Boletim SBH Junho/2013 - Sociedade Brasileira de Hepatologia
Boletim SBH Junho/2013 - Sociedade Brasileira de Hepatologia
Boletim SBH Junho/2013 - Sociedade Brasileira de Hepatologia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
| Seção Células Estreladas |<br />
Keukenhof. Paraíso na Terra. Literalmente.<br />
Um dos lugares mais lindos<br />
que meus olhos já tiveram a honra<br />
e alegria <strong>de</strong> ver nessa vida. O outro<br />
foi Koorakuen, um parque japonês.<br />
Aquele foi no outono com as folhas<br />
vermelhas, laranja e amarelas das<br />
clássicas momiji, fazendo um mar<br />
multicor nas montanhas. Este, com<br />
a explosão das cores das tulipas,<br />
amarílis, narcisos e tantas outras<br />
flores maravilhosas, inomináveis,<br />
pois <strong>de</strong>sconhecidas para mim,<br />
mas <strong>de</strong> beleza ímpar. Divinas na<br />
acepção da palavra. Inundaram-me<br />
a alma, acen<strong>de</strong>ndo em meu coração<br />
emoções sublimes. O moinho típico<br />
com suas pás dançando ao vento<br />
apesar <strong>de</strong> pequeno era majestoso.<br />
O inverno rigoroso e lento retardou<br />
seus intestinos, como os do boneco<br />
presente na outra sala Ou diria<br />
eu câmara <strong>de</strong> tortura Bem mais<br />
apropriado o termo. Calabouços<br />
gélidos. Agora a mocinha tímida<br />
segue para ser julgada: bruxaria.<br />
Simulacro <strong>de</strong> julgamento. Não só<br />
porque era uma comédia! Todos<br />
aqueles julgamentos eram falsos.<br />
Quantos queimados em fogueiras<br />
para a socieda<strong>de</strong> se livrar dos<br />
inconvenientes Ou dos que expunham<br />
verda<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>sejadas Ou<br />
dos que incomodavam por serem<br />
diferentes! E o ator-inquisidor<br />
muito acima <strong>de</strong> nossas cabeças com<br />
po<strong>de</strong>r total nas mãos a con<strong>de</strong>nou<br />
à fogueira. Foi amarrada! Cômico<br />
Nada cômico. Nosso grupo apreensivo<br />
<strong>de</strong>ntro da sala, breu.... e as<br />
vozes macabras sussurrando aos<br />
nossos ouvidos: este é o seu fim!<br />
Nós vamos aniquilar você! Será<br />
<strong>de</strong>struído e não sairá daqui com<br />
vida! Confesse! Confesse! A essas<br />
alturas eu já estava <strong>de</strong> mãos dadas<br />
com as mocinhas, uma tomando<br />
conta da outra, ridiculamente,<br />
todas com as mãos suando frio.<br />
Os casais abraçados e encolhidos,<br />
apoiando-se, protegendo-se. Os<br />
cana<strong>de</strong>nses impassíveis. Os atores<br />
saiam <strong>de</strong> lugares inesperados.<br />
Os sons e cheiros eram muito<br />
convincentes. Existiam realmente<br />
cheiros ou era minha imaginação<br />
Impressionante o imaginário do ser<br />
humano... Perguntei-me por que o<br />
ser humano se torna tão perverso,<br />
com requintes <strong>de</strong> malda<strong>de</strong> inima-<br />
LUZ<br />
a floração e os campos vastos <strong>de</strong> Dali a pouco aquela voz conhecida<br />
e amiga, po<strong>de</strong>rosa, dizendo:<br />
tulipas estavam ainda dormentes<br />
em sua maioria. Isso em nada Dominique! Era o Mário Reis!<br />
impactou negativamente a atmosfera<br />
<strong>de</strong> Keukenhof com seus diversos Alberto. Que <strong>de</strong>lícia encontrar os<br />
Leila e Carlinhos, Cláudia Oliveira,<br />
jardins e canteiros em estilo japonês amigos. Que surpresa agradável.<br />
e inglês e os vários pavilhões <strong>de</strong><br />
Lá estavam todos os tipos <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>s<br />
possíveis e imaginá-<br />
flores. Tons <strong>de</strong> vermelho exuberante.<br />
Amarelo vivo e chamativo.<br />
veis. Idosos, meio-idosos, quase-<br />
Azul, lilás, roxo. Tanta mistura e no<br />
entanto tanta harmonia e beleza. O<br />
-idosos, nada idosos. Os corações<br />
pavilhão das orquí<strong>de</strong>as era gigante se tornaram extremamente jovens,<br />
com incontáveis arranjos. Manequins<br />
vestidos <strong>de</strong> flores e folhas, com sorriso largo, gentis tirando<br />
embriagados pela beleza. Todos<br />
estilizadas. Era tanta beleza que se fotos uns para os outros. Havia<br />
