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ambiente da inovação brasileira<br />

Abril 2009<br />

n o 56 • Ano XV<br />

T<strong>em</strong>po<br />

precioso<br />

Crise exige agilidade no<br />

apoio à inovação. Para saír<strong>em</strong><br />

mais fortes da turbulência<br />

internacional, <strong>em</strong>presas<br />

brasileiras precisam de suporte<br />

para continuar investindo <strong>em</strong> P&D<br />

Negócios<br />

A quebra de paradigmas<br />

promovida pelo setor de serviços<br />

Portas abertas<br />

Open innovation alavanca<br />

pesquisas <strong>em</strong> MPEs


Índice<br />

a m b i e n t ed a in o v a ç ã o b r a s i l e i r a<br />

A revista Locus é uma publicação<br />

da Associação Nacional de<br />

Entidades Promotoras de<br />

Empreendimentos Inovadores<br />

Conselho editorial<br />

Carlos Américo Pacheco, Gina<br />

Paladino, Helena Lastres, Mauricio<br />

Guedes, Maurício Mendonça,<br />

Jorge Audy e Josealdo Tonholo<br />

Coordenação editorial<br />

Débora Horn<br />

Márcio Caetano<br />

Colaboração<br />

Adriane Alice Pereira, Amanda<br />

Miranda, Andréia Seganfredo,<br />

Bruno Moreschi, Caroline<br />

Mazzonetto, Cora Dias,<br />

Eduardo Kormiwes e Francis França<br />

Jornalista responsável<br />

Débora Horn – MTb/SC 02714 JP<br />

Direção de arte<br />

Luiz Acácio de Souza<br />

Edição de arte<br />

Rafael Ribeiro<br />

Karina Mohr<br />

Revisão<br />

Sérgio Ribeiro<br />

Foto da capa<br />

Shutterstock<br />

Presidente<br />

Guilherme Ary Plonski<br />

Diretoria<br />

Francilene Procópio Garcia, Gisa<br />

Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre<br />

Labiak Junior e Paulo Gonzalez<br />

Superintendência<br />

Sheila Oliveira Pires<br />

Coordenação de Comunicação e Marketing<br />

Márcio Caetano Setúbal Alves<br />

Endereço<br />

SCN, quadra 1, bloco C,<br />

Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211<br />

Brasília / DF – CEP 70711-902<br />

Contatos<br />

(61) 3202-1555<br />

E-mail: revistalocus@anprotec.org.br<br />

Website: www.anprotec.org.br<br />

Anúncios: (61) 3202-1555<br />

revistalocus@anprotec.org.br<br />

Produção<br />

Impressão<br />

Gráfica Brasil<br />

Abril 2009 • n o 56 • Ano XV<br />

ISSN 1980-3842<br />

Patrocínio<br />

Apoio<br />

6<br />

10<br />

16<br />

22<br />

24<br />

36<br />

38<br />

40<br />

43<br />

46<br />

49<br />

50<br />

28 c a p a<br />

A hora é agora<br />

Considerados estratégicos para superar a crise,<br />

sist<strong>em</strong>as de inovação vêm sendo reforçados nos<br />

países mais desenvolvidos. Empresas brasileiras<br />

também precisam de apoio para continuar inovando<br />

e conquistando novos mercados.<br />

E n t r e v i s t a<br />

O CEO do Research Triangle Park revela os segredos do parque tecnológico<br />

que, com 50 anos de história, se consolidou como modelo nos Estados Unidos.<br />

E m m o v i m e n t o<br />

As parcerias da Anprotec para alavancar MPEs inovadoras, a chamada de<br />

trabalhos para o S<strong>em</strong>inário Nacional, os preparativos para o Global Forum.<br />

As novidades do movimento estão aqui.<br />

n e g ó c i o s<br />

Movimentando R$ 500 bilhões por ano, setor de serviços força a<br />

revisão dos conceitos de inovação, qualificação profissional e produtividade.<br />

I n v e s t i m e n t o<br />

Até março deste ano 16 <strong>em</strong>presas foram selecionadas para receber<br />

recursos do Criatec, fundo de capital-s<strong>em</strong>ente do Bndes. Mas ainda<br />

restam R$ 22 milhões a distribuir entre <strong>em</strong>preendimentos inovadores.<br />

O p o r t u n i d a d e<br />

Saiba por que a inauguração do Centro de Excelência <strong>em</strong> Tecnologia<br />

Eletrônica Avançada (Ceitec), <strong>em</strong> Porto Alegre, pode representar<br />

o início de uma nova era para o Brasil no mercado de s<strong>em</strong>icondutores.<br />

I N T E R N A C I O N A L<br />

Pesquisa da NBIA comprova eficiência das incubadoras<br />

e reforça estratégia anticrise de Barack Obama nos Estados Unidos.<br />

S U C E S S O<br />

Saiba como a união entre ciência e <strong>em</strong>preendedorismo<br />

fez da Opto, de São Carlos (SP), uma concorrente<br />

de peso às multinacionais dos setores <strong>em</strong> que atua.<br />

G E S T Ã O<br />

O modelo de open innovation acelera o desenvolvimento<br />

de projetos <strong>em</strong> parceria com outras <strong>em</strong>presas ou<br />

instituições de pesquisa, trazendo ganhos para os dois lados.<br />

e d u c a ç ã o<br />

Preparar gestores para administrar o processo de inovação t<strong>em</strong> sido a<br />

tônica de diversos cursos oferecidos no Brasil. Empresas já sent<strong>em</strong> os resultados.<br />

C R I A T I V I D A D E<br />

Descubra por que os museus de ciência são<br />

um convite à imersão no mundo do conhecimento.<br />

c U L T U R A<br />

Filme francês, livro norte-americano, exposição de arte russa<br />

e a boa música brasileira. Uma viag<strong>em</strong> cultural para as mentes inovadoras.<br />

o p i n i ã o<br />

Mauricio Guedes: <strong>em</strong>presas e países dev<strong>em</strong> se<br />

preparar para o momento seguinte à crise, quando<br />

o jogo econômico dará maior espaço à economia real.


carta ao leitor<br />

reunião de pauta desta edição provavelmente<br />

foi um retrato de tantas<br />

A<br />

outras reuniões que têm ocorrido nas<br />

<strong>em</strong>presas, nos governos, nas instituições<br />

de pesquisa. Nós, os conselheiros da Locus,<br />

tínhamos várias sugestões de assuntos<br />

a abordar, pessoas a entrevistar, reportagens<br />

a produzir. Mas um t<strong>em</strong>a era<br />

recorrente, permeava todos os d<strong>em</strong>ais: a<br />

crise. O cenário econômico atual nos<br />

obriga a incluir a crise <strong>em</strong> toda e qualquer<br />

análise que se faça, <strong>em</strong> diversos setores<br />

e segmentos. Não poderia ser diferente<br />

<strong>em</strong> nosso movimento.<br />

Então decidimos tratar da crise na matéria<br />

de capa. Porém, sob um enfoque<br />

pouco presente no <strong>em</strong>aranhado de informações<br />

que nos bombardeia a todo instante:<br />

como fazer da inovação um instrumento<br />

anticrise Das pretensões de<br />

Barack Obama à realidade das <strong>em</strong>presas<br />

brasileiras, investigamos as saídas apontadas<br />

por especialistas para enfrentar a<br />

turbulência internacional. Infelizmente,<br />

constatamos que o Brasil pode ficar para<br />

trás nessa corrida. O corte no orçamento<br />

do Ministério da Ciência e Tecnologia, a<br />

d<strong>em</strong>ora na revisão da legislação sobre o<br />

t<strong>em</strong>a e a incerteza que paira sobre as <strong>em</strong>presas<br />

revelam o risco de retrocesso. Mas<br />

a reportag<strong>em</strong> que inicia na página 28<br />

também mostra que ainda há t<strong>em</strong>po de<br />

corrigir os erros e acelerar processos, fortalecendo<br />

o sist<strong>em</strong>a nacional de inovação,<br />

que tanto avançou nos últimos anos.<br />

Além do reforço nas políticas públicas,<br />

a saída para a crise está na corag<strong>em</strong> dos<br />

<strong>em</strong>preendedores, na decisão das <strong>em</strong>presas<br />

de continuar investindo <strong>em</strong> pesquisa<br />

e desenvolvimento, de não interromper<br />

projetos inovadores. E o estímulo pode<br />

vir de ex<strong>em</strong>plos, como a <strong>em</strong>presa que<br />

protagoniza a seção Sucesso desta edição.<br />

Nascida no Parque<br />

Tecnológico de São<br />

Carlos (SP), a Opto<br />

transformou <strong>em</strong> realidade<br />

– <strong>em</strong>pregos,<br />

renda e inovação – o<br />

projeto de seis pesquisadores<br />

da área<br />

de Física. Hoje com<br />

24 anos, a <strong>em</strong>presa<br />

comprova que a<br />

união entre ciência e<br />

<strong>em</strong>preendedorismo,<br />

respeitadas as especificidades de cada<br />

um, t<strong>em</strong> tudo para dar certo.<br />

Colabora com esse casamento o modelo<br />

de open innovation, t<strong>em</strong>a da seção Gestão.<br />

Abertas à cooperação com outras<br />

<strong>em</strong>presas e instituições de pesquisa,<br />

MPEs inovadoras têm fortalecido as atividades<br />

de P&D, alavancando negócios. E<br />

por falar <strong>em</strong> interação, a seção Negócios<br />

traz uma reportag<strong>em</strong> sobre o setor de serviços,<br />

especialista no contato direto com<br />

o cliente. Mais do que isso, o antigo setor<br />

terciário da economia v<strong>em</strong> quebrando paradigmas,<br />

ao gerar postos de trabalho<br />

cada vez mais qualificados e movimentar<br />

bilhões todos os anos.<br />

Alcançar tamanha pujança é o desejo<br />

dos <strong>em</strong>preendedores que já atuam ou ainda<br />

planejam ingressar no mercado de s<strong>em</strong>icondutores,<br />

esperançosos com a inauguração<br />

recente do Centro de Excelência<br />

<strong>em</strong> Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec),<br />

<strong>em</strong> Porto Alegre. Apesar do entusiasmo<br />

dos fundadores, críticas ao projeto<br />

questionam se vale a pena investir tanto<br />

dinheiro público para entrar <strong>em</strong> uma área<br />

dominada por gigantes multinacionais.<br />

Na reportag<strong>em</strong> da seção Oportunidade,<br />

Locus tenta encontrar a resposta.<br />

Boa leitura!<br />

Con s e l h o Ed i t o r i a l<br />

Locus • Abril 2009<br />

5


Entrevista<br />

And r é i a Se g a n f r e d o<br />

Lições de um pioneiro<br />

Fundado há cinquenta anos, o<br />

Research Triangle Park (Parque do<br />

Triângulo de Pesquisa, <strong>em</strong> livre<br />

tradução) surgiu como iniciativa para<br />

reverter a situação econômica do<br />

estado da Carolina do Norte e se<br />

consolidou como modelo nos Estados<br />

Unidos. Inserido <strong>em</strong> uma região<br />

situada entre três grandes<br />

universidades de pesquisa – Duke<br />

University, <strong>em</strong> Durham; Universidade<br />

Estadual da Carolina do Norte, <strong>em</strong><br />

Raleigh, e Universidade da Norte<br />

Carolina, <strong>em</strong> Chapell Hill –, o<br />

Research Triangle Park (RTP)<br />

angariou o apoio dessas instituições e<br />

uma força de trabalho altamente<br />

qualificada. No parque, as companhias<br />

pod<strong>em</strong> tanto comprar terrenos para<br />

campi individuais ou alugar espaço <strong>em</strong><br />

um dos prédios com vários inquilinos.<br />

Além disso, desfrutam de benefícios<br />

como facilidade de acesso,<br />

infraestrutura adequada e preservação<br />

ambiental, resultado de um clima<br />

político bastante favorável ao conceito<br />

do parque.<br />

Hoje, o RTP é reconhecido como a<br />

“Capital de P&D” da Carolina do<br />

Norte, abrigando mais de 170 <strong>em</strong>presas<br />

de base tecnológica, que <strong>em</strong>pregam 42<br />

mil trabalhadores especializados. À<br />

frente desse grandioso projeto está<br />

Rick Weddle, presidente e CEO do<br />

Research Triangle Park. Antes de<br />

assumir o cargo <strong>em</strong> 2004, Weddle<br />

liderou organizações de<br />

desenvolvimento econômico <strong>em</strong> outros<br />

cinco estados norte-americanos. Em<br />

entrevista a Locus, ele explica a<br />

dinâmica do parque e as<br />

peculiaridades desse modelo.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Locus: O RTP foi fundado a partir<br />

da necessidade de reverter o cenário<br />

negativo da economia local, que tinha<br />

indústrias de pouco valor agregado e<br />

uma das rendas per capita mais<br />

baixas dos Estados Unidos. Quais<br />

foram as principais estratégias para<br />

reverter esse cenário<br />

Weddle: Além desses probl<strong>em</strong>as, o estado<br />

enfrentava uma evasão de cérebros muito<br />

séria, pois muitos graduados estavam<br />

saindo para procurar <strong>em</strong>pregos melhores,<br />

e aqueles que frequentavam universidades<br />

fora daqui não retornavam. A proposta<br />

do RTP foi fornecer uma iniciativa<br />

de desenvolvimento econômico focada<br />

<strong>em</strong> atrair companhias que fizess<strong>em</strong><br />

pesquisa de âmbito mundial e desenvolvimento<br />

<strong>em</strong> áreas de crescimento<br />

científico. Os fundadores do parque<br />

ofereceram às companhias prospectadas<br />

os recursos subutilizados das três<br />

universidades líderes do Triângulo. Os<br />

recursos do Research Triangle Institute,<br />

estudantes qualificados e talentosos,<br />

oportunidades para pesquisa interativa<br />

e o pool de trabalho e talento de outras<br />

instituições educacionais no estado foram<br />

as cartas na manga do RTP.<br />

Locus: O número de <strong>em</strong>presas<br />

chamadas da “nova linha”, que<br />

inclui os setores químico, de<br />

eletrônicos e de comunicação, passou<br />

de 15% dos negócios, na época da<br />

fundação do parque, para 51%<br />

<strong>em</strong> 2005. A que fatores pode<br />

ser atribuído esse crescimento<br />

Weddle: Os primeiros cinco anos de<br />

existência do parque foram relativamente<br />

lentos. Apesar da Ch<strong>em</strong>strand,<br />

uma companhia da Corporação Monsanto,<br />

e da America Viscose (primeira<br />

<strong>em</strong>presa têxtil a trabalhar com fibras artificiais)<br />

anunciar<strong>em</strong> sua decisão de vir<br />

para o parque ainda <strong>em</strong> 1960, até 1965 o<br />

RTP não tinha decolado. Naquele ano,<br />

foram instalados aqui o novo Centro<br />

Nacional de Ciências de Saúde do Meio<br />

Ambiente e a IBM. Com a presença<br />

substancial do governo e do setor privado,<br />

o parque ganhou credibilidade como<br />

lugar para pesquisa e desenvolvimento.<br />

Nos 40 anos seguintes, o crescimento<br />

aumentou, dada a inovação de infraestrutura<br />

e o pool de trabalho qualificado,<br />

que evoluíram para dar suporte a entidades<br />

do parque e também como resultado<br />

do sucesso da região. Refletindo o<br />

boom das Tecnologias de Informação e<br />

Comunicação no fim dos anos 1990, o<br />

RTP alcançou o pico de nível de <strong>em</strong>pregos<br />

<strong>em</strong> 2001: 45 mil profissionais.<br />

Locus: Qual foi o papel do poder<br />

público no desenvolvimento do<br />

parque O governo incentivou a<br />

iniciativa ao longo do t<strong>em</strong>po ou o<br />

parque ficou suscetível a alterações<br />

no cenário político<br />

Weddle: Com o engajamento de alguns<br />

líderes do setor privado e com a ajuda e<br />

suporte do chanceler da Carolina do<br />

Norte Carey Bostina, o governador Luther<br />

Hodges autorizou um relatório<br />

conceitual com a ideia de estabelecimento<br />

de um parque de pesquisa para<br />

diversificar a base econômica do estado.<br />

No fim de 1956, o Conselho de Desenvolvimento<br />

do Research Triangle<br />

estava formado e os grupos decidiram<br />

que a ideia deveria ser <strong>em</strong>preendida<br />

preferencialmente como um esforço<br />

privado com o engajamento das três<br />

universidades líderes do que como um<br />

esforço patrocinado pelo governo. Apesar<br />

de o governo ter sido essencial ao<br />

fornecer o apoio e a liderança para criar<br />

o parque, o RTP t<strong>em</strong> caráter <strong>completa</strong>mente<br />

privado, uma entidade auto-financiadora.<br />

O estado e os governos locais<br />

fornec<strong>em</strong> apoio <strong>em</strong> termos de<br />

infraestrutura e clima político. Entretanto,<br />

recursos públicos não são repassados<br />

para o parque.<br />

Locus: Como se dá a<br />

articulação do parque com o<br />

poder público atualmente<br />

Weddle: O RTP mantém uma forte relação<br />

de trabalho com o governo estadual<br />

da Carolina do Norte <strong>em</strong> várias linhas.<br />

O quadro de diretores do RTP representa<br />

uma reunião <strong>em</strong> âmbito estadual de<br />

líderes públicos, privados e universitários.<br />

A liderança do RTP encontra-se<br />

regularmente com representantes de governo<br />

e de organizações para discutir<br />

assuntos de política pública, finanças<br />

estaduais, fundos de pesquisa e apoio ao<br />

desenvolvimento econômico baseado<br />

<strong>em</strong> tecnologia. Mas, o RTP continua separado,<br />

uma entidade privada.<br />

6<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

7


Entrevista<br />

Locus: Há agências governamentais<br />

instaladas no parque. Como elas se<br />

associam e participam Como<br />

aproveitam a estrutura do RTP<br />

Weddle: As agências governamentais<br />

localizadas no RTP inclu<strong>em</strong> a Agência<br />

de Saúde de Meio Ambiente dos Estados<br />

Unidos (Usepa) e o Instituto Nacional<br />

para Ciências de Saúde de Meio<br />

Ambiente (Niehs). Elas operam como<br />

grandes inquilinas do RTP, localizadas<br />

<strong>em</strong> grandes campi, <strong>em</strong>pregando um total<br />

de 2,5 mil trabalhadores <strong>em</strong> período<br />

integral. As organizações governamentais<br />

do RTP são muito ativas na Associação<br />

de Proprietários e Inquilinos<br />

(O&T) e <strong>em</strong> outros programas do parque.<br />

Ao fornecer programas e oportunidades<br />

para as comunidades de interesse<br />

se engajar<strong>em</strong> umas às outras, o<br />

modelo do RTP permite que essas agências<br />

colabor<strong>em</strong> e estabeleçam parcerias<br />

com <strong>em</strong>presas próximas, conduzindo<br />

pesquisas compl<strong>em</strong>entares.<br />

Locus: O RTP nasceu há 50 anos, <strong>em</strong><br />

um cenário <strong>completa</strong>mente distinto do<br />

atual nos âmbitos econômico, social e<br />

político. Como o parque acompanhou<br />

essas transformações e manteve o foco<br />

Weddle: Apesar do sucesso do RTP até<br />

então, suas lideranças reconhec<strong>em</strong> que<br />

o parque não pode se sentar <strong>em</strong> láureas.<br />

Como o mundo muda e as companhias<br />

incluídas no parque evolu<strong>em</strong><br />

para reagir a essas mudanças, o RTP<br />

igualmente continua a se adaptar. As<br />

companhias e os indivíduos d<strong>em</strong>andam<br />

diferentes benefícios no local de trabalho<br />

e ao redor dele. O RTP também<br />

olha para um novo modelo de negócios<br />

que permitirá se direcionar a essas necessidades<br />

e criar uma entidade autossustentável<br />

e autoperpetuadora para<br />

continuar a gerar o retorno necessário<br />

para manter o parque. Como um dos<br />

primeiros atores na área de parque de<br />

pesquisa, o RTP consolidou um modelo.<br />

Entretanto, conforme a indústria<br />

mudou, modelos modernos foram desenvolvidos<br />

para melhor direcionar<br />

novas necessidades específicas.<br />

Locus: De que maneira a instalação<br />

de grandes <strong>em</strong>presas, como Cisco e<br />

IBM, favoreceu o crescimento<br />

de pequenos <strong>em</strong>preendimentos<br />

Weddle: Grandes companhias continuam<br />

a alavancar o maioria de <strong>em</strong>pregos<br />

do parque. A estratégia de recrutamento<br />

inicial para o parque foi atrair companhias<br />

maiores, já estabelecidas, que<br />

construíss<strong>em</strong> uma cultura na qual as<br />

pequenas, indústrias start-up, pudess<strong>em</strong><br />

prosperar. Uma análise dos padrões<br />

de crescimento na região desde 1985<br />

sugere que mais de 1,5 mil companhias<br />

surgiram daquelas do parque, além de<br />

universidades e outras entidades regionais.<br />

Além disso, a existência dessas<br />

grandes companhias fornece expertise<br />

e negócios para pequenas <strong>em</strong>presas na<br />

região. O perfil das companhias no parque<br />

está passando por uma transição<br />

<strong>em</strong> direção a pequenas companhias<br />

com poucos <strong>em</strong>pregados. A tendência é<br />

ainda mais refletida na grande proximidade<br />

entre as <strong>em</strong>presas do parque e os<br />

laboratórios das universidades.<br />

Locus: Hoje o parque atua<br />

<strong>em</strong> diferentes setores. Como<br />

é a sinergia entre as <strong>em</strong>presas<br />

Weddle: As companhias do RTP operam<br />

<strong>em</strong> diversos setores relacionados à<br />

tecnologia, mas divid<strong>em</strong> interesses comuns<br />

através da Research Triangle Park<br />

Owners & Tenants Association (O&T)<br />

– Associação de Proprietários e Inquilinos<br />

do Research Triangle Park. A O&T<br />

discute t<strong>em</strong>as que são de preocupação<br />

dos proprietários e inquilinos do parque,<br />

também serve como voz de consenso<br />

da comunidade e mantém os benefícios<br />

como trilhas para jogging,<br />

campos de jogo e serviços de <strong>em</strong>belezamento<br />

do espaço. O foco do grupo para<br />

2007-2009 t<strong>em</strong> sido usar a O&T como<br />

catalisadora para construir comunidades<br />

e alimentar a colaboração entre as<br />

companhias do parque. Nos anos recentes,<br />

a associação t<strong>em</strong> também se<br />

unido para promover e apoiar assuntos<br />

de políticas públicas, sobre os quais todos<br />

concordam ser necessário um endosso<br />

com consenso por parte do RTP.<br />

Locus: Fundações e entidades<br />

<strong>em</strong> contínua cooperação e conexões<br />

com diversos setores colaboram<br />

para a longa vida do RTP<br />

Qual o papel de cada uma delas<br />

Weddle: As fundações e entidades da<br />

região são parceiras do RTP no trabalho<br />

de melhorar o ambiente de negócios do<br />

Triângulo. Dependendo da iniciativa, as<br />

entidades trabalham juntas com cada<br />

uma contribuindo na sua área de expertise.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo, o RTP usa sua habilidade<br />

