AFETIVIDADE E JOGOS COOPERATIVOS NA EDUCAÃÃO INFANTIL
AFETIVIDADE E JOGOS COOPERATIVOS NA EDUCAÃÃO INFANTIL
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<strong>AFETIVIDADE</strong> E <strong>JOGOS</strong> <strong>COOPERATIVOS</strong> <strong>NA</strong> EDUCAÇÃO <strong>INFANTIL</strong><br />
Josiane Barros - josi@eei.ufrj.br<br />
Nicole Colucci - nicole-colucci@eei.ufrj.br<br />
Erika Loureiro - erikaloureiro88@hotmail.com<br />
EEI/UFRJ<br />
O presente artigo busca compartilhar reflexões e ações sobre afetividade e jogos<br />
cooperativos realizados na EEI-UFRJ (Escola de Educação Infantil da Universidade<br />
Federal do Rio de Janeiro), com crianças de 05 a 06 anos. Apoiados nos pressupostos de<br />
Wallon, Vygotsky e Walter Benjamin, além da bibliografia sobre Jogos Cooperativos, a<br />
equipe de psicologia trabalhou a questão da afetividade através do viés da cooperação.<br />
Partiu-se de uma metodologia participativa, a fim de experimentar o princípio da<br />
cooperação na expressão de sentimentos, no apoio à construção da auto-estima, no<br />
reforço à confiança mútua entre crianças/crianças, crianças/adultos, adultos/adultos.<br />
Por ações mais cooperativas e afetivas<br />
Pensar e viver a afetividade numa relação respeitosa, ética e potencializadora das<br />
dimensões humanas, requer entender o sujeito em suas especificidades, mas também um<br />
olhar crítico sobre a cultura, os valores e as diferentes formas e possibilidades de<br />
relações interpessoais. No atual contexto social, neoliberal, onde o individualismo e a<br />
competitividade são pilares para a manutenção de uma perversa hegemonia, cabe se<br />
pensar em valores essenciais para a dignidade humana, como por exemplo, a<br />
cooperação.<br />
Atualmente, a “educação para a paz 1 ” vem repercutindo avanços importantes no<br />
cenário educativo e nesse sentido a perspectiva desse trabalho busca integrar o conjunto<br />
de relações que o indivíduo estabelece consigo, com o meio social e com o meio<br />
ambiente em que vive. Desta forma, os jogos cooperativos surgem a partir da<br />
1 A expressão “educação para a paz” se refere a uma nova forma de entender o mundo em que<br />
vivemos que tem como referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos, priorizando o<br />
respeito à vida e a dignidade de cada pessoa, desprezando assim a violência em todas as suas<br />
formas, a injustiça, intolerância, competição, racismo, fanatismos de qualquer espécie e<br />
enaltecendo um conjunto de valores como a liberdade, o respeito, a cooperação, a comunicação<br />
e o diálogo.
2<br />
preocupação e reflexão do quanto o individualismo e as práticas competitivas vêm<br />
sendo valorizadas na sociedade moderna, mais especificamente na cultura ocidental.<br />
Os principais passos para integrar os jogos cooperativos no Brasil se iniciaram<br />
na década de 1980, tendo como principal representante Fábio Otuzi Brotto, que entende<br />
a utilização desses jogos como uma abordagem filosófico-pedagógica que promove a<br />
ética, cooperação e melhor qualidade de vida para todos. Brotto (2001) afirma que nos<br />
jogos cooperativos, joga-se para superar desafios e não para derrotar os outros; joga-se<br />
para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar. São jogos onde o esforço cooperativo é<br />
necessário para se atingir um objetivo comum e não para fins mutuamente exclusivos.<br />
Tendo os jogos como um processo, aprende-se a considerar o outro como um parceiro,<br />
um solidário, em vez de tê-lo como adversário, e a ter consciência dos próprios<br />
sentimentos, e a colocar-se uns nos lugar dos outros, operando para interesses mútuos,<br />
priorizando a integridade de todos. Estes Jogos são estruturados para diminuir a pressão<br />
para competir, para promover a interação e a participação de todos e deixar aflorar a<br />
espontaneidade e a alegria de jogar/brincar.<br />
