20.01.2015 Views

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

edição americana” Na folha <strong>de</strong> rosto, explica-se mais longamente: “Vertida da quadragésima<br />

edição e adaptada às condições <strong>de</strong> nosso idioma e países que o falam” 19<br />

<strong>Rui</strong> <strong>de</strong>via fazer a indicação, pois, ao publicar a obra, teve ensejo <strong>de</strong> cotejar toda<br />

a matéria <strong>de</strong>ssa nova edição, reajustando o texto, quando necessário Na realida<strong>de</strong>, porém,<br />

o trabalho inicial da versão não foi feito à vista da 40ª edição, só impressa em 1884, mas,<br />

sim, da 18ª, tirada quatro anos antes 20<br />

A comprovação é fácil <strong>de</strong> fazer-se Com efeito, em carta da Bahia, datada <strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> abril, <strong>de</strong> 1881, ao Dr Antônio d’Araújo Ferreira Jacobina, escrevia <strong>Rui</strong>:<br />

À vista do fato, <strong>de</strong>liberei logo realizar o meu pensamento <strong>de</strong> traduzir a obra <strong>de</strong> Calkins Meti<br />

mãos ao trabalho, empenhando-me em concluí-lo pichosamente e <strong>de</strong>pressa () Chamando-a<br />

tradução, não a chamo bem: porquanto uma boa parte do livro é um espinhoso trabalho<br />

<strong>de</strong> adaptação, que me obrigou a extremos <strong>de</strong> paciência e estudo Assim, tive que acomodar<br />

ao sistema métrico <strong>de</strong>cimal as lições que o texto consagra ao sistema irregular <strong>de</strong> medidas<br />

inglesas e americanas Assim, ainda, toda a parte concernente aos sons <strong>de</strong> linguagem –<br />

é <strong>de</strong> lavra minha, apenas sob a direção geral e a inspiração do método do autor: pois evi<strong>de</strong>ntemente<br />

nada podia eu aproveitar para o nosso idioma do que ele escreveu para o inglês V<br />

po<strong>de</strong> calcular as dificulda<strong>de</strong>s que aí me <strong>de</strong>tinham a cada instante Não obstante esses e<br />

outros embaraços, porém, a tarefa encetada a 16 <strong>de</strong> fevereiro estava finda a 8 do corrente 21<br />

Os originais <strong>Rui</strong> os lançou em ca<strong>de</strong>rnos cartonados, tamanho almaço, pautados,<br />

em que se habituara a escrever Aproveitava uma só face do papel, e <strong>de</strong>ixava margens,<br />

indicadas a traços <strong>de</strong> lápis, <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro lado 22<br />

A linguagem é a da época, <strong>de</strong> extrema correção e purismo, por vezes, por isso<br />

mesmo, prejudicada em sua naturalida<strong>de</strong> O carinho que pôs <strong>Rui</strong> no trabalho ressalta do<br />

cotejo entre o texto original e o da versão, em qualquer trecho Não há, por toda a obra, uma<br />

só construção, torneio <strong>de</strong> frase, ou expressão que possa ser acoimada <strong>de</strong> anglicismo A obra<br />

foi, na verda<strong>de</strong>, toda ela “repensada” 23<br />

Tanto quanto se apressara em traduzir, apressado estava <strong>Rui</strong> em fazer publicar<br />

a obra Em outro trecho da mesma carta a Jacobina, diz:<br />

O Rodolfo Dantas, que aí vai <strong>de</strong>morar-se apenas seis dias, é portador <strong>de</strong> um exemplar<br />

<strong>de</strong> Calkins Isso é uma ameaça <strong>de</strong> maçada para V Careço <strong>de</strong> saber as condições em que<br />

19 Houve na edição original a evi<strong>de</strong>nte preocupação <strong>de</strong> seguir em tudo a apresentação material do livro americano As<br />

ilustrações estão cuidadosamente copiadas e, para elas se serviu a Imprensa Nacional, ora da combinação <strong>de</strong> fios tipográficos,<br />

como se vê das p 76, 78, 82 e outras, ora da xilografia, como é patente na reprodução <strong>de</strong> sólidos geométricos que<br />

aparecem às p 52 a 55 A adoção <strong>de</strong>sse processo obrigou, nalguns casos, como se vê às p 68 a 71, à reprodução negativa<br />

das figuras, ou seja, a sua reprodução com fundo negro e traços brancos Aliás, o orçamento da Tipografia Nacional,<br />

extraído em 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1883, diz claramente: “Gravura xilográfica (247 clichês) 320$000” A preocupação <strong>de</strong> editar o<br />

livro com feição semelhante à da edição americana é visível nesse orçamento, como em outro, fornecido em abril <strong>de</strong> 1881,<br />

por Henrique Laemmert & Cia, pois ambos fazem sempre menção ao título da obra em inglês, não em português<br />

20 São essas duas edições: Calkins, N A Primary object lessons Eighteen edition, rewitten and enlarged New York : Harper &<br />

Brothers, 1880 442 p; Calkins, N A Primary object lessons Fortieth edition, revised New York : Harper & Brothers, 1884 448<br />

p Toda a matéria é idêntica, nas duas edições, mesmo na disposição tipográfica, até a p 327 Mas, do parágrafo “Steps in Reading<br />

by the Object Method”, que vem no fim <strong>de</strong>ssa página, para diante, traz a nova edição numerosos acréscimos, e alguns parágrafos<br />

inteiramente refundidos Os exemplares <strong>de</strong> ambas as edições, <strong>de</strong> que se serviu <strong>Rui</strong>, conservam-se na <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong><br />

21 Mocida<strong>de</strong> e exílio, p 119 Por todo o texto <strong>de</strong>sta carta vê-se que Jacobina estava perfeitamente a par do projeto da tradução<br />

<strong>Rui</strong> diz apenas “a obra <strong>de</strong> Calkins”, sem qualquer outra indicação Essas palavras significam “aquela obra <strong>de</strong> que sabemos’,<br />

ou “sobre que temos conversado”<br />

22 Como se po<strong>de</strong> ver <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> um ca<strong>de</strong>rno conservada na <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>, e em que a escrita é sempre <strong>de</strong>sembaraçada<br />

e corrente, sem emendas nem rasuras É <strong>de</strong> notar que a matéria constante <strong>de</strong>ssa parte conservada reproduz estudo particularizado<br />

do sistema métrico <strong>de</strong>cimal, que <strong>Rui</strong> talvez tivesse <strong>de</strong>sejado juntar à tradução, sem que, porém, o tivesse feito Na<br />

capa, há a indicação: “Calkins, 42”<br />

23 Encontram-se, nos arquivos da <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>, algumas notas, em pequenas tiras <strong>de</strong> papel, relativas à tradução, e<br />

pelas quais se vê que certas expressões eram por ele cuidadosamente analisadas<br />

No discurso do jubileu cívico <strong>de</strong> <strong>Rui</strong>, pronunciado na Biblioteca Nacional, em julho <strong>de</strong> 1918, refere ele “à adaptação <strong>de</strong><br />

Calkins” como <strong>de</strong> seus poucos trabalhos “<strong>de</strong> feição predominante ou eminentemente literária”<br />

80 A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!