para identificar consenso entre sua<br />

massa crítica de trabalhadores de tecnologia<br />

para fornecer suporte às políticas<br />

públicas apropriadas. Há nove organizações<br />

desse tipo, incluindo desde aquelas<br />

preocupadas com o crescimento econômico<br />

e competitivo da região, b<strong>em</strong><br />

como iniciativas para promover a cultura<br />

<strong>em</strong>preendedora, capacidade de pesquisa<br />

das companhias, debates sobre<br />

t<strong>em</strong>as <strong>em</strong>ergentes e importantes para o<br />

estado da Carolina do Norte.<br />

Locus: O RTP foi constituído<br />

tendo três universidades como<br />

âncoras. Como se dá a relação<br />

com essas instituições atualmente<br />

Weddle: O RTP tornou-se um modelo<br />

de cooperação universitária <strong>em</strong> torno<br />

de um fim comum. E continua a ter forte<br />

relação de trabalho com as três universidades<br />

de pesquisa regional, além<br />

de outras oito faculdades e universidades<br />

regionais e um sist<strong>em</strong>a de faculdades<br />

da comunidade estadual b<strong>em</strong> respeitado.<br />

Os conselheiros e presidentes<br />

das três universidades - âncora têm assento<br />

no Conselho de Diretores da Carolina<br />

do Norte da Fundação do Triângulo<br />

de Pesquisa. Além disso, os campi<br />

de pesquisa na Universidade da Carolina<br />

do Norte e Universidade da Carolina<br />

do Norte, <strong>em</strong> Chapell Hill, são m<strong>em</strong>bros<br />

do Network de parques de Pesquisa<br />

da Carolina do Norte, do qual o RTP<br />

é m<strong>em</strong>bro e facilitador. Através dele, o<br />

RTP continua a se engajar com outras<br />

universidades da Carolina do Norte<br />

com a missão de aumentar o desenvolvimento<br />

econômico baseado <strong>em</strong> tecnologia<br />

através dessas relações.<br />

O RTP permanece globalmente<br />

competitivo através da tecnologia, criando<br />

novas oportunidades de <strong>em</strong>prego e alavancando o<br />

crescimento econômico <strong>em</strong> toda a região<br />

Locus: Quais as perspectivas para o<br />

desenvolvimento do RTP São possíveis<br />

novos nichos de atuação e inovação<br />

Weddle: A atividade dos integrantes do<br />

RTP é promissora no atual clima econômico.<br />

Apesar de d<strong>em</strong>issões anunciadas<br />

<strong>em</strong> algumas <strong>em</strong>presas do parque, o<br />

fluxo de clientes nos setores farmacêutico,<br />

biotecnologia e tecnologia de informação<br />

e data center é forte, d<strong>em</strong>onstrando<br />

o valor da proposta e a resiliência<br />

econômica do parque na economia probl<strong>em</strong>ática<br />

de hoje. Refletindo isso, a região<br />

de Raleigh-Cary recent<strong>em</strong>ente foi<br />

ranqueada como a área metropolitana<br />

de maior crescimento nos Estados Unidos<br />

pelo US Census Bureau. Além disso,<br />

Raleigh está ranqueada entre as cinco<br />

melhores cidades para negócios e<br />

atividades profissionais nos dois últimos<br />

anos pela revista Forbes. Esses<br />

fatores atuam como evidência encorajadora<br />

de que o RTP permanece globalmente<br />

competitivo através da tecnologia,<br />

criando novas oportunidades de<br />

<strong>em</strong>prego e alavancando o crescimento<br />

econômico <strong>em</strong> toda a região.<br />

8<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

9


e m m o v i m e n t o<br />

Apex-Brasil e Anprotec firmam acordo de R$ 6 milhões<br />

A Anprotec e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) consolidaram<br />

uma parceria que oferecerá cerca de R$ 6 milhões <strong>em</strong> recursos para apoiar <strong>em</strong>presas de Tecnologia da<br />

Informação e Comunicação (TICs) instaladas <strong>em</strong> incubadoras e parques tecnológicos de todo o país.<br />

A meta do projeto é elevar o patamar de exportações, passando dos US$ 100 mil obtidos <strong>em</strong> 2008 para US$<br />

1,4 milhão <strong>em</strong> 2009 e US$ 2,3 milhões <strong>em</strong> 2010. “É o primeiro passo para alavancar a capacidade de geração<br />

de negócios das micro e pequenas <strong>em</strong>presas com a troca de conhecimentos, investimentos, produtos e serviços,<br />

refletindo o conceito de uma ‘Incubadora de Exportação’”, comenta Alessandro Teixeira, presidente da<br />

Apex-Brasil.<br />

Os mercados-alvo iniciais do projeto são Estados Unidos, México, França, Reino Unido, Al<strong>em</strong>anha, Portugal,<br />

Espanha e Colômbia. Além das ações de promoção comercial, como participação <strong>em</strong> feiras, missões<br />

<strong>em</strong>presariais e visitas de jornalistas especializados aos parques tecnológicos nacionais, o projeto apoiará o desenvolvimento<br />

da cultura exportadora das <strong>em</strong>presas, por meio de um trabalho de diagnóstico, análise e consultoria<br />

que seguirá a metodologia EMM (Export Maturity Model) ou Modelo de Maturidade Exportadora.<br />

Segundo a Anprotec, do universo de aproximadamente 6.300 <strong>em</strong>presas vinculadas às incubadoras e parques<br />

tecnológicos brasileiros, cerca<br />

de 45% são de base tecnológica,<br />

representando aproximadamente<br />

2.800 micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />

de TIC. Destas, 600 já atingiram<br />

um mínimo de atuação mercadológica<br />

e 250 encontram-se próximas<br />

à etapa de graduação ou graduadas<br />

por suas incubadoras.<br />

O projeto Apex-Brasil/Anprotec<br />

deve focar nesse grupo que já<br />

se encontra próximo à graduação.<br />

“A b<strong>em</strong>-vinda parceria contribuirá<br />

para a construção da nova imag<strong>em</strong><br />

do Brasil no exterior, um país que,<br />

além dos predicados naturais, é<br />

tecnologicamente vigoroso, <strong>em</strong>preendedor<br />

e inovador”, conclui<br />

Guilherme Ary Plonski, presidente<br />

da Anprotec.<br />

Missão Técnica leva dirigentes de parques tecnológicos aos EUA<br />

A Anprotec, <strong>em</strong> parceria com a International Association of Science Parks (IASP), Association of University<br />

Research Parks (AURP) e Council on Competitiveness – importantes agentes internacionais de inovação<br />

–, realizará de 30 de maio a 6 de junho a Missão Internacional de Parques Tecnológicos para os Estados<br />

Unidos, que passará pelas cidades de Raleigh – na Carolina do Norte –, São Francisco e algumas localidades<br />

do Vale do Silício, na Califórnia. O programa é voltado aos dirigentes de parques tecnológicos <strong>em</strong> operação,<br />

implantação ou projeto associados à Anprotec, representantes de entidades de fomento e instituições de<br />

apoio a parques parceiros.<br />

FOTOS: shutterstock<br />

Parceria com a Microsoft<br />

fortalece o Prime<br />

A Microsoft e a Financiadora de Estudos e Projetos<br />

(Finep) anunciaram <strong>em</strong> março, no Fórum de<br />

Líderes de Governo das Américas, uma nova parceria<br />

que estende às <strong>em</strong>presas de tecnologia inscritas<br />

no programa Primeira Empresa Inovadora<br />

(Prime) os benefícios do programa Microsoft<br />

SOL, criado para favorecer o desenvolvimento<br />

das micro e pequenas <strong>em</strong>presas desse segmento<br />

por meio do fornecimento de ferramentas tecnológicas<br />

a custo simbólico.<br />

Lançado pela Finep no ano passado, o Prime<br />

visa impulsionar <strong>em</strong>preendimentos nascentes<br />

com potencial inovador – a previsão é de que somente<br />

<strong>em</strong> 2009 sejam investidos R$ 230 milhões<br />

<strong>em</strong> novas <strong>em</strong>presas. Também voltado a <strong>em</strong>presas<br />

nascentes, o Microsoft SOL oferece o acesso<br />

a um pacote completo de softwares, via download.<br />

Uma vez inscritas, todas as <strong>em</strong>presas têm<br />

o direito de fazer download, por um período de<br />

até três anos, de um pacote contendo 25 licenças<br />

de 55 softwares Microsoft. Ao final desse período,<br />

há o pagamento de uma taxa única, de valor<br />

simbólico (US$ 100).<br />

Com o acordo anunciado, o benefício passa a<br />

ser estendido para toda a base de <strong>em</strong>presas de<br />

tecnologia cont<strong>em</strong>pladas pelo Prime, as quais<br />

passam a contar com acesso às ferramentas Microsoft<br />

para se desenvolver<strong>em</strong>.<br />

Aumenta d<strong>em</strong>anda por subvenção<br />

para desenvolvimento social<br />

A área de Desenvolvimento Social da chamada<br />

pública do Programa de Subvenção Econômica<br />

2009 recebeu 370 projetos, um aumento de cerca<br />

de 10% <strong>em</strong> relação ao edital anterior, de 2008,<br />

quando foram inscritos 337 projetos com esse<br />

t<strong>em</strong>a. “Cristaliza-se a ideia de que é possível ganhar<br />

dinheiro fazendo o b<strong>em</strong> para a população”,<br />

afirmou o diretor de Inovação da Finep, Eduardo<br />

Costa.<br />

O programa de Subvenção Econômica 2009<br />

alocou R$ 50 milhões <strong>em</strong> recursos para a área de<br />

Desenvolvimento Social. Essa área está dividida<br />

<strong>em</strong> três t<strong>em</strong>as: desenvolvimento de soluções para<br />

acesso à internet de banda larga <strong>em</strong> regiões carentes,<br />

desenvolvimento de equipamentos para<br />

produção agropecuária <strong>em</strong> pequenas propriedades<br />

e desenvolvimento de produtos e processos<br />

para habitações de interesse popular e saneamento<br />

de baixo custo.<br />

Neste ano, a área de Tecnologias da Informação<br />

e Comunicação foi a que recebeu mais inscrições:<br />

1.079, representando 42% do total. Em seguida,<br />

estão a área de Saúde, com 393 projetos (15%), e<br />

a de Desenvolvimento Social, com 370 (14%). Já<br />

<strong>em</strong> Biotecnologia são 257 propostas (10%). A área<br />

de Defesa Nacional e Segurança Pública teve 249<br />

inscritos, representando 9,7%, e a de Energia, 210<br />

(8,2%). Os projetos submetidos estão sendo avaliados<br />

por analistas da Finep. O resultado final<br />

deve ser divulgado a partir do dia 7 de julho.<br />

10<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

11


e m m o v i m e n t o<br />

Anprotec integra comitê do PNI<br />

A Anprotec integra o comitê consultivo que supervisionará o planejamento,<br />

a execução e a avaliação das atividades relacionadas ao Programa<br />

Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e aos Parques<br />

Tecnológicos (PNI). Coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento<br />

Tecnológico e Inovação (Setec) do Ministério da Ciência e Tecnologia,<br />

o PNI t<strong>em</strong> por objetivo fomentar a consolidação e o surgimento de<br />

parques tecnológicos e incubadoras de <strong>em</strong>presas que contribuam para<br />

estimular e acelerar o processo de criação de micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />

inovadoras.<br />

Entre as atribuições do comitê está a definição de metas periódicas a ser<strong>em</strong> alcançadas pelo PNI. Além<br />

disso, deverá buscar alianças nacionais e internacionais, sugerir critérios e indicadores de avaliação e<br />

acompanhamento do programa e promover sua interação com programas afins. Segundo o MCT, o apoio<br />

do governo federal incluirá a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica – EVTE para a<br />

implantação de incubadoras e parques, o aperfeiçoamento da gestão e da infraestrutura oferecida por essas<br />

instituições e o financiamento de projetos <strong>em</strong> CT&I nos parques, b<strong>em</strong> como centros de pesquisa, laboratórios<br />

e projetos de P&D.<br />

Prêmios movimentam inovadores<br />

Chamada de trabalhos para o XIX S<strong>em</strong>inário Nacional<br />

Estão abertas até o próximo dia 15 de<br />

julho as inscrições para trabalhos a ser<strong>em</strong><br />

apresentados no XIX S<strong>em</strong>inário Nacional<br />

de Parques Tecnológicos e Incubadoras<br />

de Empresas, que será realizado no<br />

mês de outubro <strong>em</strong> Florianópolis (SC).<br />

Gestores de incubadoras de <strong>em</strong>presas e parques tecnológicos, pesquisadores, acadêmicos e especialistas envolvidos<br />

<strong>em</strong> atividades nas áreas de inovação, <strong>em</strong>preendedorismo, ciência, tecnologia e áreas correlatas terão<br />

oportunidade de apresentar seus trabalhos no evento que deve reunir cerca de mil participantes.<br />

A chamada de trabalhos está dividida <strong>em</strong> duas categorias: pôsteres, ou artigos curtos, na qual se pretende<br />

selecionar até 60 trabalhos, e artigos completos, que selecionará até 30 artigos. O melhor trabalho de cada categoria<br />

receberá um prêmio <strong>em</strong> dinheiro – R$ 2 mil para os completos e R$ 1,5 mil para pôsteres.<br />

Os artigos curtos deverão abordar as práticas, processos e experiências inovadoras praticados nas incubadoras<br />

e parques brasileiros como programas, estratégias de gestão, parcerias estratégicas, projetos de incentivo<br />

à internacionalização de <strong>em</strong>presas, desenvolvimento local, regional e setorial, entre outras. Já os<br />

inscritos como artigos completos deverão se adequar a uma das quatro plataformas estratégicas definidas na<br />

chamada – promoção da cultura do <strong>em</strong>preendedorismo inovador, incubação de <strong>em</strong>presas orientadas para o<br />

desenvolvimento local e setorial, incubação orientada para a geração e uso intenso de tecnologia e habitats<br />

de inovação sustentáveis.<br />

As inscrições dos trabalhos pod<strong>em</strong> ser feitas no site www.s<strong>em</strong>inarionacional.com.br<br />

Está aberta a t<strong>em</strong>porada de pr<strong>em</strong>iações que reconhec<strong>em</strong> o espírito inovador das<br />

<strong>em</strong>presas e instituições de pesquisa brasileiras. Durante todo o mês de maio, a Fundação<br />

Banco do Brasil recebe inscrições para o Prêmio de Tecnologia Social 2009.<br />

Realizada a cada dois anos, com a parceria da Petrobras, da Organização das Nações<br />

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da KPMG Auditores<br />

Independentes, a pr<strong>em</strong>iação t<strong>em</strong> como objetivo identificar, certificar, pr<strong>em</strong>iar e difundir<br />

as chamadas tecnologias sociais. O conceito compreende produtos, técnicas<br />

Troféu do Prêmio Finep<br />

ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade, que<br />

represent<strong>em</strong> soluções efetivas de transformação social. As inscrições serão realizadas apenas via internet<br />

(www.tecnologiasocial.org.br), até o dia 29 de maio. Os oito vencedores serão conhecidos <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro deste<br />

ano e receberão R$ 50 mil cada.<br />

Lançada no último dia 11 de maio, a 12ª edição do Prêmio Finep de Inovação distribuirá R$ 29 milhões<br />

<strong>em</strong> financiamentos pré-aprovados, divididos entre os vencedores das etapas regionais e nacional. Desse total,<br />

R$ 9 milhões serão recursos não-re<strong>em</strong>bolsáveis e até R$ 20 milhões <strong>em</strong> recursos re<strong>em</strong>bolsáveis do programa<br />

Finep Inova Brasil. As inscrições vão até 11 de set<strong>em</strong>bro. Os concorrentes pod<strong>em</strong> se inscrever <strong>em</strong> cinco categorias:<br />

Micro/Pequena Empresa, Média Empresa, Grande Empresa (esta só <strong>em</strong> nível nacional), Instituição<br />

de Ciência e Tecnologia e Tecnologia Social. Além dessas, há ainda a categoria Inventor Inovador, com candidatos<br />

selecionados a partir de levantamento na base de dados das patentes concedidas pelo INPI – Instituto<br />

Nacional de Propriedade Industrial.<br />

Neste ano, o regulamento sofreu alguns ajustes. “Mudamos a pontuação e resolv<strong>em</strong>os que os julgamentos<br />

locais serão feitos online, a distância, misturando especialistas de todas as regiões, para que o júri seja mais<br />

diversificado”, explica Vera Marina da Cruz e Silva, coordenadora nacional do prêmio. Além disso, a categoria<br />

Tecnologia Social só receberá inscrições de instituições de ciência e tecnologia, que pod<strong>em</strong> participar de<br />

forma isolada ou <strong>em</strong> parceria com organizações não governamentais, cooperativas e instituições públicas ou<br />

privadas s<strong>em</strong> fins lucrativos. O regulamento está disponível no site www.finep.gov.br.<br />

divulgação<br />

Global Forum será<br />

realizado <strong>em</strong> Florianópolis<br />

O 3º Fórum Global sobre Incubação de Negócios<br />

acontecerá paralelamente ao XIX S<strong>em</strong>inário Nacional<br />

de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas,<br />

na cidade de Florianópolis (SC), entre os dias<br />

26 e 30 de outubro deste ano. A alteração da data,<br />

prevista inicialmente para maio de 2009, se deu com<br />

o intuito de aproveitar as oportunidades geradas pelos<br />

eventos e promover a interação com o mundo da<br />

inovação e do <strong>em</strong>preendedorismo.<br />

Sob o t<strong>em</strong>a central “Inovação e Criação de Empreendimentos<br />

para o Desenvolvimento Inclusivo”, o<br />

Global Forum terá o objetivo de apresentar aos participantes<br />

como a inovação e o <strong>em</strong>preendedorismo<br />

estão sendo trabalhados no mundo para promover o<br />

desenvolvimento inclusivo entre as nações.<br />

O Fórum Global será realizado pelo Programa infoDev/IFC,<br />

vinculado ao Banco Mundial, Ministério<br />

da Ciência e Tecnologia brasileiro, e pela parceria<br />

Anprotec e Sebrae que também são os responsáveis<br />

pela realização do s<strong>em</strong>inário nacional.<br />

shutterstock<br />

12<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

13


e m m o v i m e n t o<br />

Empresa do Porto Digital automatiza<br />

processo administrativo do governo carioca<br />

A M2M Digital, <strong>em</strong>presa “<strong>em</strong>barcada” no<br />

Porto Digital, conquistou mais um importante<br />

cliente: o Governo do Estado do Rio de<br />

Janeiro. Em parceria com a gigante mundial<br />

Accenture, a M2M irá automatizar o processo<br />

de compras e logística de todos os órgãos<br />

do governo carioca, através do Sist<strong>em</strong>a Integrado<br />

de Gestão de Aquisições, SIGA.<br />

O SIGA, sist<strong>em</strong>a operado pela internet,<br />

oferecerá eficiência no ciclo de compras, redução<br />

de custos e qualidade da governança,<br />

através de benefícios como um novo catálogo<br />

de material e serviços, verificação de saldos<br />

<strong>em</strong> estoque, utilização de modelos de editais que serão catalogados, ferramenta própria de pregão, registro<br />

eletrônico de recebimento de material, gestão eletrônica de almoxarifado e contratos, entre outros.<br />

De acordo com o Secretário Estadual de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro, Sérgio Ruy Barbosa,<br />

com a implantação do SIGA, o governo carioca terá uma redução de 40% no t<strong>em</strong>po gasto com licitações, que<br />

costumam durar pelo menos três meses, e uma economia de aproximadamente 15% nos gastos, o que equivale,<br />

atualmente, a cerca de R$ 600 milhões por ano.<br />

O projeto de implantação do SIGA t<strong>em</strong> prazo de 24 meses. A M2M Digital é responsável por desenvolver o<br />

sist<strong>em</strong>a, enquanto a Accenture prestará a consultoria de sua implantação. O SIGA entrará no ar <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro<br />

deste ano e <strong>em</strong> janeiro de 2010 estará implantado <strong>em</strong> 11 entidades-piloto. O cronograma prevê que, até dez<strong>em</strong>bro<br />

de 2010, o SIGA esteja <strong>em</strong> utilização por todos os órgãos do governo do Rio de Janeiro.<br />

Incubadora da Coppe/UFRJ recebe novas <strong>em</strong>presas<br />

Entre as 42 propostas recebidas no último processo seletivo de 2008, a Incubadora de Empresas da Coppe/<br />

UFRJ escolheu cinco <strong>em</strong>presas inovadoras para abrigar: a GPE (software de gestão), Intensys (sist<strong>em</strong>as para<br />

Unidades de Terapia Intensiva), a Promec (mecânica computacional), a Recriar (soluções para rede elétrica) e a<br />

