28.01.2015 Views

M NITOR DE MÍDIA - DIAGNÓSTICOS - Monitorando

M NITOR DE MÍDIA - DIAGNÓSTICOS - Monitorando

M NITOR DE MÍDIA - DIAGNÓSTICOS - Monitorando

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Exames mostraram que ela não engravidou este ano. ‘Provei minha inocência’,<br />

declarou”. Na página A 18, a matéria – com texto de Poliana Santos e fotos de<br />

Luciano Andrade – trouxe dados importantes para o entendimento do caso: o médico<br />

que acompanhava Juliana não teria feito ultra-sonografias nem exames de avaliação<br />

de risco fetal a pedido da paciente; os laudos dos exames periciais mostram que a<br />

paciente nunca deu a luz e que apresentava um mioma, mas ele não poderia ser<br />

confundido com um feto; a psicóloga Rita de Cássia Ternes afirma que Juliana<br />

passara por uma “gravidez iatrogênica”, isto é, provocada pelo médico durante o<br />

pré-natal e reforçada pela relação de confiança que se estabelece entre ambos.<br />

Com esses elementos e com os exames, o Caso Juliana estaria resolvido. Em tese.<br />

Mas não foi o que se viu. No dia seguinte, 29, A Notícia dá continuidade ao<br />

assunto, dando destaque na sua primeira página às acusações do médico que aparece<br />

pela primeira vez. A chamada é “Médico diz que foi enganado por Juliana” e o<br />

título da matéria nas internas é “Médico de Juliana afirma que ela forjou a gravidez”.<br />

No texto, o ginecologista e obstetra Salomão Nassif Sfeir Filho parte para a ofensiva:<br />

“Ela é diabólica. Nem cheguei a tocar na barriga dela”. Ele admite que não fez<br />

ultra-sonografia, que apresentou à polícia um laudo feito por suas funcionárias<br />

com base nas informações do pré-natal que não foram perdidas numa pane que<br />

teve no computador, e que marcara a cesariana para que a paciente passasse por<br />

exames mais específicos já que ela se recusava a tal. O médico se defendeu, dizendo<br />

que a gravidez não era iatrogênica. O Conselho Regional de Medicina seria colocado<br />

no caso pela polícia. Mesmo tendo os laudos ao seu favor e alegando inocência<br />

desde a primeira matéria quando da sua localização, Juliana não foi ouvida por A<br />

Notícia neste dia. Só as acusações e justificativas do médico foram publicadas.<br />

Os erros<br />

Aliás, em nenhum momento da cobertura, Juliana foi tratada como vítima<br />

pelo jornal. Sempre recaiu sobre ela a dúvida, a suspeita sobre suas declarações. É<br />

o que se percebe na reportagem do dia 25 de novembro, onde o leitor encontra o<br />

trecho: “o delegado Marco Aurélio Marcucci comanda as investigações sobre o<br />

paradeiro do bebê, que tem pouco mais de três meses”. Perceba-se o tempo do<br />

verbo: presente do indicativo. Não há condicional, não há dúvida de que o bebê<br />

não exista.<br />

É evidente que o jornalismo é uma atividade que se alimenta da dúvida.<br />

Diariamente, repórteres e editores se questionam sobre os fatos do cotidiano e<br />

orientam suas condutas por um ceticismo profissional. Duvida-se de tudo. A crença<br />

é de que este procedimento permita que o jornalista não se envolva com nenhuma<br />

das partes de um conflito e que, assim, possa dar a versão mais equilibrada e<br />

imparcial possível. A dúvida é necessária na condução das informações e na sua<br />

apuração. Entretanto, este MO<strong>NITOR</strong> <strong>DE</strong> <strong>MÍDIA</strong> observou no Caso Juliana uma<br />

sucessão de erros jornalísticos que não apenas alimentou uma dúvida salutar sobre<br />

as fontes de informação. Houve pré-julgamentos, o jornal deu mais peso a versões<br />

de um dos lados envolvidos, não se respeitou um princípio fundamental do Direito:<br />

“Todos são inocentes até prova em contrário”. Não havia provas de que Juliana<br />

tivesse dado à luz um bebê, e se não havia corpo, não havia crime. Repórteres,<br />

editores e redatores embarcaram apressados numa única versão, a que tinha um<br />

186<br />

M <strong>NITOR</strong> <strong>DE</strong> <strong>MÍDIA</strong> - <strong>DIAGNÓSTICOS</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!