apresenta a vantagem de ser<br />

aplicável à medida da taxa de relaxação de população mesmo para níveis não<br />

fluorescentes.<br />

Finalmente, implementamos uma chave Kerr com luz incoerente para<br />

acompanhar a dinâmica ultra rápida da não linearidade criada por um feixe de<br />

bombeamento incoerente através do dicroísmo sentido por um feixe de prova, também<br />

incoerente. Tanto em um composto mesoiônico quanto em um vidro dopado com<br />

semicondutor (Corning 3-66) foi possível medir um sinal Kerr intenso limitado pelo<br />

tempo de coerência do laser, do que imediatamente resulta que o tempo de resposta<br />

da não linearidade Kerr devido à mobilidade da nuvem eletrônica é menor do que 75 fs.<br />

Quando analisado em uma escala logarítmica, o sinal Kerr do composto mesoiônico<br />

mostrou uma assimetria para atrasos positivos do feixe de prova, cujo decaimento foi<br />

medido como sendo T Kerr = (560±50) fs. Esta dinâmica é atribuída à influência da<br />

interação molecular soluto-solvente na anisotropia induzida pelo feixe de<br />

bombeamento.<br />

Em termos de perspectivas, há muitas possibilidades de trabalhos futuros.<br />

Conforme mencionado no apêndice A, a técnica de interferência de grades na<br />

configuração de autodifração pode ser uma alternativa vantajosa em relação à técnica<br />

157


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

de batimentos de polarização para a medida da razão entre as susceptibilidades não<br />

lineares degeneradas de quinta e terceira ordens, além da fase relativa entre elas.<br />

Neste mesmo apêndice mencionamos a técnica de espalhamento forçado de luz como<br />

sendo uma maneira simples de medir T 2 com alta resolução temporal. Para que<br />

implementemos a técnica basta trabalhar na construção de lasers de corante de<br />

espectros mais largos, conforme referências citadas no apêndice A.<br />

O experimento da chave Kerr com luz incoerente ainda pode ser otimizado em<br />

seus vários parâmetros de forma a aumentar a sensibilidade do aparato. É<br />

importantíssimo ressaltar que é necessário um laser mais estável para aplicar com<br />

pleno sucesso esta técnica. Como se trata de uma técnica de simples implementação<br />

e uso, vale a pena entendê-la em seus detalhes. Para isto é fundamental que se<br />

deduza a forma analítica do sinal de chaveamento Kerr com luz incoerente, de forma<br />

que se possam medir outros parâmetros do material e que se possam propor variações<br />

da técnica.<br />

Por fim, propomos o desenvolvimento e a implementação da técnica de<br />

varredura Z com luz incoerente, em que a dinâmica do índice de refração não linear e<br />

do coeficiente de absorção não linear poderá ser acompanhada com uma resolução<br />

temporal da ordem de 100 fs, mesmo utilizando pulsos de 10 ns de duração. O maior<br />

problema vislumbrado até então são os efeitos térmicos que por ventura possam vir a<br />

interferir nas medidas.<br />

@ Publicações do autor<br />

1. “Temperature sensor based on frequency upconversion in Er 3+ -doped fluoroindate<br />

glass”. G. S. Maciel, L. de S. Menezes, A. S. L. Gomes, Cid B. de Araújo, Y.<br />

Messaddeq, A. Florez and M. A. Aegerter. IEEE Photonics Technology Letters 7, 1474<br />

(1995).<br />

158


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

2. “Infrared-to-visible CW frequency upconversion in Er 3+ -doped fluoroindate glasses”.<br />

Cid B. de Araújo, L. de S. Menezes, G. S. Maciel, L. H. Acioli, A. S. L. Gomes, Y.<br />

Messaddeq, A. Florez and M. A. Aegerter. Applied Physics Letters 68, 602 (1996).<br />

3. “Rare-earth doped fluoroindate glasses: glass formation, energy transfer properties<br />

and frequency upconversion” (Invited paper). Cid B. de Araújo, A. S. L. Gomes, L. H.<br />

Acioli, G. S. Maciel, L. de S. Menezes, L. E. E. de Araujo, Y. Messaddeq and M. A.<br />

Aegerter. Trends in Chemical Physics 4, 59 (1996), Ed. R. D. Brown et al. (Research<br />

Trends - India).<br />

4. “CW ultraviolet frequency upconversion due to triads of Nd 3+ ions in fluoroindate<br />

glasses”. L. de S. Menezes, Cid B. de Araújo, G. S. Maciel, Y. Messaddeq and M. A.<br />

Aegerter. Applied Physics Letters 70, 683 (1997).<br />

5. “Frequency upconversion in Nd 3+ -doped fluoroindate glass”. L. de S. Menezes, Cid<br />

B. de Araújo, Y. Messaddeq and M. A. Aegerter. Journal of Non-Crystalline Solids,<br />

213/214, 256 (1997).<br />

6. . “Violet and blue light amplification in Nd 3+ -doped fluoroindate glass”. G. S. Maciel,<br />

L. de S. Menezes, Cid B. de Araújo and Y. Messaddeq. Journal of Applied Physics 85,<br />

6782 (1999).<br />

7. “Light-induced inhomogeneous broadening in Sulforhodamine 640 in ethanol”. V.<br />

Kozich, L. de S. Menezes and Cid B. de Araújo. Optics Communications 171, 125<br />

(1999).<br />

8. “Interference effects in time-delayed degenerate four-wave mixing with broadband<br />

noisy light”. V. Kozich, L. de S. Menezes and Cid B. de Araújo. Journal of Optical<br />

Society of America B 17, 973 (2000).<br />

159


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

9. “Stimulated effects in population relaxation in interferometric four-wave mixing<br />

experiments”. V. Kozich, L. de S. Menezes and Cid B. de Araújo. Optics Letters 26,<br />

262 (2001).<br />

10. “Frequency upconversion in Nd 3+ -doped fluoroindate glass pumped at 866 nm”. L.<br />

de S. Menezes, G. S. Maciel, Cid B. de Araújo and Y. Messaddeq. Journal of Applied<br />

Physics (submetido para publicação).<br />

11. “Ultrafast dynamics of mesoionic compounds studied with incoherent light”. L. de S.<br />

Menezes, Cid B. de Araújo, M. A. R. C. Alencar, P. F. Athayde-Filho, J. Miller, A. M.<br />

Simas. Chemical Physics Letters (submetido para publicação).<br />

12. “Optical dephasing of excitons in polyaniline”. L. de S. Menezes, Cid B. de Araújo,<br />

E. H. L. Falcão, W. M. de Azevedo (artigo em preparação).<br />

@ Comunicações em conferências no período correspondente ao desenvolvimento<br />

desta Tese:<br />

1. XIX Encontro Nacional da Física da Matéria Condensada, Águas de Lindóia, São<br />

Paulo, 09/96. Apresentação do trabalho “CW frequency upconversion in neodimiumdoped<br />

fluoroindate glasses”.<br />

2. Conference on Lasers and Electro-Optics-CLEO/Europe - European Quantum<br />

Electronics Conference, Hamburgo, Alemanha, 09/96. Apresentação do trabalho “CW<br />

pumped infrared-to-visible upconversion in Er 3+ -doped fluoroindate glasses:<br />

spectroscopic characterization and application to optical temperature sensing”.<br />

3. XIV Encontro de Físicos do Norte e do Nordeste, Aracaju, Sergipe, 11/96.<br />

Apresentação do trabalho “Frequency upconversion in neodimium-doped fluoroindate<br />

glasses”.<br />

160


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

4. XV Encontro de Físicos do Norte e do Nordeste, Natal, Rio Grande do Norte, 09/97.<br />

Apresentação do trabalho “Blue optical gain verification in neodimium-doped<br />

fluoroindate glasses”.<br />

5. XXI Encontro Nacional da Física da Matéria Condensada, Caxambu, Minas Gerais,<br />

06/98. Apresentação do trabalho “Blue optical gain measurements in neodimium-doped<br />

fluoroindate glasses”.<br />

6. 18 th Congress of the International Comission for Optics (ICO XVIII), São Francisco,<br />

California, 05/99. Apresentação do trabalho “Measurements of optical gain in Nd 3+ -<br />

doped fluoroindate glasses”.<br />

7. XXII Encontro Nacional da Física da Matéria Condensada, São Lourenço, Minas<br />

Gerais, 05/99. Apresentação do trabalho “Incoherent degenerate wave-mixing in<br />

Sulforhodamine 640 in ethanol”.<br />

8. XVII Encontro de Físicos do Norte e do Nordeste, Recife, Pernambuco, 11/99.<br />

Apresentação dos trabalhos “Interference effects in time-delayed degenerate four-wave<br />

mixing with broadband light” e “Stimulated effects in population relaxation in<br />

interferometric four-wave mixing experiments”.<br />

9. International Conference on Nonlinear Light Scattering Spectroscopy (XIX European<br />

CARS Workshop, ECW 2000), Moscow, 03/00. Apresentação do trabalho “Stimulated<br />

effects in population relaxation in interferometric four-wave mixing with broadband light”.<br />

10. XXIII Encontro Nacional da Física da Matéria Condensada, São Lourenço, Minas<br />

Gerais, 05/00. Apresentação dos trabalhos “Observation of light-induced<br />

inhomogeneous broadening in polyaniline solutions” e “Measurement of population<br />

relaxation rates in interferometric four-wave mixing in laser dyes”.<br />

161


Capítulo 4 _____________________________________________________ Conclusões e perspectivas<br />

11. Conference on Lasers and Electro-Optics-CLEO, San Francisco, California, 05/00.<br />

Apresentação do trabalho “Stimulated effects in population relaxation in interferometric<br />

four-wave mixing experiments”.<br />

12 Conference on Lasers and Electro-Optics-CLEO/Europe - European Quantum<br />

Electronics Conference (IQEC 2000), Nice, França, 09/00. Apresentação do trabalho<br />

“Observation of light-induced inhomogeneous broadening in polyaniline solutions”.<br />

13. VI International Conference on Frontiers of Polymers and Advanced Materials<br />

(ICFPAM2001), Recife, Brasil, 03/01. Apresentação dos trabalhos “Multiphonon<br />

assisted frequency upconversion in Nd 3+ -doped fluoroindate glass” e “Inhomogeneous<br />

broadening of excitons in polyaniline liquid solutions”.<br />

14. XXIV Encontro Nacional da Física da Matéria Condensada, São Lourenço, Minas<br />

Gerais, 05/01. Apresentação do trabalho “Multiphonon assisted infrared energy<br />

upconversion in Nd 3+ -doped fluoroindate glass”.<br />

162


Apêndices


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

A1 – Experimentos exploratórios<br />

Neste apêndice mencionamos dois experimentos que foram realizados durante<br />

o trabalho de doutorado, mas que por algum motivo, de ordem prática ou por<br />

desconhecimento dos parâmetros relevantes à época de suas realizações, não foram<br />

completados. A continuação destes trabalhos será feita mais adiante.<br />

a) Espalhamento forçado de luz em soluções de metaloporfirina com cobre.<br />

A resposta de moléculas orgânicas tipo corante a excitações ópticas com lasers<br />

de banda larga em ressonância com uma transição eletrônica é geralmente descrita em<br />

termos de um sistema de dois níveis. Na maior parte dos casos, a interação entre as<br />

moléculas e o solvente são consideradas introduzindo-se um “banho”, que representa<br />

todos os graus de liberdade não associados à transição eletrônica, como por exemplo<br />

modos vibracionais com pequenos fatores de Franck-Condon e modos rotacionais.<br />

Descrever a dinâmica do sistema através do formalismo da matriz densidade pode não<br />

ser adequado para sistemas soluto-solvente à temperatura ambiente, pois a dinâmica<br />

do solvente não pode ser univocamente classificada como lenta ou rápida comparada<br />

ao defasamento eletrônico, o que equivale dizer que não é possível dizer se a transição<br />