Terathot (risco para seguros de saúde). Com as novas residentes, a Incubadora da Coppe terá 16 <strong>em</strong>presas sob<br />

seu suporte físico e gerencial.<br />

Na história da incubadora, esse foi o<br />

processo seletivo que registrou o maior<br />

número de propostas aceitas <strong>em</strong> um mesmo<br />

edital. Para a escolha das <strong>em</strong>presas,<br />

foram avaliados critérios como viabilidade<br />

técnica e econômica, perfil do grupo<br />

proponente, grau de inovação e possibilidade<br />

de integração com a universidade.<br />

As novas residentes ingressam na incubadora<br />

no mês de maio. A instituição já<br />

prevê a abertura de um novo edital para o<br />

segundo s<strong>em</strong>estre.<br />

fotos: divulgação<br />

Porto Digital,<br />

no Recife (PE)<br />

Sede da<br />

Incubadora de<br />

Empresas da<br />

Coppe/UFRJ<br />

HIGH-TECH<br />

Serviço completo<br />

O monitoramento de velocidade, t<strong>em</strong>peratura<br />

e pressão do óleo já está presente <strong>em</strong> muitos<br />

veículos. Agora, um projeto desenvolvido pelo<br />

C.E.S.A.R. para a Troller permite o envio r<strong>em</strong>oto<br />

desses dados a uma oficina especializada,<br />

que pode descobrir <strong>em</strong> instantes um possível<br />

probl<strong>em</strong>a de des<strong>em</strong>penho. Batizado de ATA<br />

– Arquitetura de Tel<strong>em</strong>etria Aberta, o projeto<br />

desenvolveu um sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong>barcado que<br />

acompanha e diagnostica <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real<br />

oportunidades de melhoria nos automóveis. Um<br />

computador de bordo coleta a informação por<br />

meio da unidade eletrônica de controle do motor<br />

e envia para uma interface s<strong>em</strong> fio, que pode ser<br />

um computador, um celular ou mesmo a web.<br />

Saiba mais: www.cesar.org.br<br />

Varejo equipado<br />

Administrar estoques, definir políticas de<br />

vendas, planejar a distribuição e programar a<br />

produção. Tudo isso pode ser feito com o novo<br />

software desenvolvido<br />

para o varejo pela<br />

Soma TI, residente<br />

na Incubadora de<br />

Empresas de Lins (SP).<br />

O grande diferencial<br />

do software está na<br />

análise automática da curva ABC, ferramenta<br />

gerencial que permite identificar os itens que<br />

proporcionam maior ganho para a <strong>em</strong>presa.<br />

Saiba mais: (14) 3523-1345<br />

Economia de água<br />

A Sist<strong>em</strong>ática, <strong>em</strong>presa incubada na Raiar da<br />

PUCRS, desenvolveu um equipamento capaz<br />

de gerenciar o abastecimento de água nos<br />

prédios residenciais, públicos ou comerciais. O<br />

WaterCop6 é um sist<strong>em</strong>a que possibilita um maior<br />

monitoramento com relação à entrada e saída<br />

de água das bombas, dispensando a presença<br />

humana, já que informa, através de um display,<br />

todo o andamento do processo de abastecimento.<br />

Saiba mais: (51) 3269-0752<br />

Agenda<br />

2009<br />

MAIO<br />

Brasil Tecnológico<br />

Promovido pela Apex-Brasil, o evento integra um projeto de<br />

promoção internacional de setores produtivos brasileiros, que<br />

possuam a tecnologia como diferencial. Além de estimular a<br />

realização de negócios, busca chamar a atenção de possíveis<br />

investidores estrangeiros.<br />

Quando: 26 e 28 de maio<br />

Onde: Lima - Peru<br />

Informações: www.brasil-tech.com<br />

JUNHO<br />

IX Conferência Anpei de Inovação Tecnológica<br />

Um dos eventos mais tradicionais do setor, a Conferência<br />

da Anpei t<strong>em</strong> por objetivo provocar o debate e a reflexão<br />

sobre como praticar a inovação com alto valor agregado, que<br />

resulte <strong>em</strong> produtos e processos mais eficientes.<br />

Quando: 8 a 10 de junho de 2009<br />

Local: Porto Alegre (RS)<br />

Informações: www.anpei.org.br<br />

JULHO<br />

61ª Reunião Anual da SBPC<br />

Com o t<strong>em</strong>a “Amazônia: Ciência e Cultura”, o encontro<br />

promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da<br />

Ciência (SBPC) reúne estudantes, pesquisadores e professores<br />

para conferências, simpósios, minicursos, ass<strong>em</strong>bleias e<br />

sessões especiais que discut<strong>em</strong> os caminhos da ciência no<br />

Brasil e no mundo.<br />

Quando: 12 a 17 de julho de 2009<br />

Onde: Manaus (AM)<br />

Informações: www.sbpcnet.org.br<br />

14<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

15


N E G Ó C I O S<br />

Tecnologia da<br />

Informação<br />

revolucionou o<br />

setor de serviços<br />

Cor a Di a s e Dé b o r a Ho r n<br />

De terciário a essencial<br />

Presente <strong>em</strong> toda a cadeia produtiva, o setor de serviços<br />

movimenta bilhões <strong>em</strong> negócios e abriga um grande<br />

contingente de atividades intensivas <strong>em</strong> conhecimento<br />

divisão clássica do setor produtivo<br />

A <strong>em</strong> primário, secundário e terciário<br />

fez com que, ao longo do t<strong>em</strong>po, as atividades<br />

caracterizadas como serviços foss<strong>em</strong><br />

relegadas a um terceiro plano, representando<br />

tudo que não estivesse diretamente<br />

ligado à agricultura ou à indústria,<br />

que reinavam soberanas. Essa classificação<br />

levou a uma série de equívocos, tratando<br />

o setor de serviços como uma espécie<br />

de apêndice do setor industrial,<br />

conhecido pela baixa produtividade, re-<br />

duzida qualificação da mão-de-obra e<br />

pouca inovação. Mas todos os preconceitos<br />

ca<strong>em</strong> por terra quando se considera o<br />

elevado grau de heterogeneidade do setor,<br />

composto por uma imensa gama de <strong>em</strong>presas,<br />

extr<strong>em</strong>amente distintas <strong>em</strong> termos<br />

de porte, densidade de capital, nível<br />

tecnológico e número de <strong>em</strong>pregados.<br />

Além disso, o setor que já foi o patinho<br />

feio das atividades produtivas hoje representa<br />

60% do Produto Interno Bruto (PIB)<br />

brasileiro e movimenta R$ 501,1 bilhões<br />

shutterstock<br />

por ano <strong>em</strong> negócios, conforme dados do<br />

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

(IBGE).<br />

Embora intensa atualmente, a ascensão<br />

do setor de serviços foi gradual. No Brasil,<br />

iniciou na década de 1980, marcada<br />

pela especialização dos processos produtivos,<br />

quando várias áreas deixaram de<br />

integrar o organograma das <strong>em</strong>presas e a<br />

atuar como prestadoras de serviços. “O<br />

des<strong>em</strong>prego também gerou vários <strong>em</strong>preendimentos<br />

nesse setor. Outros fatores de<br />

ord<strong>em</strong> cultural, como a entrada das mulheres<br />

no mercado de trabalho, alavancaram<br />

negócios, com o fornecimento de<br />

serviços na área de alimentação fora de<br />

casa, limpeza e baby sitter, entre outros”,<br />

explica Márcia Darós, coordenadora nacional<br />

da Carteira de Serviços do Sebrae.<br />

Segundo Márcia, que também pesquisa<br />

o t<strong>em</strong>a para sua tese de doutorado, a<br />

abertura econômica dos anos 1990 contribuiu<br />

para o grande crescimento do setor<br />

de serviços. “As <strong>em</strong>presas precisavam<br />

se tornar mais competitivas e, para isso,<br />

passaram a focar suas atividades principais,<br />

descentralizando as d<strong>em</strong>ais. Então<br />

cresceram os <strong>em</strong>preendimentos ligados a<br />

Divulgação/ IBM<br />

serviços de transporte, logística, consultoria<br />

e manutenção de equipamentos”,<br />

afirma. Com a inovação vista como diferencial<br />

competitivo, também ganharam<br />

espaço as <strong>em</strong>presas de serviços intensivos<br />

<strong>em</strong> conhecimento, com forte atividade<br />

de P&D, alto valor agregado e mãode-obra<br />

qualificada. “São pequenas <strong>em</strong>presas<br />

que passaram a trabalhar por<br />

projetos, expandindo as atividades de<br />

consultoria”, diz Márcia.<br />

Para o pesquisador do Instituto de Pesquisas<br />

Econômicas Aplicadas (IPEA),<br />

Luis Kubota, outro fator que contribuiu<br />

para ampliar a percepção do setor de serviços<br />

foi o próprio desenvolvimento dos<br />

Estados Unidos. “As <strong>em</strong>presas norteamericanas<br />

mais famosas e sólidas têm<br />

uma relação muito forte com serviços,<br />

como as da área de software. A IBM é um<br />

caso <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático: era uma <strong>em</strong>presa que<br />

produzia máquinas de grande porte e<br />

hoje presta consultoria – venderam a<br />

produção industrial para os chineses. A<br />

China hoje é a grande fábrica do mundo,<br />

mas o conhecimento continua centralizado<br />

nos países mais desenvolvidos do<br />

Ocidente”, afirma.<br />

Márcia, do Sebrae:<br />

especialização<br />

das <strong>em</strong>presas<br />

impulsionou o setor<br />

Call center da IBM:<br />

<strong>em</strong>presa migrou da<br />

indústria para serviços<br />

Márcia Gouthier/ASN<br />

16<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

17


N E G Ó C I O S<br />

Participação dos segmentos nos serviços não financeiros<br />

Receita operacional líquida<br />

Valor adicionado<br />

Salários<br />

Pessoal ocupado<br />

29,9%<br />

Número de <strong>em</strong>presas<br />

4,4%<br />

4,6%<br />

1,7%<br />

1,9% 5,7%<br />

5,2%<br />

25,4%<br />

2,8% 5,1%<br />

3,2%<br />

27,6%<br />

3,4%<br />

22,5%<br />

5,5%<br />

9,5%<br />

13,2%<br />

4,1%<br />

9,7%<br />

5,2%<br />

9,2%<br />

21,5%<br />

8,4%<br />

28,9%<br />

12,4%<br />

33,2%<br />

36,2%<br />

21,9%<br />

Legenda<br />

Serviços prestados às famílias 23,4%<br />

Serviços de informação<br />

Serviços prestados às <strong>em</strong>presas<br />

Transportes, serviços auxiliares de transportes e correio<br />

Atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis<br />

Manutenção e reparação<br />

Outros serviços<br />

28,7%<br />

24,5%<br />

15,7%<br />

6,7%<br />

32,2%<br />

6,5%<br />

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas,<br />

Coordenação de Serviços e Comércio, Pesquisa Anual de Serviços 2006<br />

Mix de setores<br />

A classificação setorial clássica também<br />

é contestada pelo professor James<br />

Teboul, da International Business School<br />

(Insead), no livro Serviços <strong>em</strong> cena: o diferencial<br />

que agrega valor ao seu negócio<br />

(veja box na pág. 19). Teboul apresenta<br />

um esqu<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que a área de serviços<br />

trata das interações da linha de frente,<br />

enquanto a produção e a manufatura têm<br />

a ver com as operações de área de apoio.<br />

O objetivo do autor é comprovar que essa<br />

definição é suficient<strong>em</strong>ente robusta para<br />

cobrir todo o espectro dos negócios.<br />

A partir desse esqu<strong>em</strong>a, Teboul explica<br />

que as <strong>em</strong>presas não vend<strong>em</strong> apenas um<br />

produto, mas também o serviço por trás<br />

dele, a assistência técnica, a entrega pontual.<br />

Cada vez mais, os serviços representam<br />

elos importantes das cadeias de produção,<br />

essenciais desde a concepção dos<br />

produtos industriais até sua entrega e, finalmente,<br />

no pós-venda. “Não existe mais<br />

indústria pura hoje. Qualquer <strong>em</strong>presa de<br />

alimentos, por ex<strong>em</strong>plo, que vende seus<br />

produtos nos supermercados, t<strong>em</strong> um<br />

Serviço de Atendimento ao Consumidor<br />

(SAC) e isso é serviço. Software é serviço.<br />

Dentro da indústria, mais da metade das<br />

pessoas executam atividades classificadas<br />

como serviço: marketing, logística, recursos<br />

humanos, entre outros”, afirma<br />

Kubota, do IPEA.<br />

Além de permear a indústria, cresc<strong>em</strong><br />

os serviços <strong>em</strong>presariais intensivos <strong>em</strong><br />

conhecimento (SIC), segmento dinâmico<br />

e inovador, capaz de desenvolver tecnologias<br />

e de viabilizar uma gama de novos<br />

serviços. Reconhecidas por agregar valor<br />

aos negócios, essas atividades inclu<strong>em</strong><br />

consultoria técnica e transferência de<br />

know how, e os serviços de tecnologia de<br />

ponta, principalmente a tecnologia da informação<br />

e comunicação (TIC). “A competitividade<br />

das <strong>em</strong>presas muitas vezes<br />

não está no produto, mas na gama de serviços<br />

por trás da produção”, afirma José<br />

Eduardo Cassiolato, coordenador da RedeSIST<br />

e professor de Economia da Inovação<br />

do Instituto de Economia da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).<br />

Atendimento direto<br />

Comum a todas as definições para o setor<br />

está a ideia de serviço como atividade<br />

destinada a atender diretamente às necessidades<br />

das pessoas ou <strong>em</strong>presas. De<br />

acordo com o novo Termo de Referência<br />

do Sist<strong>em</strong>a Sebrae para o Setor de Serviços,<br />

publicado <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 2007, serviço<br />

é o processo de realização de um trabalho<br />

para satisfazer a necessidade de um<br />

consumidor (veja box na pág. 20). “Até<br />

pouco t<strong>em</strong>po atrás, o Sebrae atendia o setor<br />

de serviços de forma pouco pulverizada,<br />

ou seja, apenas alguns segmentos<br />

eram cont<strong>em</strong>plados. Com o novo Termo<br />

de Referência, há uma visão mais abrangente<br />

do setor, visto como estratégico<br />

para o desenvolvimento e merecedor de<br />

políticas específicas para cada um de seus<br />

segmentos”, explica Márcia Darós.<br />

De acordo com a pesquisa realizada<br />

Serviços <strong>em</strong> cena<br />

A fim de dar uma definição mais adequada para<br />

o setor de serviços e mostrar como o paradigma<br />

clássico da economia trissetorial é obsoleto e<br />

enganoso, o professor James Teboul, do International<br />

Business School (Insead), escreveu o livro Serviços<br />

<strong>em</strong> cena: o diferencial que agrega valor ao seu negócio.<br />

O autor mostra que serviços tão comuns <strong>em</strong><br />

nosso cotidiano são, atualmente, a expressão mais<br />

dinâmica e promissora da economia, baseando-se<br />

na distinção entre as atividades da área de frente<br />

– os serviços – e as atividades da área de apoio –<br />

produção e manufatura.<br />

O objetivo do livro é comprovar que a definição<br />

proposta é suficient<strong>em</strong>ente robusta para cobrir todo<br />

o espectro de negócios, e que a abordag<strong>em</strong> que<br />

dela deriva proporcionará um referencial com o qual<br />

será possível explorar todas as questões importantes<br />

dessa área. Na indústria existe uma concentração na<br />

pelo Sebrae para a elaboração do termo<br />

de referência, o forte des<strong>em</strong>penho do setor<br />

terciário nos últimos anos t<strong>em</strong> sido<br />

motivado por essa crescente interdependência<br />

entre a produção de bens e a de<br />

serviços. Entre 1985 e 2005, o nível de<br />

<strong>em</strong>prego formal no setor de serviços aumentou<br />

sua participação na economia<br />

brasileira de 65,59% para 72,39%, com a<br />

criação de aproximadamente 11 milhões<br />

de novos <strong>em</strong>pregos. “Devido à dimensão<br />

do setor de serviços, entender mais a fundo<br />

sua situação e definir os esforços necessários<br />

para solucionar probl<strong>em</strong>as e<br />

promover seu desenvolvimento são tarefas<br />

fundamentais para o crescimento econômico<br />

do país”, afirma Márcia.<br />

Inovação terceirizada<br />

Classicamente conhecida (e criticada)<br />

como uma estratégia de redução de custos<br />

e ganhos de produtividade, a terceirização<br />

se estendeu às atividades ligadas ao<br />

conhecimento. Com o aumento da com-<br />

Teboul, da Insead:<br />

serviços são elos<br />

importantes da<br />

cadeia produtiva<br />

Kubota, do IPEA:<br />

inovação ainda se<br />

restringe a alguns<br />

segmentos<br />

área de apoio, mas é necessária uma área de frente<br />

para vender, distribuir, reparar, desenvolver soluções<br />

e ajudar a treinar os clientes. Já nos serviços, há<br />

uma concentração de atividades da área de frente,<br />

no entanto as operações da área de apoio são<br />

necessárias para preparar produtos e componentes<br />

ou informações sobre o processo.<br />

A partir desse esqu<strong>em</strong>a, o autor conclui que estão<br />

todos <strong>em</strong> serviços agora, mais ou menos, porém<br />

estar<strong>em</strong>os ainda mais <strong>em</strong> serviços no futuro, porque<br />

as áreas de apoio encolherão, devido à economia de<br />

escala e às terceirizações, enquanto a área de frente<br />

se desenvolverá ainda mais, por conta das exigências<br />

cada vez mais sofisticadas dos clientes. É importante<br />

ponderar a importância relativa da área de apoio e da<br />

área de frente, e saber gerenciar esses dois mundos<br />

tão distintos, que frequent<strong>em</strong>ente conflitam, mas têm<br />

que estar alinhados e coordenados.<br />

Márcia Gouthier/ASN<br />

Divulgação/ IPEA<br />

18<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

19


N E G Ó C I O S<br />

Políticas públicas<br />

petição internacional e busca por padrões<br />

mais elevados de qualidade, há uma crescente<br />

tendência no sentido da terceirização<br />

de serviços relacionados à atividade<br />

<strong>em</strong>presarial, como pesquisa e desenvolvimento,<br />

financiamento, logística e desenvolvimento<br />

de softwares. A d<strong>em</strong>anda fez<br />

<strong>em</strong>ergir uma série de pequenas e médias<br />

<strong>em</strong>presas especializadas e com grande<br />

potencial inovador.<br />

Segundo dados divulgados pelo Sebrae,<br />

98% das <strong>em</strong>presas do setor de serviços são<br />

micro, pequenas ou médias. Esse é o caso<br />

da Hive.Log Soluções Integradas para Logística,<br />

<strong>em</strong>presa incubada pelo Centro de<br />

Estudos e Sist<strong>em</strong>as Avançados do Recife<br />

(C.E.S.A.R.), que presta serviços de tecnologia<br />

da informação para grandes transportadoras,<br />

desenvolvendo softwares especializados<br />

<strong>em</strong> planejamento, execução,<br />

monitoramento e controle das atividades<br />

relativas à consolidação de cargas. “O setor<br />

de logística possui uma característica<br />

de intolerância a falhas, já que lida com<br />

prazos e normalmente trabalha 24 horas<br />

por dia. T<strong>em</strong>os que garantir que nosso sist<strong>em</strong>a<br />

funcione também <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po integral<br />

para o nosso cliente. Prestando esse serviço<br />

garantimos a estabilidade na cadeia de<br />

logística”, explica Daniel Brasil, presidente<br />

da Hive.Log. Dentre os clientes da <strong>em</strong>presa<br />

estão a Fly Logística, a Real Transportes<br />

e a Flex Express.<br />

No caso da Plangeo – Planejamento e<br />

Geotecnologia Ltda., <strong>em</strong>presa graduada<br />

pelo Agente Softex Genesis da Universidade<br />

Federal de Juiz de Fora (MG), os serviços<br />

especializados são oferecidos através<br />

de consultoria na geração de informações<br />

geográficas. Atualmente, a <strong>em</strong>presa está<br />

desenvolvendo o projeto “Produtor Florestal”<br />

para a Companhia Agrícola Florestal<br />

Santa Bárbara (CAF), <strong>em</strong>presa associada<br />

ao Grupo Arcelor. O trabalho<br />

consiste no levantamento de áreas onde<br />

serão feitas plantações de eucaliptos para<br />

produção de madeira que será convertida<br />

<strong>em</strong> carvão vegetal, usado como redutor<br />

nos alto-fornos da Belgo Mineira. A Plangeo<br />

vai mapear áreas de preservação permanente<br />

(APPs) e reservas legais para que<br />

a CAF possa realizar o projeto <strong>em</strong> regiões<br />

adequadas para o plantio, s<strong>em</strong> prejudicar<br />

o meio ambiente. “As <strong>em</strong>presas para as<br />

quais prestamos nossos serviços pod<strong>em</strong><br />

focar no seu objetivo final, nós agimos na<br />

O Termo de Referência proposto pelo Sebrae, <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 2007, t<strong>em</strong> por objetivo promover projetos e<br />

criar instrumentos de apoio às MPEs e <strong>em</strong>preendedores dos diversos segmentos do setor de serviços, a partir de<br />

uma visão mais abrangente de suas especificidades. Segundo a coordenadora nacional da Carteira de Serviços<br />

do Sebrae, Márcia Darós, o termo foi criado a partir da constatação da importância econômica do setor e das<br />

dificuldades <strong>em</strong> estabelecer políticas públicas específicas para cada segmento. De acordo com o documento, o<br />

sucesso da atuação do Sebrae dependerá de futuras parcerias entre os <strong>em</strong>presários e as entidades <strong>em</strong>presariais e<br />

governamentais que prestam apoio às <strong>em</strong>presas que atuam no setor. Veja abaixo os principais objetivos do<br />

Termo de Referência.<br />

• Apresentar referências para atuação do Sist<strong>em</strong>a Sebrae nos diversos segmentos do setor de serviços.<br />

• Apresentar os 29 segmentos do setor de serviços que poderão contar com projetos.<br />

