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ABERTO<br />
Graças a essas expedições e à resistência<br />
dos negros palmarinos, a região no entorno<br />
do rio Mundaú foi transformada numa<br />
das áreas mais prósperas da capitania. A<br />
caça aos escravos e às escravas fugidos<br />
ocasionou a descoberta de novas e melhores<br />
terras para a expansão da monocultura<br />
da cana-de-açúcar.<br />
O Quilombo dos Palmares e a saga<br />
travada no cume da Serra da Barriga, sede<br />
do quilombo, segundo os historiadores<br />
João José Reis e Flávio Gomes (1996), representaram<br />
o primeiro grande movimento<br />
de resistência à escravidão naquele que foi<br />
o maior quilombo brasileiro. Palmares foi<br />
assim chamado por estar incrustado numa<br />
floresta de palmáceas e por valer-se dessa<br />
espécie vegetal para suprir suas necessidades<br />
de alimentação, moradia e segurança.<br />
Foi instituído na capitania de Pernambuco,<br />
no século XVII, e administrado por<br />
Zumbi dos Palmares de 1678 a 1694, data<br />
da expedição que destruiu a fortaleza. No<br />
entanto, alguns historiadores dizem que o<br />
agrupamento ainda sobreviveu até 1740,<br />
bem depois da morte de Zumbi, que ocorreu<br />
em 1695.<br />
O Quilombo dos Palmares, paralelamente<br />
à invasão holandesa e à luta pela restauração<br />
do domínio lusitano, principalmente<br />
entre 1630 e 1645, pôs em xeque a economia<br />
açucareira e a vida nos engenhos e nos povoados<br />
que o circundavam. Foi um assentamento<br />
humano com dimensões político-administrativa,<br />
econômica, cultural, psicossocial<br />
e tecnológica, que, segundo Edison Carneiro<br />
(1947), formou-se com a mistura de negros<br />
e negras oriundos de distintos grupos<br />
africanos. Porém, configurava uma sociedade<br />
que admitia também a presença de indivíduos<br />
brancos, mulatos, índios e caboclos<br />
descontentes, marginalizados ou foragidos<br />
das malhas do sistema colonial e do poder<br />
patriarcal, organizados contra uma sociedade<br />
branca e exclusivista.<br />
Palmares representava<br />
uma ameaça<br />
à sociedade colonial<br />
porque a sua<br />
simples existência<br />
negava a ordem escravocrata,<br />
causava<br />
medo e desgaste aos<br />
valores sociais, econômicos<br />
e culturais<br />
da sociedade latifundiário-escravista,<br />
como afirma Clóvis<br />
Moura (2001).<br />
De acordo<br />
com Nina Rodrigues<br />
(1982) e Décio Freitas<br />
(1984), embora a<br />
estrutura cultural e<br />
econômica do Quilombo<br />
dos Palmares<br />
pareça e seja retratada<br />
como o avesso da<br />
sociedade colonial,<br />
suas organizações<br />
política e social apresentavam<br />
muitas semelhanças<br />
com a<br />
vida da colônia. Nessa<br />
perspectiva, Manuel<br />
Correia de Andrade<br />
(2001) afirma<br />
que os quilombos,<br />
na realidade, não foram<br />
modelos de radicalismo<br />
com relação<br />
à ordem colonial ou modelos de<br />
sociedade construída com base numa democracia<br />
social, já que neles permaneciam os<br />
hábitos africanos de poligamia, a dominação<br />
masculina e, especialmente, a escravidão. Os<br />
escravos e escravas do quilombo eram um<br />
segmento formado pelos negros e pelas negras<br />
aprisionados nas senzalas pelos<br />
quilombolas livres.<br />
O Quilombo dos<br />
Palmares,<br />
paralelamente à<br />
invasão holandesa<br />
e à luta pela<br />
restauração do<br />
domínio lusitano,<br />
principalmente<br />
entre 1630 e<br />
1645, pôs em<br />
xeque a economia<br />
açucareira e a vida<br />
nos engenhos e<br />
nos povoados que<br />
o circundavam<br />
JAN / MAR 2007 89