é homogeneamente ou não homogeneamente alargada. Movimentos do solvente<br />

nestas temperaturas podem ter tempos característicos entre alguns fs a alguns ps<br />

[Ji94]. Pode-se aumentar o número de processos de defasamento que podem ser<br />

explicados por uma só teoria introduzindo-se uma função largura de linha g(t) que<br />

permita descrever dinâmicas mais complicadas de elementos não diagonais da matriz<br />

densidade.<br />

O espalhamento forçado de luz (EFL) [Ku94a] é basicamente um processo<br />

dependente de χ (1) ; é a difração de um feixe de prova monocromático por uma grade de<br />

fase, que é induzida por dois feixes gêmeos de banda larga. Para um atraso diferente<br />

de zero entre os dois feixes gêmeos a amplitude da grade de fase é menor do que<br />

aquela para atraso zero, e assim o defasamento eletrônico pode ser acompanhado<br />

através do monitoramento da intensidade do feixe de prova que é difratado pela grade.<br />

A grande vantagem do EFL em relação ao método de autodifração é o fato de que,<br />

164


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

neste último método, tempos de defasamento muito curtos (~10 fs) só podem ser<br />

detectados caso a transição eletrônica tenha um alargamento não homogêneo<br />

considerável, o que não é necessário para o EFL. Nesta técnica, o laser de banda<br />

estreita é sintonizado fora da banda de absorção do material em estudo, de tal forma<br />

que a reabsorção do sinal é minimizada. Isto propicia um aumento no intervalo<br />

dinâmico de medida do sinal [Ku96], possibilitando que a dinâmica estudada seja<br />

detectada nas asas do sinal de EFL.<br />

Fizemos uma tentativa de estudar a defasamento eletrônico de uma<br />

metaloporfirina com cobre dissolvida em tolueno, cujo espectro de absorção pode ser<br />

visto na figura A1-1.<br />

4<br />

3<br />

Absorbância<br />

2<br />

1<br />

0<br />

300 400 500 600 700<br />

Comprimento de onda (nm)<br />

Figura A1-1: Espectro de absorção linear da metaloporfirina<br />

com cobre em tolueno. A espessura da amostra é de 1 mm.<br />

Utilizando a mesma montagem experimental descrita na seção 3.5, porém<br />

posicionando o filtro espacial de forma a deixar passar somente um dos feixes de EFL,<br />

obtivemos alguns resultados, cujo exemplo típico é mostrado nas figuras A1-2 (a) e (b)<br />

em escalas linear e logarítmica, respectivamente. Podemos ver que uma curva<br />

Gaussiana não é suficiente para ajustar todos os pontos, principalmente nas asas do<br />

sinal de EFL. Entretanto esta análise não pode ser feita com precisão devido à baixa<br />

relação sinal/ruído. O ideal neste tipo de experimento é obter um intervalo dinâmico de<br />

10 3 , que está além do que conseguimos, conforme a figura A1-2(b). Concluímos que,<br />

para fazermos medidas cujos resultados revelem o tempo de defasamento T 2 da<br />

165


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

transição com segurança é necessário que tenhamos um laser com tempo de coerência<br />

no mínimo igual a 3T 2 para que possamos distinguir bem um desvio da curva<br />

Gaussiana. Grosso modo, a intensidade do sinal de EFL é dada por [Ku94a]<br />

( t − τ)<br />

2<br />

+∞<br />

2<br />

⎡ ⎤ ⎛ t ⎞<br />

I(<br />

τ ) = ∫ exp⎢−<br />

exp ⎟dt<br />

2 ⎥ ⎜ − . (A1a.1)<br />

t<br />

c<br />

T<br />

−∞ ⎣ ⎦ ⎝ 2 ⎠<br />

Sinal de EFL (unidades arbitrárias)<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

(a)<br />

Sinal de EFL (unidades arbitrárias)<br />

1<br />

0.1<br />

0.01<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

(b)<br />

Figura A1-2: Sinal de EFL em função do atraso relativo<br />

entre os feixes de banda larga. Gráfico em escala linear (a)<br />

e gráfico em escala logarítmica (b).<br />

Na figura A1-3 mostramos I(τ) para vários valores de t c para um determinado<br />

valor de T 2 . Vemos claramente que o sinal de EFL tem variação aumentada para um<br />

mesmo valor de atraso temporal à medida em que diminuímos o tempo de coerência do<br />

laser de banda larga.<br />

1<br />

Sinal de EFL (unidades arbitrárias)<br />

0.1<br />

0.01<br />

1E-3<br />

R = T 2<br />

/ t c<br />

R=1,00<br />

R=0,50<br />

R=0,30<br />

R=0,10<br />

R=0,01<br />

-300 -200 -100 0 100 200 300<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura A1-3: Perfil do sinal de EFL em função do atraso τ<br />

entre os campos de luz incoerente, cujo tempo de coerência<br />

é 130 fs, para vários valores de T 2 .<br />

166


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Concluímos que, para implementar esta técnica com sucesso seria necessário<br />

investir no laser de banda larga, fazendo-o operar com tempos de coerência de até 30<br />

fs. Para isto, uma série de propostas interessantes foram feitas [Da89], [Da90],<br />

[Da90a], [Ko89], após o que o EFL torna-se uma excelente ferramenta para o estudo de<br />

defasamento eletrônico com luz incoerente.<br />

b) Interferência de duas grades<br />

Este experimento foi proposto bem no início do trabalho de doutoramento e<br />

usava lasers de banda estreita exclusivamente. O objetivo era tentar controlar a<br />

emissão de luz de um canal através de um feixe de controle, num efeito semelhante ao<br />

obtido na técnica de batimento de polarização, porém usando autodifração. Seria<br />

possível, além de controlar a emissão de radiação em uma dada direção através de<br />

uma linha de atraso temporal, medir a razão entre os módulos das susceptibilidades<br />

não lineares de terceira ordem e quinta ordem (efetiva) do material investigado, com a<br />

vantagem de ser necessário apenas um laser de corante para obter estas informações.<br />

A configuração de feixes pode ser vista na figura A1-4. O feixe de saída de um<br />

laser de corante é dividido em três pelo uso de dois divisores de feixe de refletividades<br />

de 30% e 50%. Um dos feixes após este último divisor de feixe passa por uma linha de<br />

atraso e se constitui no feixe de controle.<br />

E<br />

E<br />

<strong>DF</strong> 3<br />

E<br />

<strong>DF</strong> 5<br />

θ<br />

E<br />

τ<br />

L<br />

A<br />

D<br />

∫<br />

LC<br />

S (t) dt<br />

Fotomultiplicadora<br />

E<br />

Laser de corante<br />

de banda estreita<br />

Microcomputador<br />

Figura A1-4: Arranjo experimental. E: espelho; <strong>DF</strong> n : divisor<br />

de feixe de refletividade n/10; LC: lente de colimação; LF:<br />

lente de focalização; A: amostra; D: diafragma íris; τ: linha<br />

de atraso temporal; θ: controle do ângulo entre os feixes;<br />

FM: fotomultiplicadora. As linhas pontilhadas são sinais<br />

elétricos.<br />

167


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Os sinais de mistura de ondas gerados em um vidro dopado com semicondutor<br />

(Corning 2-73) são em várias ordens. O sinal relativos a<br />

( 5)<br />

χ são perfeitamente visíveis<br />

a olho nu. Como de fato existem duas grades que têm um feixe em comum (feixe 2) e<br />

como os ângulos entre os feixes laterais (1 e 3) com o feixe 2 são idênticos, o que<br />

obtemos é uma superposição de campos de mistura de ondas geradas pelas grades<br />

formadas pelos feixes 1 e 2 e 2 e 3, como pode ser visto na figura A1-5.<br />

ef<br />

( 5)<br />

χ<br />

23<br />

τ<br />

χ<br />

( 3) ( 5)<br />

23<br />

+ χ12<br />

1<br />

2<br />

3<br />

θ<br />

θ<br />

A<br />

2<br />

χ<br />

3+ ( 3)<br />

12<br />

1+ ( 3)<br />

χ<br />

23<br />

χ<br />

( 5)<br />

χ<br />

12<br />

( 3) ( 5)<br />

12<br />

+ χ<br />

23<br />

Figura A1-5: Diagrama de feixes de excitação utilizado no<br />

( n)<br />

experimento. χ<br />

jk<br />

quer dizer campo associado à<br />

susceptibilidade de ordem n que é gerado pela interação<br />

entre os feixes j e k.<br />

Desta forma, temos que a intensidade do campo gerado na direção<br />

r r r r<br />

A = 2k − k = 3k − 2 é dada por<br />

3 2 2<br />

k1<br />

I<br />

A<br />

2<br />

( 3) ( 5) ( 3 ) 2 ∗ ( 5<br />

( ) ( ) ( ) ) 3 ∗2<br />

( ) () () 2<br />

∝ P + P = χ ω;<br />

ω,<br />

ω,<br />

−ω E t E t + χ ω;<br />

ω,<br />

ω,<br />

ω,<br />

−ω,<br />

−ω E t E t . (A1b.1)<br />

23<br />

12<br />

23<br />

3<br />

2<br />

12<br />

2<br />

1<br />

De maneira semelhante podemos obter a intensidade do campo gerado na<br />

r r r r<br />

direção B = 2k<br />

1<br />

− k<br />

2<br />

= 3k<br />

2<br />

− 2k<br />

3<br />

:<br />

I<br />

B<br />

2<br />

( 3) ( 5) ( 3 ) 2 ∗ ( 5<br />

( ) () () ) 3 ∗2<br />

( ) ( ) ( ) 2<br />

∝ P + P = χ ω;<br />

ω,<br />

ω,<br />

−ω E t E t + χ ω;<br />

ω,<br />

ω,<br />

ω,<br />

−ω,<br />

−ω E t E t . (A1b.2)<br />

12<br />

23<br />

12<br />

1<br />

2<br />

23<br />

2<br />

3<br />

Escrevendo os campos na forma<br />

r r<br />

E t = E exp − i ωt<br />

− k ⋅<br />

− iϕ<br />

, (A1b.3)<br />

j<br />

() [ ( ) ]<br />

j<br />

j<br />

j<br />

com j=1, 2, 3; ϕ 2 = ϕ 3 = 0 e ϕ 1 = ωτ, temos que, desenvolvendo (A1b.1) e (A1b.2):<br />

I<br />

A<br />

2<br />

( 3) 2 ( 3) ( 5) ∗ 2 ∗4<br />

2 ( 5) 3 2 ( 5) ( 3) ∗ ∗2<br />

4 ∗2<br />

∝ χ I I + χ χ E E E + χ I I + χ χ E E E , (A1b.4) e<br />

23<br />

3<br />

2<br />

23<br />

12<br />

1<br />

2<br />

3<br />

12<br />

2<br />

2<br />

1<br />

12<br />

23<br />

1<br />

2<br />

3<br />

168


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

I<br />

B<br />

2<br />

( 3) 2 ( 3) ( 5) ∗ 2 ∗4<br />

2 ( 5) 3 2 ( 3) ∗ ( 5) ∗2<br />

4 ∗2<br />

∝ χ I I + χ χ E E E + χ I I + χ χ E E E . (A1b.5)<br />

12<br />

1<br />

2<br />

12<br />

23<br />

1<br />

2<br />

3<br />

23<br />

2<br />

2<br />

3<br />

12<br />

23<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Escrevendo os campos e as susceptibilidades em termos de seus módulos e<br />

fases na forma E E exp( iθ<br />

)<br />

j<br />

= e ( n ) ( n ) ( n<br />

χ = χ exp iφ<br />

) (j, k, l = 1, 2, 3 e n = 3, 5)<br />

j<br />

j<br />

kl<br />

kl<br />

( )<br />

podemos rescrever as equações (A1b.4) e (A1b.5) como<br />

I<br />

I<br />

A<br />

B<br />

∝<br />

∝<br />

χ<br />

χ<br />

2<br />

2<br />

( 3) 2 ( 5) 3 2 2 ( 3) ( 5) ( 3) ( 5) I I + χ I I + I I I χ χ 2cos φ − φ + 2( θ − ϕ)<br />