• Sugerir critérios para a escolha dos segmentos a apoiar.<br />

• Apresentar recomendações para a estruturação de projetos que atendam as especificidades dos<br />

diversos segmentos.<br />

• Sugerir estratégias de atuação específicas dependendo das características de cada segmento que<br />

se decida apoiar.<br />

área de Inteligência Geográfica e fornec<strong>em</strong>os<br />

informações que rend<strong>em</strong> maior produtividade<br />

e competitividade aos nossos<br />

clientes”, afirma Júlio César de Almeida,<br />

presidente da Plangeo.<br />

Intangível<br />

O contato direto com o cliente faz com<br />

que o setor de serviços, geralmente, trabalhe<br />

com o intangível e isso, segundo<br />

especialistas, dificulta o reconhecimento<br />

de processos inovadores. “A dificuldade<br />

<strong>em</strong> definir e mensurar o setor de serviços<br />

e, muitas vezes, compará-lo erroneamente<br />

ao setor manufatureiro causam essa<br />

incompreensão do que pode ser a inovação<br />

tecnológica nesse segmento. O investimento<br />

<strong>em</strong> P&D ainda está muito centrado<br />

<strong>em</strong> atividades manufatureiras”, explica<br />

Cassiolato, da UFRJ.<br />

Nesses cenários, as <strong>em</strong>presas ligadas às<br />

tecnologias de informação e comunicação<br />

(TICs) exerc<strong>em</strong> papel central no dinamismo<br />

de um novo padrão proposto pela<br />

economia do conhecimento, alavancando<br />

um conjunto de inovações técnico-científicas,<br />

organizacionais, sociais e institucionais<br />

e gerando novas possibilidades de<br />

retorno econômico e social nas mais variadas<br />

atividades. Por isso são consideradas<br />

pelos pesquisadores da área como as<br />

principais difusoras de progresso técnico.<br />

Segundo a última Pesquisa Anual de Serviços,<br />

publicada <strong>em</strong> 2006 pelo IBGE, as<br />

atividades ligadas às TICs incluíam 51.240<br />

<strong>em</strong>presas, ocupavam 344 mil pessoas e<br />

pagaram R$ 8,3 bilhões <strong>em</strong> salários, retiradas<br />

e outras r<strong>em</strong>unerações.<br />

Em um setor <strong>em</strong> que processo e produto<br />

geralmente se confund<strong>em</strong>, parece natural<br />

que haja especificidades quando se<br />

trata de inovação. “T<strong>em</strong> uma certa diferença<br />

na natureza da inovação. No serviço,<br />

a inovação é muito mais incr<strong>em</strong>ental<br />

que na indústria, <strong>em</strong> que ocorre de forma<br />

mais gradual. A inovação ainda se restringe<br />

a uma gama de <strong>em</strong>presas. Setores<br />

de software são muito mais inovadores,<br />

do ponto de vista tecnológico, do que o<br />

setor de restaurantes, por ex<strong>em</strong>plo”, conclui<br />

Kubota. Como qualquer teoria que se<br />

refere ao setor de serviços, tudo depende<br />

do ponto de vista.<br />

Trabalho de<br />

campo da Plangeo:<br />

consultoria agrega<br />

valor aos negócios<br />

Divulgação/ PLANGEO<br />

20<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

21


i n v e s t i m e n t o<br />

Ca r o l i n e Ma z z o n e t o<br />

Laboratório da<br />

Rizoflora, <strong>em</strong> Viçosa<br />

(MG): <strong>em</strong>presa<br />

recebeu R$ 1 milhão<br />

do Criatec<br />

S<strong>em</strong> medo do novo<br />

Fundo de capital-s<strong>em</strong>ente do Bndes <strong>completa</strong> 16 meses<br />

investindo <strong>em</strong> levar a inovação para o mercado através da<br />

compra de ações de <strong>em</strong>presas de base tecnológica<br />

No final de 2003 técnicos do Banco<br />

Nacional de Desenvolvimento Econômico<br />

e Social (Bndes) se convenceram<br />

de que havia uma lacuna no apoio à inovação<br />

no Brasil. Mesmo que o governo<br />

investisse quantias consideráveis <strong>em</strong> universidades,<br />

incubadoras e laboratórios,<br />

além de treinar e qualificar milhares de<br />

mestrandos e doutorandos, eram poucos<br />

os frutos dessas pesquisas que conseguiam<br />

chegar ao mercado. A razão era a<br />

falta de recursos para transformar a ideia<br />

<strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimento. Foi para suprir essa<br />

lacuna que surgiu o Criatec, fundo de capital-s<strong>em</strong>ente<br />

criado pelo Bndes para<br />

apoiar <strong>em</strong>presas nascentes e inovadoras,<br />

de base tecnológica, com faturamento entre<br />

zero e R$ 6 milhões.<br />

Em funcionamento desde nov<strong>em</strong>bro de<br />

2007, o Criatec injeta recursos <strong>em</strong> troca<br />

de ações da <strong>em</strong>presa. Quando acaba a participação<br />

do fundo no <strong>em</strong>preendimento,<br />

essas ações são vendidas para um investidor<br />

estratégico (um grande cliente, por<br />

ex<strong>em</strong>plo) ou financeiro. O prazo de atuação<br />

do Criatec na <strong>em</strong>presa, na qual entra<br />

FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />

s<strong>em</strong>pre como sócio minoritário, é de dois<br />

a 10 anos, prorrogáveis por mais cinco.<br />

Desde o início das operações, 16 <strong>em</strong>presas<br />

foram selecionadas para ter os investimentos<br />

– seis delas já receberam o<br />

dinheiro. Até agora foram des<strong>em</strong>bolsados<br />

R$ 10 milhões e outros R$ 22,3 milhões<br />

estão aprovados. “É uma iniciativa muito<br />

nova. Somos o maior fundo de capitals<strong>em</strong>ente<br />

da América Latina e possivelmente<br />

do mundo”, resume Robert Binder,<br />

gestor do Criatec junto à Comissão de<br />

Valores Mobiliários (CVM). O total de<br />

recursos disponíveis é de R$ 100 milhões<br />

– R$ 80 milhões do Bndes e o restante do<br />

Banco do Nordeste (BND), que ingressou<br />

no fundo <strong>em</strong> abril de 2008.<br />

O Criatec é gerido pela <strong>em</strong>presa Antera<br />

Gestão de Recursos e está presente <strong>em</strong><br />

oito sedes: Rio de Janeiro, Campinas, Belém,<br />

Fortaleza, Recife, Florianópolis, Belo<br />

Horizonte e Viçosa (posto avançado da<br />

Regional Belo Horizonte). O objetivo de<br />

terceirizar a operação do fundo era justamente<br />

o de aumentar sua área de atuação.<br />

Com pouca capilaridade, o Bndes teria<br />

dificuldades para estar perto dos <strong>em</strong>preendimentos<br />

visados pelo Criatec – geralmente<br />

localizados próximos a universidades.<br />

“Com a estrutura centralizada do<br />

banco as coisas iriam d<strong>em</strong>orar muito<br />

mais para acontecer e o número de <strong>em</strong>presas<br />

atendidas seria b<strong>em</strong> menor”, explica<br />

Aluysio Asti, economista do Bndes e<br />

um dos idealizadores do Criatec.<br />

Além do aporte financeiro, os gestores<br />

regionais acompanham o desenvolvimento<br />

das <strong>em</strong>presas, dando suporte jurídico,<br />

administrativo e financeiro. A iniciativa<br />

supre a d<strong>em</strong>anda dos inovadores, que,<br />

Orig<strong>em</strong> das propostas submetidas ao Criatec<br />

Dados até março de 2009<br />

Campinas – SP<br />

25<br />

Rio de Janeiro – RJ<br />

29<br />

Belo Horizonte e Viçosa – MG<br />

30<br />

Florianópolis – SC<br />

Recife – PE<br />

Belém – PA<br />

0<br />

Fortaleza – CE<br />

Total de propostas: 686<br />

muitas vezes, têm dificuldades na hora de<br />

lidar com o mercado. “Toda s<strong>em</strong>ana v<strong>em</strong><br />

alguém aqui discutir o andamento do negócio.<br />

Trabalhamos <strong>em</strong> conjunto para<br />

atingir as metas. Eles orientam e dão um<br />

pouco mais da visão econômica”, explica<br />

Wataru Ueda, um dos sócios da Magnamed,<br />

<strong>em</strong>presa residente no Centro Incubador<br />

de Empresas Tecnológicas. Especializada<br />

<strong>em</strong> tecnologias para equipamentos<br />

médico-hospitalares, a Magnamed passou<br />

a contar com a estrutura do Criatec <strong>em</strong><br />

outubro do ano passado.<br />

Grupo seleto<br />

A meta do fundo é que <strong>em</strong> quatro anos<br />

sejam beneficiados 50 <strong>em</strong>preendimentos<br />

– um por mês, <strong>em</strong> média. As 16 <strong>em</strong>presas<br />

selecionadas até agora são de áreas como<br />

biotecnologia, robótica, equipamentos<br />

médicos, petróleo e gás, novos materiais,<br />

mecatrônica, química, hardware e software.<br />

Mas <strong>em</strong>preendimentos de qualquer<br />

área do conhecimento pod<strong>em</strong> se candidatar,<br />

desde que envolvam inovação. As<br />

propostas de investimento são enviadas<br />

pelo site do Criatec – até março de 2009<br />

haviam sido inscritos 686 projetos. “A seletividade<br />

é muito grande porque o investimento<br />

é de alto risco. Não t<strong>em</strong> segurança,<br />

não t<strong>em</strong> aval”, argumenta Márcio<br />

Spata, gerente do Departamento de Fundos<br />

do Bndes.<br />

97<br />

106<br />

114<br />

75<br />

150<br />

285<br />

300<br />

O primeiro <strong>em</strong>preendimento a receber<br />

investimentos do Criatec, no ano passado,<br />

foi a Rizoflora Biotecnologia, da Incubadora<br />

de Empresas de Base Tecnológica do<br />

Centro Tecnológico de Desenvolvimento<br />

Regional de Viçosa (CENTEV), de Minas<br />

Gerais. Criada <strong>em</strong> fevereiro de 2006 como<br />

sociedade limitada, a <strong>em</strong>presa produz fungos<br />

e bactérias <strong>em</strong> substratos específicos<br />

para controle biológico dos chamados<br />

neumatoides, vermes que atacam raízes de<br />

culturas como cana-de-açúcar, soja, café e<br />

árvores frutíferas. Com o investimento do<br />

Criatec, que foi de R$ 1 milhão, foi construída<br />

uma biofábrica no Parque Tecnológico<br />

de Viçosa. “S<strong>em</strong> o Criatec talvez a<br />

Rizoflora estivesse caminhando a passos<br />

b<strong>em</strong> lentos. Foi primordial para a <strong>em</strong>presa,<br />

deu uma guinada muito grande”, explica<br />

Marcos Antônio Teixeira, gestor administrativo<br />

do <strong>em</strong>preendimento.<br />

Para Aluysio Asti, um dos idealizadores<br />

do fundo, a iniciativa está no caminho certo.<br />

Ainda assim, falta aumentar o alcance e<br />

o número de <strong>em</strong>presas beneficiadas pelo<br />

Criatec, aproveitando a experiência adquirida<br />

nesta primeira fase. “Agora t<strong>em</strong>os que<br />

fazer um esforço ainda maior para massificar,<br />

encontrar meios de atender mais <strong>em</strong>presas”,<br />

conclui o economista.<br />

Passo a passo<br />

Ueda, da Magnamed:<br />

orientação do Criatec<br />

ajuda a atingir metas<br />

Spata, do Bndes:<br />

seleção de<br />

<strong>em</strong>presas é rigorosa<br />

devido ao risco<br />

As propostas inscritas no site do Criatec são avaliadas <strong>em</strong><br />

no máximo um mês pelos gestores regionais, de acordo com<br />

a localização da <strong>em</strong>presa que busca a parceria. Se o projeto<br />

é aprovado neste primeiro momento, o gestor entra <strong>em</strong><br />

contato com o <strong>em</strong>preendedor e marca uma entrevista. Os dois<br />

montam a quatro mãos um relatório de investimentos que<br />

é encaminhado para o comitê interno da Antera, gestora do<br />

Criatec. A <strong>em</strong>presa então decide se leva ou não a proposta para<br />

o Comitê de Investimentos, formado por dois representantes<br />

do Bndes, um do BND, um gestor do fundo e dois conselheiros<br />

externos. Se o projeto é aprovado nessa última rodada, começa<br />

uma checag<strong>em</strong> <strong>completa</strong> <strong>em</strong> relação aos antecedentes do<br />

<strong>em</strong>preendimento e do <strong>em</strong>preendedor. Além das 16 <strong>em</strong>presas já<br />

aprovadas, há atualmente cerca de 25 pré-selecionadas.<br />

22<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

23


o p o r t u n i d a d e<br />

Fr a n c i s Fr a n ç a<br />

Operação de risco<br />

Brasil decide competir no mercado de s<strong>em</strong>icondutores,<br />

hoje dominado por gigantes multinacionais. Se der certo,<br />

a iniciativa pode fomentar uma indústria inovadora.<br />

Mas a possibilidade de fracasso ainda gera desconfiança.<br />

P<br />

ara esta reportag<strong>em</strong> chegar às suas<br />

mãos, foram necessárias centenas de<br />

chips. Eles estavam no computador de<br />

qu<strong>em</strong> escreveu, nos servidores que transmitiram<br />

os dados pela internet, nas máquinas<br />

que fabricaram o papel, nas impressoras<br />

da gráfica, nos veículos que a<br />

entregaram. E se você olhar <strong>em</strong> volta,<br />

verá que neste momento está cercado por<br />

eles, nos telefones, aparelhos eletrônicos<br />

e <strong>em</strong> tudo mais que tenha passado por<br />

processo industrial. Essa montanha de<br />

shutterstock<br />

chips, também chamados de s<strong>em</strong>icondutores,<br />

movimenta cerca de US$ 250 bilhões<br />

por ano <strong>em</strong> um mercado que o Brasil<br />

frequentava apenas como comprador.<br />

Este ano o cenário começa a mudar com a<br />

inauguração do Centro de Excelência <strong>em</strong><br />

Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec),<br />

<strong>em</strong> Porto Alegre (RS), considerado pelos<br />

fundadores o primeiro passo para transformar<br />

o Sul do Brasil no Vale do Silício<br />

da América Latina.<br />

O Governo Federal investiu cerca de<br />

R$ 350 milhões na <strong>em</strong>preitada, e <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro<br />

do ano passado assinou a criação<br />

da <strong>em</strong>presa pública Ceitec S/A. A estatização<br />

garante o repasse de recursos via Ministério<br />

da Ciência e Tecnologia até que o<br />

centro se torne autossuficiente, o que está<br />

programado para acontecer <strong>em</strong> três anos.<br />

Depois da federalização já foram repassados<br />

mais R$ 45 milhões para o custeio das<br />

atividades <strong>em</strong> 2009. O investimento é uma<br />

tentativa de reduzir a pressão sobre a balança<br />

comercial, já que os componentes<br />

microeletrônicos representam um quinto<br />

de toda a importação do país, segundo a<br />

Associação Brasileira da Indústria Elétrica<br />

e Eletrônica (Abinee). Só <strong>em</strong> s<strong>em</strong>icondutores,<br />

as importações custaram ao Brasil<br />

US$ 4 bilhões no ano passado, 18% a<br />

mais do que <strong>em</strong> 2007. Considerando todos<br />

os itens de microeletrônica, <strong>em</strong> 2008 o déficit<br />

chegou a US$ 22 bilhões.<br />

Críticas ao projeto questionam se vale a<br />

pena investir tanto dinheiro público para<br />

entrar <strong>em</strong> um mercado já maduro e dominado<br />

por gigantes multinacionais. De fato<br />

o Ceitec não vai resolver o probl<strong>em</strong>a da<br />

balança comercial, mas é peça fundamental<br />

no quebra-cabeça. “O custo da importação<br />

de componentes já é maior do que o<br />

país exporta de ferro, frango ou café, e<br />

esse déficit cresce <strong>em</strong> média 30% ao ano.<br />

Se o Brasil não começar a participar do<br />

mercado de microeletrônica, daqui a pouco<br />

não vamos mais conseguir pagar a<br />

conta da tecnologia”, diz Luiz Francisco<br />

Gerbase, vice-presidente da Abinee e diretor<br />

regional no Rio Grande do Sul.<br />

Primeiro passo<br />

Ainda serão necessários muitos anos<br />

para que a indústria brasileira de s<strong>em</strong>icondutores<br />

consiga reverter o déficit,<br />

mas o Brasil precisa começar e já perdeu<br />

t<strong>em</strong>po d<strong>em</strong>ais – a China começou o processo<br />

s<strong>em</strong>elhante há 10 anos. A proposta<br />

do Ceitec é justamente servir de estopim.<br />

O plano não é vender bilhões de dólares,<br />

mas preparar o campo para atrair<br />

outras <strong>em</strong>presas e multiplicar os investimentos.<br />

“O Ceitec é uma bandeira, não<br />

um prédio. O que vai resolver o probl<strong>em</strong>a<br />

da balança comercial é um plano<br />

estratégico nacional para a microeletrônica,<br />

não iniciativas isoladas. Nas<br />

economias desenvolvidas esse setor corresponde<br />

a 12% do PIB. O Brasil também<br />

pode chegar lá, mas para isso precisamos<br />

começar”, diz Gerbase.<br />

De acordo com o presidente do Ceitec,<br />

Eduard Weichselbaumer, mais do que gerar<br />

volume <strong>em</strong> dólares, o objetivo é criar<br />

propriedade intelectual no país e um ambiente<br />

favorável para a instalação da indústria<br />

de microeletrônica. “S<strong>em</strong> indústria<br />

de s<strong>em</strong>icondutores a microeletrônica<br />

não se desenvolve. As <strong>em</strong>presas do setor<br />

não vinham para cá porque não havia infraestrutura.<br />

Precisamos oferecer insumos<br />

como água e energia com uma qualidade<br />

diferente do consumidor comum,<br />

estrutura de fornecedores e mão-de-obra<br />

qualificada. E é esse alicerce que estamos<br />

montando”, diz ele. A inauguração está<br />

prevista para julho e <strong>em</strong>bora a preocupação<br />

principal seja servir de base, o Ceitec<br />

espera também ampliar a produção, e, <strong>em</strong><br />

dois anos, atingir uma nova fase, com<br />

mais capital – público ou privado.<br />

Base na experiência<br />

O projeto começou <strong>em</strong> 2000, a partir de<br />

uma parceria entre governos, universidades<br />

e a Motorola, que doou equipamentos<br />

para montar uma sala limpa para fabricação<br />

de s<strong>em</strong>icondutores. Em 2005 começaram<br />

as obras do complexo de 14.600 m²,<br />

que inclu<strong>em</strong> a fábrica onde estão as salas<br />

limpas e o centro de projetos, onde fica o<br />

núcleo de design de chips. Cerca de 80<br />

profissionais trabalham hoje no Ceitec,<br />

40 deles ligados diretamente ao design de<br />

chips e outros 40 envolvidos na montag<strong>em</strong><br />

da fábrica e na administração. O plano<br />

é chegar até o final do ano com 120<br />

pessoas. A equipe é de alta qualificação.<br />

Para cada oito engenheiros é necessário<br />

um líder de time com 15 anos de experiência.<br />

Como o Brasil não t<strong>em</strong> tradição <strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>icondutores, boa parte desses profissionais<br />

v<strong>em</strong> do exterior – estrangeiros ou<br />

brasileiros que trabalham fora do país.<br />

O próprio presidente do Ceitec é al<strong>em</strong>ão.<br />

Com quase 30 anos de experiência<br />

na área de s<strong>em</strong>icondutores, Weichselbaumer<br />

participou do lançamento de diversas<br />

<strong>em</strong>presas do setor nos mercados euro-<br />

Sede do Ceitec:<br />

investimento<br />

público beira os<br />

R$ 400 milhões<br />

DIVULGAÇÃO<br />

24<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

25


o p o r t u n i d a d e<br />

Weichselbaumer:<br />

Brasil agora t<strong>em</strong><br />

condições de<br />

disputar espaço<br />

peu e norte-americano. Em contato com<br />

amigos engenheiros que estavam envolvidos<br />

com o Ceitec, Weichselbaumer participou<br />

da elaboração do plano de negócios<br />

do centro, e no final de março foi <strong>em</strong>possado<br />

como presidente. “Talvez para o<br />

Brasil seja estranho nomear um estrangeiro<br />

para presidir uma <strong>em</strong>presa pública,<br />

mas o mundo inteiro está estruturado assim,<br />

buscando especialistas que tenham o<br />

conhecimento necessário, sejam eles estrangeiros<br />

ou não. O ministro Sérgio Rezende<br />

me disse que o Brasil tentou mais<br />

de uma vez entrar na área de s<strong>em</strong>icondutores,<br />

mas s<strong>em</strong> experiência não funcionou”,<br />

diz o presidente.<br />

E ao contrário do que se podia esperar,<br />

a crise financeira mundial beneficiou os<br />

planos da estatal. Enquanto no exterior<br />

os reflexos da crise sacod<strong>em</strong> os mercados<br />

e levam a insegurança e d<strong>em</strong>issões, o<br />

Brasil faz o movimento inverso e importa<br />

engenheiros de alta qualificação com<br />

mais facilidade. Além disso, encontra os<br />

concorrentes <strong>em</strong> uma posição mais vulnerável<br />

e dispostos a firmar parcerias<br />

para dividir esforços. “Nossa estratégia é<br />

montar a <strong>em</strong>presa de s<strong>em</strong>icondutores enquanto<br />

o resto do mundo t<strong>em</strong> dificuldade,<br />

assim estar<strong>em</strong>os prontos quando o<br />

mercado começar a se recuperar”, diz<br />

Weichselbaumer.<br />

A indústria de s<strong>em</strong>icondutores só deve<br />

retomar o crescimento <strong>em</strong> 2010, segundo<br />

FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />

pesquisa divulgada pela consultoria<br />

Gartner Group. Este ano o mercado deve<br />

sofrer retração de 24% na receita <strong>em</strong> relação<br />

aos US$ 256,4 bilhões registrados<br />

<strong>em</strong> 2008. A Intel é a maior fabricante<br />

mundial de s<strong>em</strong>icondutores, com 13,3%<br />

de participação no mercado. Em segundo<br />

lugar v<strong>em</strong> a Samsung, com 6,8%. O<br />

Ceitec não pretende concorrer com elas.<br />

Nesse universo de bilhões de dólares<br />

n<strong>em</strong> tudo é m<strong>em</strong>ória para computador e,<br />

por isso, a estratégia do centro brasileiro<br />

é focar <strong>em</strong> três nichos: identificação por<br />

radiofrequência (RFID), como o chip de<br />

rastreamento bovino, já projetado pelo<br />

Ceitec; circuitos para TV digital e comunicação<br />

wireless, todos projetados para<br />

ser<strong>em</strong> competitivos internacionalmente.<br />

Espaço disputado<br />

Sinergia<br />

A expectativa é que o Ceitec não apenas estimule<br />

<strong>em</strong>presas estrangeiras a instalar<strong>em</strong> unidades de<br />