O autor ainda aponta que os Jogos Cooperativos são jogos de compartilhar, unir<br />
e incluir, eles despertam a coragem para assumir riscos com pouca preocupação com o<br />
fracasso e sucesso em si mesmos. Eles reforçam a confiança em si mesmo e nos outros e<br />
todos podem participar autenticamente, onde ganhar e perder são apenas referências<br />
para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Dessa forma, os Jogos<br />
Cooperativos resultam no envolvimento total, em sentimentos de aceitação e vontade de<br />
continuar jogando. Sabemos que a competição aumenta a ansiedade, dificulta o diálogo<br />
e a integração entre os participantes, comprometendo a alegria e o prazer em<br />
jogar/brincar. Nesse sentido, os Jogos Cooperativos são um contraponto à lógica da<br />
competitividade e ao egoísmo.<br />
Quando pensamos sobre alegria, prazer, integração, diálogo e cooperação nos<br />
remetemos também à afetividade. Entendemos que a dimensão afetiva é essencial na<br />
constituição do ser humano, pois esta é a primeira manifestação do psiquismo que<br />
propulsiona o desenvolvimento cognitivo a partir das interações feitas pelo bebê com o<br />
meio social, promovendo assim a instauração de vínculos estabelecidos pela consciência<br />
afetiva.<br />
O bebê nasce dependente de seus cuidadores, e como ainda não possui o<br />
instrumento da linguagem, este se comunica com os mesmos, principalmente com a
3<br />
mãe em um primeiro momento, através de movimentos que esboçam expressão<br />
emocional. Conforme sinaliza Rego (1995, p.59),<br />
Se comparado com as demais espécies animais, o bebê é o mais<br />
indefeso e despreparado para lidar com os desafios de seu meio. A<br />
sua sobrevivência depende dos sujeitos mais experientes de seu<br />
grupo, que se responsabilizam pelo atendimento de suas necessidades<br />
básicas (locomoção, abrigo, alimentação, higiene etc.), afetivas<br />
(carinho, atenção) e pela formação do comportamento tipicamente<br />
humano. Devido à característica imaturidade motora do bebê é longo<br />
o período de dependência dos adultos.<br />
Para Wallon, uma grande referência nos estudos sobre afetividade, a<br />
personalidade humana é constituída pela afetividade e inteligência como funções<br />
básicas. A afetividade é caracterizada por sensibilidades internas que orientam o sujeito<br />
para o mundo social, enquanto a inteligência estaria vinculada às sensibilidades externas<br />
e direcionada, portanto, para o mundo físico. Nesse contexto percebe-se a importância<br />
do papel afetivo para o desenvolvimento humano visto que este é um domínio funcional<br />
anterior à inteligência e determina os interesses individuais dos sujeitos. Como afirma<br />
Gonçalves (2003, p.14-15),<br />
O recém-nascido não tem ainda outras formas de se comunicar com<br />
o outro, que não a emoção [...] Cada movimento, cada expressão<br />
corporal dessa criança, acaba por receber um significado, atribuído<br />
pelo outro, significado esse do qual ela se apropria. Uma criança que<br />
chora porque seu estômago dói de fome, não chora inicialmente para<br />
alguém vir alimentá-la, mas chora por causa da dor. Ao receber a<br />
atenção que necessita, vai construindo os significados de cada ação<br />
sua.<br />
Vygotsky também ressalta a relevância do aspecto afetivo em suas obras,<br />
afirmando que este possui tanta importância quanto os demais aspectos 2 relacionados<br />
ao desenvolvimento humano e deve ser igualmente objeto de preocupação na educação.<br />
La Taille, Dantas e Oliveira (1992), afirma que Vygotsky menciona, explicitamente,<br />
que um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos<br />
intelectuais de um lado, e os volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da<br />
unidade entra esses processos.<br />
2<br />
Pensamento, memória, percepção e atenção. La Taille, Y; Dantas, H; Oliveira,<br />
M, K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus,<br />
1992.
