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A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

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antepor a tudo a imprensa, “da qual não me po<strong>de</strong>ria separar, então, sem amargura, e on<strong>de</strong><br />

como jornalista sem subordinação <strong>de</strong> partido”, estava em melhores condições <strong>de</strong> “servir<br />

com in<strong>de</strong>pendência e eficácia às gran<strong>de</strong>s reformas liberais”<br />

Entre as “gran<strong>de</strong>s reformas liberais” estava, justamente, a do ensino, sobre a<br />

qual o Imperador, em claro ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagravo, convocou <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> para um encontro<br />

privativo, às 11 horas <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1884, ou seja, <strong>de</strong>pois da posse do gabinete<br />

Dantas (1883), do qual ele tinha sido excluído O convite, como era do protocolo, foi transmitido<br />

por intermédio do próprio Dantas (carta a <strong>Rui</strong>, 13/10/1884), que, assim, teve <strong>de</strong><br />

engolir a afronta Pedro II esmerou-se em acentuar o sentido real do convite, conforme <strong>Rui</strong><br />

<strong>Barbosa</strong> revelou na introdução à Queda do Império:<br />

No prazo dado, ali estava eu, juntamente curioso e enleado com a reputação <strong>de</strong> terrível<br />

e pontilhoso argüidor, que tinha D Pedro Disseram-me, logo à porta, que, naquele dia<br />

e àquela hora, ele não recebia; mas, respon<strong>de</strong>ndo eu que eram or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Sua Majesta<strong>de</strong><br />

as a que obe<strong>de</strong>cia, <strong>de</strong>ram-lhe parte da visita, à qual acudiu imediatamente Com insinuante<br />

afabilida<strong>de</strong> me tomou da mão, e, sem m’a <strong>de</strong>ixar mais, me conduziu ao longo do<br />

vasto salão avarandado, on<strong>de</strong> se costumam dar, aos sábados, as suas audiências gerais,<br />

subiu comigo a escada para o andar superior, e lá me levou a um gabinete, cuja vista<br />

dava para a bela avenida, que da frontaria do palácio vai ter ao gran<strong>de</strong> portão exterior<br />

Ali, no meio do aposento, estava, como que já <strong>de</strong> propósito arranjada para conversa<br />

íntima, uma singela mesinha, coberta com seu pano, a que Sua Majesta<strong>de</strong> me fez sentar;<br />

e então, <strong>de</strong>ixando-me por instantes, volveu trazendo sobraçados os meus dois pareceres<br />

e projetos acerca da reforma dos três ensinos, que havia dois anos, dormiam, na<br />

câmara dos <strong>de</strong>putados, o sono, don<strong>de</strong> passaram ao mofo e traçaria dos arquivos Sentou-se;<br />

e, joelhos contra joelhos, numa familiarida<strong>de</strong> que para logo me dissipou acanhamentos<br />

e receios, como em cavaco íntimo entre iguais ou camaradas, percorrendo<br />

as notas e tarjas, <strong>de</strong> que trazia margeadas e comentadas as páginas dos dois livros, creio<br />

que enca<strong>de</strong>rnados, me submeteu a formidável sabatina, numa dobadoura contínua <strong>de</strong><br />

objeções e perguntas, sarilhando, uma trás outras, as questões e dificulda<strong>de</strong>s, como fios<br />

<strong>de</strong> fusos em movimento rápido entre os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> amestrado fian<strong>de</strong>iro<br />

Seriam, mais ou menos, três horas da tar<strong>de</strong>, quando o imperador se levantou, <strong>de</strong>spedindo-me<br />

com a mesma boa sombra, cortesia e <strong>de</strong>scerimônia com que me recebera<br />

É claro que, se <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> revelou com tantos pormenores lisonjeiros a entrevista<br />

com o Imperador, po<strong>de</strong>-se imaginar que não terá <strong>de</strong>ixado então <strong>de</strong> comentá-los nas<br />

rodas políticas, que, <strong>de</strong> resto, nada ignoravam do que se passava em São Cristóvão O<br />

senador Dantas <strong>de</strong>ve ter remoído o <strong>de</strong>speito, pois <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> repetia, por escrito, em<br />

1921, a historieta que certamente divulgara entre os políticos e jornalistas <strong>de</strong> 1884:<br />

Dessa prática <strong>de</strong>safetada, mas ouriçada, como era, para a minha bisonharia em entrevistas<br />

régias, <strong>de</strong> tropecilhos e imprevistos, ignoro que impressão terei <strong>de</strong>ixado no juízo<br />

do imperador Não sei se ele o disse ao senador Dantas (Nunca lh’o perguntei) [sic] A<br />

minha era a <strong>de</strong> ter estado em contacto com um coração aberto a excelentes sentimentos,<br />

um espírito acessível às idéias mais progressistas, uma admirável retentiva, um<br />

contraditório misto, em suma, <strong>de</strong> mediocrida<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>za, artifício e simplicida<strong>de</strong>,<br />

larga erudição memorizada e míngua ou <strong>de</strong>senvolvimento imperfeito nas faculda<strong>de</strong>s<br />

assimilativas e criadoras<br />

Ainda em 1889, ele voltou a tratar <strong>de</strong> matéria educacional no Diário <strong>de</strong> Notícias<br />

em vários artigos sobre o ensino secundário, e, quando se fala nos seus artigos, é<br />

preciso ter em mente que se trata <strong>de</strong> longos trabalhos doutrinários que a imprensa dos<br />

nossos dias seria incapaz <strong>de</strong> absorver Num dos artigos mais importantes (“Nossa ingratidão”,<br />

Prefácio da 4 a edição 9

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