produção no Brasil, mas também a criação de<br />

<strong>em</strong>presas inovadoras voltadas para o mercado de<br />

microeletrônica. Da Pontifícia Universidade Católica<br />

do Rio Grande do Sul (PUCRS) vieram os dois<br />

primeiros ex<strong>em</strong>plos. Um deles foi a parceria entre<br />

Ceitec, o Centro de Pesquisa <strong>em</strong> Tecnologias Wireless<br />

(CPTW) da Faculdade de Engenharia da universidade<br />

e o Grupo Telavo, instalado no Parque Tecnológico<br />

Tecnopuc, que abrigou provisoriamente o Ceitec<br />

durante dois anos. Os três parceiros se uniram para<br />

desenvolver o projeto de moduladores para TV<br />

digital e também têm planos de desenvolver chips<br />

para televisores e conversores para decodificar os<br />

O mercado consumidor está na própria<br />

vizinhança. A meta é fazer do Brasil líder<br />

<strong>em</strong> s<strong>em</strong>icondutores na América Latina,<br />

mercado hoje dominado por Estados<br />

Unidos, Rússia, Índia e China. Para Weichselbaumer,<br />

o cenário é bastante favorável,<br />

já que a tendência das indústrias é<br />

investir <strong>em</strong> mercados <strong>em</strong>ergentes e não<br />

existia nenhuma base latino-americana<br />

até a criação do Ceitec. Para o presidente<br />

da estatal, o Brasil entra no mercado <strong>em</strong><br />

condições de disputar espaço com concorrentes<br />

como a China por dois fatores:<br />

o primeiro é que os custos de implantação<br />

da fábrica já estão amortizados e<br />

toda a receita entra como saldo positivo.<br />

O segundo é o Programa de Apoio ao Desenvolvimento<br />

Tecnológico da Indústria<br />

de S<strong>em</strong>icondutores (Padis), que isenta de<br />

imposto de renda, PIS/Pasep, Cofins, IPI<br />

e CIDE as indústrias de s<strong>em</strong>icondutores<br />

e equipamentos para TV digital . A Lei<br />

11.484 também reduz a zero a alíquota de<br />

importação de máquinas e equipamentos<br />

por até 16 anos. “A mão-de-obra na China<br />

não é mais barata do que a nossa. Eles<br />

têm custos menores na produção de alguns<br />

componentes, mas pod<strong>em</strong>os importá-los<br />

s<strong>em</strong> o peso dos impostos, o que nos<br />

põe <strong>em</strong> vantag<strong>em</strong>. E se tivermos custos<br />

equivalentes, ser<strong>em</strong>os mais competitivos,<br />

porque entend<strong>em</strong>os muito mais de América<br />

Latina do que os chineses”, diz Weichselbaumer.<br />

Para explorar essa competitividade<br />

toda, o Ceitec vai precisar enfrentar alguns<br />

desafios, como conciliar o ritmo do<br />

mercado de chips com o de uma <strong>em</strong>presa<br />

estatal. Embora o centro tenha uma estrutura<br />

moderna e todos os cargos sejam<br />

de técnicos qualificados, não políticos, é<br />

s<strong>em</strong>pre mais difícil administrar uma <strong>em</strong>presa<br />

pública do que uma privada. Prova<br />

disso é Weichselbaumer ter passado os<br />

últimos quatro meses tendo que resolver<br />

probl<strong>em</strong>as administrativos. Enquanto<br />

isso, a taxa média de evolução desse mercado<br />

é de nove meses.<br />

A aposta é que o país consiga equacionar<br />

vantagens e limitações, até por que<br />

não existe outra escolha. Ou começa a<br />

fomentar uma indústria que levará décadas<br />

para se desenvolver plenamente, ou<br />

não começa e se limita a assistir ao aumento<br />

do déficit. “A alternativa é não<br />

fazer nada. Não correr<strong>em</strong>os risco, n<strong>em</strong><br />

chegar<strong>em</strong>os a lugar algum”, diz Weichselbaumer.<br />

Segundo ele, os investimentos<br />

foram relativamente baixos, se comparados<br />

ao custo médio de uma fábrica<br />

grande de s<strong>em</strong>icondutores – cerca de<br />

US$ 1 bilhão, com prazo de quatro anos<br />

para recuperar o investimento e receita<br />

média de US$ 1 milhão por dia. “Eu conheço<br />

muito b<strong>em</strong> a China, há alguns<br />

anos eles investiram US$ 2,5 bilhões <strong>em</strong><br />

dois anos e meio e hoje estão muito b<strong>em</strong><br />

posicionados. O Brasil pode chegar lá<br />

também, mas precisa dar o primeiro<br />

passo”, afirma.<br />

Funcionários do<br />

Ceitec: boa parte<br />

dos contratados<br />

v<strong>em</strong> do exterior<br />

sinais analógicos <strong>em</strong> digitais.<br />

O segundo caso v<strong>em</strong> da parceria entre o Ceitec, o<br />

Grupo de Sist<strong>em</strong>as Embarcados (GSE) da Faculdade<br />

de Informática (Facin) da PUCRS e a <strong>em</strong>presa<br />

Innalogics, residente na Incubadora Multissetorial<br />

de Empresas de Base Tecnológica da PUCRS (Raiar),<br />

para desenvolver chips a ser<strong>em</strong> instalados nos<br />

carros brasileiros com informações acessíveis a<br />

autoridades rodoviárias e policiais. O projeto atende<br />

a uma medida do Conselho Nacional de Trânsito<br />

para facilitar a localização de veículos furtados,<br />

identificar situações irregulares e gerenciar o<br />

tráfego. A Innalogics t<strong>em</strong> os direitos exclusivos de<br />

comercialização do chip por 15 anos e a propriedade<br />

intelectual pertence à universidade.<br />

26<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

27


E S P E C I A L<br />

Indústria está<br />

disposta a proteger<br />

atividades de P&D<br />

Adr i a n e Al i c e Pe r e i r a<br />

Crise: oportunidade e<br />

desafio para o Brasil inovador<br />

Turbulência econômica exige medidas específicas de<br />

apoio à inovação para garantir a competitividade do país<br />

Foi no seu discurso ao Congresso, <strong>em</strong><br />

24 de fevereiro, que o presidente dos<br />

Estados Unidos, Barack Obama, revelou a<br />

tônica da estratégia do seu governo para<br />

tirar o país da crise: investimentos <strong>em</strong> ciência<br />

e tecnologia. É pela inovação que<br />

Obama pretende recuperar as áreas de<br />

educação, energia e saúde, escolhidas<br />

como prioridades para garantir o futuro<br />

da economia norte-americana. Com investimentos<br />

<strong>em</strong> energias renováveis e<br />

pesquisas para aumentar a eficácia dos<br />

sist<strong>em</strong>as de saúde e educação, o presidente<br />

traçou o caminho para aumentar a<br />

competitividade e restaurar a supr<strong>em</strong>acia<br />

dos Estados Unidos.<br />

Outros países seguiram caminhos s<strong>em</strong>elhantes<br />

e a inovação assumiu papel de<br />

destaque nas agendas anticrise. No Brasil,<br />

ainda é tímida a estratégia para fortalecer<br />

o papel da inovação como ferramenta de<br />

combate aos efeitos da crise. Apesar de<br />

lançar pacotes como o de desoneração<br />

fiscal de alguns setores e outras medidas<br />

de curto prazo, o governo brasileiro ainda<br />

não deixou claro qual será a sua reação<br />

para proteger e estimular a inovação durante<br />

a crise econômica mundial.<br />

“A atuação do governo na área de Ciência,<br />

Tecnologia e Inovação (CT&I) ganha<br />

MIGUEL ANGELO/ CNI<br />

pro<strong>em</strong>inência <strong>em</strong> momentos de crise. Diferent<strong>em</strong>ente<br />

de outras áreas, não houve<br />

como consequência da crise econômica<br />

lançamento de políticas ou mesmo r<strong>em</strong>odelamento<br />

de mecanismos já existentes<br />

para CT&I no Brasil. Pelo contrário, o<br />

corte no orçamento do Ministério da Ciência<br />

e Tecnologia é um indicador (negativo)<br />

das prioridades do país”, avalia José<br />

Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento<br />

de Competitividade e Tecnologia<br />

da Federação das Indústrias do Estado de<br />

São Paulo (Fiesp).<br />

Coelho se refere ao corte de aproximadamente<br />

R$ 1,2 bilhão no orçamento do<br />

MCT, o equivalente a 18% do total proposto<br />

no orçamento para a pasta <strong>em</strong><br />

2009. Duramente criticado pela comunidade<br />

científica, o corte no orçamento foi<br />

minimizado pelo ministro Sérgio Rezende.<br />

De acordo com o ministro, o corte<br />

não prejudicaria as ações <strong>em</strong> andamento,<br />

como os Institutos Nacionais de Ciência<br />

e Tecnologia, o Sist<strong>em</strong>a Brasileiro de Tecnologia<br />

(Sibratec) e a subvenção econômica<br />

para as <strong>em</strong>presas.<br />

Ao agir na manutenção do aquecimento<br />

da d<strong>em</strong>anda interna, o governo começou<br />

a andar para trás na política de inovação.<br />

É o que afirma o economista<br />

Carlos Américo Pacheco, professor do<br />

Instituto de Economia da Universidade<br />

Estadual de Campinas (Unicamp). Para<br />

ele as políticas brasileiras de inovação e<br />

de desenvolvimento do setor produtivo<br />

precisam de adaptações. “São políticas<br />

consistentes e com bons acertos, mas voltadas<br />

para um contexto anterior. A crise<br />

compromete a eficiência dessas medidas<br />

e exige uma agenda mais criativa para a<br />

inovação”, afirma.<br />

O economista cita como ex<strong>em</strong>plo a Lei<br />

do B<strong>em</strong> (Lei 11.196/05), que trata de incentivos<br />

fiscais para pessoas jurídicas que<br />

realizam pesquisa e desenvolvimento de<br />

inovação tecnológica. “Os incentivos previstos<br />

na Lei do B<strong>em</strong> envolv<strong>em</strong> deduções<br />

no Imposto de Renda e na Contribuição<br />

Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Nesse<br />

momento de crise o lucro das <strong>em</strong>presas<br />

será drasticamente comprometido e a lei<br />

perde seu efeito”, diz Pacheco.<br />

A adaptação da Lei do B<strong>em</strong> é um dos<br />

t<strong>em</strong>as que a Associação Nacional de Pesquisa<br />

e Desenvolvimento das Empresas<br />

Inovadoras (Anpei) já está debatendo<br />

com o governo na busca de medidas anticrise<br />

de estímulo à inovação. “Como a<br />

Lei se torna inócua quando as <strong>em</strong>presas<br />

têm prejuízo, estamos solicitando ao governo<br />

que as deduções possam ser acumuladas<br />

para os anos seguintes”, explica<br />

Maria Angela do Rego Barros, presidente<br />

da Anpei.<br />

A Fiesp também propõe mudanças para<br />

ampliar o acesso das <strong>em</strong>presas aos benefícios<br />

da Lei do B<strong>em</strong>. “É necessário que o<br />

governo crie mecanismos que permitam a<br />

utilização da lei pelas <strong>em</strong>presas que declaram<br />

com lucro presumido, <strong>em</strong> geral<br />

micro e pequenas. Outra proposta da<br />

Fiesp é que o governo permita o uso<br />

de créditos tributários acumulados <strong>em</strong><br />

qualquer tributo federal para aplicações<br />

comprovadas <strong>em</strong> P&D ou <strong>em</strong> projetos estruturantes<br />

de interesse da política industrial”,<br />

sugere Coelho.<br />

Dinheiro para inovar<br />

Para o economista Carlos Américo Pacheco,<br />

as políticas produtivas também<br />

precisam ser adaptadas para o momento<br />

onde há menos volúpia de investimento<br />

privado. “É necessária uma revisão dos<br />

instrumentos de apoio à inovação para<br />

não retirar o investimento das <strong>em</strong>presas<br />

nesse momento <strong>em</strong> que elas mais precisam”,<br />

explica Pacheco.<br />

Manter e ampliar o crédito para a inovação<br />

durante a crise também é uma das<br />

preocupações da Financiadora de Estudos<br />

e Projetos do Ministério da Ciência e<br />

Tecnologia (Finep), de acordo com o diretor<br />

de inovação do órgão, Eduardo<br />

Costa. “Nesse cenário de crise a d<strong>em</strong>anda<br />

por financiamento aumentou muito,<br />

não apenas por que o crédito no sist<strong>em</strong>a<br />

Obama: investimentos<br />

<strong>em</strong> C&T para fortalecer<br />

a economia americana<br />

Coelho, da Fiesp:<br />

Lei do B<strong>em</strong> precisa<br />

se adequar a micro e<br />

pequenas <strong>em</strong>presas<br />

FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />

28<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

29


E S P E C I A L<br />

Valter Campanato/ Abr<br />

Ministro Sérgio<br />

Rezende: corte<br />

de recursos não<br />

prejudicaria<br />

programas <strong>em</strong><br />

andamento<br />

Empresas precisam<br />

de apoio para<br />

continuar investindo<br />

<strong>em</strong> pesquisas<br />

financeiro ficou mais difícil, mas também<br />

por que as <strong>em</strong>presas estão se conscientizando<br />

da importância de investir<br />

<strong>em</strong> inovação durante a crise para saír<strong>em</strong><br />

mais fortes quando a turbulência passar”,<br />

afirma Costa.<br />

Uma das medidas da Finep para aumentar<br />

o volume de recursos é a ampliação<br />

do programa Juro Zero, que hoje<br />

opera <strong>em</strong> cinco estados e passará <strong>em</strong> breve<br />

a ser executado <strong>em</strong> nove. “Embora pareça<br />

menos significativo <strong>em</strong> volume de<br />

recursos, esse programa é muito importante<br />

para micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />

inovadoras”, explica o diretor de inovação<br />

da Finep. A financiadora também<br />

prevê reforço na oferta de crédito. “T<strong>em</strong>os<br />

uma operação de crédito re<strong>em</strong>bolsável<br />

que previa a contratação de R$ 1,2<br />

bilhão <strong>em</strong> 2008. Agora, <strong>em</strong> acertos finais<br />

com os órgãos de governo envolvidos,<br />

propus<strong>em</strong>os elevar esse valor para R$ 3<br />

bilhões”, anuncia Costa.<br />

Apesar de expandir o Juro Zero e a linha<br />

de crédito e de manter o programa<br />

Primeira Empresa Inovadora (Prime) –<br />

cujos recursos já foram repassados às incubadoras,<br />

a Finep pode não conseguir<br />

shutterstock<br />

segurar o orçamento da subvenção econômica.<br />

“Houve um corte significativo<br />

no orçamento da subvenção, mas estamos<br />

operando normalmente, na expectativa<br />

de recompor esses recursos. Mas se o orçamento<br />

não for recomposto, ter<strong>em</strong>os<br />

atrasos nas contratações deste ano. Esse<br />

poderia ser o maior impacto sofrido pelo<br />

sist<strong>em</strong>a de financiamento à inovação.<br />

Mas toda a nossa expectativa e a sinalização<br />

que t<strong>em</strong>os dos d<strong>em</strong>ais ministérios do<br />

governo é de que não faltará dinheiro<br />

para a inovação”, sinaliza o diretor de<br />

inovação da Finep.<br />

O Banco Nacional de Desenvolvimento<br />

Econômico e Social (Bndes) também t<strong>em</strong><br />

procurado adotar ações para contribuir<br />

com a estabilização da economia brasileira<br />

e diminuir os efeitos da crise internacional.<br />

Entre as principais ações, está a<br />

manutenção dos investimentos <strong>em</strong> infraestrutura<br />

e o cumprimento da meta de des<strong>em</strong>bolsar<br />

R$ 6 bilhões <strong>em</strong> inovação até<br />

2010. “Como novidade, estamos lançando<br />

uma nova modalidade no Cartão Bndes,<br />

ao incluir financiamento de serviços de<br />

pesquisa, desenvolvimento e inovação,<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, extensão tecnológica,<br />

design, prototipag<strong>em</strong>, pedido de registro<br />

de propriedade intelectual e aquisição e<br />

transferência de tecnologia, entre outros.<br />

Será um grande impulso à inovação nas<br />

pequenas e médias <strong>em</strong>presas”, antecipa<br />

João Carlos Ferraz, diretor do Bndes responsável<br />

pelas áreas de pesquisa econômica,<br />

planejamento e gestão de riscos.<br />

Por participar acionariamente – diretamente<br />

ou via fundos – de várias <strong>em</strong>presas<br />

de base tecnológica, o Bndes adotou como<br />

uma das primeiras medida anticrise o aumento<br />

do limite de participação do banco<br />

no capital dessas <strong>em</strong>presas de 30% para<br />

40%. “Outra medida tomada pelo Bndes<br />

logo <strong>em</strong> outubro de 2008 foi a criação de<br />

um programa t<strong>em</strong>porário de capital de<br />

giro para todos os setores industriais e de<br />

serviços, chamado PEC-Bndes, que certamente<br />

poderá contribuir para a manutenção<br />

das despesas ligadas à inovação, como<br />

a folha de pagamento dos pesquisadores”,<br />

avalia o diretor do banco.<br />

Sugestões <strong>em</strong> pauta<br />

Para a presidente da Anpei, além da<br />

manutenção dos programas já existentes,<br />

o momento é de acelerar os instrumentos<br />

de apoio à inovação. “Não t<strong>em</strong>os mais o<br />

Pequenas ganham espaço<br />

A pesquisa da Fiesp mostra ainda que as pequenas<br />

<strong>em</strong>presas foram as que mais investiram <strong>em</strong> inovação<br />

<strong>em</strong> 2008 e que deve ser assim também <strong>em</strong> 2009,<br />

elevando este ano seus investimentos <strong>em</strong> inovação<br />

de 19% para 26% <strong>em</strong> relação ao faturamento. “Para as<br />

micro e pequenas <strong>em</strong>presas, inovar nesse momento<br />

de crise é uma grande oportunidade. Ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po é uma necessidade, pois com as grandes<br />

e médias <strong>em</strong>presas se voltando para o mercado<br />

nacional a competição dessas organizações com as<br />

de pequeno porte passa a ser mais direta e intensa”,<br />

afirma Edson Ferman, gerente de acesso a inovação e<br />

tecnologia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e<br />

Pequenas Empresas (Sebrae).<br />

Para o gerente do Sebrae, ser pequena não é<br />

desculpa para não inovar. Pelo contrário. “De forma<br />

geral, a inovação nessas organizações t<strong>em</strong> custo<br />

menor e impacto maior. A mudança na pequena<br />

<strong>em</strong>presa é mais simples e flexível, o que facilita<br />

o processo de inovação”, acrescenta Ferman.<br />

Ao assumir a inovação como o conhecimento<br />

colocado <strong>em</strong> prática que traz resultados positivos,<br />

as pequenas <strong>em</strong>presas dev<strong>em</strong> investir <strong>em</strong> novas<br />

ideias <strong>em</strong> produtos, serviços, processos, marketing<br />

e na estrutura organizacional, não necessariamente<br />

para fazer o que ninguém fez, mas para encontrar<br />

meios de se tornar<strong>em</strong> competitivas. “Para muitas<br />

pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras, o simples uso de um<br />

computador já é uma inovação”, diz Edson Ferman.<br />

O desafio, segundo o gerente do Sebrae, é ampliar<br />

e diss<strong>em</strong>inar a visão inovadora entre as pequenas<br />

<strong>em</strong>presas. Para isso a entidade está executando um<br />

intensivo trabalho de sensibilizar as organizações<br />

brasileiras sobre a importância da inovação. Com<br />

ações integradas de eventos pelo Brasil, material<br />

t<strong>em</strong>po que tínhamos antes para regulamentar<br />

as medidas, senão corr<strong>em</strong>os o risco<br />

de morrer. É necessário colocar as propostas<br />

na mão do legislador e executá-las”,<br />

sinaliza. Uma das propostas da Anpei é a<br />

desburocratização dos mecanismos de financiamento<br />

da inovação. “A subvenção<br />

econômica, por ex<strong>em</strong>plo, poderia ser executada<br />

s<strong>em</strong> edital, acelerando o acesso<br />

Davi Zocoli/ASN<br />

Capacitação<br />

do Sebrae:<br />

objetivo é levar a<br />

inovação para a<br />

rotina das MPEs<br />

informativo, campanha de mídia, informações na<br />

web, além do programa Agentes Locais de Inovação,<br />

o Sebrae está levando a inovação para dentro das<br />

pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras.<br />

O apoio direto às <strong>em</strong>presas também está sendo<br />

fortalecido pela entidade. Até julho novos projetos<br />

dev<strong>em</strong> ter início. Um deles prevê a disponibilidade<br />

de um consultor do Sebrae para auxiliar as <strong>em</strong>presas<br />

a elaborar<strong>em</strong> projetos de financiamento da inovação.<br />

Outra iniciativa prevê bônus de inovação e um novo<br />

programa irá oferecer apoio às <strong>em</strong>presas selecionadas<br />

no Prime, capacitando-as para os processos de gestão<br />

e estratégias de inovação.<br />

“Venc<strong>em</strong>os o desafio de fazer com que as<br />

pequenas organizações sobrevivess<strong>em</strong> aos dois<br />

primeiros anos de vida. Hoje 78% delas já superam<br />

esse período. Nosso trabalho agora é tornar essas<br />

<strong>em</strong>presas competitivas, lucrando e inovando”, ressalta<br />

Ferman. “As pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras precisam<br />

ter a inovação no seu DNA e entender que inovar<br />

não é um espasmo, é um movimento contínuo.<br />

Empresa inovadora não é a <strong>em</strong>presa que inova com<br />

o lançamento de um produto, por ex<strong>em</strong>plo, mas<br />

aquela que t<strong>em</strong> a inovação no seu dia-a-dia e na sua<br />

estratégia”, avalia o gerente do Sebrae.<br />

30<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

31


E S P E C I A L<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Maria Angela, da<br />

Anpei: é preciso<br />

agilizar o acesso<br />

das <strong>em</strong>presas aos<br />

recursos públicos<br />

Comitê Anticrise da<br />

Fiesp: preocupação<br />

com a perda de<br />

competitividade<br />

das <strong>em</strong>presas aos recursos. Com o t<strong>em</strong>po<br />

necessário hoje para sair o resultado do<br />

edital, a intensidade e a rapidez características<br />

dos processos de pesquisa, desenvolvimento<br />

e inovação ficam comprometidas”,<br />

avalia Maria Angela.<br />

Para a Fiesp, mudanças na subvenção<br />

econômica também são importantes nesse<br />

momento. “É necessário que o governo<br />

destine no mínimo 50% dos recursos de<br />

subvenção econômica para as micro, pequenas<br />

e médias <strong>em</strong>presas, dado que a<br />

subvenção é o instrumento mais efetivo<br />

de apoio a essas <strong>em</strong>presas. É necessário<br />

também estabelecer critérios mais objetivos<br />

de pontuação de propostas para os<br />

recursos de subvenção que facilit<strong>em</strong> a elaboração<br />

dos projetos e torn<strong>em</strong> o mecanismo<br />

mais automático e menos arbitrário”,<br />

defende José Ricardo Roriz Coelho, diretor<br />

do Departamento de Competitividade<br />

e Tecnologia da Fiesp.<br />

Além de adaptações específicas, o diretor<br />

da Fiesp aponta a importância de criar<br />

mecanismos para incluir mais <strong>em</strong>presas<br />

nos processos de apoio à inovação. Para<br />

isso, propõe o aumento da capilaridade<br />

das agências, estimulando novos agentes<br />

financeiros ou estabelecendo alianças<br />

com novos parceiros e a simplificação dos<br />

documentos necessários ao financiamento.<br />

“É preciso ainda ampliar para <strong>em</strong>presas<br />

de portes menores os limites que restring<strong>em</strong><br />

às médias <strong>em</strong>presas o acesso a<br />

programas específicos. Também é importante<br />

minimizar a insegurança jurídica<br />

no processo de inovação com regras fáceis<br />

para interpretar e impl<strong>em</strong>entar os<br />

dispositivos das leis e chamadas públicas,<br />

reduzindo as incertezas na utilização dos<br />

recursos”, avalia Coelho.<br />

Visão de futuro<br />

Outro desafio é criar instrumentos que<br />

prepar<strong>em</strong> o Brasil para enfrentar uma<br />

nova ord<strong>em</strong> econômica. “Essa crise não é<br />

de curta duração e o contexto de cresci-<br />

MIGUEL ANGELO/CNI<br />

Crise afeta inovação nas principais economias<br />

Não foi só no discurso que Obama defendeu a inovação tecnológica. No dia 27 de abril, o presidente norteamericano<br />

anunciou orçamento recorde para a ciência: 3% do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos.<br />