4<br />
Tanto Vygotsky quanto Wallon destacam que a afetividade é vital em todos os<br />
seres humanos, em especial no desenvolvimento durante a primeira infância, estando<br />
presente desde o nascimento e nas experiências vivenciais dos sujeitos ao longo de suas<br />
vidas, principalmente no que se refere ao relacionamento com o “outro social”.<br />
Borba e Spazziani (2005) destacam que os autores entendem que somente a<br />
estrutura fisiológica do ser humano, que é inata, não garante que o indivíduo, sem a<br />
interação com o ambiente social, vá se transformar em humano. Assim, as<br />
características do funcionamento psicológico serão construídas ao longo da vida do<br />
indivíduo através de um processo de interação com o seu meio social, que possibilita a<br />
apropriação da cultura elaborada pelas gerações precedentes.<br />
Destaca-se assim o papel da escola enquanto agente propiciador dessa<br />
constituição, pois esta promove atividades de interações entre diferentes sujeitos com a<br />
finalidade de promoção social e educativa. Portanto, as experiências acumuladas,<br />
constituintes da história de vida de cada um, possibilitarão a ressigficação dos<br />
conhecimentos internalizados, o que caracteriza a constituição do próprio “eu”.<br />
A teoria Walloniana destaca três momentos para a evolução da afetividade, são<br />
eles: a emoção, os sentimentos e a paixão. Segundo Mahoney (2006), “a emoção é<br />
determinante na evolução mental da criança”, pois quando ela responde a estímulos,<br />
revela sua sensibilidade sobre o ambiente, demonstrando como está sendo afetada por<br />
este. Ao falar de emoção, percebe-se que o autor se inspira de uma nítida influência<br />
darwinista, afirmando que ela é tida, principalmente no bebê, como um nítido de<br />
instrumento de sobrevivência da espécie humana no sentido de atender suas<br />
necessidades, pelo longo período de dependência que este tem para com seus<br />
cuidadores.<br />
O sentimento é a expressão representacional da afetividade: observar, refletir,<br />
saber como agir etc. Pode ser expresso pela mímica e pela linguagem, ou seja, é um ato<br />
mais elaborado e menos instantâneo e direto, como na emoção. A paixão é a tentativa de<br />
dominar a emoção através do autocontrole, configura-se como ciúme, desejo de<br />
exclusividade (KNUPP, 2010).<br />
Na Educação Infantil, trabalham-se diferentes dimensões envolvidas no<br />
desenvolvimento humano, destacando-se as dimensões: social, afetiva e cognitiva, que<br />
devem ser contextualizadas de acordo com os diferentes momentos vivenciados pela<br />
criança, estando estes impregnados de diversos significados. Essas dimensões vão sendo
5<br />
construídas e transformadas a partir de influências dos demais contextos que a criança<br />
experimenta na primeira infância, tendo a família e a escola como destaque.<br />
É importante que haja nesse processo um permanente diálogo entre todas essas<br />
vozes culturais a fim de se propor uma organização de objetivos continuamente<br />
negociados com relação aos conteúdos e métodos envolvidos nos processos de<br />
aprendizagem. Para que ocorra esse diálogo em paralelo à construção de atividades<br />
voltadas para a promoção de autonomia e cooperação, é de suma importância que todos<br />
os elementos envolvidos na escolha de atividades pedagógicas sejam compartilhados<br />
com todos nessa dinâmica interativa.<br />
Mesmo não sendo uma atividade restrita ao mundo infantil, pois constitui uma<br />
dimensão humana fundamental na formação dos sujeitos, para a criança o brincar<br />
assume uma centralidade. Muitos processos de desenvolvimento e aprendizagem da<br />
criança são provocados nas e pelas brincadeiras.<br />
Para Vygotsky, o brincar é fonte de desenvolvimento e de aprendizagem, onde a<br />
criança se comporta de forma mais elaborada do que na vida cotidiana, vivenciando<br />
papéis e ações que mobilizam novos conhecimentos, habilidades e processos de<br />
desenvolvimento e de aprendizagem.<br />
Além de expressar e comunicar suas experiências, a criança também reelabora,<br />
reconhecendo-se como sujeito pertencente a um grupo social e a um contexto cultural,<br />
