Descubra os tesouros naturais da Serra da Bodoquena - Bonito
Descubra os tesouros naturais da Serra da Bodoquena - Bonito
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Descobrir e respeitar <strong>os</strong> tesour<strong>os</strong> <strong>naturais</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong><br />
Texto e fot<strong>os</strong>: J<strong>os</strong>é Sabino<br />
Ao sul do Pantanal, o Planalto <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> reserva paisagens únicas,<br />
combinando águas cristalinas e alta biodiversi<strong>da</strong>de. Além <strong>da</strong>s nascentes de<br />
beleza paradisíaca, há delici<strong>os</strong>as cachoeiras e enormes grutas com m lag<strong>os</strong><br />
submers<strong>os</strong>.<br />
© J<strong>os</strong>é Sabino
2<br />
O cenário é espetacular.<br />
Águas cristalinas, o verde<br />
deslumbrante <strong>da</strong>s plantas<br />
aquáticas e peixes... muit<strong>os</strong><br />
peixes. Assim são as<br />
nascentes <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Bodoquena</strong>, no sudoeste do<br />
Mato Gr<strong>os</strong>so do Sul.<br />
A <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong>, onde se encontra <strong>Bonito</strong> e Jardim, é<br />
reconheci<strong>da</strong> como um d<strong>os</strong> destin<strong>os</strong> mais desejad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> ecoturistas<br />
do Brasil. Mas a região representa muito mais que um destino<br />
turístico. Para <strong>os</strong> cientistas que ali trabalham, a <strong>Bodoquena</strong> guar<strong>da</strong><br />
uma rica biodiversi<strong>da</strong>de, boa parte ain<strong>da</strong> desconheci<strong>da</strong> e ameaça<strong>da</strong>.<br />
O curimbatá, Prochilodus lineatus,<br />
alimenta-se de detrit<strong>os</strong> e microalgas do<br />
leito d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> de águas cristalinas, como o<br />
Olho D’água, afluente do Rio <strong>da</strong> Prata<br />
(acima).<br />
O Rio Form<strong>os</strong>o (à esquer<strong>da</strong>) é o principal<br />
rio do município de <strong>Bonito</strong> e tem rica<br />
mata ciliar, visita<strong>da</strong> por animais como o<br />
macaco-prego, Cebus apella (abaixo).
Para entender um pouco <strong>da</strong> beleza <strong>da</strong> região, é necessário voltar<br />
no tempo, em um passado geológico muito remoto. Estud<strong>os</strong><br />
m<strong>os</strong>tram que o subsolo <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> é formado por rochas<br />
calcárias muito puras, origina<strong>da</strong>s há 550 milhões de an<strong>os</strong>. Estas<br />
rochas muito antigas e puras explicam a limpidez <strong>da</strong>s águas. O<br />
calcário dissolvido na água absorve e decanta as poucas impurezas<br />
restantes, tornado a água mais cristalina ain<strong>da</strong>. E haja<br />
transparência. Em algumas áreas, a visibili<strong>da</strong>de debaixo <strong>da</strong> água é<br />
de 50 a 60 metr<strong>os</strong>. Uma <strong>da</strong>s águas mais claras do mundo.<br />
Rochas calcárias muito<br />
antigas, origina<strong>da</strong>s há 550<br />
milhões de an<strong>os</strong>, formam o<br />
Planalto <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> (à<br />
esquer<strong>da</strong>). A pureza deste<br />
solo explica a limpidez <strong>da</strong>s<br />
águas, como na gruta do<br />
Lago Azul (abaixo).<br />
A gruta do Lago Azul é<br />
um espetáculo desejado<br />
pela maioria d<strong>os</strong><br />
visitantes de <strong>Bonito</strong>. Em<br />
suas águas vive um<br />
crustáceo raríssimo, o<br />
Poticoara brasiliensis,<br />
cujo parente mais<br />
próximo ocorre em<br />
cavernas semelhantes<br />
ao sul do continente<br />
africano.<br />
Ancistrus form<strong>os</strong>o, cascudo<br />
albino, que só existe em ri<strong>os</strong><br />
subterrâne<strong>os</strong> e cavernas<br />
inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Bodoquena</strong>. Descrito em<br />
1997, ele figura na recente<br />
lista oficial <strong>da</strong>s espécies<br />
brasileiras ameaça<strong>da</strong>s de<br />
extinção, publica<strong>da</strong> pelo<br />
IBAMA.<br />
3
A Natureza levou milhões de an<strong>os</strong> para compor cenári<strong>os</strong> de águas claras<br />
com numer<strong>os</strong>as plantas aquáticas, comuns em ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong>.<br />
Plantas e animais<br />
completam o espetáculo<br />