Modesto, Obama descreveu seu projeto como “o maior compromisso com a pesquisa e inovações científicas na<br />

história dos Estados Unidos”. Hoje o país destina 2,66% dos US$ 14 trilhões do seu PIB para P&D.<br />

Apesar do otimismo gerado pelas medidas de Obama, a previsão tanto para os Estados Unidos como para<br />

os d<strong>em</strong>ais países do mundo é de queda no índice de inovação das economias, o que pode gerar graves<br />

consequências nos próximos anos. De acordo com a pesquisa Global Innovation, da divisão de inteligência da<br />

revista The Economist, divulgada no final de abril, esperava-se um incr<strong>em</strong>ento de 6% até 2013 na média do índice<br />

de inovação mundial. Essa média foi revista para 2% com os impactos da crise.<br />

Os mais afetados foram os Estados<br />

Unidos e o Reino Unido, que caíram<br />

da 3ª para a 4ª e da 18ª para a 19ª<br />

colocação na lista dos mais inovadores,<br />

respectivamente. O Japão é considerado<br />

o país mais inovador e a Líbia ficou <strong>em</strong><br />

último entre os 82 países pesquisados. Os<br />

destaques ficaram com China e Índia. A<br />

China ganhou cinco posições entre 2006<br />

e 2008 e a Índia duas. O Brasil caiu da 48ª<br />

colocação para a 49ª.<br />

China: ascensão<br />

meteórica no ranking<br />

da inovação<br />

Ranking da inovação: posição dos BRICs*<br />

shutterstock<br />

China<br />

46<br />

54<br />

59<br />

Índia<br />

54<br />

56<br />

58<br />

Brasil<br />

49<br />

49<br />

48<br />

Rússia<br />

37<br />

39<br />

39<br />

2009 - 13<br />

2004 - 08<br />

2002 - 06<br />

Fonte: Economist INTELLIGENCE UNIT<br />

* BRIC: grupo de países <strong>em</strong>ergentes formado por brasil, rússia, índia e china<br />

32<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

33


E S P E C I A L<br />

Costa, da Finep:<br />

tentativa de<br />

recompor orçamento<br />

para a subvenção<br />

Scherer e Carlomagno,<br />

da Innoscience:<br />

<strong>em</strong>presas dev<strong>em</strong><br />

buscar outras fontes<br />

de financiamento para<br />

inovação<br />

mento dos últimos anos, no<br />

qual as economias evoluíam<br />

praticamente de forma sincronizada,<br />

vai d<strong>em</strong>orar a ser<br />

retomado”, avalia Carlos<br />

Américo Pacheco. “O país<br />

não pode ficar só no dia-adia<br />

do controle da falta de<br />

crédito. Precisa saber como<br />

vai sair da crise com produtos<br />

e marcas novas e, acima<br />

de tudo, definir como será<br />

seu posicionamento no futuro”,<br />

pondera.<br />

Essa projeção exige políticas públicas de<br />

inovação menos defensivas e mais agressivas<br />

e, principalmente, com sentido estratégico.<br />

“Como será o mundo pós-crise<br />

Quais serão as novas indústrias E quais<br />

serão as áreas estratégicas para o Brasil<br />

Perguntas que dev<strong>em</strong> ser feitas hoje para<br />

que as ações políticas mostr<strong>em</strong> onde mirar<br />

no futuro”, ressalta o economista.<br />

Pensar <strong>em</strong> um mundo diferente póscrise<br />

é fundamental para determinar<br />

como reagir durante o momento de turbulência.<br />

“O Brasil precisa saber onde é<br />

melhor aplicar o dinheiro para manter a<br />

competitividade tecnológica e ainda dar<br />

alguns passos à frente”, aponta Pacheco.<br />

“É uma visão estratégica para assegurar a<br />

sobrevivência do setor produtivo brasileiro,<br />

mas que também abre oportunidades<br />

<strong>em</strong> um mundo que estará totalmente redesenhado<br />

após a crise”, <strong>completa</strong>.<br />

João Luiz Ribeiro/FINEP<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Estratégia na <strong>em</strong>presa<br />

Essa preocupação também deve ser das<br />

<strong>em</strong>presas. Assim como o país precisa ter<br />

uma visão estratégica sobre seu futuro<br />

pós-crise, as organizações precisam estar<br />

preparadas para se manter<strong>em</strong> competitivas<br />

durante e depois da turbulência econômica.<br />

“Só sai da crise qu<strong>em</strong> pensa globalmente<br />

e qu<strong>em</strong> inova para o mundo”,<br />

diz a presidente da Anpei, Maria Angela<br />

do Rego Barros.<br />

O primeiro passo é entender a inovação<br />

como uma nova ideia que quando implantada<br />

gera resultados positivos para a<br />

organização, seja no desenvolvimento de<br />

novos produtos, novos processos de produção<br />

ou na impl<strong>em</strong>entação de melhorias<br />

de gestão. É fundamental entender também<br />

o peso da inovação na sustentabilidade<br />

do negócio.<br />

Mais importante é não desistir de inovar<br />

diante da instabilidade na economia.<br />

“Buscar a inovação é uma forma de se<br />

adiantar às mudanças baseando-se <strong>em</strong><br />

aspectos mais estruturais, dado que as<br />

crises, <strong>em</strong> geral, são flutuações de curto<br />

prazo. Em momentos assim, de incertezas,<br />

ocorr<strong>em</strong> mudanças que pod<strong>em</strong> ser<br />

encaradas como uma oportunidade promissora<br />

para aqueles que ousar<strong>em</strong> buscar<br />

novas vantagens competitivas <strong>em</strong> meio<br />

ao clima de t<strong>em</strong>or que v<strong>em</strong> se instalando.<br />

Contrário a isso, as <strong>em</strong>presas que não<br />

trabalham com inovação corr<strong>em</strong> o risco<br />

de não participar<strong>em</strong> do momento posterior<br />

à crise, pois terão ficado para trás na<br />

economia globalizada”, ressalta José Ricardo<br />

Roriz Coelho, diretor do Departamento<br />

de Competitividade e Tecnologia<br />

da Fiesp.<br />

Um estudo da Fiesp confirma a análise<br />

de Coelho e mostra que as <strong>em</strong>presas do<br />

estado de São Paulo estão dispostas a proteger<br />

seus investimentos <strong>em</strong> inovação,<br />

pesquisa e desenvolvimento. A Pesquisa<br />

Fiesp sobre Intenção de Investimento<br />

2009: O Impacto da Crise, concluída <strong>em</strong><br />

março, aponta que os recursos aplicados<br />

<strong>em</strong> inovação e P&D serão os menos afetados<br />

pelos probl<strong>em</strong>as na economia. A expectativa<br />

revelada no estudo é de que os<br />

investimentos <strong>em</strong> inovação represent<strong>em</strong><br />

21% do total investido <strong>em</strong> 2009. Em 2008,<br />

esse valor foi de 17%.<br />

Já os investimentos <strong>em</strong> P&D saltaram<br />

de 10% no ano passado para 12% neste<br />

ano. “Embora tenham que fazer outros<br />

cortes, a Pesquisa Fiesp constatou que as<br />

<strong>em</strong>presas têm procurado manter investimento<br />

<strong>em</strong> pesquisa considerando que o<br />

investimento <strong>em</strong> P&D é algo que visa o<br />

longo prazo, ou seja, uma garantia de ampliação<br />

de mercado no futuro. Um dos<br />

aprendizados que fica com o fim das crises<br />

econômicas é justamente a necessidade<br />

de investir durante os t<strong>em</strong>pos mais<br />

difíceis como estratégia para a competição<br />

a ser enfrentada quando a economia<br />

se recuperar”, destaca Coelho.<br />

Inovar diferente<br />

Outra projeção da pesquisa da Fiesp é<br />

o crescimento da d<strong>em</strong>anda por investimento<br />

público para a inovação nas <strong>em</strong>presas.<br />

O estudo mostra que dos R$ 900<br />

milhões de recursos públicos direcionados<br />

<strong>em</strong> 2008 para as atividades de inovação<br />

das <strong>em</strong>presas, deve-se chegar a R$ 1,7<br />

bilhão <strong>em</strong> 2009. De acordo com o consultor<br />

Maximiliano Selistre Carlomagno, da<br />

Innoscience Consultoria <strong>em</strong> Gestão da<br />

Inovação, a opção pelo investimento público<br />

é mais prudente. “Neste momento é<br />

muito importante que a <strong>em</strong>presa busque<br />

outras fontes de financiamento para inovação,<br />

que não apenas os recursos próprios”,<br />

reforça.<br />

A mesma orientação é dada pelo diretor<br />

de inovação da Finep, Eduardo Costa.<br />

“Continu<strong>em</strong> competindo pelos recursos<br />

disponíveis. Caso tenham perdido a oportunidade<br />

de participar <strong>em</strong> algum programa<br />

neste ano, cabe l<strong>em</strong>brar que antecipar<strong>em</strong>os<br />

o calendário de 2010. O edital da<br />

subvenção 2010 deve ser lançado <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro<br />

deste ano, para que us<strong>em</strong>os os recursos<br />

orçamentários logo no começo de<br />

2010. Além disso, trabalhamos pela ampliação<br />

desses recursos”, adianta.<br />

Além de diversificar as fontes de investimento,<br />

a orientação de Felipe Ost Scherer,<br />

também consultor da Innoscience, é<br />

buscar modelos diferenciados de inovação.<br />

“Neste momento o conceito de open<br />

innovation é muito importante. A <strong>em</strong>presa<br />

t<strong>em</strong> que buscar ideias inovadoras e desenvolver<br />

projetos <strong>em</strong> parceria com universidades,<br />

instituições de pesquisa,<br />

outras <strong>em</strong>presas. Isso também significa<br />

acesso a recursos de terceiros. E vale<br />

l<strong>em</strong>brar que nesse cenário todos os<br />

stakeholders da <strong>em</strong>presa pod<strong>em</strong> ser parceiros”,<br />

destaca.<br />

Para reduzir o risco do investimento,<br />

outra dica dos consultores é experimentar.<br />

“Este é um momento de altíssimo risco<br />

e, por isso, de muita análise. Assim, é<br />

importante que a <strong>em</strong>presa promova a experimentação<br />

antes do investimento pesado<br />

<strong>em</strong> uma ideia. A experimentação é o<br />

período de teste de um produto ou processo,<br />

quando se analisa a viabilidade de<br />

uma ideia diante da realidade do mercado.<br />

No processo de inovação isso é importante<br />

porque é muito difícil mensurar<br />

a aceitação de algo s<strong>em</strong> precedentes do<br />

mercado”, explica Carlomagno.<br />

A cautela, no entanto, não deve podar<br />

as iniciativas inovadoras. “Nos momentos<br />

de crise, as <strong>em</strong>presas tend<strong>em</strong> a restringir<br />

ou manter seu portfólio de ideias.<br />

Seria interessante que esse portfólio passasse<br />

por uma reanálise, num misto de<br />

ideias de longo e de curto prazo, pois o<br />

mercado cobra soluções imediatas. É<br />

preciso acelerar projetos de retorno imediato<br />

e também os de grande impacto no<br />

futuro, que garantirão a sustentabilidade<br />

da <strong>em</strong>presa”, acrescenta o consultor.<br />

Fica o alerta: é preciso ter <strong>em</strong> mente que<br />

os ciclos econômicos de alta e baixa se<br />

suced<strong>em</strong> e, quando a crise acabar, as <strong>em</strong>presas<br />

deverão apresentar projetos compatíveis<br />

com um mercado mais favorável<br />

aos negócios.<br />

34<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

35


internacional<br />

Bru n o Mo r e s c h i<br />

O valor das novatas<br />

Pesquisa mostra que Obama está certo ao investir nas<br />

incubadoras como uma das saídas para a crise mundial<br />

S<strong>em</strong> esconder o apreço pela comparação,<br />

o presidente norte-americano<br />

Barack Obama s<strong>em</strong>pre abre um largo sorriso<br />

quando algum jornalista compara<br />

seu plano anticrise ao de Franklin Delano<br />

Roosevelt. Líder dos Estados Unidos de<br />

1933 a 1945, Roosevelt foi audacioso e<br />

certeiro ao injetar ainda mais dinheiro na<br />

economia <strong>em</strong> detrimento de uma contenção<br />

de gastos públicos durante a Grande<br />

Depressão, a mais severa crise do século<br />

XX. Passados 45 anos, Obama faz algo s<strong>em</strong>elhante.<br />

Em recente entrevista ao jornal<br />

New York Times, afirmou a intenção de<br />

shutterstock<br />

construir estradas, erguer pontes, rasgar<br />

o horizonte com arranha-céus tal qual<br />

um Roosevelt cont<strong>em</strong>porâneo. Todavia,<br />

ele avisa: o plano não será uma simples<br />

cópia do que fizeram no passado. Além<br />

de investir na infraestrutura, o presidente<br />

pretende também usar uma parte ainda<br />

não especificada dos US$ 850 bilhões<br />

destinados para a criação de <strong>em</strong>pregos<br />

num modelo de negócio de ótima relação<br />

custo-benefício: as incubadoras.<br />

Assim como no Brasil, nas incubadoras<br />

norte-americanas novas <strong>em</strong>presas encontram<br />

um espaço com infraestrutura, serviços<br />

compartilhados, assessoria técnica e<br />

jurídica, além de incentivos governamentais<br />

que pod<strong>em</strong> aliviar a alta carga de tributos.<br />

Se depender de um estudo da National<br />

Business Incubation Association<br />

(NBIA), divulgado <strong>em</strong> janeiro deste ano,<br />

Obama está absolutamente correto <strong>em</strong> investir<br />

nesses espaços. De acordo com a<br />

pesquisa, as incubadoras norte-americanas<br />

produz<strong>em</strong> pelo menos 20 vezes mais<br />

<strong>em</strong>pregos do que a construção de portos,<br />

hidrelétricas, estradas e outras grandes<br />

obras. E mais: tudo isso com o governo<br />

gastando muito menos. Para os cofres públicos,<br />

o custo de um <strong>em</strong>pregado nas incubadoras<br />

varia entre US$ 144 a US$ 216,<br />

enquanto no setor de infraestrutura pode<br />

chegar a US$ 6,8 mil. Como se não bastasse,<br />

estudos anteriores mostram que a cada<br />

US$ 10 mil investidos pelo governo, as<br />

<strong>em</strong>presas residentes <strong>em</strong> incubadoras são<br />

capazes de produzir entre 46,3 a 69,4 novos<br />

<strong>em</strong>pregos – a taxa para <strong>em</strong>presas mais<br />

maduras é de 2,2 a 5 <strong>em</strong>pregos.<br />

Números tão chamativos como esses<br />

provam que as incubadoras pod<strong>em</strong> ser vitais<br />

neste momento, <strong>em</strong> que a taxa de des<strong>em</strong>prego<br />

nos Estados Unidos beira os 8%.<br />

Por telefone, a presidente da NBIA Dinah<br />

Adkins afirma: “É claro que concordamos<br />

que os investimentos dev<strong>em</strong> ser feitos<br />

também <strong>em</strong> obras. Entretanto, as incubadoras<br />

merec<strong>em</strong> ser tratadas como a galinha<br />

dos ovos de ouro neste momento tão<br />

difícil para o mundo. Além de criarmos<br />

muito mais <strong>em</strong>pregos do que as <strong>em</strong>presas<br />

maiores, nós também entregamos ao país<br />

novos <strong>em</strong>preendedores que, no futuro,<br />

propiciarão ainda mais vagas no mercado<br />

de trabalho.” É uma espécie de círculo<br />

virtuoso que não só ajuda os Estados Unidos<br />

a saír<strong>em</strong> do buraco <strong>em</strong> que se encontram.<br />

Grande parte das <strong>em</strong>presas que está<br />

nas incubadoras atua <strong>em</strong> áreas inovadoras<br />

e investir nelas pode ser o segredo para o<br />

país se recuperar s<strong>em</strong> perder a primazia<br />

que possui na economia global.<br />

Adkins também destaca o orgulho das<br />

incubadoras: 87% dos negócios gerados<br />

O retorno do investimento<br />

Tipo de<br />

projeto<br />

Postos de trabalho gerados<br />

(a cada US$ 10 mil investidos)<br />

nelas se tornaram <strong>em</strong>presas autônomas<br />

que continuam <strong>em</strong> funcionamento nos<br />

Estados Unidos. “Pode reparar no meu<br />

tom de voz. Estou otimista, algo raro entre<br />

o <strong>em</strong>presariado norte-americano. Vamos<br />

vencer essa nova crise com um tipo<br />

de negócio que não tínhamos na depressão<br />

de 1929.”<br />

No próximo s<strong>em</strong>estre, a NBIA deve começar<br />

uma extensa pesquisa sobre a participação<br />

das incubadoras na economia<br />

dos países da América Latina. Os números<br />

que conhec<strong>em</strong>os até hoje provam que<br />

ainda t<strong>em</strong>os muito que aprender com os<br />

norte-americanos. Por lá, há pelo menos<br />

1.400 incubadoras. Nelas, concentram-se<br />

27 mil <strong>em</strong>presas, que <strong>em</strong>pregam mais de<br />

100 mil funcionários e geram um rendimento<br />

anual de 17 bilhões de dólares. No<br />

Brasil, os números ainda são tímidos.<br />

Segundo dados da Associação Nacional<br />

de Entidades Promotoras de Empreendimentos<br />

Inovadores (Anprotec), o país<br />

possui cerca de 150 incubadoras, número<br />

que não chegava a uma dezena <strong>em</strong> 1991.<br />

“É preciso vocês, brasileiros, ater<strong>em</strong>-se<br />

não apenas ao aumento de incubadoras,<br />

mas na média de <strong>em</strong>presas que cada uma<br />

delas comporta”, avisa Adkins. Ela t<strong>em</strong><br />

razão. Por aqui, cada incubadora possui<br />

uma média de 10 <strong>em</strong>presas – número que<br />

chega ao dobro nos Estados Unidos.<br />

Custo por<br />

<strong>em</strong>prego (US$)<br />

Incubadoras<br />

de <strong>em</strong>presas 46,3 a 69,4 144 a 216<br />

Comércio 9,6 a 13,4 744 a 1.008<br />

Rodovias e<br />

transportes 4,4 a 7,8 1.291 a 2.293<br />

Infraestrutura<br />

industrial 5 a 7,3 1.377 a 1.999<br />

Infraestrutura<br />

comunitária 1,5 a 3,4 2.920 a 6.872<br />

36<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

37


S U C E S S O<br />

A m a n d a Mi r a n d a<br />

Sede da Opto,<br />

<strong>em</strong> São Carlos<br />

S<strong>em</strong> fronteiras<br />

Prestes a <strong>completa</strong>r 25 anos, a Opto revela uma história<br />

<strong>em</strong> que ciência e <strong>em</strong>preendedorismo caminham lado a lado<br />