aprendendo muitas coisas sobre o mundo e sobre si mesmo. Desta forma, o brincar é<br />
uma experiência de cultura onde os valores, habilidades, conhecimentos e formas de<br />
participação são constituídos e reinventados. O brincar é um dos pilares da constituição<br />
das culturas da infância enquanto significações e formas de ação social que embasam as<br />
relações das crianças entre si, bem como os modos pelos quais interpretam, representam<br />
e agem sobre o mundo (Borba, 2006). Nas atividades lúdicas as crianças ampliam seu<br />
repertório de brincadeiras, assim como de referências culturais que integram a cultura<br />
lúdica infantil. Da mesma forma que a cultura lúdica torna a brincadeira possível, é no<br />
próprio espaço social das brincadeiras que esta cultura pode ser enriquecida. No brincar<br />
as crianças vão organizando com autonomia suas ações e interações, estruturando<br />
formas de ações conjuntas, assim como criando regras de convivência social e de<br />
participação.<br />
O processo psicológico da imaginação articula-se com a atividade criadora da<br />
criança na produção do novo, a partir da combinação dos elementos da realidade. As
6<br />
crianças se apropriam de vários elementos culturais do cotidiano familiar, da mídia, bem<br />
como de seus processos de imaginação e criação, recriando-os.<br />
Para Benjamin (2002), o brinquedo e o brincar formam um par dialético que<br />
traduz o relacionamento entre o adulto e a criança. Enquanto que o brinquedo, ao longo<br />
da sua história cultural, representa a proposta pedagógica do educador, o brincar<br />
expressa a resposta da criança com toda autonomia. È recorrente que a criança escolha<br />
como brinquedos objetos que os adultos jogam fora (sucatas). Para Benjamin, é<br />
fundamental a garantia da plenitude da infância a todas as crianças e que pais e<br />
educadores dialoguem realmente com as crianças, sendo o diálogo um encontro não<br />
somente expresso em palavras, mas em entendimento, cumplicidade e participação.<br />
A criança volta a criar para si todo o fato vivido, começa mais uma<br />
vez do início. Talvez resida aqui a mais profunda raiz para o duplo<br />
sentido nos “jogos”: repetir o mesmo seria o elemento<br />
verdadeiramente comum. A essência do brincar não é um “fazer<br />
como se”, mas um “fazer sempre de novo”, transformação da<br />
experiência mais comovente em hábito. (2002:102)<br />
Almeida (2006) “afirma que é importante saber que existem cinco grandes<br />
pilares básicos nas ações lúdicas das crianças em seus jogos, brinquedos e brincadeiras,<br />
estes pilares são”: a imitação, o espaço, a fantasia, as regras e os valores. Esses pilares<br />
podem ter em suas estruturas lúdicas os tipos de brincar que envolvem a cooperação e a<br />
competição. No brincar cooperativo, a essência lúdica é brincar com o outro e não<br />
contra o outro. Assim, os dois possuem objetivos comuns, compartilhando sucessos e<br />
fracassos mutuamente. Na competição, a essência lúdica é o brincar contra o outro,<br />
tendo este como adversário e obstáculo que deve ser superado a qualquer custo, fazendo<br />
assim com que o sucesso e o fracasso sejam compartilhados por apenas um ou alguns.<br />
Por uma forma de dialogar e brincar com as crianças<br />
Contando com uma metodologia ancorada na perspectiva participativa e<br />
cooperativa, as atividades foram realizadas com um grupo de 18 crianças, sendo 06<br />
meninas e 12 meninos, ambos na faixa etária entre 5 e 6 anos. As três (03) professoras<br />
que acompanham o grupo estavam envolvidas em todas as etapas do planejamento e da<br />
realização das atividades que se constituiram no processo de troca e diálogo:
7<br />
a) Conhecer as demandas do grupo de crianças<br />
• Entrevistas semi-estruturadas com os professores<br />
• Observação participativa das diferentes atividades e rotinas das crianças<br />
• Escolha das atividades/jogos em parceria com os professores<br />
• Elaboração do roteiro de hipóteses/avaliação da atividade<br />
b) Trabalhar com os Jogos Cooperativos<br />
• Realização das atividades/jogos cooperativos com as crianças, em parceria com<br />
as professoras<br />
• Observação participativa das atividades (registro escrito e fotográfico)<br />