23<br />

kl<br />

[<br />

23 12 R<br />

]<br />

3 5<br />

[ φ − φ + 2 θ − ϕ ]<br />

2<br />

2<br />

( 3) 2 ( 5) 3 2 2 ( 3) ( 5) ( ) ( )<br />

I I + χ I I + I I I χ χ 2cos<br />

( )<br />

12<br />

3<br />

1<br />

2<br />

2<br />

12<br />

23<br />

2<br />

2<br />

1<br />

3<br />

1<br />

1<br />

2<br />

2<br />

3<br />

3<br />

23<br />

12<br />

12<br />

23<br />

12<br />

23<br />

R<br />

, (A1b.6)<br />

onde θ R é a fase resultante dos campos. Podemos escrever as equações acima como<br />

onde<br />

I<br />

I<br />

A<br />

B<br />

∝<br />

∝<br />

χ<br />

χ<br />

2<br />

2<br />

23<br />

I2<br />

I3<br />

( 3)<br />

2<br />

( 3)<br />

2<br />

12<br />

I2<br />

I1<br />

⎡ ⎛<br />

⎢1<br />

+ ⎜<br />

⎢ ⎜<br />

⎢⎣<br />

⎝<br />

⎡ ⎛<br />

⎢1<br />

+ ⎜<br />

⎢ ⎜<br />

⎢⎣<br />

⎝<br />

χ<br />

χ<br />

χ<br />

χ<br />

( 5)<br />

12<br />

( 3)<br />

23<br />

( 5)<br />

23<br />

( 3)<br />

12<br />

( 3) ( 5)<br />

α = φ − e ξ = ( θ − ϕ)<br />

23<br />

φ12<br />

R<br />

2<br />

⎞<br />

⎟ ⎛ I1<br />

I2<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎠ ⎝ I3<br />

2<br />

⎞<br />

⎟ ⎛ I3<br />

I2<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎠ ⎝ I1<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

2<br />

2<br />

⎛ I1<br />

I<br />

+ 2<br />

⎜<br />

⎝ I3<br />

2<br />

⎛ I3<br />

I<br />

+ 2<br />

⎜<br />

⎝ I1<br />

2<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

χ<br />

χ<br />

( 5)<br />

12<br />

cos( α + ξ)<br />

( 3) χ<br />

χ<br />

23<br />

( 5)<br />

23<br />

cos( α + ξ)<br />

( 3) 12<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥⎦<br />

, (A1b.7)<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥⎦<br />

2 . Na equação (A1b.7) podemos desprezar o segundo<br />

membro do termo à direita, pois tipicamente o valor de |χ (5) | é pelo menos duas ordens<br />

de grandeza menor do que o valor de |χ (3) |. O resultado é que a intensidade dos sinais<br />

é modulada com a variação do atraso relativo entre os feixes. Ajustando-se<br />

adequadamente as intensidades dos feixes é possível obter uma modulação de 100%<br />

no sinal e com isto encontrar o valor da razão entre |χ (3) | e |χ (5) | do material.<br />

O experimento foi realizado com um laser de corante operando em torno de<br />

580 nm em um vidro dopado com semicondutor (Corning 2-73), e o resultado para o<br />

sinal na direção A é mostrado na figura A1-6. Todas as tentativas foram feitas para se<br />

conseguir uma visibilidade de 100% na modulação do sinal, mas em vão. Percebemos<br />

posteriormente que a componente constante do sinal, que impedia a visibilidade chegar<br />

a 100%, pode ser entendida considerando-se a refllexão especular de Bragg do feixe 1,<br />

que também vai na direção A. Desta forma, além de a técnica poder fornecer o valor<br />

da razão entre os módulos de χ (5) e χ (3) , também pode informar a eficiência de difração<br />

da grade através da medida da componente constante do sinal. As medidas feitas à<br />

169


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

época da realização deste experimento estão começando a ser novamente analisadas<br />

levando-se em conta a contribuição da reflexão do campo 1 na direção A.<br />

Intensidade do sinal (unidades arbitrárias)<br />

0.08<br />

0.07<br />

0.06<br />

0.05<br />

0.04<br />

0.03<br />

0.02<br />

0.01<br />

0 2 4 6 8 10 12<br />

Atraso τ (fs)<br />

Figura A1-6: Modulação do sinal na direção A. A freqüência<br />

de oscilação é a do campo óptico e a visibilidade das franjas<br />

é em torno de 55%.<br />

A2 – Detalhamento de alguns cálculos<br />

a) Aproximação de onda girante.<br />

Na seção 1.2c foi desenvolvida a abordagem quântica da polarização linear,<br />

onde usou-se a equação de Liouville para descrever a dinâmica da matriz densidade.<br />

As equações encontradas para a evolução dos elementos de coerência e de população<br />

com relaxação foram<br />

dρ<br />

dt<br />

21<br />

d(<br />

ρ<br />

11<br />

iµ<br />

= E t<br />

h<br />

− ρ<br />

dt<br />

22<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

1 ⎞<br />

T ⎟ ρ<br />

2 ⎠<br />

()( ρ11<br />

− ρ22<br />

) − ⎜iω<br />

⎟<br />

0<br />

+<br />

21<br />

) 2iµ<br />

= E t<br />

h<br />

∗<br />

()( ρ − ρ )<br />

21<br />

21<br />

−<br />

; (A2a.1)<br />

( ρ − ρ ) − ( ρ − ρ )<br />

11<br />

22<br />

T<br />

1<br />

11<br />

22<br />

0<br />

. (A2a.2)<br />

170


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

A aproximação de onda girante tem como objetivo eliminar termos oscilantes de<br />

freqüências mais altas (±2ω), embora isto nos leve à perda de informação sobre termos<br />

da polarização não linear que podem ser úteis em algumas aplicações em<br />

espectroscopia não linear [Al75], [Bu90]. Para isto, supomos uma dependência<br />

harmônica dos campos de perturbação com o tempo<br />

E0<br />

E(t) = E0 cos( ωt)<br />

= [ exp( iωt) + exp( − iωt)<br />

]. (A2a.3)<br />

2<br />

Da equação (A2a.1), vemos que se E(t) = 0, então a solução da equação pode<br />

ser escrita como ρ 21 (t) = ρ 21 (0)exp[-(iω 0 +1/T 2 )t]. Se ω ≈ ω 0 , definimos variáveis lentas<br />

do tempo ρ () t e ρ ( t)<br />

como<br />

Como<br />

ρ<br />

ρ<br />

21<br />

12<br />

ˆ 21<br />

ˆ 12<br />

() t = ρˆ<br />

21() t exp( − iωt)<br />

() t = ρˆ<br />

() t exp( iωt)<br />

∗<br />

ρ = ρ21<br />

12<br />

12<br />

, então<br />

∗<br />

ρˆ<br />

12<br />

= ρˆ<br />

21<br />

relações (A2a.1) e (A2a.2). De (A2a.1),<br />

. (A2a.4)<br />

. Usando estas equações, podemos reescrever as<br />

d ⎛ 1 ⎞<br />

iµ<br />

E<br />

0<br />

0<br />

21<br />

11 22<br />

dt<br />

⎜ T ⎟<br />

⎝<br />

2 ⎠<br />

h 2<br />

[ ρˆ<br />

() t exp( −iωt)<br />

] = −⎜iω<br />

+ ⎟[ ρˆ<br />

() t exp( −iωt)<br />

] + ( ρ − ρ ) [ exp( iωt) + exp( − i t)<br />

]<br />

21<br />

ω<br />

Fazendo as derivadas temporais e eliminando todos os termos com dependências do<br />

tipo exp(±2iωt) (rapidamente oscilantes), chegamos trivialmente a<br />

dˆ ρ21<br />

dt<br />

() t<br />

⎡<br />

= ⎢i<br />

⎣<br />

( ω − ω ) − ˆ () t + E ( ρ − ρ )<br />

0<br />

1 ⎤<br />

⎥<br />

T<br />

ρ<br />

2 ⎦<br />

21<br />

iµ<br />

2h<br />

que é exatamente a equação (1.32). Agora, de (A2a.2),<br />

d( ρ<br />

0<br />

11<br />

[ exp( iωt) + exp( − iωt)<br />

]<br />

∗<br />

[ ρˆ<br />

() t exp( − iωt) − ρˆ<br />

() t exp( iωt)<br />

]<br />

21<br />

11<br />

− ρ<br />

dt<br />

22<br />

) 2iµ<br />

E0<br />

=<br />

h 2<br />

21<br />

−<br />

22<br />

( ρ − ρ ) − ( ρ − ρ )<br />

11<br />

22<br />

×<br />

T<br />

1<br />

, (A2a.5)<br />

Multiplicando a equação acima por exp(iωt) e eliminando os termos oscilantes em altas<br />

freqüências, obtemos<br />

d(<br />

ρ<br />

11<br />

− ρ<br />

dt<br />

22<br />

) iµ<br />

= E<br />

h<br />

que é a equação (1.33).<br />

0<br />

∗<br />

[ ρˆ<br />

() t − ρˆ<br />

() t ]<br />

21<br />

21<br />

−<br />

11<br />

22<br />

( ρ − ρ ) − ( ρ − ρ )<br />

11<br />

22<br />

T<br />

1<br />

11<br />

22<br />

0<br />

0<br />

.<br />

, (A2a.6)<br />

.<br />

171


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

b) Método perturbativo da matriz densidade em forma integral.<br />

Vamos agora calcular os termos não diagonais em terceira ordem no campo<br />

para um sistema de dois níveis eletrônicos, conforme figura A2-1. Estes termos não<br />

diagonais estão relacionados à polarização não linear de terceira ordem através de<br />

r r r<br />

P = N er = NTr ρer<br />

= NTr ρµ = N ρ µ + ρ µ + ρ µ + ρ µ = µ ρ + ρ .<br />

( ) ( ) ( ) ( )<br />

12 21 21 12 11 11 22 22<br />

N<br />

12<br />

21<br />

E 2<br />

2<br />

r<br />

( )<br />

E<br />

( r<br />

)<br />

2 k 2<br />

r<br />

r<br />

( )<br />

E k 2′<br />

2′<br />

Figura A2-1: Sistema de dois níveis considerado para<br />

cálculo dos elementos não diagonais da matriz<br />

densidade em terceira ordem. Um exemplo de<br />

seqüência de ação dos campos incidentes é dado.<br />

E 1<br />

E r k r ∗<br />

1 1<br />

1<br />

Rescrevemos as equações fundamentais do apêndice A2a com uma notação<br />

mais compacta:<br />

∂ρ<br />

∂t<br />

∂ρ<br />

∂t<br />

21<br />

D<br />

i<br />

= − H<br />

h<br />

2i<br />

= −<br />

h<br />

21<br />

ρ<br />

D<br />

⎛<br />

−<br />

⎜iω<br />

⎝<br />

onde ρ<br />

D<br />

= ρ11<br />

− ρ22<br />

e<br />

r<br />

= −µ Ê r,t exp( −iωt)<br />

− µ<br />

0<br />

+<br />

1<br />

T<br />

2<br />

⎞<br />

⎟ ρ<br />

⎠<br />

1<br />

(0)<br />

( H ρ − ρ H ) − [ ρ − ρ ]<br />

12<br />

21<br />

12<br />

21<br />

T<br />

r<br />

21<br />

1<br />

; (A2b.1)<br />

D<br />

D<br />

, (A2b.2)<br />

∗ ∗<br />

∗<br />

( ) Ê ( r,t) exp(iωt)<br />

= −µ [Ê( r,t) exp( −iωt)<br />

+ Ê ( r,t) exp(i t)]<br />

H21 21<br />

21<br />

ω<br />

Nesta equação, Ê( r,t<br />

r )<br />

onda girante na equação (A2b.1), obtemos<br />

r<br />

é o campo total incidente no sistema. Usando a aproximação de<br />

[ r<br />

r ∗<br />

⎛ 1 ⎞<br />

] ρ − ⎜iω<br />

+ ⎟ˆ<br />

exp( − i t)<br />

∂<br />

iµ<br />

[ ρˆ<br />

21<br />

exp( − iωt)<br />

] = Ê( r,t) exp( − iωt) + Ê ( r,t) exp( iωt)<br />

D 0<br />

21<br />

ω<br />

t<br />

⎜ T ⎟ ρ<br />

.<br />

∂<br />

h<br />

⎝<br />

2 ⎠<br />

Fazendo as derivações temporais e desprezando os termos oscilantes em freqüências<br />