visual d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Bodoquena</strong> (acima). A rica<br />
diversi<strong>da</strong>de de organism<strong>os</strong><br />
desta região é resultado de<br />
outr<strong>os</strong> tant<strong>os</strong> milhões de<br />
an<strong>os</strong> de evolução biológica.<br />
Uma complexa e longa<br />
combinação de fatores<br />
<strong>naturais</strong> permitiu que<br />
plantas aquáticas, peixes e<br />
to<strong>da</strong> sorte de criaturas<br />
minúsculas convivessem<br />
harmonicamente em<br />
nascentes de águas<br />
absolutamente cristalinas.<br />
Em conjunto, <strong>os</strong><br />
organism<strong>os</strong> formam uma<br />
delica<strong>da</strong> trama de vi<strong>da</strong>, que<br />
conecta uma pequena<br />
planta a<strong>os</strong> grandes<br />
pre<strong>da</strong>dores d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong>, como<br />
<strong>os</strong> dourad<strong>os</strong> (ao centro) e<br />
as ariranhas (abaixo).<br />
4
Águas límpi<strong>da</strong>s escancaram a riqueza <strong>da</strong> região<br />
Mergulhar n<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> e nascentes <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> é uma<br />
experiência fascinante. Em pouc<strong>os</strong> lugares do mundo, visitantes<br />
e animais têm a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de um contato tão próximo e<br />
harmônico. Reina a cumplici<strong>da</strong>de. Respeito e destemor<br />
governam as relações entre o homem e a natureza.<br />
Os peixes são as estrelas. Basta<br />
um mergulho para observar<br />
espécies de tamanh<strong>os</strong> e cores<br />
varia<strong>da</strong>s. Do enorme dourado,<br />
um d<strong>os</strong> maiores pre<strong>da</strong>dores d<strong>os</strong><br />
ri<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, ao vermelhoescarlate<br />
do pequenino matogr<strong>os</strong>so,<br />
passando pelo azulacinzentado<br />
do curimbatá e até<br />
mesmo as injustamente temi<strong>da</strong>s<br />
piranhas. A beleza <strong>da</strong>s<br />
nascentes se completa com as<br />
plantas aquáticas, que formam<br />
ver<strong>da</strong>deir<strong>os</strong> jardins submers<strong>os</strong>.<br />
O mato-gr<strong>os</strong>so,<br />
Hyphessobrycon eques, é<br />
uma <strong>da</strong>s espécies comuns<br />
em áreas de remans<strong>os</strong>.<br />
O piau-três-pintas, Leporinus<br />
friderici, alimenta-se de plantas<br />
e frut<strong>os</strong> no leito d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong>.<br />
Foto: Luciano Candisani<br />
A piraputanga, Brycon hilarii (à esquer<strong>da</strong>), é um d<strong>os</strong> peixes mais comuns<br />
n<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong>. Por sua vez, a cachara, Pseudoplatystoma<br />
fasciatum (à direita), arisca e rara, é encontra<strong>da</strong> apenas em ri<strong>os</strong> como o<br />
Prata e o Olho D’água. Trata-se de um grande bagre, pre<strong>da</strong>dor peixes<br />
menores.<br />
55
6<br />
A vegetação <strong>da</strong>s margens d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> contribui para o<br />
delicado equilíbrio <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong> região. Além de fornecer frut<strong>os</strong> e<br />
inset<strong>os</strong> como alimento a<strong>os</strong> peixes, a mata ciliar protege as<br />
margens d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> ―como <strong>os</strong> cíli<strong>os</strong> protegem n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> olh<strong>os</strong>―,<br />
contendo barrancas e aju<strong>da</strong>ndo a manter as águas límpi<strong>da</strong>s.<br />
A vegetação ribeirinha também forma ver<strong>da</strong>deir<strong>os</strong> corredores para<br />
a fauna terrestre. Com um pouco de sorte e paciência, é p<strong>os</strong>sível<br />
observar aves como mutuns, gralhas e tucan<strong>os</strong>, e mamífer<strong>os</strong><br />
como macac<strong>os</strong>, quatis e capivaras.<br />
Macac<strong>os</strong>-prego (acima), tucan<strong>os</strong> (ao<br />
lado), cutias (abaixo à esquer<strong>da</strong>), e<br />
mesmo piraputangas (abaixo à direita)<br />
atuam como jardineir<strong>os</strong> <strong>da</strong> natureza,<br />
replantando árvores <strong>da</strong>s quais se<br />
alimentam. É fácil entender. Ao<br />
comerem frut<strong>os</strong>, estes animais<br />
ingerem também suas sementes e, ao<br />
defecarem, podem dispersá-las e<br />
gerar novas plantas.
