A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa
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da pequena história que o Imperador censurou-o por não ter feito a Abolição para que o<br />
nomeara, o que, <strong>de</strong> resto, não exclui ter sido ele, no testemunho <strong>de</strong> Joaquim Nabuco, “que<br />
primeiro colocou ao serviço <strong>de</strong>la um dos partidos constitucionais do país” O episódio teve<br />
conseqüências imprevisíveis: faltando-lhe o apoio do presi<strong>de</strong>nte do partido, <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong><br />
não se elegeu naquela ocasião e jamais voltaria às câmaras no antigo regime<br />
Queda do Império, por isso mesmo, é livro a ser lido como uma autobiografia<br />
política, além, bem entendido, como testemunho <strong>de</strong> acusação, para evitar que o silêncio da<br />
história fosse recebido como complacente absolvição dos que tiveram a responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>turpá-la Depoimento político, mas também roteiro espiritual que conduziu o <strong>Rui</strong><br />
<strong>Barbosa</strong> <strong>de</strong> 1882 ao <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> <strong>de</strong> 1921 (data <strong>de</strong> publicação do volume):<br />
On<strong>de</strong>, porém, creio se perceberá diferença mais sensível, é nos sentimentos religiosos<br />
Profunda e inalteravelmente cristãos foram eles sempre Mas quem ler O Papa e o<br />
Concílio, ou o Discurso da Maçonaria, verá quanto vai do homem <strong>de</strong> 1876 e 1889 ao <strong>de</strong><br />
1903, 1919 e 1921: o da oração do paraninfo no Colégio Anchieta, o da oração do<br />
jubileu na Missa Campal e o discurso paranínfico em S Paulo<br />
A essa altura (1921), <strong>de</strong>pois da segunda campanha presi<strong>de</strong>ncial e já prenunciando<br />
estar no fim da vida, ele percebia encerrada a sua carreira política, o que tornava ainda mais<br />
imperioso pôr tudo em pratos limpos Como o senador Dantas alegasse, em tons suspeitamente<br />
confi<strong>de</strong>nciais, que o veto implícito do Imperador o obrigara a excluí-lo do gabinete, <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong><br />
lembrava que, discordando “das suas idéias, dos seus atos, da política do seu reinado”, isso<br />
jamais impediu Pedro II <strong>de</strong> distingui-lo com as mais honrosas provas <strong>de</strong> apreço:<br />
Dele nunca dissenti, pois, senão em matéria <strong>de</strong> reivindicações políticas, <strong>de</strong> reivindicações<br />
liberais, <strong>de</strong> reivindicações nacionais, cuja sustentação esposava eu animado das<br />
convicções mais notoriamente sinceras, e com tanto mais imparcialida<strong>de</strong>, quanto sendo,<br />
realmente, monarquista, não só <strong>de</strong> herança e educação, mas <strong>de</strong> persuasão estribada<br />
no conhecimento da nossa terra e dos nossos homens, me arreceiava <strong>de</strong> ver uma nação,<br />
tão sem cultura na <strong>de</strong>mocracia e na liberda<strong>de</strong>, arrastada pelos erros imperiais a formas<br />
<strong>de</strong> governo, que a nossa imaturida<strong>de</strong> política ainda não comportava<br />
A <strong>de</strong>slavada evasiva do senador tornou-se <strong>de</strong> uma inabilida<strong>de</strong> escandalosa quando<br />
perguntou ao amigo se estava certo <strong>de</strong> eleger-se <strong>de</strong>putado, condição para participar do<br />
gabinete, ao que recebeu como resposta que os costumes eleitorais da época faziam com<br />
que isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>sse exclusivamente do próprio Dantas, como chefe do partido:<br />
outra [resposta] se não <strong>de</strong>via esperar da minha mo<strong>de</strong>sta dignida<strong>de</strong> e do meu <strong>de</strong>sinteresse<br />
conhecido a todos aqueles amigos meus; é que outra me não podia assomar aos<br />
lábios, vendo eu, como bem via, na clareza do subterfúgio, a inocente evasiva, hábil<br />
meio político <strong>de</strong> (sacando sobre a segurança do silêncio do amigo certo, que não brigava,<br />
nunca brigara, nem brigou jamais por interesses) esquivar o <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong> outros<br />
menos indulgentes, <strong>de</strong>sapegados e cordatos () Quando, portanto, submeteu o meu<br />
nome a Sua Majesta<strong>de</strong> () é que havia por segura a minha eleição<br />
Tanta hipocrisia o revoltava, quatro décadas <strong>de</strong>pois, ao escrever a introdução<br />
<strong>de</strong> Queda do Império, mas é extraordinário que o <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> <strong>de</strong> 1884 tenha procurado<br />
salvar a face do senador para os anais da história política, ao mesmo tempo em que lhe<br />
dava uma lição <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> É a carta que lhe escreveu, “nesse mesmo dia, às 11 e meia da<br />
noite”, esclarecendo serem quatro os motivos <strong>de</strong> sua recusa ao ministério: “não renunciar<br />
eu à fe<strong>de</strong>ração, e não a querer o novo organizador” (ênfase minha); “ser eu um ministro<br />
extraparlamentar, buscado no jornalismo”, o que po<strong>de</strong>ria suscitar objeções à composição<br />
do gabinete; “não me sentir com forças para o cargo <strong>de</strong> ministro, qual o compreendia”;<br />
8 A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>