2ω, chega-se a<br />

∂ρˆ<br />

21<br />

⎛ 1 ⎞ iµ<br />

i ˆ 21<br />

= Ê( r,t) ρ D<br />

t<br />

⎜<br />

T<br />

⎟ ρ r<br />

+ ∆ω +<br />

, (A2b.3)<br />

∂ ⎝<br />

2 ⎠ h<br />

em que ∆ω=ω 0 -ω é a dessintonia entre a freqüência de Bohr do sistema e a freqüência<br />

dos campos incidentes.<br />

r<br />

.<br />

172


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Considerando ordens perturbativas idênticas em H 21 na equação (A2b.3),<br />

obtemos:<br />

( n)<br />

∂ρˆ<br />

21<br />

⎛ 1 ⎞ ( n) iµ<br />

ˆ ( ) ( n −<br />

i<br />

1)<br />

21<br />

= Ê r,t ρD<br />

t<br />

⎜<br />

T<br />

⎟ ρ r<br />

+ ∆ω +<br />

. (A2b.4)<br />

∂ ⎝<br />

2 ⎠ h<br />

A equação (A2b.4) pode ser resolvida considerando-se que pode ser escrita na<br />

forma ρ& + a ρ = F()<br />

t . Desta forma, se supusermos que ρ = gexp( − at)<br />

, então<br />

ρ & = g&<br />

exp( − at) − agexp( − at)<br />

. Colocando na primeira equação, obtemos g = F() t exp( at)<br />

Após a integração desta equação, encontramos um fator integrante para ρ& + a ρ = F( t)<br />

:<br />

g<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

() t F( t1) exp( at1) dt1<br />

& .<br />

= . (A2b.5)<br />

Como ρ () t = g() t exp( − at)<br />

, obtemos<br />

t<br />

ρˆ 1<br />

iµ<br />

h<br />

( n )<br />

() ( ) ( n−1<br />

)<br />

21<br />

t = ∫ Ê r,t1<br />

ρD<br />

( t1) exp(at1)dt<br />

exp( − at)<br />

−∞<br />

r<br />

. Daí,<br />

t<br />

( n ) iµ<br />

r<br />

() ( ) ( ) ⎡<br />

n 1<br />

1 ⎤<br />

−<br />

⎛ ⎞<br />

ρˆ<br />

21<br />

t = ∫Ê r,t1<br />

ρD<br />

( t1) exp⎢−<br />

⎜i∆ω + ( t − t1) ⎥dt1<br />

⎣ T<br />

⎟ . (A2b.6)<br />

h<br />

−∞<br />

⎝<br />

2 ⎠ ⎦<br />

O mesmo procedimento pode ser feito para os elementos diagonais. Usando a<br />

aproximação de onda girante na equação (A2b.2),<br />

∂ρ<br />

∂t<br />

ρˆ<br />

12<br />

D<br />

2iµ<br />

=<br />

h<br />

exp i<br />

r<br />

∗<br />

r<br />

{[ Ê( r,t) exp( − iωt) + Ê ( r,t) exp( iωt)<br />

] ρˆ<br />

exp( − iωt)<br />

r<br />

r<br />

1<br />

( 0)<br />

[ ]} − ρ − ρ<br />

∗<br />

( ωt) Ê( r,t) exp( − iωt) + Ê ( r,t) exp( iωt)<br />

Eliminando os termos rapidamente oscilantes em ±2ω, obtemos<br />

r<br />

1<br />

( 0)<br />

[ Ê ( r,t) ρˆ<br />

− ρˆ<br />

Ê( r,t)<br />

] − ρ − ρ<br />

∂ρD<br />

2iµ<br />

∗<br />

r<br />

=<br />

21 12<br />

∂t<br />

h<br />

T<br />

1<br />

( )<br />

Tomando os termos em mesma ordem em H 21 , encontramos que<br />

( n)<br />

∂ρD<br />

∂t<br />

que pode ser reescrita como<br />

( n)<br />

∂ρD<br />

∂t<br />

+<br />

1<br />

T<br />

1<br />

ρ<br />

2iµ<br />

=<br />

h<br />

D<br />

r<br />

( ) ( n−1<br />

[ ) ∗<br />

r<br />

( ) ( n−1<br />

) 1 ( n)<br />

− Ê r,t ρˆ<br />

+ Ê r,t ρˆ<br />

] − ρ<br />

( n) ( ) ( n−1<br />

) ∗<br />

( ) ( n−1<br />

)<br />

D<br />

2iµ<br />

=<br />

h<br />

12<br />

r<br />

r<br />

[ − Ê r,t ρˆ<br />

+ Ê r,t ρˆ<br />

]<br />

12<br />

21<br />

D<br />

21<br />

T<br />

1<br />

( )<br />

D<br />

D<br />

−<br />

.<br />

. (A2b.7)<br />

21<br />

T<br />

1<br />

D<br />

,<br />

. (A2b.8)<br />

173


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Tal como no caso para os elementos não diagonais, podemos ver que a<br />

equação (A2b.8) pode ser escrita na forma ρ& + a ρ = F( t)<br />

. Portanto, se procedermos<br />

analogamente ao caso anterior, encontraremos um fator integrante idêntico para esta<br />

equação. Então,<br />

ρ<br />

2iµ<br />

h<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

r<br />

r<br />

⎛ t1<br />

⎞ ⎛<br />

[ ]<br />

⎟ ⎞<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎜<br />

1 12 1<br />

1 21 1<br />

exp dt1<br />

exp<br />

t −<br />

⎝ T1<br />

⎠ ⎝ T1<br />

⎠<br />

( n )<br />

() ( ) ( n−1<br />

) ∗<br />

= − ρ ( ) + ( ) ρ<br />

( n−1<br />

t Ê r,t ˆ t Ê r,t ˆ<br />

) ( t )<br />

D<br />

o que nos leva à expressão final<br />

ρ<br />

ρˆ<br />

ρ<br />

r<br />

r<br />

⎡ 1<br />

[ ] exp − ( t − t1) dt1<br />

( n )<br />

() ( ) ( n−1<br />

) ∗<br />

( ) ( ) ( n−1<br />

t = − Ê r,t ρˆ<br />

t + Ê r,t ρˆ<br />

) ( t )<br />

D<br />

2iµ<br />

h<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

1<br />

12<br />

Sendo assim, da equação (A2b.6), vem que<br />

⎡<br />

t = ∫ dt ρ ⎢−<br />

⎜<br />

1<br />

Ê r,t1<br />

D<br />

t1<br />

exp i∆ω +<br />

h<br />

−∞<br />

⎣ ⎝ T<br />

Além disso, da equação (A2b.9),<br />

t<br />

( )<br />

() ( ) ( ) ⎤<br />

3 iµ<br />

r<br />

2<br />

⎛ 1 ⎞<br />

( ) ( ) ⎥⎦<br />

1<br />

1<br />

21<br />

1<br />

⎟ t −<br />

⎠<br />

21<br />

t1<br />

2<br />

2iµ<br />

h<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

r<br />

⎡ 1 ⎤<br />

[ ] exp − ( t − t ) ⎥⎦<br />

( 2 )<br />

( ) ( ) () 1<br />

∗<br />

= − ρ ( ) + ( ) ρ<br />

() 1<br />

t dt Ê r,t ˆ t Ê r,t ˆ ( t )<br />

D<br />

1<br />

1<br />

r<br />

2<br />

Substituindo a equação (A2b.11) em (A2b.10), temos<br />

2<br />

12<br />

( 3 )<br />

() ( ) ( ) () 1<br />

∗<br />

ρ = − ∫ ∫ − ρ ( ) + ( ) ρ<br />

() 1<br />

ˆ<br />

21<br />

t dt1Ê r,t1<br />

dt<br />

2<br />

Ê r,t<br />

2<br />

ˆ<br />

12<br />

t<br />

2<br />

Ê r,t<br />

2<br />

ˆ<br />

21( t<br />

2<br />

)<br />

2<br />

⎡<br />

exp⎢−<br />

⎣<br />

ρˆ<br />

Como<br />

1<br />

T<br />

1<br />

2µ<br />

h<br />

−∞<br />

⎤ ⎡ ⎛ 1 ⎞ ⎤<br />

( t − t ) exp − ⎜i∆ω + ⎟( t − t ) ⎥⎦<br />

1<br />

2<br />

t<br />

2<br />

⎥<br />

⎦<br />

r<br />

⎢<br />

⎣<br />

−∞<br />

⎜<br />

⎝<br />

2<br />

2<br />

21<br />

r<br />

[ ]<br />

t1 r<br />

Resta ainda substituir a expressão de<br />

r<br />

T<br />

2<br />

⎟<br />

⎠<br />

1<br />

2<br />

( 1 )<br />

( )<br />

t 12 2<br />

t<br />

(1) iµ<br />

⎛ 1 ⎞<br />

21 ⎢<br />

⎥dt<br />

h<br />

∫<br />

⎜ T ⎟<br />

−∞<br />

2<br />

⎡<br />

2<br />

( ) ( ) ( 0<br />

t<br />

) 2<br />

= Ê r,t<br />

3<br />

ρD<br />

exp − ⎜i∆ω + ⎟( t<br />

2<br />

− t<br />

3<br />

)<br />

3<br />

⎣<br />

⎝<br />

⎠<br />

⎢<br />

⎣<br />

T<br />

1<br />

⎥ ⎦<br />

⎤<br />

. (A2b9)<br />

. (A2b.10)<br />

⎢<br />

⎣<br />

T<br />

1<br />

1<br />

×<br />

2<br />

. (A2b.11)<br />

. (A2b.12)<br />

ˆρ na equação acima. De (A2b.6),<br />

⎤<br />

⎦<br />

. (A2b.13)<br />

t2<br />

() 1<br />

() 1 ∗ iµ<br />

( ) ( ) ( ) ( 0 ) ⎡ 1<br />

⎤<br />

∗<br />

r<br />

⎛ ⎞<br />

ρˆ<br />

12<br />

t<br />

2<br />

= ρˆ<br />

21<br />

t<br />

2<br />

= − ∫Ê<br />

r,t<br />

3<br />

ρD<br />

exp⎢−<br />

⎜ − i∆ω<br />

( t<br />

2<br />

− t<br />

3<br />

) ⎥dt<br />

3<br />

⎣ T<br />

⎟<br />

, (A2b.14)<br />

h<br />

−∞<br />

⎝ 2 ⎠ ⎦<br />

então, substituindo as equações (A2b.13) e (A2b.14) em (A2b.12), obtemos<br />

,<br />

174


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

ρˆ<br />

t2<br />

∫<br />

−∞<br />

ρˆ<br />

1<br />

( 3 ) ( 0) () ∫ ( ) ⎢<br />

⎜<br />

⎟<br />

21<br />

t = −2iρ<br />

D ⎜ dt1Ê r,t1<br />

exp − i∆ω + ( t − t1) ⎥ ∫dt<br />

2<br />

exp⎢−<br />

( t1<br />

− t<br />

2<br />

)<br />

dt<br />

3<br />

⎪⎧<br />

r<br />

⎨Ê r,t<br />

⎪⎩<br />

⎛ µ<br />

⎝ h<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

−∞<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

⎛ 1<br />

⎜<br />

⎝ T2<br />

⎡<br />

⎣<br />

⎛<br />

⎝<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

1 ⎞<br />

T2<br />

⎠<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

∗<br />

∗<br />

( ) Ê ( r,t ) exp − ⎜ − i∆ω⎟( t − t ) + Ê ( r,t ) Ê( r,t ) exp − ⎜ + i∆ω⎟( t − t )<br />