Respeito a<strong>os</strong> limites <strong>da</strong> Natureza<br />
A delicadeza d<strong>os</strong> ambientes <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> impõe rígi<strong>da</strong>s<br />
regras de visitação. N<strong>os</strong> locais mais delicad<strong>os</strong> é obrigatório<br />
o uso de roupa de neoprene e colete salva-vi<strong>da</strong>. Há áreas<br />
de nascentes em que a flutuação é proibi<strong>da</strong>, devido à<br />
extrema delicadeza d<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas.<br />
Nascente do rio<br />
Sucuri, onde a<br />
flutuação é proibi<strong>da</strong><br />
devido à extrema<br />
delicadeza do<br />
ambiente.<br />
Para flutuar n<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />
região, ca<strong>da</strong> pequeno grupo<br />
de turista tem de estar<br />
acompanhado de um guia<br />
credenciado. Enquanto o<br />
guia orienta e conduz o<br />
grupo, <strong>os</strong> equipament<strong>os</strong><br />
aju<strong>da</strong>m a flutuar e evitam<br />
que a areia e a vegetação do<br />
leito do rio sejam toca<strong>da</strong>s.<br />
Tudo em nome do turismo<br />
de mínimo impacto.<br />
Como efeito secundário,<br />
grup<strong>os</strong> formad<strong>os</strong> por no<br />
máximo 9 pessoas dão a<strong>os</strong><br />
turistas a sensação de<br />
acesso exclusivo a<strong>os</strong> locais<br />
visitad<strong>os</strong>.<br />
Grupo pequeno de visitantes,<br />
acompanhado de guia,prepara-se<br />
para flutuar no Rio Olho D’água, no<br />
Recanto Ecológico Rio <strong>da</strong> Prata.<br />
Um detalhado trabalho de<br />
monitoramento orienta a visitação.<br />
7
Desconhecimento aumenta risc<strong>os</strong> de <strong>da</strong>n<strong>os</strong> ambientais<br />
Apesar de muito transparentes, as águas <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> ain<strong>da</strong><br />
escondem ver<strong>da</strong>deir<strong>os</strong> tesour<strong>os</strong> <strong>naturais</strong>. Quanto mais <strong>os</strong><br />
cientistas estu<strong>da</strong>m, mais descobrem que têm apenas um<br />
rascunho <strong>da</strong>s riquezas <strong>da</strong> região. Estimativas avaliam que<br />
cerca de 20% <strong>da</strong>s 80 a 90 espécies d<strong>os</strong> peixes <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong><br />
ain<strong>da</strong> não foram descritas pel<strong>os</strong> biólog<strong>os</strong>.<br />
O maior desconhecimento d<strong>os</strong> peixes <strong>da</strong> região está n<strong>os</strong><br />
grup<strong>os</strong> formad<strong>os</strong> por pequen<strong>os</strong> lambaris e bagres. A descrição<br />
de uma espécie equivale à “certidão de nascimento” científica.<br />
Para a montagem do quebra-cabeça <strong>da</strong> conservação<br />
ambiental, a lista <strong>da</strong>s espécies de um ec<strong>os</strong>sistema é a peça<br />
básica. Na <strong>Bodoquena</strong> não é diferente.<br />
O lambari Moenkhausia bonita, descrito no início de 2004 por<br />
pesquisadores <strong>da</strong> USP e UNIDERP, é um exemplo do desconhecimento<br />
d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> região.<br />
Cientistas avaliam a região como prioritária para estud<strong>os</strong> de<br />
biodiversi<strong>da</strong>de. Novas espécies como o lambari Moenkhausia<br />
bonita (acima) são descritas regularmente, o que demonstra a<br />
ignorância acerca <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> região.<br />