Quando Jarbas Castro e outros cinco<br />

pesquisadores decidiram fundar a<br />

Opto, há 24 anos, o principal desejo do<br />

grupo era elaborar matéria-prima para<br />

pesquisa <strong>em</strong> um campo no qual era difícil<br />

importar qualquer instrumento de trabalho:<br />

a óptica. Na época, eles não escondiam<br />

a paixão pela ciência e uniram todas<br />

as forças <strong>em</strong> torno do projeto de<br />

produzir o primeiro laser <strong>em</strong> escala industrial<br />

do Brasil.<br />

O pioneirismo da Opto, que hoje t<strong>em</strong><br />

mais de 400 funcionários, não para por<br />

aí. Como os sócios eram todos ligados ao<br />

Instituto de Física do campus da Universidade<br />

de São Paulo <strong>em</strong> São Carlos, a <strong>em</strong>presa<br />

acabou sendo a primeira incubada<br />

da Fundação Parque de Alta Tecnologia<br />

da cidade. Nasciam, juntas, duas importantes<br />

geradoras de tecnologia do país.<br />

“Na época, a Fundação nos deu um escritório,<br />

telefone e uma secretária. Aquilo<br />

foi suficiente porque não tínhamos um<br />

endereço ou alguém para receber as pessoas.<br />

Hoje as coisas evoluíram muito”,<br />

pondera o sócio-fundador e diretor da<br />

<strong>em</strong>presa, Jarbas Caiado de Castro Neto.<br />

“Eles nos ajudaram e nós também os aju-<br />

fotos: divulgação<br />

damos a se desenvolver<strong>em</strong>.”<br />

Uma oficina de óptica foi o <strong>em</strong>brião da<br />

Opto. Como havia barreiras para a importação<br />

dos instrumentos de pesquisa<br />

na área, Jarbas e um grupo de colegas decidiram<br />

que precisavam desenvolver suas<br />

próprias lentes e objetos de trabalho.<br />

Como tinha retornado há pouco t<strong>em</strong>po<br />

dos Estados Unidos, onde fez o doutorado,<br />

o pesquisador trouxe da t<strong>em</strong>porada<br />

de estudos várias ideias de <strong>em</strong>preendedorismo.<br />

“A oficina colocou a Opto para<br />

funcionar. Depois que resolv<strong>em</strong>os o probl<strong>em</strong>a<br />

do laboratório, vimos que poderíamos<br />

expandir o negócio”, relata.<br />

Inovadora nata<br />

A primeira grande inovação da <strong>em</strong>presa<br />

foi o desenvolvimento de um leitor de códigos<br />

de barras para uso <strong>em</strong> supermercados.<br />

Os recursos da venda do produto<br />

para a Itautec colaboraram para o crescimento<br />

da Opto. Depois disso, e ainda no<br />

ano da fundação, os pesquisadores nacionalizaram<br />

a produção de filtros azuis para<br />

a indústria da odontologia. “Graças a esses<br />

trabalhos, ainda no primeiro ano tínhamos<br />

recursos para fazer nosso primeiro<br />

barracão e também para contratar a<br />

primeira consultoria”, destaca o diretor.<br />

Este foi, segundo Jarbas, o momentochave<br />

para o desenvolvimento da <strong>em</strong>presa.<br />

A mudança da mentalidade de pesquisador<br />

para gestor exigiu muito trabalho e<br />

<strong>em</strong>penho por parte dos cinco sócios que<br />

decidiram permanecer no negócio. Até<br />

então, a Opto, na visão do fundador, ainda<br />

era uma “extensão do laboratório” que<br />

a criou. A recordação se refere, também,<br />

ao primeiro momento de dificuldade da<br />

Opto. Cerca de cinco anos após a fundação,<br />

a <strong>em</strong>presa estava prestes a falir. “Perceb<strong>em</strong>os<br />

que tínhamos que profissionalizar<br />

o negócio com uma consultoria de<br />

planejamento estratégico. Fazíamos 12<br />

horas diárias de consultoria”, recorda.<br />

Os pesquisadores também precisaram<br />

deixar algumas paixões de lado. Na época,<br />

eles concentravam um esforço grande<br />

no desenvolvimento de laser de hélio e<br />

neônio, mas perceberam que estavam no<br />

caminho errado. “Aquilo era a nossa paixão.<br />

Achávamos lindo. Foi um trauma<br />

mudar essa mentalidade. Entend<strong>em</strong>os<br />

que a <strong>em</strong>presa é feita para gerar lucro”,<br />

<strong>completa</strong> Jarbas. Em 1992, antes de <strong>completa</strong>r<br />

uma década de fundação, a Opto<br />

deu outro passo importante para a sua<br />

consolidação: entrou no mercado de<br />

equipamentos médico-oftálmicos. O primeiro<br />

equipamento a ser produzido e exportado<br />

para o mundo foi um microscópio<br />

cirúrgico totalmente inovador para<br />

os parâmetros da época.<br />

Uma nova Opto<br />

Mesmo atuando como professor da<br />

USP, o <strong>em</strong>preendedor Jarbas Castro confessa<br />

que, na Opto, sua mentalidade mudou:<br />

passou a ser muito mais gerencial do<br />

que a de um físico apaixonado. Apesar<br />

disso, a área de Pesquisa e Desenvolvimento<br />

continua sendo o coração da <strong>em</strong>presa,<br />

com mais de 70 funcionários. A<br />

<strong>em</strong>presa, hoje com sede <strong>em</strong> São Paulo,<br />

atua <strong>em</strong> três áreas: filmes finos, médica e<br />

aeroespacial. Em todos os ramos possui<br />

concorrentes, a maioria <strong>em</strong>presas multinacionais<br />

com atuação no país.<br />

Mas no espaço não t<strong>em</strong> para ninguém.<br />

Mesmo com a concorrência, a Opto está<br />

desenvolvendo uma câmera de monitoramento<br />

ambiental para o satélite Cbers-3,<br />

do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais<br />

(INPE). “Há dois anos nossa principal<br />

meta era entrar no ramo aeroespacial.<br />

Essa meta foi cumprida, como esperamos<br />

cumprir as próximas”, define.<br />

A vocação para a pesquisa e o<br />

desenvolvimento de produtos inovadores<br />

resultou, no ano passado,<br />

<strong>em</strong> um lucro de R$ 55 milhões para<br />

a <strong>em</strong>presa. Para este ano, a projeção<br />

é de que o número chegue aos<br />

R$ 95 milhões, mesmo diante da<br />

maior crise econômica da história<br />

recente. O crescimento, aliás, vendo<br />

sendo a tônica nos últimos três<br />

anos de existência da Opto. “Qu<strong>em</strong><br />

trabalha com P&D sabe que é necessário<br />

um t<strong>em</strong>po de amadurecimento.<br />

Estamos atingindo essa<br />

fase”, afirma o diretor. Por isso,<br />

segundo ele, a meta é atingir o<br />

mercado internacional nos próximos<br />

anos e fortalecer a marca. “Nosso<br />

maior desafio é concentrar esforços na internacionalização.<br />

Quer<strong>em</strong>os ser uma das<br />

maiores <strong>em</strong>presas do mundo na área oftalmológica.<br />

Alavancando a área médica<br />

pod<strong>em</strong>os pensar <strong>em</strong> ser uma <strong>em</strong>presa global”,<br />

prevê. Para qu<strong>em</strong> já está no espaço, o<br />

mundo pode ser pequeno.<br />

Raio X<br />

Fundação: 1985<br />

Sede: São Carlos (SP)<br />

Produtos Opto<br />

(acima): pesquisa e<br />

desenvolvimento<br />

garant<strong>em</strong> inovação<br />

Filiais: Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE), São Paulo (SP),<br />

Miami (EUA)<br />

Número de funcionários: 400<br />

Áreas de atuação: equipamentos médicos oftalmológicos,<br />

tratamento antireflexo para lentes, equipamentos de<br />

medição e controle e produtos aeroespaciais.<br />

Lucro: R$ 55 milhões (<strong>em</strong> 2008)<br />

Prêmios conquistados: Exame PME - 100 pequenas e médias<br />

<strong>em</strong>presas que mais cresc<strong>em</strong> – 2007; Revista PEGN -<br />

Prêmio Empreendedor de Sucesso – 2007.<br />

Certificações: ISO 9001:2000, ISO 13485:2003<br />

38<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

39


G E S T Ã O<br />

Edu a r d o Ko r m i v e s<br />

Parceria promissora<br />

Open innovation alavanca atividades de P&D<br />

nas <strong>em</strong>presas que apostam <strong>em</strong> projetos cooperativos<br />

Euler Martins dos Santos desliga o telefone<br />

do escritório. O barulho provocado<br />

pela reforma na sede própria da<br />

<strong>em</strong>presa, <strong>em</strong> plena segunda-feira à tarde,<br />

abafa a conversa de tal modo que ele conclui<br />

a entrevista para esta reportag<strong>em</strong> do<br />

lado de fora, pelo celular. Engana-se, porém,<br />

qu<strong>em</strong> pensa que isso o tenha deixado<br />

incomodado. O galpão de 350 metros<br />

quadrados, <strong>em</strong> Belo Horizonte, é uma<br />

prova concreta de que a Verti Ecotecnologias,<br />

da qual Euler é diretor executivo,<br />

conseguiu o que toda start-up almeja: um<br />

investidor disposto a pôr dinheiro para<br />

estruturar e viabilizar o negócio.<br />

Neste caso, o investidor é a Nucleus,<br />

holding com sede <strong>em</strong> Nova Lima, região<br />

metropolitana de Belo Horizonte, que<br />

engloba sete <strong>em</strong>presas focadas no setor<br />

ambiental e cujo faturamento total chegou<br />

aos R$ 50 milhões no ano passado.<br />

“Até brinco que para casar foi muito fá-<br />

cil. Não tiv<strong>em</strong>os n<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po para namorar”,<br />

diz o diretor executivo da Nucleus,<br />

André Euzébio de Souza.<br />

Uma reunião foi o suficiente, <strong>em</strong> maio<br />

de 2008, para que a holding, interessada<br />

<strong>em</strong> investir <strong>em</strong> uma unidade de P&D<br />

(pesquisa e desenvolvimento) capaz de<br />

produzir novas tecnologias, enxergasse<br />

vantagens <strong>em</strong> adotar o modelo de open<br />

innovation (inovação aberta). Nesse modelo,<br />

as companhias pesquisam e desenvolv<strong>em</strong><br />

novos produtos externamente,<br />

por meio de parcerias com outras <strong>em</strong>presas<br />

ou instituições privadas e públicas.<br />

Vantag<strong>em</strong> mútua<br />

shutterstock<br />

Claro que a decisão de tornar-se sócio<br />

majoritário da Verti não foi uma obra de<br />

filantropia. As ideias por trás disso são<br />

acelerar o desenvolvimento de inovações<br />

para os segmentos de siderurgia e mineração,<br />

nos quais a Nucleus t<strong>em</strong> participação<br />

expressiva, e economizar dinheiro.<br />

“Criar um departamento de P&D a partir<br />

do zero é um processo lento e custoso,<br />

pois envolve várias competências e requer<br />

investimentos <strong>em</strong> infraestrutura”, observa<br />

Gustavo Mamão, diretor de Transferências<br />

de Tecnologias do Instituto Inovação,<br />

<strong>em</strong>presa que faz a ponte entre<br />

desenvolvedores de tecnologia e mercado<br />

há sete anos.<br />

Com sede <strong>em</strong> Belo Horizonte e escritórios<br />

no Rio de Janeiro e <strong>em</strong> Campinas<br />

(SP), foi o Instituto Inovação qu<strong>em</strong> trouxe<br />

a oferta de open innovation à Nucleus.<br />

Bom para a holding e bom para a startup,<br />

que agora dispõe, na sua sede própria,<br />

de espaço para quatro plantas pré-industriais<br />

para testes-piloto de novas tecnologias<br />

e de uma equipe fixa de oito pessoas,<br />

incluindo quatro pesquisadores.<br />

“Antes, nós dependíamos muito de editais<br />

públicos para manter uma equipe de<br />

desenvolvimento de tecnologias. Agora,<br />

pod<strong>em</strong>os dar um impulso nos projetos<br />

porque t<strong>em</strong>os uma equipe própria”, observa<br />

Euler dos Santos.<br />

Ajuda aos parceiros<br />

A fim de acelerar e profissionalizar<br />

ainda mais o processo de inovação, o Instituto<br />

Inovação lançou oficialmente a<br />

plataforma de serviços open innovation<br />

Inventta (www.inventta.net) <strong>em</strong> março,<br />

depois de seis meses de desenvolvimento.<br />

A plataforma é composta por ferramentas<br />

de Tecnologia da Informação (o sist<strong>em</strong>a<br />

on-line), que gerenciam ofertas e d<strong>em</strong>andas,<br />

e de gestão do conhecimento, essenciais<br />

para a efetivação de transferências<br />

tecnológicas (avaliação e valoração de<br />

tecnologias, prospecção e mapeamento<br />

tecnológicos, gestão de ativos intelectuais).<br />

“Trata-se de uma plataforma acessível<br />

da mesma forma para pequenas e<br />

grandes <strong>em</strong>presas”, ressalta Felipe Matos,<br />

diretor de operações da Inventta.<br />

Empresas com d<strong>em</strong>andas ou ofertas tecnológicas<br />

pod<strong>em</strong> entrar<br />

<strong>em</strong> contato com o Instituto<br />

Inovação através do<br />

site da plataforma. Matos<br />

explica que aquelas que<br />

se enquadram no primeiro<br />

grupo passam por um<br />

briefing tecnológico, por<br />

meio do qual se especifica<br />

o que a companhia<br />

quer e se avalia os instrumentos de que ela<br />

dispõe para internalizar as soluções – o<br />

licenciamento de patentes, a contratação<br />

de pesquisadores ou a parceria tecnológica,<br />

como no caso da Nucleus.<br />

Com base nessas informações, a d<strong>em</strong>anda<br />

é publicada on-line, inclusive com<br />

a opção de confidencialidade. A plataforma<br />

Inventta possui uma base de dados<br />

com 2 mil pesquisadores brasileiros e colombianos.<br />

Se não houver resposta satisfatória<br />

ao desafio tecnológico proposto,<br />

há dois caminhos alternativos: a Inventta<br />

parte para uma procura proativa por pesquisadores<br />

capazes e desenvolver as soluções<br />

ou busca parcerias internacionais<br />

pela plataforma NineSigma. “As respostas<br />

que chegam são analisadas pela Inventta<br />

a fim de determinar o potencial<br />

para solução do probl<strong>em</strong>a. O processo<br />

dura normalmente de três a seis meses,<br />

mas pode chegar a um ano <strong>em</strong> casos mais<br />

complexos”, diz Matos.<br />

Na outra ponta, a operação é s<strong>em</strong>elhante.<br />

Antes de ser<strong>em</strong> inseridas no banco<br />

de dados, as <strong>em</strong>presas que quer<strong>em</strong> oferecer<br />

novas tecnologias informam, entre<br />

outras coisas, quais são os seus diferenciais,<br />

as vantagens sobre soluções similares,<br />

além de <strong>em</strong>presas e mercados-alvo. A<br />

Inventta ainda se encarrega de dar suporte<br />

na negociação quando o cliente d<strong>em</strong>andante<br />

opta pela confidencialidade.<br />

Para tanto, dispõe de especialistas <strong>em</strong><br />

modelos de transferência tecnológica e<br />

metodologias de valoração tecnológica.<br />

Os usuários da plataforma pagam um valor<br />

inicial mais taxa de sucesso, mas outros<br />

formatos são possíveis, como a nego-<br />

FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />

Planta industrial da<br />

Verti: open innovation<br />

impulsionou pesquisas<br />

Matos, do Instituto<br />

Inovação: Inventta<br />

contribui para a<br />

solução de probl<strong>em</strong>as<br />

Santos, da Verti:<br />

cooperação com a<br />

holding viabilizou<br />

o negócio<br />

40<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

41


42<br />

DIVULGAÇÃO<br />

G E S T Ã O<br />

Souza, da Nucleus:<br />

expectativa de faturar<br />

10% a mais nos<br />

próximos dois anos<br />

Locus • Abril 2009<br />

Inovação global<br />

Avaliação de 82 países, período 2004-2008<br />

(entre parênteses, a posição 2002-2006)<br />

*Em uma escala de 0 a 10<br />

Fonte: Economist Intelligence Unit<br />

ciação de valor fechado.<br />

Matos faz questão de dizer, contudo,<br />

que o modelo de open innovation não elimina<br />

a necessidade de certas competências<br />

<strong>em</strong> pesquisa tecnológica. “Se você tiver<br />

competência zero, vai ter muita<br />

dificuldade (na transferência). Grandes<br />

<strong>em</strong>presas têm interesse na inovação aberta<br />

para acelerar processos de desenvolvimento.<br />

Ter uma área de P&D facilita a<br />

absorção do que v<strong>em</strong> de fora”.<br />

Potencial<br />

Apesar do lançamento recente, a Inventta<br />

já realizou uma transferência tecnológica<br />

b<strong>em</strong>-sucedida. Mas a <strong>em</strong>presa<br />

acredita que o mercado potencial é enorme.<br />

Matos baseia a projeção otimista com<br />

base <strong>em</strong> números. Na avaliação anual da<br />

Ranking País Índice*<br />

1 Japão 10<br />

2 Suíça 9,711<br />

3 (5) Finlândia 9,503<br />

4 (3) Estados Unidos 9,497<br />

5 (4) Suécia 9,444<br />

6 Al<strong>em</strong>anha 9,404<br />

7 (8) Taiwan 9,369<br />

8 (9) Holanda 9,165<br />

9 (10) Israel 9,126<br />

10 (7) Dinamarca 9,077<br />

11 (15) Coreia do Sul 8,940<br />

12 (11) Áustria 8,934<br />

13 (12) França 8,885<br />

14 (13) Canadá 8,868<br />

15 (14) Bélgica 8,788<br />

49 (48) Brasil<br />

54 (59) China<br />

56 (58) Índia<br />

National Science Indicators (NSI), uma<br />

das maiores bases de dados científicos do<br />

mundo, divulgada no início de maio, o<br />

Brasil subiu da 15ª para a 13ª posição na<br />

classificação global de produção científica<br />

<strong>em</strong> 2008, sendo responsável por 2,12% de<br />

todos artigos produzidos por 183 países.<br />

Mesmo assim, no ano passado o Brasil<br />

respondia por apenas 0,06% das patentes<br />

registradas nos Estados Unidos. O modelo<br />

de open innovation, defende Matos, pode<br />

significar uma mudança de paradigma da<br />

indústria brasileira. “A inovação aberta<br />

pode garantir o acesso a determinadas<br />

pesquisas e tecnologias que as <strong>em</strong>presas<br />

não teriam de outra maneira. É uma oportunidade<br />

para cortar caminhos.”<br />

A Nucleus, por ex<strong>em</strong>plo, planeja elevar<br />

<strong>em</strong> 10% o faturamento nos próximos dois<br />

anos com a venda de tecnologias proprietárias.<br />

No momento, a <strong>em</strong>presa negocia<br />

duas delas desenvolvidas pela Verti. A<br />

primeira, para descontaminação e reaproveitamento<br />

de resíduos do curtimento<br />

de couro. A outra envolve a recuperação<br />

de mantas de polipropileno utilizadas<br />

para absorver manchas e vazamentos de<br />

óleo. A tecnologia também rendeu à Nucleus<br />

um convite do governo chileno para<br />

se instalar naquele país.<br />

A Verti, por sua vez, já trabalha <strong>em</strong><br />

duas novas tecnologias e agora conta com<br />

uma estrutura comercial e acesso a uma<br />

carteira de clientes com atores mundiais<br />

nas áreas de mineração e siderurgia –<br />

Gerdau, Vale, Usiminas e ArcelorMittal,<br />

para citar alguns. “A pequena <strong>em</strong>presa<br />

normalmente investe <strong>em</strong> uma só tecnologia<br />

fácil e rápida de acessar o mercado.<br />

Mas há uma oportunidade de desenvolvimento<br />

exponencial quando se fala desse<br />

tipo de parceria”.<br />

Se a inovação é a credencial necessária<br />

para abrir mercados globais, o Brasil precisa<br />

correr para conseguir a sua. Basta dizer<br />

que o desenvolvimento e produção do<br />

iPhone geraram à Apple 200 novas patentes,<br />

mais do que o dobro do que as registradas<br />

pelo país <strong>em</strong> todo o ano de 2005.


E D U C A Ç Ã O<br />

Divulgação/Anpei<br />

Corrida pelo saber<br />

Cursos voltados ao gerenciamento do processo de inovação<br />

cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong> ritmo acelerado. Expectativa dos alunos é inserir<br />

<strong>em</strong>presas brasileiras <strong>em</strong> um cenário cada vez mais competitivo<br />

Empresas inovadoras têm mais espaço<br />

no mercado. Elas são mais fortes, dinâmicas,<br />

competitivas e têm à disposição<br />

uma série de vantagens, como leis de incentivo,<br />

mecanismos de fomento, acesso<br />

facilitado a crédito e a investidores. Para<br />

poder andar sobre esse tapete vermelho,<br />

um número cada vez maior de <strong>em</strong>presas<br />

de todos os portes v<strong>em</strong> buscando se juntar<br />

ao time e aprender como gerenciar seu<br />

potencial inovador. Para orientá-las, surg<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> todo o país cursos de capacitação<br />

<strong>em</strong> gestão da inovação, dos intensivos aos<br />

de pós-graduação.<br />

A corrida se intensificou nos últimos<br />

anos estimulada por políticas públicas e<br />

pela concorrência, que hoje v<strong>em</strong> de todas<br />

as partes do mundo. “De tanto ouvir<strong>em</strong><br />

falar que só vão se tornar competitivas e<br />

sobreviver se inovar<strong>em</strong>, as <strong>em</strong>presas brasileiras<br />

começaram a se mobilizar <strong>em</strong><br />

uma onda pró-inovação”, diz Ana Paula<br />

Andriello, gerente de projetos da Associação<br />

Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento<br />

das Empresas Inovadoras<br />

(Anpei), que oferece <strong>em</strong> média 15 a 20<br />

workshops e cursos de capacitação por<br />

ano <strong>em</strong> todo o país.<br />

Os cursos de gestão da inovação oferec<strong>em</strong><br />

ferramentas para que as <strong>em</strong>presas<br />

identifiqu<strong>em</strong> as ameaças e oportunidades<br />

do mercado e possam estruturar e planejar<br />

suas atividades de P&D. Para a catarinense<br />

Cianet Networking, fundada há 15<br />

Curso da Anpei:<br />

onda pró-inovação<br />

Fr a n c i s Fr a n ç a<br />

Locus • Abril 2009<br />

43


E D U C A Ç Ã O<br />

FOTOS: Divulgação<br />

Dias, da Cianet:<br />

inovação virou<br />

questão estratégica<br />

Quadros, da Unicamp:<br />

vagas concorridas<br />

anos e graduada no Celta, implantar um<br />

sist<strong>em</strong>a de gestão da inovação significou<br />

evoluir de uma <strong>em</strong>presa que desenvolvia<br />

tecnologia para terceiros, para uma indústria<br />

de eletrônica com produtos inovadores<br />

<strong>em</strong> nível mundial.<br />

A Cianet participou no final de 2006<br />

do Projeto Núcleo de Gestão da Inovação<br />

(Nugin), desenvolvido pelo Instituto<br />

Euvaldo Lodi (IEL/SC) e financiado pela<br />

Finep. Depois de um diagnóstico, a <strong>em</strong>presa<br />

descobriu que estava no quadrante<br />

de inovadora, mas alguns<br />

fatores como falta<br />

de recursos e incapacidade<br />

gerencial a<br />

inibiam de chegar ao<br />

patamar de inovação<br />

plena. “A <strong>em</strong>presa era<br />

inovadora e não sabia.<br />

Tínhamos ideias novas<br />

que eram levadas para<br />

o mercado, só que s<strong>em</strong><br />

metodologia para que<br />

o processo fosse contínuo,<br />

s<strong>em</strong> ferramentas<br />

de análise e com o desenvolvimento<br />

limitado<br />

à diretoria”, diz o<br />

diretor da <strong>em</strong>presa Norberto Dias, que<br />

participou pessoalmente do projeto do<br />

IEL/SC. Depois do programa de 18 meses,<br />

a <strong>em</strong>presa montou uma estrutura para incentivar<br />

a prática da inovação, desde a<br />

tradicional caixinha de sugestões até pr<strong>em</strong>iação<br />

para os colaboradores cujas ideias<br />

for<strong>em</strong> b<strong>em</strong>-sucedidas. “T<strong>em</strong>os um grupo<br />

de gestão da inovação e qualidade com<br />

um m<strong>em</strong>bro de cada setor, <strong>em</strong> cujas reuniões<br />