2<br />

r<br />

3<br />

3<br />

t<br />

r<br />

2<br />

3<br />

r<br />

⎤<br />

⎦<br />

−∞<br />

2<br />

t<br />

r<br />

3<br />

⎡<br />

⎣<br />

1<br />

T<br />

1<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

⎛ 1<br />

⎜<br />

⎝ T2<br />

A equação acima pode ser rescrita de uma forma mais conveniente como<br />

3 t t1 t2<br />

( 3 ) ( 0) ⎛ µ ⎞<br />

r r<br />

∗<br />

r<br />

21<br />

() t = −2iρ<br />

D ⎜ ⎟ ∫dt1<br />

∫dt<br />

2 ∫dt<br />

3<br />

{ Ê( r,t1) Ê( r,t<br />

2<br />

) Ê ( r,t<br />

3<br />

) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

r<br />

Ê r,t<br />

⎝ h ⎠<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

∗<br />

( ) Ê ( r,t ) Ê( r,t ) exp − i∆ω( t − t + t − t )<br />

1<br />

( )<br />

() t<br />

ˆ 3<br />

21<br />

r<br />

2<br />

r<br />

3<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

⎤<br />

⎥ ×<br />

⎦<br />

1<br />

⎡ 1<br />

⎤<br />

[ ]} exp − ( t − t ) exp − ( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

1<br />

2<br />

3<br />

(A2b.15)<br />

A equação acima é totalmente geral. Agora vamos calcular a expressão de<br />

ρ para o caso em que o campo total incidente é dado, conforme a figura A2-1, por<br />

r<br />

( ) E ~ r r r<br />

( ) ( ) E ~ r r r<br />

r,t exp ik<br />

( r,t) exp( ik<br />

) E ~ r r r<br />

Ê r,t =<br />

1<br />

1<br />

⋅ +<br />

2<br />

2<br />

⋅ +<br />

2′ ( r,t) exp( ik<br />

2′<br />

⋅<br />

). (A2b.16)<br />

O campo E ~ r<br />

1( r,t)<br />

é coerente e os demais são incoerentes. Temos que<br />

r<br />

P = Ê r,t<br />

r<br />

∗<br />

( ) Ê( r,t ) Ê ( r, t )<br />

r<br />

=<br />

[ E ~<br />

1<br />

1 2<br />

( ) ( ) E ~<br />

3<br />

r r r r r r<br />

( ) ( ) E ~ r r r<br />

( ) ( )]<br />

[ E ~<br />

1<br />

r,t1<br />

exp ik1<br />

⋅<br />

+<br />

( ) ( ) E ~<br />

2<br />

r,t1<br />

exp ik<br />

2<br />

⋅<br />

+<br />

( r,t ) exp( ik<br />

) E ~<br />

2′<br />

r,t1<br />

exp ik<br />

2′<br />

⋅<br />

×<br />

r r r r r r r r r<br />

r,t exp ik<br />

( r,t ) exp( ik<br />

)]<br />

[ E ~<br />

1 2<br />

1<br />

⋅ +<br />

2<br />

( r,t ) exp( ik<br />

) E ~<br />

2<br />

2<br />

⋅ +<br />

2′<br />

( r,t ) exp( ik<br />

) E ~<br />

2<br />

2′<br />

⋅ ×<br />

r r r r r r r r<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

r<br />

1 3<br />

−<br />

1<br />

⋅ +<br />

2 3<br />

−<br />

2<br />

⋅ +<br />

2′<br />

( r,t<br />

3<br />

) exp( − ik<br />

2′<br />

⋅<br />

)]<br />

r r r r<br />

A parte de P 1 que gera uma onda na direção k<br />

s<br />

= k<br />

2<br />

+ k<br />

2′ − k1<br />

é dada por dois<br />

dos 9 termos do produto acima, cuja expressão é:<br />

E ~ r<br />

( ) E ~ r<br />

( ) E ~ r<br />

( r,t ) E ~ r<br />

P r,t r,t<br />

( r,t ) E ~ r<br />

∗<br />

r<br />

r<br />

=<br />

′ + ′<br />

r,t exp ik ⋅<br />

. (A2b.17)<br />

1S<br />

[<br />

2 1 2 2 2 1 2 2<br />

]<br />

1( 3<br />

) (<br />

s<br />

)<br />

Temos ainda<br />

r<br />

∗<br />

r r<br />

P ( ) ( ) ( )<br />

E ~<br />

2<br />

= Ê r,t1<br />

Ê r,t<br />

2<br />

Ê r, t<br />

E ~<br />

3<br />

=<br />

r r r r r r<br />

E ~ r<br />

r,t exp ik<br />

r,t exp ik<br />

r,t<br />

E ~<br />

1 1<br />

1<br />

⋅ +<br />

2<br />

r,t exp ik<br />

E ~<br />

1<br />

2<br />

⋅ +<br />

2′<br />

r,t exp ik<br />

E ~<br />

1<br />

r<br />

r<br />

∗<br />

r<br />

r<br />

∗<br />

r<br />

r<br />

∗<br />

E ~<br />

1 2<br />

−<br />

1<br />

⋅ +<br />

r,t exp ik<br />

E ~<br />

2 2<br />

−<br />

2<br />

⋅ +<br />

r,t exp ik<br />

E ~<br />

2′<br />

r r r r r r r<br />

⋅ +<br />

⋅ + r,t<br />

r r<br />

[ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) exp( ik<br />

2′<br />

⋅<br />

)]<br />

×<br />

r r r<br />

[ ( ) ( ) ( ) ( ) ( r,t<br />

2<br />

) exp( − ik<br />

2′<br />

⋅<br />

)]<br />

r r<br />

[<br />

1( 3<br />

) (<br />

1<br />

)<br />

2<br />

(<br />

3<br />

) (<br />

2<br />

)<br />

2′<br />

(<br />

3<br />

) exp( ik<br />

2′<br />

⋅<br />

)]<br />

T<br />

1<br />

1<br />

2<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

⎢<br />

⎣<br />

T<br />

2<br />

.<br />

1<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

.<br />

×<br />

2<br />

+<br />

2<br />

3<br />

3<br />

⎤⎪⎫<br />

⎥⎬<br />

⎦⎪⎭<br />

.<br />

175


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Da mesma forma que no caso anterior, a parte de P 2 que gera uma onda na<br />

r r r r<br />

direção k<br />

s<br />

= k<br />

2<br />

+ k ' − k<br />

2 1<br />

é dada por dois dos 9 termos do produto acima:<br />

E ~ r<br />

( ) E ~ r<br />

( ) E ~ r<br />

( r,t ) E ~ r<br />

P r,t r,t<br />

( r,t ) E ~ r<br />

∗<br />

r<br />

r<br />

=<br />

′ + ′<br />

r,t exp ik ⋅<br />

. (A2b.18)<br />

2S<br />

r<br />

[<br />

2 1 2 3 2 1 2 3<br />

]<br />

1( 2<br />

) (<br />

s<br />

)<br />

Substituindo as equações (A2b.17) e (A2b.18) em (A2b.15):<br />

1 2<br />

( 3) ( )<br />

( 0) ρˆ<br />

( ) ( ) ⎥ ×<br />

21<br />

k<br />

s,t<br />

= −2iρ<br />

D ⎜ ⎟ exp ik<br />

s<br />

⋅ r ∫dt1<br />

∫dt<br />

2 ∫dt<br />

3<br />

exp⎢−<br />

t1<br />

− t<br />

2<br />

⎝ h ⎠<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1 ⎦<br />

∗<br />

{[ E ~ r<br />

2<br />

(<br />

1) E ~ r<br />

2′<br />

(<br />

2<br />

) + E ~ r<br />

2′<br />

(<br />

1) E ~ r<br />

2<br />

(<br />

2<br />

)] E ~ r<br />

r,t r,t r,t r,t<br />

1( r,t<br />

3<br />

) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

∗<br />

[ E ~ r<br />

2<br />

(<br />

1) E ~ r<br />

r,t<br />

2′<br />

( r,t<br />

3<br />

) + E ~ r<br />

2′<br />

( r,t1) E ~ r<br />

2<br />

( r,t<br />

3<br />

)] E ~ r<br />

1( r,t<br />

2<br />

) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

+ t<br />

2<br />

− t<br />

3<br />

)]}<br />

⎡<br />

exp⎢−<br />

⎣<br />

1<br />

T<br />

2<br />

⎛ µ ⎞<br />

⎤<br />

( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

1<br />

2<br />

3<br />

3<br />

r<br />

r<br />

t t t<br />

Notemos, entretanto, que o campo E ~ 1( r,t)<br />

r r<br />

. Além disto, o campo ( r,t)<br />

r<br />

⎡<br />

1<br />

⎤<br />

+<br />

. (A2b.19)<br />

×<br />

é coerente, podendo ser escrito<br />

simplesmente como E ~ 1()<br />

r<br />

E ~ 2′ sofre um atraso τ em relação a<br />

E ~ r<br />

2<br />

( r,t)<br />

, ou seja, devemos escrever E ~ r<br />

′ ( ) = E ~ r<br />

2<br />

r,t<br />

2′<br />

( r, t − τ)<br />

. Assim, rescrevemos a<br />

equação (A2b.19), deixando de explicitar a dependência dos campos com a posição de<br />

observação r r , como<br />

r<br />

1 2<br />

( 3) ( )<br />

( 0) k ,t, τ = −2iρ<br />

exp( ik ⋅ r ) dt dt dt exp − ( t − t )<br />

ρˆ<br />

21 s<br />

D ⎜ ⎟<br />

s ∫ 1 ∫ 2 ∫ 3 ⎢ 1<br />

⎝ h ⎠<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1<br />

∗<br />

{[ E2<br />

( t1) E2′<br />

( t<br />

2<br />

− τ) + E2′<br />

( t1<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

2<br />

)] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

∗<br />

[ E2<br />

( t1) E2′<br />

( t<br />

3<br />

− τ) + E2′<br />

( t1<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

3<br />

)] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t1<br />

+ t<br />

2<br />

− t<br />

3<br />

)]}<br />

⎡<br />

⎤<br />

exp − ( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

⎢<br />

⎣<br />

1<br />

T<br />

2<br />

1<br />

2<br />

⎛ µ ⎞<br />

3<br />

3<br />

r<br />

r<br />

t t t<br />

⎡<br />

1<br />

2<br />

+<br />

×<br />

⎤<br />

⎥ ×<br />

⎦<br />

. (A2b.20)<br />

Na expressão acima, E i (i=1, 2, 2 ’ ) representam as partes dos campos E ~ i<br />

que<br />

contêm as suas propriedades estatísticas. Como os feixes nas direções k r r<br />

