A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa
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Com aquela sobranceria e elegância tão conhecidas, mas sem po<strong>de</strong>r dominar o<br />
seu amargor pelo <strong>de</strong>scaso da Câmara aos seus projetos, nunca trazidos à discussão (e, como<br />
se comprova pelo projeto <strong>de</strong> Franklin Dória, nem sequer compulsados) escreve <strong>Rui</strong> no<br />
referido parecer, <strong>de</strong> 1883:<br />
A timi<strong>de</strong>z ininteligente dos ignorantes, a malevolência mesquinha dos retardatários, o<br />
acanhamento científico dos economistas <strong>de</strong> escola que não percebem a relação fundamental<br />
entre a educação e a riqueza, entre as finanças e as escolas, não nos faltarão com<br />
o cansado e inepto argumento da escassez <strong>de</strong> nossas finanças, da condição minguada e<br />
crescentemente precária do erário nacional Mas don<strong>de</strong>, senão dos sacrifícios atuais<br />
que vos aconselhamos, havereis as futuras melhoras cujo cuidado vos preocupa Sem<br />
largo e larguíssimo <strong>de</strong>sembolso, não há reorganização possível do ensino Sem a<br />
refundição liberal das instituições docentes, não existe, na órbita da ação humana,<br />
possibilida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> financeira Quem não se possuir da evidência <strong>de</strong>ste<br />
dogma não insista em enganar o país com o propósito falso <strong>de</strong> reformas, que é tão<br />
incapaz <strong>de</strong> realizar quanto <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r A mais malfazeja <strong>de</strong> todas as espécies <strong>de</strong><br />
avareza e a que negaceia ao ensino os instrumentos do progresso; porque, para nos<br />
servirmos da fórmula anunciada pelo representante <strong>de</strong> um centro comercial, cujo espírito<br />
utilitário não po<strong>de</strong> entrar em dúvida, “o dinheiro empregado na instrução não<br />
ren<strong>de</strong> cinco ou seis por cento, mas cinco ou seis mil por cento”<br />
()<br />
Assim falávamos em 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1882 A Comissão <strong>de</strong> Instrução Pública não<br />
podia ser mais incisiva, mais enérgica, mais cabal na manifestação da sua idéia; e o<br />
projeto que fecha o parecer, traça, nas suas proporções essenciais, o <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong><br />
um museu pedagógico nacional<br />
()<br />
A Comissão <strong>de</strong>plora, pois, que não tivesse tido ensejo <strong>de</strong> lê-lo (<strong>de</strong> um outro modo não<br />
se explicaria o erro que impugnamos) quem como o nobre Deputado autor do projeto<br />
(Franklin Dória) a cujo respeito vamos opinar, tanto, pelo seu gosto da especialida<strong>de</strong>,<br />
podia contribuir para a elucidação do assunto Certamente não será por motivo análogo<br />
que não teve, até hoje, começo <strong>de</strong> andamento, nas <strong>de</strong>liberações <strong>de</strong>sta Câmara,<br />
um trabalho, como o duplo projeto <strong>de</strong> reorganização do ensino público primário,<br />
secundário e superior, submetido ao vosso estudo em 13 <strong>de</strong> abril e 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1882, que, pela serieda<strong>de</strong> das idéias que dominam, se impõem à consi<strong>de</strong>ração atenta<br />
<strong>de</strong> todos os parlamentos ou governos patrióticos e esclarecidos Como quer que seja,<br />
porém, a idéia da fundação <strong>de</strong> um museu pedagógico nacional, trazido agora, <strong>de</strong><br />
novo, à tela no projeto Franklin Dória constitui um dos membros integrantes no plano<br />
da reformação geral que vos propusemos, pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> vosso voto, e tem com esse<br />
plano relações tais que sofreria sensivelmente com a <strong>de</strong>sagregação Se o parlamento<br />
brasileiro já se convenceu <strong>de</strong> que ainda não é cedo para criar no País a instrução<br />
nacional, é encarar com vigor o problema; e, neste caso, os projetos da Comissão <strong>de</strong><br />
Instrução Pública lhe <strong>de</strong>param a mais vasta base <strong>de</strong> iniciativa para as medidas inteligentes<br />
que neste sentido houver<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adotar Senão, se pelo contrário estivermos<br />
<strong>de</strong>liberados a continuar a proce<strong>de</strong>r como quem acredita que a instrução pública é um<br />
atavio <strong>de</strong> luxo dos povos bárbaros da Europa e da América, com que se <strong>de</strong>spreza <strong>de</strong><br />
ornar-se a civilização superior do Império Sul-Americano, é rejeitar o parlamento os<br />
nossos projetos, rejeitá-los <strong>de</strong> uma vez, para que se saiba ao menos que as nossas<br />
câmaras e os nossos governos têm uma idéia, <strong>de</strong> progresso, ou <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong>, mas,<br />
em suma, uma idéia qualquer, na questão, numa questão que, há longo e muito tempo<br />
já, passou das dissertações dos congressos para o domínio <strong>de</strong> cogitação dos homens<br />
<strong>de</strong> Estado Eis a alternativa a que o <strong>de</strong>ver vos obriga Em qualquer dos extremos<br />
À margem dos pareceres sobre o ensino 71