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A pedagogia de Rui Barbosa - Fundação Casa de Rui Barbosa

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Fichte pregava a educação popular, por necessida<strong>de</strong> política Não se <strong>de</strong>ve tudo<br />

esperar – dizia – do talento ou do gênio, mas será preciso formar o povo à semelhança da<br />

nação; pretendia, enfim, a subordinação dos fins do indivíduo aos fins do estado, idéia que<br />

<strong>Rui</strong> não po<strong>de</strong>ria tolerar O que ele prega, e quer, é que se difunda a instrução para os fins da<br />

liberda<strong>de</strong> e, até certo ponto, como havemos <strong>de</strong> ver, ao examinar-lhe as idéias sociais, para<br />

o fim da ascensão social <strong>de</strong> cada indivíduo pela cultura e o trato da inteligência Por isso<br />

haveria <strong>de</strong> dizer que a sua reforma iria realizar “a formação da inteligência popular e a<br />

reconstituição do caráter nacional pela ciência, <strong>de</strong> mãos dadas com a liberda<strong>de</strong>” 11<br />

Como o viu Fre<strong>de</strong>rico Schmidt, em toda a vida pública, <strong>Rui</strong> é assim, também<br />

na <strong>pedagogia</strong>, “o <strong>de</strong>fensor do homem” Para fundamentar essa filosofia essencial é que<br />

vai adotar os fundamentos do racionalismo empirista da ciência, ao menos como método<br />

“Percorri as filosofias, mas nenhuma me saciou, não encontrei repouso em nenhuma”<br />

É que cada filosofia, na forma <strong>de</strong> um sistema fechado, apresentava embaraço à<br />

sua própria ânsia <strong>de</strong> conhecer, <strong>de</strong> rever e emendar, e, portanto, <strong>de</strong> ser livre Essa é a razão<br />

pela qual <strong>Rui</strong> se volta para a ciência, em que passa a consi<strong>de</strong>rar, como já o indicavam os<br />

enciclopedistas, um “sistema aberto” ou, afinal, um método <strong>de</strong> conhecer, em incessante<br />

progresso Como em numerosos pontos dos pareceres explica, na ciência não existe a<br />

or<strong>de</strong>m, a legalida<strong>de</strong>, a “Razão” como regra que se possa exprimir antes dos fatos, como<br />

um a priori; ao contrário, a razão, a lei, <strong>de</strong>ve ser conhecida pela investigação dos acontecimentos<br />

e <strong>de</strong> suas relações<br />

Vai adotar, por essa forma, uma atitu<strong>de</strong> empirista da teoria do conhecimento,<br />

aceitando primeiramente o intuicionismo empírico <strong>de</strong> Pestalozzi, <strong>de</strong>pois os esquemas do<br />

positivismo, especialmente os da escola dissi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Littré, com a compreensão evolucionista<br />

<strong>de</strong> Spencer É o que está nos pareceres, <strong>de</strong> modo expresso, e como o sentiremos ao examinar<br />

as bases da metodologia que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u Ainda aí, por estranho que pareça, é Fichte, tal como<br />

este apresenta a sua metodologia no IX Discurso, quando examina a obra pestalozziana, para<br />

admitir, um pouco paradoxalmente talvez, o que chamou <strong>de</strong> “mecanização educativa”<br />

Por esse caminho é que <strong>Rui</strong> irá chegar também a um sociologismo, na direção<br />

que mais tar<strong>de</strong> lhe daria a escola francesa; e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, como que a um i<strong>de</strong>alismo objetivo,<br />

do mesmo tipo que Durkheim iria estabelecer <strong>de</strong>pois De outra parte, certo compromisso<br />

que estabelece entre a verda<strong>de</strong> moral e a necessida<strong>de</strong> do progresso e aperfeiçoamento<br />

das instituições, irá conduzi-lo a uma atitu<strong>de</strong> quase similar à dos pragmatistas e instrumentalistas<br />

norte-americanos Nem por outra razão, <strong>Rui</strong> haveria <strong>de</strong> admitir a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mudar, <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a verda<strong>de</strong>, emendando-a, quando se fizesse necessário 12<br />

Mas há em tudo isso, e por tudo isso, no pensamento filosófico que <strong>Rui</strong> exprime<br />

na obra pedagógica (<strong>de</strong>pois emendado, e bastará, a esse respeito, que se leia o que<br />

escreveu sobre o livro <strong>de</strong> Balfour, As bases da Fé), uma inquietação verda<strong>de</strong>iramente dramática<br />

Nos pareceres, <strong>Rui</strong> <strong>de</strong>clara que o positivismo é escola a que a humanida<strong>de</strong> já muito<br />

<strong>de</strong>ve, e que o conhecimento positivo, único saber verda<strong>de</strong>iro, remo<strong>de</strong>lará o mundo Doze<br />

anos <strong>de</strong>pois, dirá, porém, que positivismo é “<strong>de</strong>nominação pretensiosa e infiel, que quer<br />

elevar um método à altura <strong>de</strong> uma filosofia” <strong>Rui</strong> já então havia sentido que a ciência é uma<br />

“<strong>de</strong>scrição”, não “um programa”<br />

Da necessida<strong>de</strong> que o impeliu a essa variação filosófica, não lhe terá ficado também<br />

certo sentimento <strong>de</strong> culpa, com relação a diversos aspectos da filosofia pedagógica que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u Parece que sim A obra capital <strong>de</strong> Fichte divi<strong>de</strong>-se em três livros: “Dúvida”,<br />

“Conhecimento” e “Fé” Na obra pedagógica, <strong>Rui</strong> não viria a viver todos os três estágios E ele<br />

era, no mais profundo <strong>de</strong> seu ser, como salienta Amoroso Lima, “um homem <strong>de</strong> Fé”<br />

11 Obras completas, v X, t I, p 192<br />

12<br />

A essa mesma conclusão, emitida pelo autor <strong>de</strong>ste livro em novembro <strong>de</strong> 1949, chega o professor Miguel Reale, na<br />

conferência que proferiu em São Paulo, em março do ano seguinte, sob o título Posição <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong> no mundo da<br />

Filosofia<br />

44 A <strong>pedagogia</strong> <strong>de</strong> <strong>Rui</strong> <strong>Barbosa</strong>

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