2<br />

e k 2′<br />

são<br />

gêmeos, isto é, oriundos da mesma cavidade e obtidos através da divisão de um único<br />

feixe, têm idênticas propriedades estatísticas. Assim, ( t) E ( t)<br />

E2 =<br />

2<br />

′ . Além disto,<br />

podemos trocar os papéis das variáveis t 1 e t 3 e reescrever a equação (A2b.20) como<br />

176


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

r<br />

3 2<br />

( 3) ( )<br />

( 0) k ,t, τ = −2iρ<br />

exp( ik ⋅ r ) dt dt dt exp − ( t − t )<br />

ρˆ<br />

21 s<br />

D ⎜ ⎟<br />

s ∫ 3 ∫ 2 ∫ 1 ⎢ 3<br />

⎝ h ⎠<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1<br />

∗<br />

{[ E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t<br />

2<br />

− τ) + E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

2<br />

)] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

+ t1)<br />

]<br />

∗<br />

[ E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t1<br />

− τ) + E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t1)<br />

] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

+ t<br />

2<br />

− t1)<br />

]}<br />

⎡<br />

⎤<br />

exp − ( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

⎢<br />

⎣<br />

P<br />

1<br />

T<br />

2<br />

3<br />

⎛ µ ⎞<br />

2<br />

1<br />

3<br />

r<br />

r<br />

t t t<br />

A polarização macroscópica de terceira ordem é dada por<br />

( 3 ) ( 3<br />

() t NTr µρ )<br />

() t<br />

( 3<br />

[ ] ) ( 3<br />

= Nµ [ ρ ( t) + ρ )<br />

( t)<br />

]<br />

12<br />

21<br />

⎡<br />

1<br />

×<br />

2<br />

+<br />

⎤<br />

⎥ ×<br />

⎦<br />

. (A2b.21)<br />

= , (A2b.22)<br />

onde N é a densidade de átomos. Podemos ainda incluir efeitos de alargamento não<br />

homogêneo fazendo uma média ponderada sobre a distribuição de freqüências de<br />

transição do sistema:<br />

Pˆ<br />

r<br />

+∞<br />

( 3 ) ( 3<br />

( r,t) = N<br />

)<br />

∫ µ 12ρˆ<br />

21<br />

( r,t, ω0<br />

) g( ω0<br />

) dω0<br />

0<br />

r<br />

, (A2b.23)<br />

em que g(ω 0 ) é a função de distribuição de freqüências de transição ω 0 do material, que<br />

caracteriza o grau de alargamento não homogêneo. Por exemplo, se g(ω 0 ) = δ(ω-ω 0 ), o<br />

sistema é homogeneamente alargado. A não homogeneidade pode ser incorporada<br />

considerando-se, por exemplo, a função de distribuição da freqüência de transição<br />

dada por uma Gaussiana,<br />

( ω − ω)<br />

2<br />

1 ⎡ ⎤<br />

0<br />

g ( ω0 ) = exp⎢−<br />

2 ⎥ , (A2b.24)<br />

πδω ⎢⎣<br />

δω ⎥⎦<br />

onde ω 0 é a freqüência central da distribuição e δω é a sua largura característica, isto é,<br />

o chamado alargamento não homogêneo.<br />

Finalmente, podemos escrever a expressão da polarização de terceira ordem<br />

r r r r<br />

responsável pela geração de radiação na direção k<br />

s<br />

= k<br />

2<br />

+ k<br />

2′ − k1<br />

como<br />

3 2<br />

( 3<br />

P )<br />

( t, τ) ∝ exp[ − iω( t − τ)<br />

] ∫dt<br />

( ) ⎥ ×<br />

3 ∫dt<br />

2 ∫dt1<br />

exp⎢−<br />

t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

⎣ T<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1 ⎦<br />

∗<br />

{[ E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

2<br />

) + E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t<br />

2<br />

− τ)<br />

] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

− t<br />

2<br />

+ t1) − i( ω2<br />

− ω1)<br />

t1]<br />

∗<br />

[ E2<br />

( t<br />

3<br />

− τ) E2<br />

( t1) + E2<br />

( t<br />

3<br />

) E2<br />

( t1<br />

− τ)<br />

] E1<br />

exp[ − i∆ω( t − t<br />

3<br />

+ t<br />

2<br />

− t1) − i( ω2<br />

− ω1)<br />

t<br />

2<br />

]}<br />

⎡<br />

⎤<br />

exp − ( t − t + t − t ) ⎥⎦<br />

⎢<br />

⎣<br />

1<br />

T<br />

2<br />

3<br />

2<br />

1<br />

t t t<br />

⎡<br />

1<br />

⎤<br />

+<br />

.(A2b.25)<br />

×<br />

177


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

c) Coeficiente de correlação ρ.<br />

Na seção 2.4 foi introduzido o conceito de coeficiente de correlação ρ, definido<br />

como sendo a razão entre a covariância C GH e o produto dos desvios padrão σ G e σ H :<br />

C GH<br />

ρ = . (A2c.1)<br />

σ σ<br />

G<br />

H<br />

Demonstraremos aqui que o coeficiente de correlação ρ é limitado entre 0 e 1. Da<br />

desigualdade de Schwartz, que diz que para quaisquer funções, reais ou complexas,<br />

f(x,y) e g(x,y), temos<br />

+∞ +∞<br />

+∞ +∞<br />

+∞ +∞<br />

2<br />

∫∫f( x,y) g( x,y) dx dy ≤ ∫∫f( x,y) dx dy ⋅ ∫∫g( x,y)<br />

−∞ −∞<br />

2<br />

−∞ −∞<br />

−∞ −∞<br />

∗<br />

em que a igualdade só se dá caso g( x,y) αf<br />

( x,y)<br />

e f * é a função conjugada complexa de f. Escolhendo-se<br />

f<br />

( x,y) = ( x − x) p<br />

XY<br />

( x,y)<br />

( x,y) = ( y − y) p ( x,y)<br />

g<br />

XY<br />

2<br />

dx dy , (A2c.2)<br />

= , onde α é uma constante complexa<br />

, (A2c.3)<br />

obtemos, substituindo a equação (A2c.3) na equação (A2c.2),<br />

2<br />

+∞ +∞<br />

+∞ +∞<br />

+∞ +∞<br />

2<br />

2<br />

∫∫( x − x) ⋅(y<br />

− y)p<br />

XY<br />

( x,y) dx dy ≤ ∫∫(x<br />

− x) p<br />

XY<br />

( x,y) dx dy ⋅ ∫∫(y<br />

− y) p<br />

XY<br />

( x,y)<br />

dx dy .<br />

−∞ −∞<br />

−∞ −∞<br />

−∞ −∞<br />

(A2c.4)<br />

Na equação acima, identificamos a relação |C XY | ≤ σ X σ Y , o que demonstra que,<br />

de (A2c.1), 0 ≤ |ρ| ≤ 1.<br />

d) Na seção 2.5a foi necessário utilizar uma relação para passar da equação<br />

(2.38) para a (2.39), que mostramos a seguir.<br />

d<br />

de<br />

f(e)<br />

∫<br />

−∞<br />

p<br />

df<br />

( g) dg pG[ f( e)<br />

] de<br />

G<br />

=<br />

, (A2d.1)<br />

que é uma relação geral que não será demonstrada.<br />

Ainda nesta seção 2.5a, mencionamos que o fato de a equação (2.40)<br />

expressar uma convolução de p G e de p H poderia ser demonstrado usando-se a<br />

definição de função característica. Pela definição (2.31),<br />

178


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

( ) = exp( iωe) = exp[ iω( g h)<br />

]<br />

M E<br />

ω + . (A2d.2)<br />

Como G e H são processos estatisticamente independentes, a média em (A2d.2) pode<br />

ser escrita como um produto de duas médias:<br />

E<br />

( ω) = exp( iωg) ⋅ exp( iωh) = M ( ω) ⋅M<br />

( ω)<br />

M . (A2d.3)<br />

G<br />

Assim, a função característica de E é o produto das funções características de<br />

G e H. Encontra-se p E (e) fazendo-se a transformada de Fourier inversa de M E (ω).<br />

Entretanto, a transformada de Fourier inversa do produto de duas funções é a<br />

convolução das transformadas de Fourier inversas de cada uma delas. Este resultado<br />

mostra a versatilidade que propicia o conceito de funções características.<br />

Um outro exemplo desta versatilidade é a demonstração, não rigorosa, do<br />

teorema do limite central, abordado na seção 2.5b. Sejam G 1 , G 2 , ..., G n variáveis<br />

aleatórias estatisticamente independentes com distribuições de probabilidade<br />

H<br />

arbitrárias, médias<br />

definida por<br />

g e variâncias<br />

1,g2,<br />

..., gn<br />

σ<br />

2 2<br />

1<br />

σ2,<br />

...,<br />

, σ<br />

2<br />

n<br />

. Seja a variável aleatória E<br />

n<br />

1 G −<br />

= ∑<br />

i<br />

g<br />

E i<br />

. (A2d.4)<br />

n<br />

i= 1 σi<br />

O valor médio de E é zero, para todo n. O teorema do limite central assegura que à<br />

medida em que o número n de variáveis aleatórias tende para infinito, a função de<br />

densidade de probabilidade p E (e) tende a uma Gaussiana, isto é,<br />

lim p<br />

1<br />

⎛ e −<br />

( e) = exp<br />

⎜<br />

2π<br />

⎟ ⎝ ⎠<br />

E<br />

n→∞<br />

2<br />

2<br />

⎞<br />

, (A2d.5)<br />

2<br />

desde que exista um número positivo z tal que σ > z 0 para todo i. Seja M i (ω) a<br />

i<br />

i<br />

i<br />

><br />

função característica da variável aleatória G − g . Consideremos que todas as funções<br />

características (para todos os i) existam. Da equação (A2d.3), a função característica<br />

de E é<br />

n ⎛ ⎞<br />

( ) ∏<br />

⎜<br />

ω<br />

M ⎟<br />

E<br />

ω = Mi<br />

. (A2d.6)<br />

i=<br />

1 ⎝ nσi<br />

⎠<br />

Mas, da condição imposta sobre z, os desvios padrão σ i têm um limite inferior.<br />

Portanto, para qualquer ω dado é sempre possível encontrar um n grande o suficiente<br />

179


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

de forma que o argumento de M i é muito pequeno. Assim, podemos escrever, de<br />

acordo com a equação (2.33),<br />

⎛<br />

M ⎜<br />

i<br />

⎝<br />

ω<br />

nσ<br />

i<br />

⎞<br />

2<br />

⎟<br />

ω<br />

≅ 1−<br />

, (A2d.7)<br />

⎠ 2n<br />

pois g i<br />

= 0 . Assim, para n suficientemente grande, a função característica de E<br />

comporta-se como<br />

n<br />

n<br />

2<br />

2<br />

⎛ ω ⎞ ⎛ ω ⎞<br />

ME<br />

( ω)<br />

≅ ∏<br />

⎜1−<br />

= 1<br />

i 1 2n<br />

⎟<br />

⎜ −<br />

2n<br />

⎟<br />

= ⎝ ⎠ ⎝ ⎠<br />

. (A2d.8)<br />

Tomando o limite n → ∞,<br />

limM<br />

⎛<br />

ω<br />

( ω) = lim<br />

⎜1−<br />

⎟ = exp<br />

⎜−<br />

⎟ n→∞<br />

⎝ 2n ⎠ ⎝ ⎠<br />

→ E<br />

n ∞<br />

2<br />

A transformada de Fourier de (A2d.9) dá<br />

lim p<br />

1<br />

( ω) = exp<br />

⎜<br />

2π<br />

⎟ ⎝ ⎠<br />

2<br />

⎞<br />

n<br />

⎛ e −<br />

E<br />

n→∞<br />

2<br />

2<br />

⎛<br />

ω<br />

2<br />

⎞<br />

. (A2d.9)<br />

⎞<br />

. (A2d.10)<br />

Desta forma, a função de densidade de probabilidade de E é assintoticamente<br />