c) Refletir e avaliar o caminho percorrido<br />
• Sistematização qualitativa dos resultados parciais, compartilhados com os<br />
professores<br />
• Preparação em conjunto, equipe de psicologia e professores, das próximas<br />
atividades<br />
A entrevista semi-estruturada realizada com as professoras consistiu em um<br />
questionário com a finalidade de investigar a percepção delas sobre o grupo, traçando<br />
assim um perfil do mesmo a partir do conhecimento das demandas e comportamentos<br />
freqüentes das crianças.<br />
Através das respostas foi possível analisar que dez crianças foram consideradas<br />
mais cooperativas no olhar dos professores, enquanto que oito crianças apresentam<br />
comportamentos pouco cooperativos. Isto, possivelmente, se daria pela falta de interesse<br />
em realizar pequenas tarefas, desânimo ou insegurança, além do medo de não<br />
corresponder às expectativas esperadas.<br />
Em algumas circunstâncias foi percebido que há o interesse por parte das<br />
crianças em resolver os conflitos entre si, sem a interpelação constante das professoras.<br />
Apenas algumas crianças chamam as professoras, ou imediatamente “revidam” a ação<br />
sofrida na tentativa de resolver os problemas, para depois tentarem solucionar o conflito<br />
com a mediação das mesmas. Se trouxerem de casa alegrias ou tristezas, a maior parte<br />
das crianças divide com as professoras e alguns colegas seus sentimentos.
8<br />
Em geral as relações criança/criança são amistosas. As crianças demonstram<br />
bastante preocupação e afetividade entre elas e apresentam bom convívio. São<br />
cooperativos e atenciosos uns com os outros, dividem sentimentos e compartilham<br />
coisas, existindo as afinidades e as diferenças naturais. A relação entre pais e<br />
professores é respeitosa, cooperativa e atenciosa de ambas as partes. Quanto à relação<br />
entre professores e crianças é de carinho, empenho, cumplicidade, doação e muito amor,<br />
permitindo superação diante de alguns obstáculos.<br />
As brincadeiras vistas como as mais envolventes para as crianças foram: os<br />
jogos de mesa, brincadeiras lúdicas, pular corda, lutas (não incentivadas pelas<br />
professoras do grupo), corrida, pique parede, e brincadeiras que exigem movimento em<br />
geral. As atividades trabalhadas atualmente em sala são: exploração das partes internas<br />
do corpo humano, Eu (identidade), localização espacial, sendo os assuntos levantados<br />
pelas crianças e o planejamento flexível em torno das temáticas.<br />
Para a introdução do tema com as crianças sobre “Cooperação”, foi elaborada<br />
uma atividade conjunta – equipe de psicologia / professoras, objetivando,<br />
principalmente, que o tema se integrasse ao planejamento do grupo, considerando o<br />
atual interesse das crianças e as demais atividades que já estavam em desenvolvimento.<br />
Primeiramente, em roda, conversamos com as crianças sobre as atividades que<br />
seriam realizadas – jogos cooperativos. A primeira atividade foi chamada de<br />
“Construção do Posto de Salvamento”, envolvendo todas as crianças na construção<br />
coletiva de um cartaz gigante. As crianças decidiram trabalhar em formato de roda, no<br />
chão. Após o diálogo sobre as diferentes formas de ajuda e cooperação que eles<br />
conheciam, o grupo foi convidado a fazer desenhos compartilhados e houve grande<br />
aceitação e envolvimento por parte das crianças e professoras. Conversando então sobre<br />
o tema da cooperação, as crianças levantaram algumas formas que conheciam, como:<br />
“dar as mãos”, “corpo de bombeiros”, “salva-vidas”, “polícia”. Durante a atividade,<br />
demonstraram curiosidade pelo desenho dos amigos, perguntando sobre eles, opinando,<br />
oferecendo ajuda e complementando.<br />
Esta atividade introdutória foi, no dia seguinte, o ponto de partida para a<br />
brincadeira de “Salvamento”. Com o cartaz pronto, o grupo já tinha o seu “Posto de<br />
Salvamento” para o uso da imaginação, da ação e da cooperação.<br />
Nesta segunda atividade, o pátio da escola foi escolhido por todos para fixação<br />
do cartaz – “Posto de Salvamento”. Tão logo a brincadeira foi explicada as crianças já<br />
correram para se esconder.