ficava boquiaberto, sem fôlego. harmonia no ambiente que só a<br />
Patos nas lagoas com suas penas em beleza da natureza e o toque divino<br />
matiz ver<strong>de</strong>-furta-cor que brilhavam po<strong>de</strong>m dar. A beleza essencial.<br />
ao sol. Sim! O sol brilhava soberano Profunda. Sólida. Pura. Eterna.<br />
e aquecia o coração.<br />
Real.<br />
O pálido e abatido jovem, com ar<br />
explícito <strong>de</strong> sarcasmo, olhos estanhados<br />
saltando das órbitas chega<br />
perto <strong>de</strong> mim e pergunta: você está<br />
pronta para sofrer Quem aqui<br />
entra não sai com vida… Amsterdam<br />
Dungeon. Teatro interativo com<br />
direito a gritos, mas também a<br />
sussurros não menos violentos.<br />
Eu continuava as minhas férias<br />
e resolvi conferir. A menininha<br />
francesa do grupo <strong>de</strong> estudantes<br />
que esperava para entrar já estava<br />
chorando <strong>de</strong> medo, tão assustada<br />
tinha sido pelos atores! Chorava<br />
copiosamente e tremia, encolhida.<br />
Tentei consolá-la em vão... Nosso<br />
grupo era pequeno. Seis jovens<br />
holan<strong>de</strong>ses. Uma dupla <strong>de</strong> mocinhas,<br />
uma <strong>de</strong>las muito tímida. Dois<br />
casaizinhos simpáticos. Os seis<br />
eram amigos. Um casal idoso <strong>de</strong><br />
cana<strong>de</strong>nses – achando tudo muito<br />
<strong>de</strong>sinteressante e claramente arrependidos<br />
<strong>de</strong> ali estar, sem qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> reação ou emoção. Era uma<br />
velha igreja <strong>de</strong> Amsterdam que<br />
virou palco e <strong>de</strong> repente nos vejo<br />
entrando em uma escuridão assustadora<br />
e gelada. Insisto: era uma<br />
paródia. Mas o arrepio na alma se<br />
fez presente em todos os momentos.<br />
E se fosse verda<strong>de</strong> E se o alicate<br />
gigantesco realmente torcesse e<br />
arrancasse as nossas línguas Ou<br />
os testículos do jovem holandês<br />
que se tornou uma cobaia cômica<br />
fossem espremidos E se o gancho<br />
enorme realmente se cravasse no<br />
abdome <strong>de</strong>le e trouxesse à tona<br />
Dominique Muzzillo (PR)<br />
SOMBRA<br />
gináveis, imensuráveis, inconcebíveis.<br />
E cada vez mais a<strong>de</strong>ntrávamos<br />
naquela antiga igreja que se tornou<br />
palco. Cemitério real do passado. A<br />
tortura da época medieval também<br />
era real. Hoje a tortura também o é.<br />
Mas disfarçada, dissimulada. O ser<br />
humano se tornou menos malévolo<br />
E a <strong>de</strong>ntista que teve seu corpo em<br />
chamas porque o ladrão insatisfeito<br />
ficou frustrado porque ela possuía<br />
“apenas” trinta reais O ser humano<br />
continua selvagem, o barbarismo<br />
permanece em nossas vidas em<br />
diferentes matizes! Diariamente.<br />
Perseguições mal disfarçadas<br />
burlando leis, com o sorriso falso<br />
nos lábios e as facadas pelas costas<br />
ocorrem diariamente no assédio<br />
moral mo<strong>de</strong>rno. Quando o ser<br />
humano <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> lado o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
ter, em <strong>de</strong>trimento do ser Quando<br />
o ser humano se contentará com o<br />
que é e com o que tem, <strong>de</strong>ixando<br />
o vizinho em paz Quando as<br />
pessoas saberão ficar contentes<br />
com o progresso do outro sem se<br />
corroer intimamente Quando o<br />
homem atual já tão evoluído na<br />
tecnologia evoluirá também na<br />
espiritualida<strong>de</strong> A vida mo<strong>de</strong>rna é<br />
rica <strong>de</strong> divertimentos, mas pobre<br />
<strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>! Quando a fraternida<strong>de</strong><br />
real substituirá o <strong>de</strong>sejo ilimitado<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r Por que o vermelho<br />
do sangue é mais atrativo do que o<br />
vermelho vivo da tulipa Quando<br />
o ser humano escolherá a luz ao<br />
invés das sombras Quando<br />
10 | <strong>Boletim</strong> <strong>SBH</strong><br />
<strong>Boletim</strong> <strong>SBH</strong> | 11