Gaussiana.<br />

e) Dedução da equação (3.16).<br />

A partir da expressão para as coerências em terceira ordem obtida usando-se o<br />

método perturbativo da matriz densidade, obtemos a expressão para a polarização não<br />

r r r<br />

linear de terceira ordem responsável pela geração do sinal na direção k<br />

4<br />

= 2k<br />

2<br />

− k1<br />

[Mo84]:<br />

P<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

E<br />

∞<br />

∞<br />

4<br />

( 3 ) r<br />

( 3<br />

( ) ( ) ) r<br />

( 0) µ r r<br />

r,t, τ = N dω<br />

g ω µ ρˆ<br />

( r,t, ω ) = −2iρ<br />

N dω<br />

g( ω ) exp[ i( k ⋅<br />

− ωτ)<br />

]<br />

dt<br />

∗<br />

1<br />

∗<br />

{ E ( t ) E ( t ) E ( t − τ) exp[ − i( ω − ω)( t − t − t + t )] + E ( t )<br />

( t − τ) E ( t ) exp[ − i( ω − ω)( t − t + t − t )]} exp[ − γ ( t − t ) − γ ( t − t + t − t )]<br />

2<br />

t1<br />

∫<br />

1<br />

−∞<br />

Assim,<br />

dt<br />

t2<br />

∫<br />

2<br />

−∞<br />

2<br />

dt<br />

∫<br />

0<br />

3<br />

3<br />

0<br />

2<br />

1<br />

0<br />

2<br />

0<br />

ab<br />

2<br />

ba<br />

1<br />

3<br />

1<br />

0<br />

2<br />

3<br />

0<br />

∫<br />

0<br />

0<br />

1<br />

1<br />

1<br />

0<br />

h<br />

2<br />

2<br />

3<br />

3<br />

2<br />

4<br />

2<br />

1<br />

1<br />

2<br />

×<br />

3<br />

×<br />

. (A2e.1)<br />

180


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

P<br />

E<br />

1 2<br />

( 3 ) ∗<br />

( t, τ) ∝ d( ∆ω) g( ∆ω) ∫ dt1<br />

∫ dt<br />

2 ∫ dt<br />

3{ E2<br />

( t1) E2<br />

( t<br />

2<br />

) E1( t<br />

3<br />

− τ) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

2<br />

∗<br />

( t ) E ( t − τ) E ( t ) exp[ − i∆ω( t − t + t − t )]} exp[ − γ( t − t ) − Γ ( t − t + t − t )]<br />

1<br />

1<br />

∞<br />

0<br />

2<br />

2<br />

3<br />

t<br />

t<br />

t<br />

∫ +<br />

.<br />

−∞<br />

−∞<br />

−∞<br />

1<br />

2<br />

(A2e.2)<br />

Se fizermos x=t-t 1 , y=t 1 -t 2 e z=t 2 -t 3 teremos que dx=-dt 1 , dy=-dt 2 e dz=-dt 3 . Mudando-se<br />

adequadamente os limites das integrais em (A2e.2) e observando-se que<br />

e<br />

E<br />

E<br />

E<br />

E<br />

obtemos<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

∗<br />

( t1) E2<br />

( t<br />

2<br />

) E1( t<br />

3<br />

− τ) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

− t<br />

2<br />

+ t<br />

3<br />

)]<br />

=<br />

∗<br />

( t − x) E ( t − x − y) E ( t − x − y − z − τ) exp[ − i∆ω( x − z)<br />

]<br />

2<br />

1<br />

∗<br />

( t1) E1( t<br />

2<br />

− τ) E2<br />

( t<br />

3<br />

) exp[ − i∆ω( t − t1<br />

+ t<br />

2<br />

− t<br />

3<br />

)]<br />

=<br />

∗<br />

( t − x) E ( t − x − y − τ) E ( t − x − y − z) exp[ − i∆ω( x + z)<br />

]<br />

1<br />

2<br />

( 3<br />

P )<br />

( t, τ) ∝ ∫ d( ∆ω) g( ∆ω) ∫ dx∫dy∫dz exp[ − γ y − Γ( x + z)<br />

] ×<br />

0<br />

0 0 0<br />

∗<br />

{ E2<br />

( t − x) E2<br />

( t − x − y) E1( t − x − y − z − τ) exp[ − i∆ω( x − z)<br />

]<br />

∗<br />

E ( t − x) E ( t − x − y − τ) E ( t − x − y − z) exp − i∆ω( x + z)<br />

2<br />

∞<br />

1<br />

∞<br />

2<br />

∞<br />

∞<br />

3<br />

1<br />

2<br />

[ ]}<br />

1<br />

. (A2e.3)<br />

. (A2e.4)<br />

+ . (A2e.5)<br />

Temos agora que introduzir os efeitos de alargamento não homogêneo. Para<br />

isto, vamos considerar uma distribuição Gaussiana de freqüências de transição do<br />

material, cuja largura é caracterizada pela grandeza δω, dada pela equação (A2b.24):<br />

2<br />

1 ⎡<br />

( )<br />

( ω ) ⎤<br />

0<br />

− ω<br />

g ω0 = exp⎢−<br />

2 ⎥ . (A2b.24)<br />

πδω ⎢⎣<br />

δω ⎥⎦<br />

Definimos então a função de distribuição deslocada<br />

2<br />

1 ⎡ ⎛ ∆ω ⎞ ⎤<br />

g ( ∆ω)<br />

= exp⎢−<br />

⎜ ⎟ ⎥ . (A2e.6)<br />

πδω ⎢⎣<br />

⎝ δω ⎠ ⎥⎦<br />

Esta função pode ser escrita em termos da sua transformada de Fourier<br />

1<br />

g<br />

2π<br />

Assim, temos que<br />

∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( ∆ω) = F() t exp( i∆ωt)dt<br />

. (A2e.7)<br />

() t = ∫ g( ∆ω) exp( − i∆ωt) d( ∆ω) = ∫ exp⎢−<br />

⎜ + i∆ωt<br />

⎟⎥<br />

d( ∆ω)<br />

⎡<br />

⎣<br />

⎛ ∆ω<br />

⎝ δω<br />

∞<br />

∞<br />

2<br />

1<br />

2<br />

F<br />

2<br />

2π<br />

2πδω<br />

−∞<br />

−∞<br />

⎞⎤<br />

⎠⎦<br />

2<br />

3<br />

.<br />

181


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Completando o quadrado na exponencial, obtemos<br />

2<br />

⎡ ⎤<br />

∞<br />

2 ⎛ δωt<br />

⎞<br />

= ⎢⎜<br />

⎟ ⎥<br />

2πδω<br />

∫<br />

⎢⎣<br />

⎝ 2 ⎠ ⎥⎦<br />

() exp exp − + d( ∆ω)<br />

F t<br />

Fazendo a mudança de variáveis<br />

−∞<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎢⎣<br />

⎛ ∆ω<br />

⎜<br />

⎝ δω<br />

∆ ω δω +<br />

2<br />

iδωt<br />

⎞ ⎤<br />

⎟ ⎥<br />

2 ⎠ ⎥⎦<br />

. (A2e.8)<br />

i δωt<br />

2 = v , pode-se facilmente calcular a<br />

integral na equação (A2e.8), obtendo-se o valor<br />

π δω. Assim, temos que<br />

2<br />

1 ⎡⎛ δωt<br />

⎞ ⎤<br />

F () t = exp⎢⎜<br />

⎟ ⎥ . (A2e.9)<br />

2π<br />

⎢⎣<br />

⎝ 2 ⎠ ⎥⎦<br />

Substituindo a equação (A2e.9) na equação (A2e.7), obtemos<br />

∞<br />

2<br />

1 ⎛ δω 2<br />

⎞<br />

g( ∆ ω) = exp t i t dt<br />

2<br />

∫<br />

⎜ + ∆ω<br />

4<br />

⎟ . (A2e.10)<br />

π<br />

−∞ ⎝<br />

⎠<br />

Substituindo a equação acima na equação (A2e.5) obtemos o resultado desejado<br />

P<br />

[ ]<br />

( 3 ) 2<br />

( t, τ) ∝ d( ∆ω) dT exp[ βT<br />

+ i∆ωT] dx dy dz exp − γ y − Γ( x + z)<br />

∗<br />

{ E2<br />

( t − x) E2<br />

( t − x − y) E1( t − x − y − z − τ) exp[ − i∆ω( x − z)<br />

]<br />

∗<br />

E ( t − x) E ( t − x − y − τ) E ( t − x − y − z) exp − i∆ω( x + z)<br />

2<br />

∞<br />

∫<br />

0<br />

1<br />

∞<br />

∫<br />

−∞<br />

que é a própria equação (3.16).<br />

2<br />

∞<br />

∫<br />

0<br />

∞<br />

∫<br />

∞<br />

∫<br />

0 0<br />

[ ]}<br />

+<br />

×<br />

, (A2e.11)<br />

f) Exemplos de cálculo de termos constantes e dependentes de τ do sinal I(ω m )<br />

Nesta seção mostramos explicitamente o cálculo de um termo de sinal<br />

constante e um termo que depende do atraso entre os feixes do laser de banda larga.<br />

Os termos foram arbitrariamente escolhidos foram IA<br />

( ω<br />

m<br />

) e IB<br />

( ω<br />

m<br />

), respectivamente.<br />

Para obtermos a equação do sinal I( ω<br />

m<br />

) é necessário calcular todos os termos e depois<br />

disso agrupá-los todos segundo suas dependências temporais em comum.<br />

Começamos pelo termo constante, ( )<br />

I<br />

A<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

∗<br />

( ωm<br />

) ∝ E1E1<br />

∫ d( t − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

]<br />

dt<br />

exp<br />

s<br />

+∞<br />

−∞<br />

∗<br />

∗<br />

′<br />

∫ dt ′′ E2<br />

( s − τ) E2<br />

( t − τ) E ( t ′′ ) E ( t′<br />

2 2<br />

)<br />

−∞<br />

[ − γ( t − t′<br />

) − γ( s − t ′′ ) − i( ω − ω )( t′<br />

− t ′′ )]<br />

2<br />

1<br />

I ω . De (3.30) temos que<br />

A<br />

m<br />

×<br />

×<br />

. (A2f.1)<br />

182


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Fazendo δω = ω2 − ω1<br />

e introduzindo a transformada de Fourier das funções de<br />

correlação obtemos<br />

I<br />

A<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

I<br />

∗<br />

( ωm<br />

) ∝ E1E1<br />

∫ d( t − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

]<br />

dt′<br />

s<br />

∫<br />

−∞<br />

dt′′<br />

exp<br />

2Γ<br />

dq<br />

2<br />

q + Γ<br />

2<br />

+∞<br />

−∞<br />

[ − γ( t − t′<br />

) − γ( s − t ′′ ) − iδω( t′<br />

− t ′′ )]<br />

exp<br />

+∞<br />

2Γ<br />

q′<br />

+ Γ<br />

[ − iq( s − t)<br />

] ∫ dq′<br />

exp[ − iq′<br />

( t ′′ − t′<br />

)]<br />

2 2<br />

−∞<br />

×<br />

×<br />

. (A2f.2)<br />

Arranjando as exponenciais e isolando as integrais em t′ e t ′ , obtemos<br />

A<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

s<br />

∫<br />

−∞<br />

( ω )<br />

( − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

] ∫ dt′<br />

exp[ ( γ − iδω + iq′<br />

) t′<br />

]<br />

d t<br />

m<br />

dt′′<br />

exp<br />

∝ 4Γ<br />

2<br />

∗<br />

E E<br />

1<br />

+∞<br />

∫<br />

1<br />

−∞<br />

dq<br />

q<br />

2<br />

1<br />

+ Γ<br />

2<br />

−∞<br />

dq′<br />

q′<br />

1<br />

+ Γ<br />

[( γ + iδω − iq′<br />

) t ′′ ] × exp[ − γ( t + s)<br />

] exp[ iq( t − s)<br />

]<br />

+∞<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

2<br />

2<br />

×<br />

× . (A2f.3)<br />

As integrações das exponenciais são triviais. Após calculá-las e eliminar os<br />