9<br />
Uma criança tapará os olhos e contará por um tempo suficiente<br />
(até 20) para que todas as crianças possam se esconder no pátio.<br />
Em seguida tentará encontrar algum amigo e o levará de mãos<br />
dadas ao posto de salvamento. Depois ambos tentarão encontrar<br />
juntos (mãos dadas) um terceiro amigo e o levarão de mãos<br />
dadas para tocar o posto de salvamento. Nesse jogo<br />
cooperativo, sempre que alguém é encontrado, esta pessoa e a<br />
pessoa que o encontrou, correm juntas ao “Posto de<br />
Salvamento”, encostam nele, e a partir de então aquele foi<br />
encontrado também passa a ser um caçador de crianças<br />
escondidas, sempre de mãos dadas.<br />
Algumas reflexões compartilhadas<br />
A partir da análise de resultados obtidos pelas observações participativas e<br />
hipóteses de campo, observou-se que as crianças demonstraram obter muita satisfação e<br />
prazer em realizar as atividades/jogos cooperativos propostos. Esses também<br />
promoveram uma maior união entre os membros do grupo a fim de atingir objetivos<br />
comuns, porém ainda percebe-se uma dinâmica de competitividade muita aflorada no<br />
mesmo, o que foi considerado natural e previsto, fazendo assim com que este trabalho<br />
exija um tempo maior e realização de mais atividades/jogos cooperativos. Desta forma,<br />
vale ressaltar que esta proposta ainda encontra-se em desenvolvimento com o grupo de<br />
crianças, suscitando da equipe de psicologia e das professoras envolvidas um constante<br />
olhar e contínuos planejamentos de jogos cooperativos.<br />
Essa análise retoma as concepções de Brotto, que tem os jogos como um<br />
processo de construção e reflexão, onde os participantes aprendem a considerar o outro<br />
como um parceiro, ter consciência dos próprios sentimentos, e a colocar-se no lugar do<br />
próximo, priorizando assim a integridade de todos.<br />
As crianças não viam seus amigos como adversários durantes as brincadeiras,<br />
percebendo-se que nesse sentido elas estavam muito integradas/interativas, pois<br />
buscavam contribuir com as realizações dos amigos, opinando e solicitando por ajuda,<br />
mostrando suas realizações e observando a de seus companheiros. Pôde-se evidenciar<br />
tal fato na atividade de “Salvamento”, por exemplo, quando as crianças escondidas<br />
começavam a gritar por “socorro” para que quem estivesse procurando, a encontrasse e<br />
a “salvasse”. Durante a execução dos desenhos no cartaz gigante, essa interação<br />
cooperativa também se mostrou evidente.
10<br />
Isso foi possível, pois as atividades facilitavam/promoviam a interação e<br />
integração entre os participantes, despertando uma maior motivação e curiosidade para<br />
realizar as tarefas e fazendo assim com que elas solicitassem a continuidade do jogo.<br />
Percebe-se também que muitos sentimentos positivos foram evidenciados<br />
durante as atividades, como a alegria, prazer, companheirismo, criatividade, curiosidade<br />
e tranqüilidade. Poucos sentimentos negativos foram destacados, como a irritabilidade e<br />
agressividade em alguns momentos. Tal fato foi atribuído ao tempo de execução da<br />
atividade, fazendo-nos refletir sobre o “tempo de cooperação”, onde na medida em que<br />
as crianças ficavam cansadas das brincadeiras e tarefas começavam a surgir pequenos<br />
conflitos que geravam o despertar desses sentimentos.<br />
Não foi verificada a presença de sentimentos como perda e fracasso nas<br />
atividades realizadas, como ocorre, por exemplo, na competição, o que nos remete às<br />
reflexões trazidas por Brotto novamente, que afirma que os jogos cooperativos<br />
despertam a coragem para assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso e<br />
sucesso. A confiança em si mesmo e nos outros é reforçada, fazendo com que todos<br />
possam participar autenticamente<br />
Por fim, as crianças relataram terem gostado das atividades/jogos cooperativos<br />
realizados, o que também foi evidenciado na brincadeira do cartaz gigante, quando após<br />
a realização da tarefa, as crianças se dirigiram às mesas, pegaram papéis ofício e<br />
começaram a fazer desenhos livres, reproduzindo a dinâmica de cooperação da tarefa<br />
anterior, onde uma opinava, intervinha e ajudava no desenho da outra.<br />
Como afirma Borba (2006:78),<br />
A experiência do brincar com as crianças, ou seja, de sermos<br />
parceiros de suas interações lúdicas, partilhando com elas decisões,<br />
escolhas, papéis e respeitando suas lógicas e formas próprias de<br />
organização e significação da realidade, cria um espaço de<br />
aproximação e de relações de afeto com elas.<br />
Acreditamos que no verdadeiro encontro, baseado no diálogo e no brincar com<br />
as crianças, podemos reconhecer a nossa força (crianças e adultos) enquanto sujeitos e<br />
atores sociais plenos em nossos diferentes papéis, produtores e transformadores de<br />
nossa história e do mundo a nossa volta, em busca de relações mais cooperativas,<br />
afetivas e humanizadas.