Trata-se de ver<strong>da</strong>deiro desafio. Como realizar a gestão ambiental<br />
de uma área sob pressões crescentes, com ambientes<br />
delicadíssim<strong>os</strong> e cuja lista de espécies sequer é conheci<strong>da</strong><br />
adequa<strong>da</strong>mente A resp<strong>os</strong>ta parece estar fun<strong>da</strong>mentalmente<br />
liga<strong>da</strong> a ampliação d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>da</strong> região.<br />
8
Gestão ambiental basea<strong>da</strong> em <strong>da</strong>d<strong>os</strong> científic<strong>os</strong><br />
O aumento <strong>da</strong> visitação em áreas <strong>naturais</strong> pode interferir no<br />
delicado equilíbrio entre animais e plantas, afetando a<br />
diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s espécies e suas relações ecológicas. Este tem<br />
sido o diagnóstico em diferentes partes do mundo, seja em<br />
países african<strong>os</strong>, seja nas gela<strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong> Antártica...<br />
Em <strong>Bonito</strong> não é diferente. Embora muito se fale <strong>da</strong><br />
sustentabili<strong>da</strong>de do ecoturismo <strong>da</strong> região, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> sinais de<br />
sobrecarga começam a aparecer e pedem novas medi<strong>da</strong>s de<br />
gestão e monitoramento. Estud<strong>os</strong> recentes tendo peixes como<br />
indicadores apontam per<strong>da</strong>s de biodiversi<strong>da</strong>de, muito<br />
provavelmente decorrentes do excesso de visitação em locais<br />
frágeis.<br />
Espécies de peixes, aves ribeirinhas e invertebrad<strong>os</strong> aquátic<strong>os</strong><br />
funcionam como “termômetr<strong>os</strong>” do ambiente. Se alguma<br />
população aumenta, diminui ou mesmo desaparece <strong>da</strong> área, algo<br />
de errado pode estar acontecendo com <strong>os</strong> ri<strong>os</strong>. Este<br />
conhecimento básico deveria permitir a toma<strong>da</strong> de medi<strong>da</strong>s que<br />
visam à manutenção <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de do ec<strong>os</strong>sistema ou sua<br />
recuperação.<br />
Casal de joaninha Crenicichla lepidota (macho à esquer<strong>da</strong>, fêmea<br />
à direita) protege filhotes em ninho feito em tronco submerso.<br />
Após serem perturbad<strong>os</strong> pela passagem de turistas, filhotes (seta<br />
amarela) ficam entocad<strong>os</strong> ao lado fêmea e têm seu ritmo<br />
biológico alterado.<br />
9
10<br />
Janela para o mundo natural<br />
O Brasil tem a maior riqueza de peixes de água doce do mundo, com<br />
uma riqueza estima<strong>da</strong> entre 4000 e 5000 espécies. Grande parte<br />
destes peixes vive em ambientes de águas escuras ou barrentas.<br />
As águas cristalinas <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> formam cenári<strong>os</strong> ideais para<br />
contato com parte deste imenso patrimônio natural.<br />
A região é uma excelente<br />
janela para observação e<br />
contato com <strong>os</strong> ambientes de<br />
água doce. Suas águas dão<br />
um ver<strong>da</strong>deiro banho de<br />
sensibilização ambiental. Na<br />
<strong>Bodoquena</strong>, peixes e outr<strong>os</strong><br />
organism<strong>os</strong> aquátic<strong>os</strong> deixam<br />
de ser “animais fedid<strong>os</strong>” e<br />
viram objet<strong>os</strong> de admiração.