são discutidos os dados e as estratégias<br />

com participação da gerência e diretoria”,<br />

diz Dias.<br />

Ouvir os colaboradores e criar mecanismos<br />

para que a inovação venha de todos<br />

os setores é a estratégia utilizada pelas<br />

<strong>em</strong>presas mais b<strong>em</strong>-sucedidas no<br />

mundo. Mas não basta apenas ouvir as<br />

ideias. É preciso sist<strong>em</strong>atizar e processar<br />

essas informações de forma contínua para<br />

colocá-las <strong>em</strong> prática, e é aí que entra a<br />

capacitação. O processo pode variar bastante<br />

dependendo do tamanho da <strong>em</strong>presa.<br />

“Nas pequenas os cursos precisam tratar<br />

primeiro da parte de conceitos e<br />

relevância para o negócio. Já nas grandes,<br />

que possu<strong>em</strong> departamentos de P&D estruturados,<br />

o foco é mais aprofundado,<br />

com ferramentas e modelos de gestão da<br />

inovação”, diz Ana Paula Andriello. Os<br />

principais cursos disponíveis atualmente<br />

no Brasil são oferecidos por entidades<br />

como Anpei, Sebrae, Agência Brasileira<br />

de Desenvolvimento Industrial (ABDI),<br />

Finep, IEL e Bndes. No nível de pós-graduação,<br />

as iniciativas mais relevantes estão<br />

na Unicamp, USP, UFF, UFSC e FGV.<br />

D<strong>em</strong>anda elevada<br />

O curso de especialização <strong>em</strong> Gestão<br />

Estratégica da Inovação Tecnológica da<br />

Unicamp t<strong>em</strong> grade de 360 horas e é desenhado<br />

especialmente para gerentes de<br />

P&D. “Não se aprende inovação no curso<br />

sobre qualidade, é preciso fazer um trabalho<br />

específico, e nossa d<strong>em</strong>anda hoje já<br />

se iguala à da pós-graduação regular de<br />

Políticas Cientificas e Tecnológicas”, diz<br />

o professor Ruy Quadros, coordenador do<br />

curso. Com mais de 40 professores e palestrantes,<br />

o programa está <strong>em</strong> sua quinta<br />

edição, formou mais de 150 pessoas e t<strong>em</strong><br />

concorrência de quatro candidatos por<br />

vaga. Pela complexidade, é dirigido para<br />

<strong>em</strong>presas de maior porte ou micro e pequenas<br />

<strong>em</strong>presas de base tecnológica, que<br />

já estão acostumadas com o t<strong>em</strong>a.<br />

As <strong>em</strong>presas de menor porte têm um<br />

motivo especial para se capacitar<strong>em</strong>. Entre<br />

as metas da Política de Desenvolvimento<br />

Produtivo (PDP), do governo federal,<br />

está aumentar <strong>em</strong> 10% o número de<br />

MPEs exportadoras até 2010, <strong>em</strong> relação<br />

aos índices de 2006. Ampliar a participação<br />

no mercado externo pressupõe ampliar<br />

a competitividade, e por isso o Sebrae<br />

elegeu 2009 como o ano da inovação<br />

para as MPEs. De acordo com a gerente<br />

da Unidade de Acesso à Inovação Tecnológica,<br />

Magaly Dias, o primeiro passo é<br />

familiarizar os <strong>em</strong>presários, com palestras<br />

e cartilhas. “Nosso ponto de partida<br />

é mostrar ao <strong>em</strong>presário que a inovação é<br />

feita para qualquer <strong>em</strong>presa”, diz. O Sebrae<br />

está <strong>em</strong> fase de estruturação de um<br />

curso voltado especialmente para as<br />

MPEs, que deve iniciar no segundo s<strong>em</strong>estre<br />

deste ano.<br />

Lideranças<br />

Os programas voltados à inovação não se destinam<br />

unicamente a <strong>em</strong>presas. Realizada por Anprotec,<br />

Sebrae e CNPq e executada pela FIA/USP, teve início<br />

<strong>em</strong> maio a pós-graduação <strong>em</strong> Gestão de Habitats<br />

de Inovação. Inédito no Brasil e no exterior, o curso<br />

lato sensu é direcionado a gerentes de incubadoras,<br />

parques tecnológicos, arranjos produtivos locais (APLs)<br />

e polos de desenvolvimento. O curso é atestado pela<br />

International Association of Science Parks (IASP) e t<strong>em</strong><br />

carga total de 460 horas.<br />

O corpo docente é formado por um núcleo<br />

de professores da FIA, docentes experientes e<br />

titulados da Universidade de São Paulo, <strong>em</strong> especial<br />

da sua Faculdade de Economia, Administração e<br />

Divulgação/SEBRAE<br />

Palestras, worshops, cursos de curta e<br />

de longa duração. Se depender dos esforços<br />

das entidades engajadas <strong>em</strong> diss<strong>em</strong>inar<br />

esse conhecimento, pode-se esperar<br />

um salto qualitativo na capacidade das<br />

<strong>em</strong>presas brasileiras <strong>em</strong> gerir seu potencial<br />

criativo. Em todos os cantos do Brasil,<br />

se multiplicam as oportunidades de<br />

pisar no tapete vermelho da inovação. E<br />

todas as <strong>em</strong>presas são b<strong>em</strong>-vindas.<br />

Sebrae capacita<br />

agentes locais<br />

de inovação<br />

Contabilidade (FEA/USP), juntamente com profissionais<br />

de instituições acadêmicas, formuladores de políticas<br />

públicas, agentes de inovação e profissionais do<br />

mercado com experiência reconhecida, além de<br />

palestrantes da IASP.<br />

A coordenação está a cargo dos professores titulares<br />

da FEA/USP Isak Kruglianskas e Roberto Sbragia,<br />

pioneiros no campo da educação avançada <strong>em</strong><br />

gestão da inovação, com amplo reconhecimento no<br />

Brasil e no exterior. Para participar é preciso ter curso<br />

superior e passar por um processo seletivo, feito com<br />

base no currículo dos interessados e observando a<br />

participação de pessoas de diferentes regiões do país.<br />

Mais informações pelo site www.fia.com.br/pgt<br />

44<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

45


c r i a t i v i d a d e<br />

Museu da Língua<br />

Portuguesa:<br />

patrimônio imaterial<br />

A m a n d a Mi r a n d a<br />

Cultura, ciência e diversão<br />

Os museus e centros de ciência e tecnologia atra<strong>em</strong> um<br />

público sedento por interatividade, inovação e conhecimento<br />

Imagine um lugar <strong>em</strong> que cultura e ciência<br />

caminham lado a lado, com prioridade<br />

para a diversão e, mais do que isso,<br />

para a interação com experimentos e fenômenos<br />

naturais. Imagine que nesse lugar<br />

você possa aprender de forma diferenciada,<br />

s<strong>em</strong> ter que apelar à tradicional<br />

dupla giz e quadro negro. Pois b<strong>em</strong>, esse<br />

cenário existe <strong>em</strong> quase todas as principais<br />

cidades do Brasil. São os museus<br />

de ciência e tecnologia, que cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

número e <strong>em</strong> importância, revelando-se<br />

aliados da educação científica.<br />

Uma pesquisa realizada pela Fundação<br />

Vitae revelou que exist<strong>em</strong> cerca de 140 espalhados<br />

pelo país. Os t<strong>em</strong>as são os mais<br />

variados. Há desde jardins botânicos, com<br />

coleções de plantas de milhares de espécies,<br />

até museus de astronomia e planetários.<br />

Mas os que mais conquistam a atenção<br />

dos visitantes são os grandes centros<br />

de ciência, que reún<strong>em</strong> informações sobre<br />

todas as áreas do conhecimento. Mesmo<br />

com a intensa diss<strong>em</strong>inação desses espaços,<br />

eles ainda não são reconhecidos de<br />

forma abrangente pelo público. Uma pesquisa<br />

realizada pelo Ministério da Ciência<br />

e Tecnologia (MCT) <strong>em</strong> 2006 indicou que<br />

apenas 4% dos entrevistados já tinham visitado<br />

um museu de ciência. Parte deles<br />

sequer havia ouvido falar algo a respeito.<br />

Os museus são apontados por pesquisadores<br />

como espaços que privilegiam a divulgação<br />

da cultura científica. Ao lado do<br />

jornalismo científico, são considerados<br />

aliados da educação porque tratam de t<strong>em</strong>as<br />

sérios com criatividade e inovação.<br />

As discussões sobre o assunto levaram,<br />

inclusive, à criação da Associação Brasileira<br />

de Centros e Museus de Ciência<br />

(ABMC), que já conta com 70 filiados. Segundo<br />

o presidente da entidade, Antônio<br />

Carlos Pavão, o Brasil vive um novo momento<br />

quando o assunto são os museus.<br />

“Observamos que existe estímulo e diss<strong>em</strong>inação<br />

por todos os cantos do país”, com<strong>em</strong>ora.<br />

Ele l<strong>em</strong>bra, ainda, que o número<br />

de visitantes t<strong>em</strong> batido recordes. “Nosso<br />

público é formado por escolares. Cerca de<br />

90% das pessoas que vão aos centros ainda<br />

estudam”, aponta.<br />

O presidente acredita que é justamente<br />

essa vinculação com o ensino formal que<br />

traz tanto sucesso aos museus. “Os experimentos<br />

contribu<strong>em</strong> para estimular os<br />

alunos. Eles têm que sair do lugar mais<br />

DIVULGAÇÃO<br />

curiosos do que entraram e procurar formas<br />

de dissolver essa curiosidade”, <strong>completa</strong>.<br />

Todo esse potencial foi reconhecido<br />

pelo poder público. Por meio do CNPq e<br />

da Finep, os centros vêm garantindo verbas<br />

de apoio e difusão. Entre 2004 e 2007<br />

foram US$ 22 milhões de investimento.<br />

Os museus de C&T também foram colocados<br />

como prioridade no plano de ação<br />

2007-2010 do MCT.<br />

Mundo colorido<br />

Não há como ficar imune a toda cor e<br />

criatividade do Museu de Ciência e Tecnologia<br />

da Pontifícia Universidade Católica<br />

do Rio Grande do Sul (PUCRS),<br />

<strong>em</strong> Porto Alegre. São cinco andares que<br />

transformam qualquer curioso <strong>em</strong> descobridor,<br />

e qualquer desinteressado <strong>em</strong><br />

um cientista nato.<br />

A magia do museu está <strong>em</strong> envolver o<br />

visitante na descoberta. Nada de grandes<br />

palestras ou apresentações. Lá, o convidado<br />

é, também, o personag<strong>em</strong> principal da<br />

história. Ele aprende com a mão na massa.<br />

Em uma bicicleta nada convencional, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, é possível perceber a ligação entre<br />

a força das pedaladas e a geração de<br />

energia. Se o ritmo de qu<strong>em</strong> pedalar for<br />

leve, uma lâmpada pode ser acesa. Se for<br />

mais forte, é possível ligar uma televisão<br />

ou até mesmo uma geladeira. E aprender<br />

isso brincando é muito mais divertido do<br />

que qualquer um imagina. “São poucas as<br />

áreas <strong>em</strong> que o visitante não interage com<br />

um experimento a fim de obter uma resposta<br />

para um questionamento. Atualmente,<br />

ampliamos essa concepção adotando<br />

uma t<strong>em</strong>ática anual. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />

<strong>em</strong> 2009 o t<strong>em</strong>a é a (R)Evolução de Darwin,<br />

trazendo os questionamentos sobre<br />

a evolução dos seres vivos e a diversidade<br />

de espécies e ambientes”, explica o diretor<br />

do museu Emílio Antonio Jeckel Neto.<br />

O giroscópio humano é uma das atrações<br />

mais curiosas. Ele simula um equipamento<br />

utilizado pelas agências espaciais<br />

que mostra o que acontece com o corpo na<br />

DIVULGAÇÃO/ PUCRS<br />

Museu da PUCRS:<br />

visitantes são<br />

estimulados a interagir<br />

falta de gravidade. Outras atrações mais<br />

simples, como o “hom<strong>em</strong> fatiado” e suas<br />

explicações sobre o corpo humano, também<br />

divert<strong>em</strong> os visitantes. “Um museu,<br />

por excelência, é um ambiente estimulante.<br />

Além de satisfazer a curiosidade típica<br />

das pessoas, pode ser uma poderosa ferramenta<br />

para os professores, pois dá o estímulo<br />

e o entusiasmo inicial ao estudo”,<br />

<strong>completa</strong> Jeckel.<br />

A interatividade também é a principal<br />

aposta do Museu da Língua Portuguesa,<br />

de São Paulo. O acervo nada mais é do que<br />

o nosso idioma, um patrimônio imaterial<br />

que é exibido aos visitantes de forma séria,<br />

mas s<strong>em</strong> perder a graça. Escritores<br />

como Machado de Assis, Gilberto Freyre e<br />

Clarice Lispector ganharam exposições<br />

próprias, que encantam e educam qualquer<br />

tipo de público. “O museu torna-se<br />

um espaço privilegiado de identidade, de<br />

autorreconhecimento, algo que neste<br />

mundo globalizado e massificado assume<br />

dimensões de grande importância”, destaca<br />

o diretor Antonio Carlos Sartini.<br />

O Museu da Vida, ligado à Fundação<br />

Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, é outra<br />

referência nacional. O lugar é conhecido<br />

por sediar exposições diferenciadas e ter<br />

s<strong>em</strong>pre uma atração inovadora no cardápio.<br />

A criatividade pode ser percebida<br />

logo na entrada, quando o Trenzinho da<br />

Ciência começa a rodar pelas quatro grandes<br />

áreas do museu. Lá é possível escalar,<br />

ao ar livre, uma célula animal gigante ou<br />

mesmo entrar <strong>em</strong> tubos sonoros. A visita<br />

continua com peças de teatro e vídeos divertidos<br />

do projeto “Ciência <strong>em</strong> cena”, que<br />

buscam levar o visitante a uma verdadeira<br />

imersão na cultura e no conhecimento.<br />

46<br />

Locus • Abril 2009<br />

Locus • Abril 2009<br />

47


Entre os Muros da Escola<br />

Direção: Laurent Cantet. Ano: 2008. Com<br />

François Bégaudeau. Nos cin<strong>em</strong>as e <strong>em</strong> DVD.<br />

O filme aborda a trágica relação entre professores e estudantes<br />

filhos de imigrantes nas escolas públicas francesas. Vencedor<br />

da Palma de Ouro no Festival de Cannes <strong>em</strong> 2008, o longa<br />

mistura ficção e documentário, pois os alunos que aparec<strong>em</strong><br />

na produção interpretam eles mesmos. O protagonista François<br />

Bégaudeau, professor de<br />

francês, foi também o autor do<br />

livro que deu orig<strong>em</strong> ao filme.<br />

Não sentir profunda tristeza<br />

quando se assiste à produção<br />

é quase impossível. Ao ver que<br />

até mesmo as escolas francesas<br />

estão fadadas ao ensino de<br />

péssima qualidade, a pergunta<br />

é inevitável: qual será o futuro<br />

intelectual da humanidade<br />

Preste atenção na cena <strong>em</strong><br />

que um aluno se aproxima<br />

do professor e questiona se ele não irá lhe perguntar o que<br />

aprendeu durante o ano. Quando o mestre pergunta, recebe<br />

como resposta: “Nada.”<br />

C i n e m a<br />

FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />

l e i t u r a<br />

Indignação<br />

c u l t u r a<br />

B r u n o M o r e s c h i<br />

Autor: Philip Roth. Editora<br />

Companhia das Letras. 104 páginas.<br />

O autor (foto),<br />

considerado um dos<br />

maiores escritores norteamericanos<br />

da segunda<br />

metade do século XX,<br />

acaba de lançar no Brasil seu mais novo<br />

livro. Muitos críticos não gostaram, já<br />

que a maioria ainda aguarda algo tão<br />

fenomenal como Pastoral Americana,<br />

que recebeu o Prêmio Pulitzer <strong>em</strong> 1998.<br />

Todavia, se o livro for analisado s<strong>em</strong><br />

nenhuma comparação com suas d<strong>em</strong>ais<br />

obras, o resultado é um texto muito<br />

acima da média do que costumamos<br />

encontrar nas livrarias.<br />

Repare no narrador que conduzirá a<br />

história até sua própria morte, escolha<br />

que se ass<strong>em</strong>elha à de Machado de<br />

Assis no clássico brasileiro M<strong>em</strong>órias<br />

Póstumas de Brás Cubas.<br />

EXPOSIÇÃO<br />

Virada Russa: A Vanguarda na Coleção do Museu<br />

Estatal Russo de São Petersburgo.<br />

CCBB Brasília, até 7/6. CCBB Rio de Janeiro, de 23/6 até 23/8.<br />

CCBB São Paulo, de 15/9 até 15/11. Entrada gratuita.<br />

Pela primeira vez o Brasil recebe 123 obras importantes da vanguarda russa, movimento artístico ocorrido<br />

durante a primeira fase da Revolução Russa, entre as décadas 1890 e 1930. Na mostra estão trabalhos de Vladimir<br />

Tatlin, Kasimir Malevich, Marc Chagall e Vasily Kandinsky, entre outros. Além da<br />

oportunidade de ver telas essenciais para compreender a arte do século XX, a<br />

exposição mostra indiretamente como uma ditadura pode transformar obra de boa<br />

qualidade <strong>em</strong> banalidade. Quando o regime autoritário se instaurou na União Soviética,<br />

esses grandes gênios fugiram para outros países europeus e a arte russa virou apenas<br />

propaganda política.<br />

Olhe atentamente para o quadro multicolorido São Jorge (foto). O pintor Vasily<br />

Kandinsky (1866-1944) defendia uma arte vibrante, tão impactante quanto um<br />

instrumento musical.<br />

Imperativo<br />

Ouça Mariana Aydar, cantora brasileira que lança seu novo CD Peixes Pássaros Pessoas (Universal).<br />

Assista Simonal – Ninguém sabe o duro que dei, filme que responde à pergunta se o cantor era ou não<br />

um informante da ditadura.<br />

49<br />

Locus • Abril 2009


O P I N I Ã O<br />

Crise, inovação e oportunidade<br />

50<br />

Marcella Martha<br />

Mauricio Guedes*<br />

*Mauricio Guedes é<br />

diretor da Incubadora<br />

de Empresas da<br />

Coppe/UFRJ e do<br />

Parque Tecnológico da<br />

UFRJ e vice-presidente<br />

da International<br />

Association of Science<br />

Parks (IASP).<br />

Locus • Abril 2009<br />

Marcada pela grande recessão, a década<br />

de 1930 também representa o<br />

momento <strong>em</strong> que foram dados os primeiros<br />

passos para o surgimento dos<br />

conceitos de Parques Tecnológicos e Incubadoras<br />

de Empresas. Se por um lado<br />

a aversão aos riscos tende a crescer <strong>em</strong><br />

momentos de crise, abandonar o esforço<br />

de inovação e adotar estratégias de competição<br />

baseadas unicamente <strong>em</strong> preços<br />

pode representar uma receita segura –<br />

rumo ao fracasso.<br />

Não será diferente na nossa crise atual,<br />

inicialmente localizada e concentrada<br />

<strong>em</strong> questões de liquidez e de crédito, mas<br />

que rapidamente atingiu uma proporção<br />

global e afetou todo o comércio internacional.<br />

Empresas e países dev<strong>em</strong> se preparar<br />

para o próximo momento, quando<br />

o jogo econômico dará maior espaço à<br />

economia real, onde a produção de bens<br />

e serviços não tenha o seu brilho tão<br />

apagado pela riqueza fictícia dos mercados<br />

financeiros.<br />

O Brasil t<strong>em</strong> feito importantes avanços<br />

na área de ciência e tecnologia. Os Fundos<br />

Setoriais, iniciados no governo FHC<br />

e ampliados no governo Lula; a Lei de<br />

Inovação, originada <strong>em</strong> projeto de iniciativa<br />

do senador Roberto Freire; a Lei do<br />

B<strong>em</strong> e a grande evolução do orçamento<br />

do Ministério da Ciência e Tecnologia<br />

nos últimos anos deram ao país um novo<br />

status no cenário internacional da C&T.<br />

Acabamos de subir dois degraus no<br />

ranking mundial da produção de artigos<br />

científicos, passando a ocupar a 13ª colocação,<br />

à frente da Rússia e da Holanda.<br />

Porém, na capacidade de transformar<br />

esse conhecimento <strong>em</strong> riqueza, ainda estamos<br />

muito mal. Não falo aqui apenas<br />

do número de patentes depositadas nos<br />

Estados Unidos – indicador deficiente,<br />

que não captura o real impacto da pesquisa<br />

no desenvolvimento econômico e<br />

social do país –; falo das várias formas e<br />

instrumentos para a transformação do<br />

conhecimento gerado, seja patenteado<br />

ou não, <strong>em</strong> <strong>em</strong>prego, renda e b<strong>em</strong>-estar<br />

para a sociedade.<br />

O Brasil t<strong>em</strong> hoje uma infraestrutura<br />

de C&T bastante razoável, invejada por<br />

países vizinhos. A Lei de Inovação trouxe<br />

importantes avanços, como a recriação<br />

dos NITs – Núcleos de Inovação Tecnológica<br />

– e o instituto da subvenção<br />

econômica. Mas é fundamental não interromper<br />

esse processo. Os instrumentos<br />

legais precisam ser rapidamente absorvidos<br />

por nossa cultura organizacional<br />

e aprimorados, tornando-se mais eficazes,<br />

sendo de fato aplicados. Onde está a<br />

tão desejada – e prevista <strong>em</strong> lei – mobilidade<br />

de pesquisadores entre instituições<br />

governamentais de ensino e pesquisa e<br />

<strong>em</strong>presas E as licenças para que pesquisadores<br />

cri<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas inovadoras<br />

Onde estão os incentivos fiscais para pequenas<br />

<strong>em</strong>presas, que não se beneficiam<br />

da Lei do B<strong>em</strong> Onde estão o reconhecimento<br />

e a valorização das entidades de<br />

C&T que construíram modelos institucionais<br />

de relacionamento com a sociedade,<br />

muitas vezes com o apoio de fundações<br />

s<strong>em</strong> fins lucrativos, que procuram<br />

superar de forma legítima e legal as deficiências<br />

da administração pública<br />

Nesse cenário, é uma surpresa o anúncio<br />

de cortes no orçamento do Ministério<br />

de Ciência e Tecnologia. Dar um passo<br />

atrás neste momento é mais que uma<br />

contradição. É deixar passar uma oportunidade<br />

que está diante de nós e das<br />

gerações futuras.

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