11<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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V Congreso Internacional de Actividades Físicas Cooperativas. Oleiros (Coruña) 2006.<br />
BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São<br />
Paulo: Duas Cidades. Editora 34, 2002.<br />
BORBA, V. R. S e SPAZZIANI, M. L. Afetividade no contexto da educação infantil.<br />
SEE- SP.<br />
BORBA, Ângela Meyer. A brincadeira como experiência de cultura. In: CORSINO,<br />
Patrícia. (Org.). Educação Infantil – cotidiano e políticas. Campinas. SP: Autores<br />
Associados, 2009.<br />
BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de<br />
convivência. Santos, SP: projeto cooperação, 2001.<br />
_____________. Jogos Cooperativos – Se o importante é competir, o fundamental é<br />
cooperar. São Paulo: Re-Novada, 1997.<br />
DEACOVE, Jim. Manual de Jogos Cooperativos. 2ª ed. São Paulo: Projeto<br />
Cooperação, 2002.<br />
GONÇALVES, M.F.C. (Org). Educação Escolar: identidade e diversidades.<br />
Florianópolis, SC: Insular, 2003.<br />
LA TAILLE, Y; DANTAS, H; OLIVEIRA, M, K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias<br />
psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.<br />
MAHONEY, A.A.; ALMEIDA, L.R. Afetividade e Aprendizagem. In: Revista Viver
12<br />
Mente & Cérebro – Coleção Memória da Pedagogia n.6. Rio de Janeiro: Relume<br />
Dumará: Ediouro, 2006.<br />
KNUPP, Anna Paula B. Afetividade na educação infantil: concepções dos<br />
educadores da pequena infância. 2º. GRUPECI/UERJ, setembro 2010.<br />
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.<br />
14 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.<br />
ANEXOS<br />
1. Entrevista semi-estruturada com os professores<br />
1. Como a atitude cooperativa se faz presente no grupo de crianças e adultos<br />
2. Como o grupo costuma expressar seus sentimentos (ações, atitudes e<br />
emoções)<br />
3. Como a afetividade está presente nas relações: criança/criança;<br />
criança/adulto (pais e professores); adulto/adulto (pais/ professores)<br />
4. Quais as brincadeiras que tem envolvido mais as crianças ultimamente<br />
Alguma em especial<br />
5. Quais os temas atuais no planejamento<br />
2. Roteiro de hipóteses de campo/avaliação<br />
1. As crianças sentem prazer ao realizar a atividade<br />
2. As crianças buscam a cooperação a fim de atingir um objetivo comum<br />
3. As crianças vêem os colegas como adversários<br />
4. O jogo/brincadeira permite a interação/integração entre as crianças<br />
5. Que tipo de sentimentos foram evidenciados durante a realização das<br />
brincadeiras cooperativas<br />
6. As crianças demonstram vontade em continuar brincando cooperativamente<br />
7. Alguma criança experimenta sentimentos negativos, como perda e fracasso<br />
8. Qual a visão dos professores sobre os jogos cooperativos<br />
9. Expectativas e avaliação das atividades.