A melhoria do acesso rodoviário, a construção do aeroporto de<br />
<strong>Bonito</strong> -em operação desde abril de 2004-, além <strong>da</strong> abertura de<br />
nov<strong>os</strong> hotéis ampliam as pressões do turismo sobre <strong>os</strong> delicad<strong>os</strong><br />
ec<strong>os</strong>sistemas <strong>da</strong> região.<br />
Foto: Luciana Paes de Andrade<br />
A conservação de ambientes frágeis, nota<strong>da</strong>mente as nascentes de ri<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong>, somente será p<strong>os</strong>sível se houver pesquisas<br />
ecológicas (à esquer<strong>da</strong>) e ampl<strong>os</strong> programas de planejamento de turismo<br />
e educação ambiental (à direita).<br />
Ao ampliar as técnicas de uso racional e sustentável nestes<br />
ambientes, será p<strong>os</strong>sível m<strong>os</strong>trar com <strong>da</strong>d<strong>os</strong> que o ecoturismo<br />
pode ser uma importante ferramenta na conservação <strong>da</strong><br />
biodiversi<strong>da</strong>de, gerando ren<strong>da</strong> e emprego com responsabili<strong>da</strong>de<br />
ambiental e social.<br />
Explorar economicamente <strong>os</strong> ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> e, ao<br />
mesmo tempo, proporcionar a conservação d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong><br />
<strong>naturais</strong> e distribuição justa d<strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> é o grande desafio que<br />
se propõe a<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>. A resp<strong>os</strong>ta mais plausível a esta<br />
questão parece ser investir em ciência e educar <strong>os</strong> diferentes<br />
segment<strong>os</strong> que atuam em ativi<strong>da</strong>des que exploram recurs<strong>os</strong><br />
<strong>naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong>.<br />
Esta é a responsabili<strong>da</strong>de que cabe –diretamente– a<strong>os</strong><br />
proprietári<strong>os</strong> de síti<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong> <strong>naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong>, em<br />
sintonia com <strong>os</strong> demais atores <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, como guias,<br />
agentes e visitantes. Evidentemente, o poder público e a<br />
socie<strong>da</strong>de como um todo também têm a tarefa de fiscalizar<br />
adequa<strong>da</strong>mente esta operação que se dá, em última instância,<br />
em patrimônio público.<br />
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A diversi<strong>da</strong>de biológica é patrimônio <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de e como tal<br />
deve ser trata<strong>da</strong> com absoluto respeito e ética. Seguramente, há<br />
muito que fazer para proteger a região <strong>da</strong> <strong>Bodoquena</strong> e o maior<br />
conhecimento d<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas permitirá uma gestão ambiental<br />
adequa<strong>da</strong>. Quando a biodiversi<strong>da</strong>de é o centro <strong>da</strong> exploração<br />
econômica, <strong>os</strong> interesses ambientais devem sempre ficar acima<br />
d<strong>os</strong> interesses privado e comercial.<br />
Estud<strong>os</strong> de caracterização de fauna e flora, seguid<strong>os</strong> por<br />
monitoramento técnico, devem ser implantad<strong>os</strong> –e suas<br />
recomen<strong>da</strong>ções respeita<strong>da</strong>s– como resultado de interações<br />
maduras entre a ciência e o empresariado, tendência em franca<br />
expansão no mundo.<br />
Mais que isso, implantar técnicas de uso racional e sustentável<br />
nestes ambientes m<strong>os</strong>tra que o ecoturismo pode ser uma<br />
importante ferramenta na conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Um<br />
bom exemplo de que a Natureza pode ser usa<strong>da</strong> de modo<br />
respeit<strong>os</strong>o e, ao mesmo tempo, preserva<strong>da</strong> em sua plenitude,<br />
proporcionando uma vi<strong>da</strong> harmoni<strong>os</strong>a a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres.<br />
J<strong>os</strong>é Sabino<br />
é biólogo, doutor em Ecologia pela UNICAMP e consultor <strong>da</strong> ONU/PNUD para área de<br />
biodiversi<strong>da</strong>de. Atualmente é professor do Mestrado em Meio Ambiente <strong>da</strong> UNIDERP, e ministra<br />
as disciplinas de “Ecologia de Ec<strong>os</strong>sistemas”, “Biodiversi<strong>da</strong>de do Cerrado e Pantanal” e “Turismo<br />
e Desenvolvimento Regional”. É pesquisador-chefe do Laboratório de Biodiversi<strong>da</strong>de e<br />
Conservação de Ec<strong>os</strong>sistemas Aquátic<strong>os</strong> <strong>da</strong> UNIDERP.<br />
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