termos exponenciais que se cancelam, chegamos a<br />

I<br />

A<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( ω )<br />

( − s)<br />

d t<br />

m<br />

∝ 4Γ<br />

2<br />

exp<br />

∗<br />

E E<br />

1<br />

+∞<br />

∫<br />

1<br />

−∞<br />

dq<br />

q<br />

2<br />

1<br />

+ Γ<br />

+∞<br />

2<br />

−∞<br />

dq′<br />

q′<br />

1<br />

+ Γ<br />

[ i( ωm<br />

− ω2<br />

+ q + q′<br />

− δω)( t − s)<br />

]<br />

( γ − iδω + iq′<br />

)( γ + iδω − iq′<br />

)<br />

∫<br />

2<br />

2<br />

×<br />

. (A2f.4)<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

Mas exp( ik x) dk = 2πδ( k)<br />

. Então ( t − s) exp[ i( ω − ω − δω + q + q′<br />

)( t − s)<br />

]<br />

( ω − ω − δω + q + q )<br />

2πδ<br />

′<br />

m 2<br />

d<br />

m 2<br />

= . Introduzir este resultado na equação (A2f.4) permite<br />

calcular facilmente uma das integrais restantes. Definindo<br />

δ ω′ = ω<br />

obtemos<br />

2<br />

+ δω − ωm<br />

+∞<br />

2 ∗<br />

dq<br />

IA ( ωm<br />

) ∝ 8πΓ<br />

E1E1<br />

∫<br />

,<br />

( q + iΓ)( q − iΓ)( q − δω′ + iΓ)( q − δω′ − iΓ)( q − δω′<br />

′ + iγ)( q − δω′′ − iγ)<br />

−∞<br />

onde introduzimos também<br />

δ ω′ ′<br />

= δω′ − δω = ω<br />

2<br />

− ωm<br />

(A2f.5)<br />

. Desta forma, vemos que o sinal é<br />

proporcional à intensidade do feixe de banda estreita e a uma integral em q. Para<br />

calcularmos esta integral é necessário utilizar o teorema do resíduo [Bu88]. Neste<br />

183


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

caso, o numerador do integrando não impõe nenhuma restrição com relação ao<br />

contorno de integração. Escolhemos então realizar a integração pelo semi-plano<br />

superior, em que encontramos pólos em i Γ , δω′<br />

+ i Γ e δω′′<br />

+ i γ . Calculando os<br />

resíduos, a integral em q do termo A é dada por<br />

⎧<br />

1<br />

I qA<br />

= π⎨<br />

+<br />

⎩ Γ δω′ ( δω′ − 2iΓ) [ δω′′ − i( Γ + γ)<br />

][ δω′′ − i( Γ − γ)<br />

]<br />

1<br />

+<br />

Γ δω′ ( δω′ + 2iΓ) [ δω + i( Γ + γ)<br />

][ δω + i( Γ − γ)<br />

]<br />

. (A2f.6)<br />

1<br />

⎬ ⎫<br />

γ[ δω − i( Γ + γ)<br />

][ δω + i( Γ − γ)<br />

][ δω′′ + i( Γ + γ)<br />

][ δω′<br />

′ − i( Γ − γ)<br />

] ⎭<br />

É fácil verificar que este termo não tem dependência alguma com τ, o que vale<br />

dizer que são realmente termos de sinal constante. Passemos agora ao termo<br />

dependente de τ, ( )<br />

I<br />

B<br />

t<br />

∫<br />

−∞<br />

I ω . De (3.30) temos que<br />

B<br />

m<br />

∗<br />

( ωm<br />

) ∝ E1E1<br />

∫ d( t − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

]<br />

dt<br />

exp<br />

s<br />

+∞<br />

−∞<br />

∗<br />

∗<br />

′<br />

∫ dt′′<br />

E2<br />

( s − τ) E ( t′<br />

) E ( t ′′<br />

2 2<br />

) E2<br />

( t − τ)<br />

−∞<br />

[ − γ( t − t′<br />

) − γ( s − t ′′ ) − i( ω − ω )( t′<br />

− t ′′ )]<br />

2<br />

1<br />

×<br />

×<br />

. (A2f.7)<br />

Fazendo , δω = ω2 − ω1<br />

introduzindo a transformada de Fourier das funções de<br />

correlação, arranjando as exponenciais e isolando as integrais em t′ e t ′ obtemos<br />

I<br />

B<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

s<br />

∫<br />

−∞<br />

( ω )<br />

( − s) exp[ i( ωm<br />

− ω2<br />

)( t − s)<br />

] ∫ dt′<br />

exp[ ( γ − iδω + iq)<br />

t′<br />

]<br />

d t<br />

m<br />

dt′′<br />

exp<br />

∝ 4Γ<br />

2<br />

∗<br />

E E<br />

1<br />

+∞<br />

∫<br />

1<br />

−∞<br />

dq<br />

q<br />

2<br />

1<br />

+ Γ<br />

+∞<br />

∫<br />

2<br />

−∞<br />

t<br />

−∞<br />

dq′<br />

q′<br />

2<br />

1<br />

+ Γ<br />

[( γ + iδω − iq′<br />

) t′′<br />

] × exp[ − γ( t + s)<br />

] exp[ − iq( s − τ)<br />

] exp[ − iq′<br />

( τ − t)<br />

]<br />

2<br />

×<br />

×<br />

. (A2f.8)<br />

Realizando as integrações em t′ e t ′ e eliminando exponenciais que se<br />

cancelam chegamos a<br />

I<br />

B<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

( ω )<br />

+∞<br />

exp( iqτ)<br />

2 2<br />

( q + Γ )( γ + iq − iδω)<br />

∫<br />

( − s) exp[ i( ω − ω − δω + q + q′<br />

)( t − s)<br />

]<br />

d t<br />

m<br />

∝ 4Γ<br />

2<br />

∗<br />

E E<br />

1<br />

1<br />

−∞<br />

m<br />

+∞<br />

∫<br />

dq<br />

2<br />

−∞<br />

dq′<br />

exp( − iq′τ)<br />

2 2<br />

( q′<br />

+ Γ )( γ − iq′<br />

+ iδω)<br />

×<br />

. (A2f.9)<br />

184


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

Notando que a integral em (t-s) nos dá uma delta que torna fácil calcular uma<br />

das integrais restantes e usando as definições de δ ω′ e δ ω′′ , vem que<br />

I<br />

B<br />

( ω )<br />

m<br />

∝ 8πΓ<br />

2<br />

E E<br />

∗<br />

1<br />

+∞<br />

1 ∫<br />

−∞<br />

exp( iqτ) exp[ − i( δω′ − q)<br />

τ]<br />

dq<br />

2 2<br />

2 2<br />

( q + Γ )( γ + iq − iδω) [( δω′ − q) + Γ ][ γ − i( δω′ − q)<br />

+ iδω]<br />

2 ∗<br />

que pode ser escrita como IB<br />

( ω<br />

m<br />

) ∝ 8πΓ<br />

E1E1IqB<br />

+∞<br />

∫<br />

−∞<br />

, com I<br />

qB<br />

sendo dada por<br />

exp[ − i( δω′ − 2q)<br />

τ]<br />

dq<br />

( q + iΓ)( q − iΓ)( q − δω′ + iΓ)( q − δω′ − iΓ)( q − δω − iγ)( q − δω′′ − iγ)<br />

, (A2f.10)<br />

I qB<br />

= −<br />

. (A2f.11)<br />

Os pólos desta função no semi-plano superior são localizados em i Γ ,<br />

δω′<br />

+ i Γ ,<br />

δω + i γ e δω′<br />

′ + i γ . Os pólos do semi plano inferior são − i Γ e δω′<br />

− i Γ . No caso da<br />

integral (A2f.11) a escolha do contorno é importante para evitar divergências no cálculo<br />

das integrais ao aplicar o lema de Jordan [Bu88]. Quem determina o contorno de<br />

integração neste caso é o atraso relativo τ entre os feixes de banda larga. Desta forma,<br />

teremos dois casos:<br />

i) τ > 0 → integração pelo semi-plano superior, e devemos fazer τ → τ .<br />

Calculando os resíduos, obtemos<br />

+<br />

I qB<br />

= −2πiexp<br />

−<br />

( − iδω′<br />

τ )<br />

⎪⎧<br />

⎨<br />

⎪⎩ 2iΓδω′<br />

2iΓδω′<br />

exp 2i<br />

( δω − δω′′ )[ δω + i( Γ + γ)<br />

] ( )<br />

exp 2i<br />

exp<br />

( − 2Γ<br />

τ )<br />

( δω′ − 2iΓ) [ δω − i( Γ − γ)<br />

][ δω′′ − i( Γ − γ)<br />

]<br />

exp( 2iδω′<br />

τ ) exp( − 2Γ<br />

τ )<br />

( δω′ + 2iΓ) [ δω′<br />

′ + i( Γ − γ)<br />

][ δω + i( Γ − γ)<br />

]<br />

( δω τ ) exp( − 2γ<br />

τ )<br />

[ δω − i Γ − γ ][ δω′′ − i( Γ + γ)<br />

][ δω′′ + i( Γ − γ)<br />

]<br />

( δω′<br />

′ τ ) exp( − 2γ<br />

τ )<br />

( δω − δω′′ )[ δω′′ + i( Γ + γ)<br />

][ δω′′ − i( Γ − γ)<br />

][ δω − i( Γ + γ)<br />

] δω + i( Γ − γ)<br />

+<br />

+<br />

+<br />

[ ]⎪ ⎭<br />

⎪ ⎬<br />

⎫<br />

. (A2f.12)<br />

Vemos claramente que os dois primeiros termos do membro à direita da<br />

equação acima contribuem para o pico de coerência e os dois últimos termos trazem a<br />

informação do decaimento da excitação em estudo. O decaimento é oscilatório numa<br />

freqüência que depende da freqüência do campo banda larga e da freqüência de<br />

detecção do sinal.<br />

ii)<br />

τ < 0 → integração pelo semi-plano inferior, e devemos fazer τ → − τ .<br />

Calculando os resíduos, obtemos<br />

185


___________________________________________________________________________ Apêndices<br />

= −π<br />

( − iδω′<br />

τ )<br />

⎪⎧<br />

exp( − 2Γ<br />

τ )<br />

2iΓ<br />

[ δω + i Γ + γ ][ δω′′ + i( Γ + γ)<br />

]<br />

( − 2iδω′<br />

τ ) exp( − 2Γ<br />

τ )<br />

−<br />

I qB<br />

exp ⎨<br />

⎪⎩ Γδω′ ( δω′ + ) ( )<br />

. (A2f.13)<br />

Γδω′<br />

exp<br />

( δω′ − 2iΓ) [ δω′′ − i( Γ + γ)<br />

] δω − i( Γ + γ)<br />

[ ]⎪ ⎭<br />

⎪ ⎬<br />

⎫<br />

No caso de atrasos negativos, a parcela B da integral I(ω m ) só contribui para o<br />

pico de coerência e não traz nenhuma informação a respeito do material em estudo.<br />

+<br />

186


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